30 de set. de 2012

Capítulo 54

Everything is well, except both of us


Capítulo dedicado à Sofia Brito, que fez 17 anos no dia 27/09/12. Parabéns, maninha! Obrigada por continuar comigo s2 

— O que eu tenho para hoje?
O rapaz fechou a porta do carro, enfrentando o vento frio que se fazia no início daquela manhã de outono. Passou uma mão pelo cabelo, ajeitando-o — ou bagunçando-o mais, dependendo do ponto de vista —, e trancou seu Audi A4 conversível apertando um botão. Aquele carro custara uma fortuna, mas... Deus, como valera a pena. O rapaz pagaria até um pouco mais para tê-lo.
Mas mesmo depois de seu segundo de admiração ao carro, a adolescente que igualmente saíra do carro não respondera à sua pergunta.
— O que eu tenho para hoje? — repetiu ele, com a voz impaciente. A menina sequer se mexeu.
O rapaz bufou e se aproximou dela, retirando um de seus fones de ouvido bruscamente com as mãos.
— Tire os fones de ouvido quando eu estiver falando com você — ele a encarou, fazendo-a abrir a boca em indignação, encarando-o de volta. Parecia pronta para arrumar uma briga.
— Qual é, Luke! — exclamou ela. — Eu estava ouvindo, sabia?
— Mas não estava ouvindo o que eu queria que ouvisse, Tereza — Luke fez que não com a cabeça, respirando fundo e adentrando o prédio à sua frente. Como o dia letivo ainda não se iniciara, o prédio estava praticamente vazio e silencioso. Daqui a menos de duas horas, ele se encheria de crianças de todos os tipos e se misturaria a todas as espécies de sons que todo tipo de instrumento possa produzir.
Tereza Fletcher, irmã de Dan e sua assistente pessoal há um ano, seguia-o pelos corredores enquanto ouvia música no último volume, como sempre fazia.  Luke não achou boa ideia ter uma assistente pessoal no momento em que a contratou, mas acabou descobrindo que ela lhe poderia ser muito útil. Era como uma ter secretária eletrônica-barra-agenda ambulante que parecesse estar sempre de TPM. Muito útil para um rapaz de apenas vinte e cinco anos que dirigia metade de uma gravadora, uma escola de música, tocava em duas bandas, compunha para pelo menos dez e ainda era um dos produtores musicais mais procurados de Nashville. Para além de Tereza ser muito direta e resolver sempre os assuntos que ele não queria.
— O que eu tenho para hoje, pela terceira vez? — perguntou ele quando adentrou sua sala. Tereza ergueu os olhos, retirou os fones de ouvido, e disse:
— O quê?
Luke revirou os olhos.
— O que eu te falei sobre fones de ouvido? — perguntou retoricamente. — Você quer ser demitida?
— Claro que não, Noah, por favor — disse ela, retirando o celular do bolso e apertando um botão. — Quer dizer, quem é que vai pagar meus ingressos para os shows? Ou os meus CDs e livros? Você conhece minha mãe, cara. Ela é do tipo “você não precisa trabalhar, eu te dou o dinheiro”, só que sem acrescentar logo depois o “desde que você queira usá-lo para livros. Didáticos. Ou a Bíblia”.
Luke não aguentou e deixou seus lábios se curvarem em um sorriso.
— Então trate de trabalhar — disse ele mais suavemente, sentando-se à sua mesa. — O que tem para hoje?
Tereza retirou sua mochila dos ombros e enfiou a mão dentro dela, retirando um caderninho.
— Tem um jantar com a galera da FOF às oito e duas reuniões na empresa do seu pai com o seu pai, às duas — ela disse, os olhos atentos no caderno. — E você não pode se esquecer do show desse fim de semana. E o Brian quer a música até domingo, também.
Luke expirou o ar de seus pulmões e passou a mão pelos cabelos, enquanto Tereza se dirigia ao confortável sofá de couro que estava elegantemente localizado no canto da sala do rapaz.
— Semana cheia — disse ele num tom neutro. — Por quanto tempo a Feeling of Feeling vai ficar na cidade, mesmo?
A garota bocejou.
— Não sei — disse com a voz embargada. — E não é toda a FOF que está em Nashville. Só o Trevor e a sua ex-namorada.
Luke revirou os olhos.
— Será que ninguém acredita que nós nunca chegamos a namorar? — perguntou ele retoricamente, organizando os papéis em sua mesa.
Mas para falar sério, quando mais Luke afirmava que nunca namorara com a baixista de sua antiga banda, mais as pessoas duvidavam. Isso por que “namorar” era um termo muito complexo para o que ele e Megan Curtis chegaram a ter, e que já havia se dissipado há uns bons dois anos. Ela era sua melhor amiga, apenas por que ela o ajudara com toda... a situação que Luke enfrentara na época. Ela o ajudou a se livrar da dor com a música e o relacionamento estranho que ambos mantinham, mesmo sem nunca saber realmente de Sophie. Magicamente isso fundou a Feeling of Feeling, uma banda de rock alternativo que foi uma febre no norte dos Estados Unidos por uns três meses. Os três meses mais malucos da vida de Luke.
Ele só tinha vinte anos quando a banda estourou. Tanto ele quanto os demais membros da banda, Trevor Ryan, Melissa Hanks e Megan, trancaram o curso que faziam na Columbia University para gravar o primeiro e único CD e entrar em uma pequena turnê pelo norte dos Estados Unidos. A FOF chegou a tocar para seis mil pessoas de uma vez só.
Foi nessa época que Luke se apaixonou pelos palcos de verdade.
Desde então, mesmo depois de que a banda acabou, Luke continuou tocando. Barzinhos, pequenas festas, pequenas apresentações, até mesmo não remuneradas. Quando não estava estudando ou fazendo os trabalhos necessários para sua faculdade, estava tocando guitarra. Megan também fazia o mesmo e hoje Luke não conhecia uma mulher que manuseasse um contrabaixo com tanta maestria como ela fazia.
Não havia como negar. Luke gostava de Megan. Gostava muito dela.
Mas não a amava, e Megan sempre soubera disso. Desde a primeira vez em que ficaram realmente juntos. Megan olhara nos olhos do rapaz e soube, naquele mesmo momento, que Luke gostaria que outra mulher estivesse em seu lugar. Ela podia ver, podia sentir.
Luke se lembrava perfeitamente do dia após a formatura na Columbia. Ele estava voltando para Nashville e ela continuaria por lá, uma vez que era apaixonada por Nova Iorque e crescera naquela cidade. Luke pretendia apenas passar uma temporada em Nashville e voltar para Nova Iorque logo depois. Megan o ajudava a fazer suas malas quando ele lhe perguntou, pela primeira vez, qual seria o futuro dos dois.
— Eu gosto de você, Luke — dissera ela naquele momento, deixando de dobrar uma roupa para encará-lo. — Mas eu não sou a garota que você procura.
Luke riu.
— O que você quer dizer com isso?
Megan ergueu o queixo dele, fazendo seus olhos encontrarem-se com os globos verdes e cinzentos dela.
— Você sabe o que quero dizer — murmurou. — Você é um cara machucado, Luke, só é preciso olhar nos seus olhos para notar isso. Eu te conheço muito bem para saber que você já amou alguém de verdade. Qualquer um chega a essa conclusão pelas músicas que você escreve — apesar de tudo, seus olhos ainda estavam presos aos dele. Luke sentiu sua garganta se fechar e uma vontade avassaladora de desviar o olhar. — Eu gosto muito de você. Mas você não me ama e nem nunca vai amar. Por que quem você ama é ela. Você pode mentir, mas seus olhos vão te denunciar.
Luke segurou a mão dela com a sua própria, mordendo o lábio inferior.
— Eu a amei — assumiu ele pela primeira vez em três anos. — Mas não a amo mais. E eu gosto muito de você.
Megan deixou seus lábios bem desenhados se alinharem em um sorriso singelo e encostou sua testa na de Luke calmamente. Começou a fazer um carinho com o polegar em sua barba mal feita.
— Não sou o que você procura — ela sussurrou, engolindo seco, sem parar o carinho. — Gostaria de ser. Mas não sou. — Megan suspirou e, devagar, encostou seus lábios nos dele, dando-lhe um selinho molhado e lento. Colocou a ponta dos dedos nos lábios dele quando separaram-se. — Apenas... não desista de procurar.

