18 de ago. de 2013

[RESENHA] O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick



http://skoob.s3.amazonaws.com/livros/289721/O_LADO_BOM_DA_VIDA_1357576650P.jpg Título Original: The Silver Linings Playbook 
Editora: Intrínseca
Ano: 2008
Páginas: 254
Skoob



Pat Peoples, um ex-professor na casa dos 30 anos, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Convencido de que passou apenas alguns meses naquele “lugar ruim”, Pat não se lembra do que o fez ir para lá. O que sabe é que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um "tempo separados". Tentando recompor o quebra-cabeças de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora. Com seu pai se recusando a falar com ele, a esposa negando-se a aceitar revê-lo e os amigos evitando comentar o que aconteceu antes da internação, Pat, agora viciado em exercícios físicos, está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes e no lado bom da vida. Uma história comovente e encantadora, de um homem que não desiste da felicidade, do amor e de ter esperança.

O processo de leitura, para mim, é sempre intenso, por pior que o livro seja. Quando a sua vida se mostra não-tão-boa-assim, e eu imploro a vocês que não vejam isso como um relato depressivo de uma adolescente de pouco mais de quinze anos — que é exatamente o que é, aliás —, e uma porta de fuga para um mundo irreal onde você não precisa ser você se abre, onde te é dada a oportunidade de conhecer pessoas — falhas ou não — tão profundamente quanto você conhece a si mesmo, quando você pode aventurar-se e viajar para outros ares, respirar e fazer absolutamente tudo o que você quiser, sem julgamentos ou opiniões de outras pessoas sobre a sua vida em si, é simplesmente impossível simplesmente deixar a ideia para lá.
Houve uma época da minha vida em que, por acaso, eu conheci os livros, e foi aí em que tudo mudou. O processo de leitura é, acima de tudo, uma rota de fuga para a Sarinha aqui.
É importante para que vocês entendam isso antes de eu começar esta resenha, efetivamente falando. Pois, muito embora eu tenha marcado O lado bom da vida como meu favorito e lhe dado todas as estrelinhas que existiam no ranking, ainda não me decidi se estou apta a dar minha opinião sobre o livro. Simplesmente porque, sério, existem obras sobre as quais é importante se pensar sobre.
Mas eu sinto que tinha de debater sobre ele agora, e é isso o que farei. Me perdoem se ficar pessoal demais. É meio difícil ser imparcial a uma dessas "obras da vida", que te influenciam o pensamento de alguma forma.
(Prometo tentar deixar de parecer chata, também ;3)


"Se as nuvens estão bloqueando o sol, sempre tento ver a luz por trás delas, o lado bom das coisas, e me lembro de continuar tentando, porque eu sei que, embora as coisas posam parecer sombrias agora, minha esposa logo voltará para mim. (...) Dói olhar para as nuvens, mas ajuda, como a maioria das coisas que causam dor." pg. 20