Nessa mesma noite, Megan terminou de ajudar Luke a fazer suas malas e o garoto decidiu que ficaria definitivamente em Nashville quando Jeremy o presenteou com sua parte na gravadora. Entre um contato e outro, Luke passou a vender as letras que compunha frequentemente. Começou a tocar profissionalmente também e pouco depois veio a escola, com a parceria de Dan. Até hoje Luke mantinha contato com Megan quando ela vinha à Nashville ou ele ia à Nova Iorque, pelo telefone ou pela internet. Mesmo que o que eles tiveram houvesse acabado e se limitado a uma mera amizade.
Megan jamais soubera de Sophie, entretanto. Luke, no mesmo dia em que recebera a carta, prometera a si mesmo que não iria deixar vestígios de que um dia ela estivera em sua vida, e por isso preferiu omitir tudo de Megan. Engoliu sua dor e seu orgulho, mantendo-os presos, afastados de tudo e de todos. Inclusive Dan e Marie. Nate. Seus pais. Seus amigos. Todo mundo.
Até o dia em que, em uma de suas ligações para seus pais, Jeremy lhe dissera que Sophie havia... tido um filho. Na Inglaterra. E ela não sabia quem era o pai.
Luke nunca se sentira tão esquisito em toda a sua vida. Ao mesmo momento em que estava triste e com o coração dolorido por saber que Sophie se tornara esse tipo de pessoa, sentia-se quase feliz por saber que ela estava jogando o futuro que tanto almejava no lixo, tendo um filho sem pai. Seu coração sangrava, mas seu rancor e seu orgulho estavam satisfeitos. Sua parte emotiva sofria, mas sua raiva e insolência sorriam. Como caminho mais fácil, Luke deixou-se levar pelo rancor e decidiu não ligar para aquilo.
Mesmo que quando sua cabeça deitasse no travesseiro seu pensamento se direcionasse a ela, com apenas dezoito anos de idade, lutando para trabalhar, estudar, e cuidar de um bebê sozinha. Mas esse fora o caminho que Sophie escolhera. Ela escolhera enganá-lo. Ela escolhera abandoná-lo. Ela escolhera ficar sozinha. Ela escolhera passar pelo que estava passando agora.
E era por isso que Luke não sentia pena.
Kathryn vivia dizendo para Luke que o acontecido com Sophie havia sombreado seu coração, e mesmo que ele negasse veemente, sabia que era verdade. Era exatamente a mesma coisa que Luke pensara assim que recebera a carta. Naquele mesmo dia, Luke fizera uma porção de promessas para sua vida. Nunca mais se apaixonar. Nunca mais amar ninguém. Seguir seu futuro sem ela e fazer com que ele seja muito melhor.
Todas as promessas estavam bem cumpridas até agora e assim seria até o fim. Luke queria passar o resto de sua vida com Sophie, mas ela escolhera ficar longe. Agora Luke era feliz acompanhado de seus amigos, seus pais, Tereza e Cowboy. Também não podia esquecer-se da escola de música para jovens que Luke montara com a ajuda de Dan. Na realidade, Luke entrou com o capital e Dan com o trabalho e divulgação. As aulas bem dadas e os preços em conta atraíram um grande público de estudantes que queriam se melhorar musicalmente ou apenas aprender algum instrumento. No início, Luke quase não ficava no colégio, mas depois acabou apaixonando-se por aquele lugar. Por vezes substituíra algum professor de violão, pelo simples prazer de ensinar, e hoje Luke quase não trabalhava mais na gravadora de Jeremy e trocara metade do expediente de lá para ficar na escola. Por mais que amasse produzir, amava ainda mais ver aquelas crianças aprendendo pouco a pouco o prazer que a música pode proporcionar. Isso o completava. Como Jeremy dissera para ele algumas vezes: “no fim, tudo estará como tiver de ser”.
Tudo estava como tinha de estar.
Com a única exceção da volta de Sophie para Nashville.
— Ah! — Luke saiu de seus devaneios quando a voz de Tereza ecoou. — Eu tinha esquecido. Dan me mandou uma mensagem de texto dizendo que você tem que arrumar o conteúdo programático da nova professora de piano. E dizer quais serão as novas salas dela, né.
Droga! Ainda tinha isso para resolver e a professora nova que Dan contratara estaria chegando a qualquer momento. Ele podia ser o melhor professor de bateria e percussão da cidade, mas ainda assim era a pessoa mais desorganizada do universo. A professora havia sido contratada uma semana antes!
— Você pode ir a sala dele e buscar os papéis dela para mim? — pediu Luke para Tereza, que se mexeu no sofá onde estava.
— Dan deixou os papéis na sua mesa — disse a garota. Luke passou os olhos pela sua mesa de madeira vernizada, procurando alguma pasta fora do comum e não demorou para achar. Logo o contrato se fez diferente dentre os outros papéis.
Luke procurou seus óculos de grau em uma das gavetas, até achá-los na última das três. Às vezes parecia que seus óculos tinham pernas e sempre arranjavam uma forma de sumir, sinceramente. Luke organizou a ata do dia e o horário em uma parte da mesa, abrindo o contrato logo embaixo. Precisava arrumar tudo antes das nove da manhã.
Com calma, Luke começou a ler o contrato que já estava assinado por Dan. E toda a calma que existia em seu corpo e mente dissiparam-se completamente após a primeira frase lida.
Luke arregalou os olhos e leu outra vez, para garantir. Como... não pode ser.
O sangue simplesmente fugira do rosto dele, que insistia em ler e reler aquilo. Ainda considerava a hipótese de apenas ter lido errado ou de tudo ser apenas um mal entendido.
Mas só havia uma Sophie Williams Farro, vinte e três anos, formada em Laurent Louis, Inglaterra.
— O que aconteceu com você? — Tereza franziu o cenho, encarando Luke. Levantou-se do sofá onde estava. — Parece que você viu um fantasma. O que houve?
Luke largou os papéis na mesa e respirou fundo. Sua cabeça começou a doer.
Merda! — exclamou ele de um jeito que fez a adolescente rir. — Mil vezes merda!
— O que aconteceu? — Tereza perguntou novamente, ainda rindo.
— A nova professora de piano — começou ele, sem retirar a mão do rosto —, é minha ex-namorada.
Ele suspirou, ainda completamente domado pela raiva e pela surpresa, mas Tereza apenas bufou, como se esperasse algo mais emocionante.
— E daí? — perguntou ela, olhando-o sem interesse. Luke retirou as mãos do rosto e a encarou como se ela não houvesse escutado o que ele dissera.
— E daí? — ele repetiu a pergunta com a voz oitavada. — Ela não é uma simples ex-namorada.
Tereza revirou os olhos.
— Repito: e daí? — perguntou ela, entediada.
A boca de Luke estava entreaberta em pura indignação.
— E daí que ela foi importante para mim, há um tempo. Nós queríamos passar o futuro juntos. Eu escrevi Adore para ela.
— Que gay — Tereza fez uma careta, encarando Luke com uma expressão completamente enojada.
Ele revirou os olhos.
— Sim, totalmente gay — disse ele, concordando, sentindo-se tão enojado quanto ela ao se lembrar do “antigo Luke”. — Ela foi embora para a Inglaterra sem se despedir e teve um filho com um cara que ela nem conhecia um ano depois.
Luke não sabia por que estava contando aquilo para Tereza, mas estava. Talvez por saber que ela daria um jeito de ridicularizar a situação, como já havia feito um milhão de vezes com outras mulheres que Luke chegou a ter um caso. A adolescente parecia ser uma expert em fazer as mulheres saírem de seu pé.
Outra vantagem de se ter uma assistente pessoal.
— Espera — disse ela, retirando os fones dos ouvidos e se sentando em uma cadeira de frente para a mesa de Luke. — Então a garota te largou e engravidou de um moleque qualquer que ela não conhece?
Ele suspirou.
— Sim, é — concordou.
— E você a amava?
— Sim... — ele concordou hesitante.
Tereza bufou.
— Ugh — resmungou ela. — Por que diabos ela não ficou na Inglaterra? Quer dizer, fala sério, cara! Londres! O que é o Big Ben na frente do Country Music Hall of Fame Museum? Quem é que quer sentar no colo de um Elvis Presley de porcelana sem graça? Deve ser legal passear pelo centro de uma cidade onde não tem botas de vaqueiro e chapéus espalhafatosos para vender em toda lojinha. — Tereza deu de ombros, aparentemente irritada. — Está explicado o porquê ela estava com você. Ela é doida.
Luke abriu a boca em indignação.
— Você sabe que eu posso te despedir a qualquer momento, não sabe?
A garota riu.
— Você não vai fazer isso — disse ela, levantando os pés e recostando-os na mesa de Luke. — Não consegue viver sem mim.
— Retire os pés de cima da minha mesa — ele ordenou em vão, é claro, e voltou o olhar para os papéis. Não tinha erro. Só existia uma única Sophie Williams Farro nascida em Nashville e formada em Laurent Louis, na Inglaterra. Dan havia feito aquilo. Dan havia contratado Sophie apenas para...
Para quê?
— Oi, garotada — Luke levantou os olhos, vendo a silhueta do próprio Dan adentrar a sala.
— Luke está chateadinho com você — Tereza disse, olhando para o irmão. Era fácil notar algumas semelhanças entre eles, como o sorriso e os olhos negros. Mas a pele da garota era um pouco mais clara do que a de Dan, e seu cabelo cacheado tinha as pontas pintadas de roxo. Esta semana.
— O que eu fiz dessa vez? — Dan suspirou, encarando o bolinho que estava em sua mão. Suas seguidas horas de malhação na academia só pareciam aumentar sua fome.
— Você sabia que a nova professora de piano que você contratou é a Sophie?! — Luke foi direto ao ponto, fulminando Dan com os olhos, mantendo uma mínima esperança de que o amigo dissesse que Luke estava equivocado.
Mas não foi isso que ele fez.
Red Soph? Sim, sabia — disse ele, entusiasmado, e abocanhou seu bolinho.
Luke sentiu o desespero tomar conta dele, controlando em si mesmo a vontade de xingar Dan de todos os palavrões possíveis. Caramba! Ele iria... Luke teria...
Trabalhar com Sophie. Vê-la todo santo dia.
Luke não queria. Não podia.
Por quê?! — ele aumentou o tom de voz o máximo que pôde, encarando Dan, indignado demais até mesmo para xingá-lo.
— Por que ela precisava de um emprego e nós precisávamos de uma professora de piano — Dan respondeu muito tranquilamente, devolvendo o olhar de Luke. — Como diria minha mãe: uma mão lava a outra, e as duas lavam a...
— Dan — Tereza levantou os olhos do seu celular para repreender o irmão. — Não continue esse ditado. É nojento.
O moreno deu de ombros.
— Tanto faz — disse, despreocupado.
Luke retirou os óculos do rosto para passar a mão pelos olhos. Isso era um pesadelo. Só podia ser um pesadelo. Dan era idiota ou o quê?! Ele não se lembrava do que ela fizera?! Não foi ele o primeiro a consolar Luke depois da carta?!
Para o inferno!
— Você não pode ter contratado a Sophie — Luke murmurou. — Puta merda, Dan! Você não se lembra do que aconteceu há alguns anos atrás, droga?!
Dan assentiu com a cabeça tranquilamente.
— Sim, me lembro — disse ele, engolindo o bolinho para falar com Luke. — Mas eu não estou falando para você se apaixonar por ela, idiota. Cresça. Dei o emprego à Sophie por que ela estava desempregada, sozinha, com um filho nos braços, e toda a família dela, incluindo Nate, Danna, e até a Marie, queriam que ela estivesse de volta à Nashville. Você mesmo estava todo desesperadinho por que não tínhamos professora até semana passada. Por isso, Noah, dei o emprego a ela. E ela continuará trabalhando aqui, você querendo ou não. Já está na hora de superar, não acha? — Dan encarou Luke por mais dois segundos, vendo-o não ter argumentos para discutir. Seus lábios se dobraram em um meio sorriso. — Muito bem. Preciso de um pastel.
Depois disso, Dan saiu da sala, deixado uma Tereza risonha e um Luke abismado. Não, ele não queria Sophie ali, em sua escola. Mas... em parte, Daniel tinha razão. Eles realmente precisavam uma professora de piano.
Mas poderia ser qualquer uma do mundo, menos Sophie. Droga.
Luke não poderia despedi-la. Não tinha razão para fazê-lo uma vez que Dan já a havia contratado definitivamente, para além de que compraria uma briga com o melhor amigo e com toda a família Farro, da qual ainda mantinha um bom prestígio. Ainda assistia a jogos de beisebol com Nate toda semana, participara de todos os lançamentos dos livros de Joe, e ver Marie era inevitável, uma vez que ela era a esposa de seu melhor amigo.
Luke afundou a cabeça nas mãos e praguejou. Merda. Estava tudo ferrado de vez.
— Você é mesmo um bobão — ele escutou a voz de Tereza e levantou os olhos. Ela não sabia que Luke poderia despedi-la, certo?
— O que você quer que eu faça? — perguntou ele para ela, pronto para mandá-la ir à merda também. Já estava de saco cheio daquilo.
— Pare de ser bonzinho — ela retirou os olhos do smartphone para encarar Luke com intensidade. — Se você não quer a sua ex-namorada vaca aqui, mande-a embora!
Luke suspirou.
— Não posso despedi-la! — respondeu no mesmo tom logo depois, como se dissesse também “você não escutou seu irmão?”.
Entretanto, Tereza riu.
— Quem falou que você vai despedi-la? — perguntou ela retoricamente, debochando de Luke. — Você é muito bonzinho, Luke. Precisa aprender a ser um pouco malvado. Se você for sempre assim o mundo passa por cima de você, da mesma forma que a guria lá fez há não sei quanto tempo atrás. — Tereza colocou os pés em cima da mesa novamente. — Quer ela longe? Agora não vai dar. Mas já que ela está perto, por que não se divertir com isso? — um sorriso malicioso se ampliou no rosto da adolescente. — Transforme a vida dela num inferno. Com o tempo, ela estará fora daqui, como você quer.
Luke coçou sua barba, ouvindo as palavras adolescente de quinze anos ecoando em sua cabeça. Ser mau, transformar a vida dela num inferno, fazê-la se demitir, em suma. Ser o chefe horrível.
Poderia dar certo, mesmo que não fizesse seu estilo.
— Ser mau, hã? — perguntou ele retoricamente, encarando sua assistente. — Acho que posso fazer isso.
Tereza sorriu maliciosamente.
— Não custa tentar.