Pat Peoples é um cara de pouco mais de trinta anos que acabou de sair de seu "lugar ruim" (que é, na realidade, uma clínica psiquiátrica), e acredita veementemente que está vivendo o filme de sua vida, onde ele se esforça para ser gentil ao invés de estar certo, malhar muito para recuperar a boa forma e, em seu final feliz, acabar com o "tempo separado" de sua esposa Nikki — da qual ele ama de todo o coração, embora tenha sido um marido muito mau na época em que eles estavam juntos. 
Morando no porão da casa de seus pais, vendo sua mãe chorar constantemente e seu pai ditar as regras de humor da casa de acordo com a vitória ou derrota dos Eagles no campeonato de futebol, Pat se esforça — e se esforça para valer — para ser uma boa pessoa. Ele tem certeza de que é isso que ele precisa para que Deus o leve de volta para Nikki e que o "tempo separados" acabe, o por vezes torna os pensamentos de Pat e o estilo de narrativa quase infantil.
Sendo um livro escrito em primeira pessoa, estar dentro da cabeça de um doente mental é inegavelmente interessante, e aí é que entra o porquê-de-esse-ser-um-dos-livros-da-vida-da-Sarah. Não, ele não é a espécie de livro que te faz chorar e atordoa seus pensamentos, como me aconteceu com As vantagens de ser invisível, por exemplo. A narrativa de O lado bom da vida é, inclusive, muito simples e objetiva — às vezes até demais. Na maior parte das vezes, Pat parece mais um adolescente do que um homem feito de trinta e poucos anos. E o ponto é justamente esse.
Pat, louco e de família complicada, que não gosta de ser tocado por ninguém — a não ser por Nikki  — , que acredita que Kenny G. é seu arqui-inimigo, que malha dezesseis horas por dia, que é simplesmente fanático por um time de futebol americano, e que trabalha muito arduamente para contrair o ímpeto de bater em si mesmo, é surpreendentemente apaixonante.
E, diferentemente do que você pode ser levado a pensar, ele não vai curar sua loucura com uma mulher absolutamente perfeita  — e muito menos curá-la, por inteiro, com uma mulher tão louca quanto ele, para que ambos possam ser saudáveis e felizes juntos, como em um filme hollywoodiano (a ironia é que a adaptação desse filme é hollywoodiana e rendeu um Oscar à Jennifer Lawrence muito recentemente, mas relevemos). Tiffany, a protagonista boca suja do caralho, estabelece, com Pat, durante o livro, uma relação muito mais amigável e indireta do que qualquer outra que eu já tenha visto em um livro de, veja só, romance.
Eles se falam diretamente muito pouco, para dizer a verdade. O livro não tem aquela áurea de tensão sexual, paixão, romantismo e necessidade mútua entre duas pessoas profundamente loucas uma pela outra. É tudo muito verdadeiro, muito natural. Você lida com duas pessoas profundamente problemáticas, que já passaram por muitas merdas durante a vida, para depois perceber que chegar até a última página sem ter presenciado uma cena cheia de "ai-meu-Deus-como-eu-te-amo-e-te-quero" foi provavelmente a melhor coisa que aconteceu.
Portanto, sim, o livro é uma experiência interessante da qual você vai se compadecer e pensar sobre. Os de coração mais mole  (ah, oi, Sarinha!), é claro, vão simplesmente se enrolarem na cama e aproveitar a ressaca literária pensando sobre Pat e Tiff durante o resto do dia. Matthew Quick não é só um filho da mãe esperto, mas sabe abordar assuntos dos quais todos nós já paramos para pensar, algum dia, em um livro praticamente genial: e aí, realmente vale a pena acreditar em um final feliz? Realmente vale a pena ver o lado bom das coisas? E, se vale, por que tantas obras literárias clássicas e consideradas tão importantes para a sociedade têm um final absolutamente trágico (a propósito, Sr. Quick, fiquei muito feliz em saber o que acontece no final de O Grande Gatsby e A Redoma de Vidro, obrigada mesmo!)? Será que a vida é um filme feliz ou será que tudo, no fim, simplesmente acaba mal? Se a vida dará errado, de qualquer forma, para quê continuar a tentar enxergar a luz por trás das nuvens?
(Não me importo se meus questionamentos pareçam a mesma coisa escrita de formas diferentes.)
O processo de leitura, para mim, é muito intenso, porque é minha rota de fuga das coisas que não gosto (ou das que não quero enfrentar em determinado momento) na minha vida. Viajar, entretanto, para a mente de alguém psicologicamente perturbado mexeu comigo para valer, e fez com que O lado bom da vida viesse a se tornar um dos livros-da-vida-da-Sarah, simplesmente porque eu o achei genial a seu modo.
Leia-o e sinta-se à vontade para concordar ou discordar de mim nos comentários. ;)
Como é de praxe, a Intrínseca trabalhou bem no livro, apesar da letra muito pequenininha ter dificultado minha leitura de vez em quando. Me deu até uma dorzinha de cabeça básica, até mesmo porque eu não estava habituada a fonte utilizada no livro. Mas não encontrei erros de tradução e nem revisão, o papel é amarelado, e a capa ficou muito bonita  — ainda que adaptada do filme. Achei isso legal porque, na realidade, imaginei os personagens como seus respectivos intérpretes.
E, sem saber como finalizar essa resenha nem um pouco profissional, só me cabe dizer que estou muito triste mesmo por não ter a oportunidade de xingar Matthew Quick por me dar tantos spoilers de livros antigos e por ser tão genial na Bienal do Rio deste ano.




11 comentários:

  1. Como um ser medíocre que só viu o filme, mas já sente uma paixão enorme por essa obra, tenho que surtar com essa resenha <3
    Um dos pontos de porque eu necessito ler o livro é que o Pat é tão doce que eu não consigo acreditar que ele possa ter sido um marido ruim pra Nikki (que é uma personagem que eu detesto.), outro ponto é pra saber se o pai do Pat é tão doido quanto no filme, porque tem vezes que ele parece ser mais doido que o próprio Pat.
    Uma coisa que me deixou muito brava é que eles não citam Kenny G. em momento algum do filme, isso é tão injusto :c
    E AI SARAH, eu te amo porque você citou The Perks e eu cheguei a querer comparar os dois livros, e agora eu percebi que O Lado Bom da Vida tem uma leveza que não tem em The Perks.
    E sobre a Tiffany, eu amei a personagem em si, amei a Jennifer como Tiffany e amei o relacionamento dela com o Pat. I mean, ninguém pode entender um louco melhor do que outro louco <3
    Enfim, espero poder ler O Lado Bom da Vida logo, e que ele seja tão importante pra mim, quanto foi pra você, Sarinha.

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  2. Iza sempre sendo linda aqui <3 Pelo que eu vi (conversando com mamãe e tals pq nao vi o filme ainda), eles são RIDICULAMENTE diferentes um do outro. E, sim, o Pat é doce mas no livro ele fica constantemente tentando ser doce, tentando ser gentil a estar certo. Adivinha: Nikki não aparece diretamente no livro HAHAHA e o pai dele é completamente biruta, nada me tira da cabeça que aquele velho precisa de um tratamento, porque UHAEUHAEU
    Ele realmente acredita que o Kenny G é o arqui-inimigo dele, cara, é engraçado até de ver.
    SIMMMMMMMMMMM. Achei que seria importante. The Perks ainda é um livro muito denso, sabe? Muito dolorido. O lado bom da vida é bem mais tranquilo, leve, apesar de tratar de assuntos sérios. É uma abordagem bem diferente.

    Eu amo a Tiff, ponto.
    Eu tenho certeza que será <3 obg pelo comentário divo.

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  3. Resenha linda e genial, como é costume :33 Mesmo pessoal, eu achei profissional, ok? Sério.
    Eu também só vi o filme, o que não facilita o comentário à resenha, mas... bem, tentemos de todo o jeito :33 O que mais gostei no filme foi como ele acabou por mostrar que o tal final feliz não é necessariamente aquele que você idealiza para você mesmo. Que ele é diferente, inesperado e totalmente imperfeito. E isso torna tudo muito melhor. Convenhamos, esperar perfeição da vida é pura loucura, e vamos sempre acabar frustrados. Mas talvez por vocês estejamos tão obcecados com esse final perfeito, que acabamos por nem notar o final feliz que estava lá, apenas esperando por nós.
    Ok, isso é uma divagação super inocente e agora eu preciso definitivamente ler o livro. Também quero me colocar no lugar de Pat, porque ele parece ser o melhor :333
    Obrigada por essa beleza de resenha <3

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  4. COMO VC CONSEGUE RESENHAR MELHOR DO QUE EU SEM SEQUER TER LIDO O LIVRO

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  5. AI MANA QUE MENTIRA <3 Olha pra essa resenha! Que perfeição!

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  6. Aline Gonçalves de Oliveira18 de agosto de 2013 às 16:12

    Eu assisti o filme desse livro ontem e fiquei no meio termo sem saber se gosto ou não da história.

    Eu acho que a história tenta ser cult, mas acaba indo para o lado clichê de histórias românticas.

    Vi muitas pessoas falando que o livro é melhor, então irei ler a história para tirar minhas conclusões.

    ;)

    Beijos.

    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

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  7. Eu vi o filme tem umas duas semanas e achei muuuuuuuuuito legal. Tô com muita vontade de ler o livro. *----*

    Adorei a resenha!!

    Beijo

    http://agarotaeotempo.blogspot.com.br/

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  8. OLHA SÓ QUEM ESTÁ AQUI, oi Aline, welcome welcome <333333
    Pois é, olha, eu ainda não vi o filme, mas pelo que recebi de spoiler de pessoas confiáveis, parece que cagaram completamente com a história (com o perdão da palavra ^^ or maybe not). Em nenhum momento eu achei que o livro passasse pro 'cult', e tal, tanto que frisei que a narrativa é tão simples que chega a ser infantil, por vezes. O Pat é um personagem complexo, ao mesmo tempo em que é muito fácil ~entendê-lo~, em si. E, olha, eu nunca vi um romance desprovido de romantismo como esse HAHAHAHA
    Leia! Comentarei sua resenha com gosto c:
    Beijo! Obg pelo comentário :3

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  9. Eu não vi o filme ainda, mas dizem que é uma verdadeira porcaria comparado ao livro. Novidade, né? hahaha
    Mas é uma leitura recomendada. Gostei demais. E eu ando meio chatinha com leituras.
    Obrigada pelo comentário :33 beijaum ;*

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  10. Esse não foi como The Perks, e eu TIVE que ver o assistir o filme no cinema antes de ler o livro. Detesto ver o filme antes, mas não resisti... Confesso que o comecinho foi muito chato, mas o filme começou a melhorar e entrei totalmente na onda e amei demais. <3 O jeitinho de "aproveite o que está do seu lado" é clichê, mas quebra totalmente o clichê sendo que se trata de alguém que acabou de sair de uma clínica psiquiátrica e encontra alguém parecido - ou muito diferente! - dele. O jeitinho da Jenn e Brad é *-* Outra: não achei sua resenha tão pessoal, e sim reflexiva. Além de super gata, é claro. ♥ O jeito como você mostrou que o livro nos faz sentir é incrível, e sua resenha ficou muito linda, mesmo! E, socorro, Matthew dá spoiler sobre quais livros clássicos?
    p.s.:disqus tá tirando com a minha cara ^^

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  11. nossa, eu acho que eu tentei umas 30 vezes pra isso dar certo... mds

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