[...]


— Dá pra esperar um pouco? — a garota sorriu sorrateiramente para o taxista, mexendo no seu cabelo ondulado e enorme, apenas para dar um charme.
— Dez minutos no máximo, moça — disse ele, arrancando outro sorriso dela.
— Valeu! — disse ela, saindo do táxi rapidamente. Retirou seu celular do bolso, apertando os botões do número da amiga que já sabia de cor. Sinceramente, Sophie tinha o dom de se atrasar!
Alô, Julia — ela escutou a voz da amiga ecoar em seu telefone.
— Onde está você?! Nós temos que ver o apartamento antes de você ir para a aula! — Julia gritou com o telefone, andando em direção a casa onde ela já sabia que Sophie se encontrava.
Ainda estou aqui na minha mãe, se acalma, ela vai cuidar do Henry e da Anna por hoje — Sophie dissera do outro lado da linha, com a voz meio vaga. Parecia estar fazendo alguma coisa enquanto falava com Julia ao telefone.
— Beleza, então abre a porta, eu estou aqui — Julia parou em frente à porta da casa de Hayley, apertando a campainha. Desde que voltara da Inglaterra, quatro dias antes, tudo estava a maior correria. Visitara um monte de apartamentos com Sophie (até agora ambas estavam hospedadas na casa de Danna e Hector), e ainda não haviam conseguido matricular Henry na creche de Anna. Sophie já iria começar a trabalhar e Julia só tivera uma única reunião com a equipe para seu site que contatou pela internet.
Mas antes de tudo, elas precisavam resolver as coisas no quesito moradia. Claro que isso jamais aconteceria se Sophie ficasse se atrasando.
Você está aqui? Droga, Julia, você... ai, espera — Sophie começou a falar e logo a porta fora aberta, revelando a amiga com o celular na orelha e um filho no colo. Ela bufou, desligou o telefone e encarou Julia. — Não era pra você vir agora — sussurrou ela, com uma ponta de medo no olhar.
Julia deu de ombros, já sabendo o que Sophie queria dizer.
— O tio do táxi disse que temos que entrar em no máximo dez minutos. Ande logo. Eu não vou entrar na casa — respondeu a morena, ríspida.
Sophie suspirou.
— Você promete tomar todo o iogurte? — perguntou a Henry, que segurava uma garrafinha de iogurte desnatado de morango e tomava sem muito ânimo. Ele retirou-a dos lábios, mostrando seu bigodinho de iogurte. Julia não pôde deixar de rir ao ver a cena.
— Não é gostoso como o outro — ele choramingou e Sophie suspirou.
— Se você não prometer, não vai ficar brincando com a Anna o dia todo — ela encarou o filho severamente, fazendo-o suspirar.
— Tá bem, mamãe, eu vou tomar tudo — disse ele. — Agora me põe no chão!
Sophie sorriu e virou-se para Julia.
— Espera aí que eu já venho — disse ela antes de sair dali quase correndo com Henry nos braços.
Julia respirou fundo e se afastou da porta da casa de Hayley, mas deixando-a aberta. Passou a encarar aquela rua e lembrar-se de todas as coisas que passara ali. Lembrar-se do quanto ela marcara sua vida, de uma forma tão avassaladora.
Ela passou uma mão pelo rosto e escutou a buzina do táxi. Virou-se para o carro e sorriu, fazendo um sinal para o taxista esperar só mais um pouquinho. Sinceramente, que homem apressado! Nem parecia que era sulista! O que acontecera com a calma e a hospitalidade?
Julia escutou passos. Ótimo, finalmente Sophie estava vindo. Virou-se de uma vez, abrindo a boca, pronta para bronquear a amiga mais uma vez. Mas as palavras ficaram presas em sua garganta quando ela vira que, diferente do que pensara, não era Sophie quem estava chegando.
E sim um homem. Um homem alto, moreno, de olhos chocolates hipnotizantes, e cabelo ligeiramente curto, liso, castanho escuro. Um homem de corpo extremamente forte e esbelto, ombros largos, bíceps e tríceps aparentes, peitoral, barriga e coxas perfeitamente definidas. Um homem com um sorriso sincero e apaixonante nos lábios grossos e atraentes. Um homem que certa vez, ainda quando menino, fora dela.
Julia sorriu quando seus olhares se encontraram.
Meu Jesus, Nate estava maravilhoso. Seu jeito parecia não ter mudado nada, o formato de seu rosto parecia o mesmo de sete anos atrás. Ele estava muito maior, claro. Julia só crescera uns três centímetros desde a última vez que se viram e Nate parecia ter crescido uns dez. Estava alto, esbelto, forte, lindo. Julia sentiu uma súbita vontade de se jogar em seus braços, e o faria, se ele não estivesse acompanhado de uma loira azeda. Ah, que se dane ela, Nate estava à sua frente, totalmente lindo e perfeito! Seus lábios se abriram em um sorriso sincero e mais aberto impossível, e Julia se deu conta de que devia estar sorrindo como uma idiota também. Que se dane.
Nate afastou um pouco da camiseta que estava usando e levantou seu pulso, mostrando a ela sua tatuagem, deixando-se dar uma risada. A loira ao seu lado estava falando alguma coisa que tanto ele, quanto ela, não prestavam atenção. Julia sorriu ainda mais vendo a tatuagem, quase pequena, no pulso forte dele. Levantou seu pulso também, afastando a pulseira que usava, mostrando sua tatuagem lá, limpa e preta, como era desde os seus quinze anos de idade. Nate só pareceu sorrir ainda mais e deixou a loira para trás enquanto vinha de encontro à Julia.
Logo seus braços estavam rodeando-a, apertando-a contra si, e Julia sentiu um arrepio correr toda o seu corpo e alma. Seu coração pareceu pular pela boca e ela sentia o coração de Nate colado ao seu corpo, batendo tão rápido que parecia que ele teria um infarto a qualquer momento. Embrenhou os dedos nos seus cabelos, aspirando seu cheiro viciante e sentindo-se entontecer com ele. Sentiu-o beijar delicadamente seu pescoço, enquanto a apertava ainda mais contra si e quase desmaiou.
Era verdade? Não era uma miragem? Ela realmente estava ali com Nate? Seu Nate?
— Você está maravilhosa — ele sussurrou em seu ouvido, sem parar de apertá-la. Julia sentiu-se derreter quando sentiu o calor da respiração dele tão perto, sua voz tão grossa e tão decidida e tão embriagante. Achou que iria morrer.
— Eu sei — ela respondeu, fazendo-o rir, e dando-se conta de que já apertava a nuca dele com tanta força que com certeza ficaria uma marca. Afrouxou o aperto, sorrindo, perdendo-se no corpo dele, na voz dele, na respiração dele, no cheiro dele. Nele em si. — Você também está uma graça, se quer saber.
— Oh, obrigado — Nate disse, sem soltá-la, parecendo admirado. Julia sorriu e brincou com o seu cabelo, o queixo deliciosamente pousado em seu pescoço. Sentiu uma vontade enorme de beijá-lo. — Senti sua falta.
Por vontade própria, seus lábios tocaram o pescoço dele, e ela notou que os pelos de sua nuca eriçaram-se mais do que já estavam. Dentro dela, seu organismo estava uma bagunça, seu coração batia descompassadamente e seu estômago revirava. Ela arfava, sem conseguir manter o ar dentro dos pulmões. Suas pernas haviam perdido a força. Caramba, ela iria desmaiar se continuasse ali por muito tempo.
Não que isso seja algo ruim.
— Senti sua falta também — ela sussurrou muito devagar, sentindo seu coração colado ao dela, apertando seu ombro com mais força. — Você não sabe o quanto.
Ao lado dela, alguém pigarreava. Julia sorriu com toda a simpatia que tinha, quando lentamente as mãos de Nate tocaram sua cintura e afastaram-na dele por um momento. Mas mesmo separados, Nate não parara de tocá-la.
— O que foi, Lindsey? — perguntou ele, aparentemente irritado.
Lindsey, a mulher loira e seca, ergueu as sobrancelhas, completamente irada.
— Ainda não me apresentou sua amiga — disse ela, fulminando Nate com os olhos. Julia sentiu vontade de cair no chão de gargalhar.
— Ela não é minha amiga — Nate sorriu tranquilamente. — Julia Bynum, essa é Lindsey Kyle, minha amiga.
Ao invés de rir da cara da loira que transformara sua pele branca em um pimentão, Julia estendeu sua mão delicadamente e disse com muita convicção:
— É um prazer te conhecer, Lindsey.
E não mentiu. Realmente estava sendo prazeroso vê-la com tanta raiva.
— Igualmente, Julia — Lindsey respondeu contra sua vontade.
— Hum... — todos ali voltaram-se para Sophie, que agora estava atrás deles. — Tudo bem, Juzy?
Julia sorriu, mostrando seu bom humor para Sophie e para quem mais quisesse ver. Diferentemente de Nate, Soph parecia muito embaraçada com toda a situação.
— Claro — respondeu Julia. — Vamos indo, antes que você se atrase — disse, fazendo Sophie parar em seu lado. Voltou sua atenção para Nate e Lindsey. — Foi incrível te rever, Nate. Até mais, Lindsey!
Nate apenas sorriu, como se dissesse que eles iriam se ver mais vezes, e Lindsey nem se deu ao trabalho de forçar um sorriso. Julia se virou e entrou no táxi, acompanhada de Sophie, sentindo-se simplesmente maravilhosa por tudo que havia acontecido.
Não ligava para Lindsey ou o que ela seria realmente de Nate. Simplesmente estava mais do que feliz por tê-lo visto novamente. Parecia que uma chama se acendera dentro dela, acompanhada de uma coisa que ela não sentia há muito tempo: paz.



[...]



Sophie encarou o vasto prédio à sua frente e deixou que um sorrisinho aflorasse em seu rosto.
Por enquanto, sua estadia em Nashville não havia lhe trazido tantos problemas. Na realidade, tudo estava bom demais. Henry parecia ter sido feito para essa cidade. Apaixonara-se pelo clima menos temperado, amava ser mimado por todo mundo e fizera uma grande amizade com Anna Elizabeth, a filhinha de Danna e Hector. Os dois simplesmente não se desgrudavam. Assistiam a desenhos, futebol e Harry Potter juntos, brincavam e conversavam o tempo inteiro. Danna dizia que achava que Anna era tagarela, mas nada comparado a quando ela estava com Henry. Pareciam ter sempre um assunto novo. Além do mais, Henry dissera para Sophie ainda esta manhã que Anna era a melhor amiga que ele já teve, mesmo que fosse uma garota e mesmo que fosse mais novinha. “Ela era muito legal”, segundo ele.
Sophie amava ver o filho feliz da maneira que estava, sobretudo quando Julia voltara de Londres. Como era de se esperar, ela também fizera amizade com Anna. Às vezes parecia que Julia era adepta a todo tipo de criança.
E claro que Sophie também não poderia deixar de estar feliz diante do reencontro de Nate e Julia que aconteceu ainda há poucos minutos. Sua amiga não parara mais de sorrir durante um segundo, exatamente como uma adolescente bobinha e apaixonada. Apertava sua tatuagem com força e quando Sophie olhava para ela e ria, Julia ria também, como se captasse a graça. Estava elétrica, mesmo que Nate estivesse acompanhado de sua pseudonamorada.
Havia ainda o fato de elas terem gostado muito do apartamento que acabaram de visitar. O preço estava em conta, e elas morariam perto de Marie, sua prima. O único que não gostaria de se mudar da casa de Danna era Henry, mas nada que poucas promessas não possam contornar.
Marie também estava divina. Casara-se com Dan há quase dois anos e eles ainda estavam completamente apaixonados um pelo outro, como no primeiro dia. Sophie os visitou durante muito pouco tempo, apenas para a prima conhecer Henry, mas ainda assim saiu de lá feliz. Por que ela parecia imensamente feliz.
E agora Sophie estava em frente ao prédio onde trabalharia. Estava animada para dar aulas outra vez, mesmo que houvesse passado apenas pouco menos de duas semanas sem lecionar. Sentia saudade de ensinar, ver os alunos aprimorando a si mesmos na música, desenvolvendo um vínculo maior com a música do que com outras disciplinas. Gostava de fazê-los abrir sua mente para um mundo novo de música, arte e literatura, pois era tudo o que a disciplina englobava. Sophie sentia falta de passar mais da metade de seu dia rodeada por crianças.
De modo que era impossível não estar feliz. Seu filho se dando bem com sua nova vida, tudo ao seu redor se ajeitando, sua família tão perto dela, e agora ela voltaria a dar aulas e ganhar seu próprio dinheiro. Tudo estava tão bom que estava até difícil de acreditar que era verdade.
— Sophie Farro, nova professora de piano — ela informou ao guarda, que assentiu com a cabeça e deixou-a entrar. Sophie deveria ir até a uma pequena reunião com o diretor da escola de música, para saber quais seriam suas aulas e turmas durante a semana e ainda analisar o conteúdo programático. Segundo as coordenadas do guarda, ela subiu todas as escadas para o último andar, onde se encontravam as salas de detenção, a sala dos professores e as salas dos diretores. Sala 2. Era para onde ela deveria ir.
Parada em frente à sala, Sophie bateu levemente na porta. E quase desmaiou quando a mesma foi aberta.
— Luke? — ela deixou seu queixo cair, encarando o homem despojado com um aspecto meio geek que a encarava com um meio sorriso malicioso no rosto. Sophie piscou, sem acreditar em seus olhos.
— Srta. Farro — disse ele, abrindo a porta e lhe dando passagem. — Entre, por favor.
Sophie não soube onde achou força nas pernas para andar para frente, adentrando aquela sala impecavelmente elegante. Seus olhos saíram de foco por um tempo e só voltaram quando ela leu a placa que estava em cima da bonita mesa de madeira.
“Principal Luke N. Davis”
Oh, merda.
— Sente-se — ela ouviu Luke ordenar. Sophie ficara atônita por tanto tempo que ele já havia se sentado na cadeira larga por trás da elegante mesa de madeira.
— Você é o diretor? — perguntou ela com a voz oitavada, sem acreditar em tudo aquilo. Era uma pegadinha, não? Uma brincadeira de mau gosto, só pode.
Obviamente ele é — Sophie virou o rosto imediatamente em direção à voz, encontrando uma adolescente de no máximo dezesseis anos, com os cabelos cacheados e meio coloridos, encarando-a com uma expressão maldosa e intimidadora. Como...?
— Quem é você? — ela perguntou, franzindo a testa.
— Tereza Fletcher, irmã de Dan, minha assistente pessoal — Sophie virou o rosto novamente na direção de Luke. — Sim, eu sou um dos diretores. Agora sente-se.
— Você tem uma assistente pessoal? — Sophie estava boquiaberta com toda a situação. Era coisa demais para digerir.
— Ele precisa de uma — quem respondeu foi Tereza. — Afinal, um produtor musical nomeado, compositor, guitarrista de duas bandas, administrador de metade de uma empresa e diretor de uma escola de música não consegue cuidar de sua agenda sozinho. E isso por que eu nem mencionei as mulheres. — Disse ela, com quase indiferença, mas mantendo um meio sorriso maldoso no canto dos lábios.
Sophie piscou, respirando fundo, tentando processar toda a informação que acabara de receber. Mas a simples notícia de que Luke era o seu chefe ainda não entrara em sua cabeça.
Este, agora, mantinha o mesmo sorriso nos lábios. Seu olhar também estava maldoso e sombrio, mesmo que inibido pelos óculos que cabiam perfeitamente em seu rosto.
— Isso não... — Sophie abaixou os olhos, engolindo seco. — Não faz sentido. Você me contratou? — ela encarou Luke. — Danna me disse que quem me contratou foi um amigo do Hector.
— Não, obviamente eu não te contratei — Luke respondeu já sem nenhum sorriso no rosto. Só parecia fulminá-la com os olhos. — Foi Dan. Nós dois comandamos essa escola e ele fica responsável pelos funcionários contratados.
Sophie finalmente se sentou de frente para a mesa imponente e bonita de Luke. Seu olhar ainda continuava sobre ela, fulminando-a. Ele estava com tanta raiva.
— Certo — disse ela, suspirando e levantando o olhar para encarar Luke de frente com a mesma intensidade que ele o fazia. O que pareceu surpreendê-lo.
— Aqui está seu horário e seu conteúdo programático — Luke entregou-lhe alguns papeis. — Como pode ver, a Srta. trabalhará durante todos os dias úteis, das dez da manhã até as cinco da tarde.
— Vou lecionar apenas piano? — perguntou ela.
Luke assentiu com a cabeça.
— Estou ciente de sua formação em canto e teoria musical, mas já temos professores melhor qualificados para estas aulas — Luke coçou sua barba, sem deixar de encará-lo. — A Srta. só lecionará piano.
— Pare de me chamar de Srta, Luke — disse ela, levantando a voz, quase desafiando-o. — Você me conhece há muito tempo.
Luke riu.
— Já tem seis anos que eu sinto como se não te conhecesse, Srta. Farro — ele disse entre dentes e voltou a encará-la com rancor.
Mas dessa vez Sophie viu algo em seus olhos que não era apenas raiva.
Ela viu dor.
Sophie suspirou, mordendo o lábio inferior. Levou sua mão até seu cabelo colorido, colocando-o por trás de sua orelha, e levantou os olhos para encarar Luke.
— O que aconteceu com você? — perguntou ela, tão baixo que mal se escutou.
— Já te entreguei seu horário. Você pode ir agora. — Luke disse depois de hesitar, retirando seus olhos dela e voltando sua atenção para seus papeis.
Sophie sentiu seu coração se despedaçar e uma vontade irreversível de tentar mudar toda aquela mágoa e aquela situação nasceu dentro dela. Quis gritar para Luke que ele estava sendo injusto. Que ela não fora embora para machucá-lo. Que ela sentira tanta falta quanto ele, talvez mais. Que ela também se machucara com aquilo. Que ela o fizera por não ter escolha. Que Henry era seu filho.
Que ela ainda o amava.
Mas ela não o fez. Ao invés disso, murmurou um “obrigada” e se levantou, caminhando calmamente para fora daquela sala claustrofóbica. Ciente de tudo o que sempre imaginou que havia feito.
Luke a odiava. Agora ela tinha certeza disso.



Notas Finais

Ei, bebês, lindos, maravilhosos! s2s2s2s2
Como vão vocês?? *U*
Vamos conversar um pouquinho em relação a este blog e este capítulo e esta fanfique. ASKSPOKAS

Pra começar, vocês notaram que aqui não teve notinha inicial. BEM, BEM, BEM, eu decidi não colocar, por que nas finais eu posso dizer tudo o que eu preciso. Além do mais, quando postava no orkut, eu também só fazia notinha final. ENFIM, nem por isso elas ficarão menores. HEHEHEHEHE
Eu tenho algumas coisitas importantitas para falar com vocês, então, vamo q vamo. Pra começar, este blog.
No capítulo passado, houveram váááárias reclamações da caixinha de comentário do blogger. JUSTO, ORAS, POR QUE A CAIXINHA ERA UMA BOSTA. Mas foi horrível, teve gente que perdeu comentário, teve gente que nao conseguiu comentar, teve gente que teve que fragmentar o comentário.... TEVE TANTA COISA!
Então eu mudei a caixinha de comentário do blog pra caixinha de comentário DISQUS, que é um serviço DI GRATIS que achei na internet. Além de ser de graça, é super fácil, dá pra logar com o face, o twitter, ou com o email, qualquer email. QUALQUER UM PODE DEIXAR COMENTÁRIO! Então, né, não tem desculpa :3 E àqueles que perderam o comentário (isto é: o comentário sumiu do chap passado por que ao instalar o disqus o resto da outra caixinha some), pode ir ver minha resposta lá na page da OAV Fanfics.
OH, VC NAO SABE QUAL É A PAGE DA OAV FANFICS?
------------------->
PÃSLÃOPSK~SOPLKS SIM, EU CONSEGUI COLOCAR A CAIXINHA DO FACEBOOK AQUI TAMBÉM! então, gente, vai lá na page, curte aqui, que isso tá super legal.
Hum... eu também fiz um ask.fm, pra quem quiser perguntar e não tiver coragem.... 
Não, eu não respondi nada mesmo. Fiz isso unicamente para vocês. Mas se for me xingar, plmdds, se identifique, pq senão eu nem me estresso ÁLSÃPS´LAS´LÇ
Acho justo dizer que to amando responder os comentários novamente *U* me esqueci do quanto era bom. MAS, CASO EU DEMORE COMO FAZIA ANTIGAMENTE, NAO ME MATEM. Fiz minha inscrição no PAS esta semana e estou tipo, morrendo de estudar.
Mas tá.
Quanto a este blog. Eu estou.......................PASMA. Sim, pasmíssima.
Cara, nós chegamos as 1200 visualizações em pouco mais de UMA SEMANA de blog. Quer dizer, eu criei ele na terça, inaugurei no domingo, e agora, um domingo depois, EIS QUE ESTOU COM MAIS DE UMA MILHA DE VISUALIZAÇÃO TIPO WHAT. 230 PESSOAS VIRAM O ÚLTIMO CAPITULO, SENDO QUE APENAS 13 COMENTÁRIO. QUE QUE ISSO PRODUÇÃO
ASLA~PS´KA~SOPLKAPOSLKSA
ÉÉÉ! AGORA EU POSSO  VER VOCÊ, FANTASMINHA!
Se você se identificar, vai fazer uma escritora muito feliz.
E, sobre uma coisa que vocês provavelmente não viram, como....  BREVE.
Vejam aí. Tá escrito Breve.
ÁPLSASLA´SAS´~APLKS ---->
GENTE, OLHA! Agora vocês sabem por que a PMD nao está postada aqui (:
Eu vou reescrevê-la e vou postá-la de forma interativa. Vai ficar maneirinho, pq a pmd é bem... forte, se pá, facil de se ler no interativismo (?), aqui mesmo no site. Obviamente em um link html, que eu ainda vou providenciar, MAS NÃO SERÁ EM BREVE ASSIM. Esse SOON é quase igual o soon da Hayles ASOPASPOAKSPAOSK Lá pra dezembro eu faço isso, e inicio outra fic que nao coloquei no BREVE por que ainda não decidi o nome. Aí, probably, vem a Trucker, que vai ser bem engraçada. TALVEZ venha uma oneshot de OAV, depois do término dessa querida aqui. E como a Meu Melhor Amigo Colorido também é oneshot, vou reescrevê-la e postá-la qualquer dia desses. PAPSKAS 
Que mais tenho de dizer?? hmmm
Acho que é só, por enquanto.
Talvez... vale frisar que daqui a quinze dias a OAV2 faz um ano. OPLAS~POLS acho que vou morrer.
Vamos falar sobre esse capítulo.
BEM VINDA A OAV, TEREZA! PAOSKAS~PAKSLÕPASKA 
Vei, vocês notaram que ela é muito foda. Ela é mesmo. Má mesmo. Terrivel mesmo. Mas não a odeiem pelas ideias dela com Soph, pq, né, tudo o que ela sabe sobre a garota é o que Luke contou a ela, e Luke está mt magoado, como vocês podem notar. ÃOPSLKA~LS
E NATE E JULIA S2S2S2
EU SURTEI O DIA DE ONTEM INTEIRO POR CAUSA DISSO, CARA!!!!!!!!!!!!!!
Mas como eu dei o spoiler pras minas ontem no grupo, esse AINDA NÃO É O REENCONTRO OFICIAL  DE NATE E JULIA. O reencontro oficial englobará o verdadeiro reencontro emocional e físico deles. PORTANTO, AGUARDEM COM VIGOR.
Á~LSASPALSAP´SLAS
Novamente, eu agradeço demais a todas as meninas (e meninos) lindos e maravilhosos que comentaram pra mim no capítulo passado.Todos os que não comentavam e só viram por que são fofos. NÃO ME ABANDONEM, EU AMO VOCÊS! s2 E... obrigadão mesmo.
O próximo domingo vai dar dia sete, e provavelmente vai ser bem aí que eu vou postar esse próximo capitulo.
BEIJOSHUAS, BEBÊS LINDOS! ATÉ DOMINGO! ;* <3

23 de set. de 2012

Capítulo 53

You can't run away... you wouldn't. 



Cinco anos e meio depois


Céus, ela estava quase atrasada. Visualizou o relógio de parede acima da pia — sua amiga maluca o havia colocado no local mais improvável possível. 7h15min. Respirou.
Tudo bem, ela ainda poderia chegar na hora. Só precisava terminar o café da manhã, arrumar seu filho e fazê-lo comer, levá-lo até a creche e ir em direção à escola. Em quarenta e cinco minutos.
Droga, era muito pouco. Ainda mais levando-se em conta que Henry demorava uma vida para comer e parecia superentretido com seu desenho animado, o televisor no último volume na sala ao lado da cozinha.
Sophie suspirou.
— Henry Lucas Farro, pela última vez, abaixe esse volume! — gritou ela, sentindo-se um pouco menos estressada quando notou que o som que ecoava da tevê ficou mais baixo.
Desculpe, mamãe! — ela escutou o grito agudo do filho e virou-se para o fogão, dando uma última mexida nos ovos e virando o bacon. Gloriou-se mentalmente por não se queimar desta vez. Sinceramente, às vezes parecia que Sophie tinha um imã para óleo quente. Seu braço ainda ardia pela última gota que a queimara, semana passada.
Ela apagou o fogo dos ovos, deixando o bacon fritar durante mais um tempo — Henry gostava do seu bacon muito bem passado, quase queimando —, e foi até a torradeira que havia acabado de apitar. Colocou a torrada do filho em um prato de porcelana com a estampa do Mickey Mouse que Julia havia comprado numa loja de utilidades, sabe-se lá aonde, em uma de suas viagens a trabalho. Julia sabia que Henry era meio obcecado por desenhos antigos, especialmente o Mickey Mouse e sua turma, Snoopy, Bob Esponja e até mesmo o Pica-Pau. Mas ele também adorava desenhos atuais que envolviam muita computação gráfica, além de gostar de desenhos que não eram tão atuais, mas ainda assim, não deveriam fazer sucesso para uma criança de apenas cinco anos. Ele tinha uma estante inteira apenas de DVD’s de desenho animado que Julia comprava para assistir com ele.
Neste momento, Sophie conseguia reconhecer a voz de Jake, o cachorro elástico do desenho Adventure Time. Henry acordara às seis horas da manhã para não perder a maratona que passava na Cartoon Network e Sophie aproveitou para corrigir as provas que precisava, enquanto escutava as risadas contagiosas do filho e, mais uma vez, agradecia a Deus pela bênção que era tê-lo. Acabou levando mais tempo do que o que ela pensava, e agora só faltavam quarenta minutos para ela chegar ao colégio, onde dava aulas de piano, canto e teoria musical para alunos do quarto ao nono ano, o que não era um trabalho nada fácil. Além de ter que lidar com alunos que não queriam nada com a vida, vira e mexe um garoto de doze anos se “apaixonava” por ela (Julia havia dito uma vez que se estivesse com doze anos e sua professora de piano fosse tão jovem e gostosa, ela provavelmente se apaixonaria também). Lidar com pré-adolescentes era tão exaustivo que Sophie gostaria que Henry tivesse cinco anos para sempre.
Sinceramente, essa parecia a melhor fase de uma criança. Os primeiros meses foram terríveis, Sophie era muito nova e não tinha nenhuma experiência, além de ainda ter de frequentar para a faculdade de música (Camie lhe ajudara muito nesta época). Ela e Julia se reviravam ao avesso para poderem cuidar do pequeno recém-nascido, e ainda assim era tão difícil. Sophie estudava à noite e Julia trabalhava e estudava o dia inteiro, tendo que cuidar de Henry quando Sophie estava na faculdade. Quando ele fez um ano de idade, elas já não se aguentavam mais. A exaustão havia tomado conta de ambas, junto à culpa que Sophie sentia por estar criando um bebê longe de sua família.
Foi então que houve a ligação. A ligação que Sophie fez para Hayley para dizer que ficara grávida e tivera um filho.
Céus, fora um horror. Hayley esbravejou ao telefone — logo depois de se recuperar do choque inicial, que incluía a total discórdia e achar que tudo aquilo era uma simples brincadeira —, brigou, gritou, chorou. E quando perguntou sobre o pai da criança, Sophie... apenas respondeu que não sabia quem era.
Isso foi o fim. Sua mãe largou o telefone e logo Sophie ouviu a voz de Josh, que parecia muito mais calma do que a de Hayley. E realmente estava. Josh com certeza estava magoado, mas... tanto ele quanto Sophie sabiam que ele não estava em posição de brigar com ela, uma vez que ele fizera quase a mesma coisa em relação a Danna. Conversou com Joe e com Nate em seguida, ambos com as vozes mais grossas do que ela se lembrava, apesar da voz de Joe estar um pouco arrastada e mais rouca. Ambos estavam pasmos, Joe ficou chateado por Sophie não tê-lo contado. Até que Hayley reapareceu, sem parar de brigar, e Sophie encerrou a ligação com um “eu já assumi a responsabilidade! E vou criá-lo sozinha, como tenho feito ao longo desses seis meses.”.
Isso por que Sophie não podia dizer a real idade de Henry. Se dissesse que ele tinha um ano de idade, bem, não era preciso fazer muita conta para descobrir que as dadas condiziam e que, afinal, o filho de Sophie era também filho de Luke.
Foram quase duas horas com o telefone grudado a orelha, escutando o choro e a briga da família, Julia encarando-a com preocupação e lhe dando apoio moral. O pequeno Henry, tão inocente, dormia em seu quarto como um anjo, sem ter a mínima ideia do que acontecia fora dele.
Os dias seguintes, entretanto, foram muito mais tranquilos. Julia conseguiu um trabalho remunerado e Sophie passou a estagiar no mesmo lugar onde dava aulas até hoje. Quando Henry tinha dois anos de meio, Hayley, Josh, Joe, Danna e Hector foram visitá-los. Sophie comunicara Julia sobre a vinda de sua família até Londres e, sinceramente, nunca vira a amiga empalidecer tão rapidamente de forma tão brusca. Parecia que o sangue tinha fugido de seu rosto, e ambas sabiam a razão.
Mas Nate não iria visitá-las. Havia entrado no exército e estava em treinamento contínuo por dois anos, impossibilitado de visitar outro país por tanto tempo.
E acabou sendo uma das semanas mais incríveis da vida de Sophie. Não se lembrava do quanto sentia saudade de seus pais, de modo que os abraçou tão apertadamente da primeira vez que os viu que começou a chorar. Joe estava tão grande, e Sophie quase desmaiou quando Danna anunciou que o pequeno Henry teria um priminho (que, no fim, acabou sendo uma priminha). Estavam todos tão diferentes, tão mudados, e Sophie se deu conta de que havia mudado também, e muito. Mesmo que só tivesse dezenove anos, já era uma adulta desde o momento em que Henry Lucas, seu bebê tão lindo, nascera. Não parara de pintar o cabelo, mas crescera, física e emocionalmente. Não era mais uma adolescente. Era... uma mãe.
Henry fora o xodó do momento, evidentemente. Todos ficaram chocados com sua esperteza e precocidade, além de ser inegável que o bebê era mesmo a criança mais linda do mundo inteiro, sobretudo quando se sentava ao piano da mãe e começava a martelar as teclas, gargalhando gostosamente quando o som das teclas ecoava.
Ele era muito pequeno, mas já parecia carregar os genes musicais dos pais. Ou então, havia aprendido a amar música por todas as horas que Sophie passava tocando piano mesmo quando estava grávida dele, ou quando bebê ficava em seu colo, dormindo calmamente ou sorrindo enquanto ela treinava as obras que precisava para a faculdade. Isso era tão comum que até hoje, cinco anos e meio depois de seu nascimento, o garoto se sentava no colo da mãe para escutá-la tocar.
E claro que todos acharam Henry muito precoce e grandão para um garoto de dois anos de idade, sobretudo quando ele era precoce e grandão mesmo para um garoto de sua idade. Tinha dois anos e meio e quase não falava errado, além de já ter aprendido a usar o banheiro — feito este que Sophie simplesmente amou. Não havia nada pior do que ter de acordar de madrugada para trocar suas fraldas.
Ossos do ofício.
E claro, ainda havia a época em que Julia perdeu o emprego e... bem, faltou dinheiro. Foi a pior época pela qual eles passaram, e se não fosse por Tarris, Sophie e Julia não aguentariam as rédeas da situação. Não podiam parar de pagar a creche de Henry por que não tinham tempo para cuidar do garoto, e claro que elas compravam as coisas que eram úteis para a casa e os livros da faculdade antes de pagar as contas do apartamento. Infelizmente, isso deixou-as endividadas até o pescoço e Sophie conseguira limpar seu nome fazia apenas dois meses. Julia, sem fazer nada pelo período de tempo que supostamente deveria estar trabalhando, passou a escrever artigos de acordo com suas próprias ideias, vocabulário e fontes, e postá-los na internet por meio de um blog que ela mesma criara. O incrível fora que as pessoas passaram a ler o que ela fizera apenas por pura diversão e, hoje, o blog de Julia era um site noticiário formado por uma equipe, todos ex-universitários, colegas dela. O dinheiro que passaram a ganhar com propagandas e patrocínio fora o suficiente para mantê-las em um padrão pouco mais folgado de vida. Mesmo que Sophie sempre atrasasse a conta de telefone. Depois da criação do site, mesmo na faculdade, Julia passou a receber propostas de empregos de todas as editoras e jornais do país. Todos se encantaram pelo seu jeito irônico e verdadeiro de ver e mostrar as coisas ao povo. E oras, ela seria formada por Oxford! Quem não iria querê-la?
Agora, formada, Julia não estava trabalhando para ninguém senão ela mesma. Tinha um pequeno escritório no centro onde se reunia com seus colegas e projetava as notícias para aquele dia, além de andar sempre com o iPhone em mãos, atenta a toda e qualquer notícia que possa acontecer dentro da Inglaterra ou mesmo no resto do mundo.
Sophie também mal conseguia se lembrar de quando Henry completou três aninhos sem chorar. Havia contraído uma gripe inicialmente, mas... a gripe não sarou. Deu-se uma tosse que não acabava, febre, vômito, por vezes sua respiração ficava comprometida. Sophie perdeu a conta de quantas vezes ele chorava e apontava para seu peito, dizendo que “seu coração estava doendo”. Ela o levou ao hospital diversas vezes, recebendo sempre o mesmo diagnóstico: gripe. Mas a gripe de Henry não cessava, e então, em outra consulta, quando ele fez o hemograma e a radiografia, descobriu-se que o pequeno menino havia contraído pneumonia.
Ainda passando pela crise financeira, Sophie nunca havia se sentido tão angustiada em sua vida. Suas notas na faculdade caíram consideravelmente, pois ela deixava de ir as aulas para ficar com seu filho, certificar-se de que ele estava bem e sem tossir, sem febre, sem dor, sem falta de ar, comendo direito. Ele havia emagrecido tanto, e Sophie simplesmente entrava em pânico quando ele não conseguia respirar. Chorava com ele quando ele dizia que seu peito estava doendo, e chorava sozinha quando finalmente conseguia fazê-lo dormir. Henry havia se tornado uma criança complicada para comer nessa época, e isso havia se estendido até hoje.
Foi o mês mais difícil que Sophie já passara em sua vida. Não conseguia dormir, não conseguia trabalhar, não conseguia estudar. Só conseguia pensar em seu filho, doente, com aquela doença terrível. Após todo o tratamento e as visitas ao hospital, Henry finalmente sarou. Até hoje Sophie brigava com a síndica do prédio para fazer as manutenções dos ares-condicionados, e retirara-o da creche que recusou a fazê-lo. Além de garantir que Henry comesse todos as vitaminas que precisava.
Mas mesmo com todas as dificuldades, Sophie não conseguia imaginar sua vida sem seu pequeno filho. Ele havia se tornado o centro do seu mundo, e tudo o que ela fazia era para ele de alguma forma. Não havia nada no mundo que Sophie amasse mais do que Henry, o travesso, teimoso, e apaixonado por desenho animado Henry Lucas. Toda vez que ela se sentia magoada por algo que fizera no passado, só precisava olhar para seu rostinho jovial e inocente para sentir que tudo valera a pena. Só precisava ver seu sorriso e seus olhos perfeitos para se derreter. Só precisava sentir seus bracinhos em volta do seu pescoço, abraçando-a como se ela fosse a mulher mais incrível do mundo para saber que tinha feito a coisa certa.
A coisa certa fora ficar com Henry para ela.
— Cheguei, amores! — Sophie saiu de seus devaneios quando escutou a voz de Julia ecoando pela casa. Retirou o bacon do fogo, colocando as fatias sobre os pratos de porcelana.
— Bom dia — Sophie disse, levando os pratos para a mesa. — Henry, vem comer!
Peraí — ele gritou de volta, fazendo Sophie revirar os olhos e encarar a amiga a sua frente. Seu cabelo estava molhado e o único vestígio de maquiagem em seus olhos verdes era um rímel que ela com certeza havia acabado de passar. Sua bolsa parecia abarrotada e, ora, Julia não tinha nenhuma camiseta do Bon Jovi. Some isso ao fato de ela estar chegando em casa as sete e vinte da manhã e não é preciso ser um gênio para adivinhar onde ela estava.
— Sério, eu tenho que parar de esperar você chegar em casa — Sophie disse, sentando-se à mesa e dando uma garfada de seus ovos. — Você podia ligar. Não estava no escritório?
— Desculpe, papai — Julia revirou os olhos, fazendo Sophie rir. — Sim, estava no escritório, mas fui tomar uma cerveja com o Bruce depois disso.
Sophie parou de mastigar.
— Bruce não é o cara casado?
Julia apertou os olhos.
— Claro que não! O que acha que eu sou? — ela deu ombros e Sophie voltou a comer. — O que se casou é o Paul. Pelo amor de Deus, como você confunde Bruce com Paul?
— Você também dormiu com o Paul — Sophie disse em tom inexpressivo, sem ligar.
— Isso foi antes de ele se casar — Julia explicou-se. — E já faz um tempão, por favor, pare de me condenar!
— Você tem que parar de dormir com os seus funcionários, Julia — Sophie apontou com o garfo para a amiga. — Henry, ande! Os ovos vão esfriar!
Peraí, mamãe, tá quase no fim!
— Não tenho, não — Julia disse, sentando-se e largando a bolsa em cima da mesa. — Essa é uma das poucas vantagens de ser a chefe. E eu não estou cometendo nenhum crime, se quer saber. Bruce já estava me cantando há uns dois meses. E eu sou uma mulher de vinte e três anos bem sucedida, linda e independente na capital da Inglaterra. Faço bem de estar dormindo com quem eu quiser.
Sophie negou com a cabeça.
— Primeiramente, você só tem vinte e dois. E depois, certo, você é independente e linda e blábláblá, mas... quanto tempo tem que você não sente algo por um desses caras?
— Acredite, eu senti algo ontem à noite enquanto o Bruce... é melhor não terminar a frase — ela se calou ao ver o olhar fulminante de Sophie. Havia proibido Julia de falar besteiras ou palavrões na frente de Henry há um bom tempo.
— Eu não estou falando de s-e-x-o — Sophie soletrou, preferindo prevenir que seu filho não estivesse chegando. — Você é uma garota incrível e metade desses caras se declararam para você. Sabe, Julia... você precisa se apaixonar de novo. Amar, sabe. Amar e ter um homem te amando de volta.
Julia encarou Sophie como se ela houvesse acabado de dizer a coisa mais retardada do mundo.
— Certo, você tem razão — ela disse em seguida. — Lucas!
O quê? — Henry respondeu ao grito de Julia na sala.
— Eu te amo, você me ama?
Aham!
— Então diz que me ama!
Eu te amo, tia Julia — ela escutou o grito da criança e sorriu para Sophie.
— Viu? Eu amo um homem que me ama de volta, e tive ontem uma noite de s... s-e-x-o, incrível. Minha vida está completa. — Julia deu de ombros. — E não me venha com essa de “você precisa amar”, Srta. Responsabilidade. Quantos anos têm que você não fica com ninguém?
Sophie suspirou.
— Não preciso disso.
— Por favor, Soph! — Julia se remexeu na cadeira. — O mais perto de experiência s... s-e-x-u-a-l que você teve desde o nascimento do Lucas, foi quando aquele professor esquisito te beijou naquela festa esquisita de alunos esquisitos.
Sophie riu.
— Novamente, Juzy, eu não preciso disso. Tudo que preciso é minha música e meu filho. — Respondeu Sophie, comendo um pedaço de bacon torrado do jeito que Henry gosta.
Julia bufou.
— Pois sabe o que eu acho? — disse e Sophie negou com a cabeça. — Acho que uma hora ou outra, Soph, você vai perceber que o Luke não foi o único.
Sophie abaixou o garfo por impulso, sentindo o sangue parar de fluir em suas veias. Engoliu, ainda pasma, pálida.
— Assim como você percebeu com o Nate? — ela não viu quando as palavras saíram de sua boca, arrependendo-se logo depois de tê-las dito. Julia havia... tocado em seu ponto fraco. Sophie se irritara e dissera as palavras sem pensar, apenas para... revidar.
Mas Julia aparentemente tinha se irritado de verdade. Levantou-se de uma vez, deixando a bolsa em cima da mesa, andando com força até o fogão. Colocou um pouco de ovos em um prato e bateu a frigideira contra o fogão.
— Não fale como se fosse escolha minha — ela se virou para Sophie, os olhos fulminando de irritação... e tristeza. — Não vim para Londres por que eu quis, Soph. Não levo a vida que levo por que eu quero.
Sophie mordeu o lábio.
— Me desculpe, eu falei sem pensar — disse, sinceramente.
Julia largou a frigideira no fogão, perdendo subitamente sua fome. Seu rosto não estava mais irritado, mas Sophie teve a impressão de que ela queria chorar. Apoiou o peso de seu corpo sobre suas mãos, no balcão, suspirando.
— Eu não ia sair com o Bruce ontem, Soph — ela confessou. — Não queria, na verdade. Mas... quando eu estava escrevendo um artigo... eu recebi uma ligação... Leonard. Leonard me ligou. — Julia não encarava mais a amiga. Olhava para suas mãos que iam empalidecendo conforme ela aumentava sua força sobre elas. — Ontem foi aniversário dele, de dezesseis anos. Eu tinha... esquecido do aniversário do meu próprio irmão, e... caramba, Sophie, ele parece tão diferente. A voz dele, segura e ao mesmo tempo travessa. Jason deu uma moto para ele e o garoto estava quase explodindo de felicidade. Disse que queria que eu estivesse lá para ver, para dar uma volta com ele — Julia suspirou, engolindo seu choro. Sophie já não conseguia mais encará-la ou comer o que estava em seu prato. Sentia em seu interior que Julia já deveria ter voltado para a América, mas a única coisa que a prendia... era ela. — Eu sinto tanta saudade, Sophie. Meu irmão, aquele pirralho irritante, virou... um homem, sabe? E a minha mãe... minha mãe parecia tão cansada, a voz dela estava embargada por estar falando comigo, com saudades de mim tanto quanto eu sinto saudades dela... Eu sinto tanta saudade da vida que eu tinha em Nashville, mesmo que ela tenha sido tão menor do que a vida que eu tive aqui... — Julia retirou uma de suas mãos do mármore, passando-a pelos olhos num gesto rápido e trêmulo. — Por isso saí com Bruce. Queria me distrair. Por que a cada dia que se passa, mais eu sinto que esse não é o meu lugar. Que Londres não é o meu lugar. Que não é aqui que eu devo ficar, mesmo que isso aqui envolva... noventa e cinco por cento da minha vida. Eu só... — Julia fungou, mordendo o lábio — ...queria voltar.
Sophie suspirou, engolindo seu próprio choro.
— Então volte — murmurou ela, encarando suas próprias mãos. Suas palavras eram sinceras, entretanto. Sabia que Julia precisava voltar. Tanto para sua família quanto... para a tatuagem que ela agora encarava.
— Não posso — ela murmurou de volta. — Não consigo deixar você e o Lucas. Não consigo me ver longe de vocês. Não consigo... você sabe que eu sou maluca por aquele garoto... Eu não posso voltar.
— Mas você deve — Sophie levantou os olhos, encontrando os de Julia, completamente abalados e confusos.
— Só se vocês vierem — ela encarou Sophie de volta e deu um sorriso nervoso. — Vocês são minha família, eu não vou conseguir me aguentar de saudade. Vem comigo.
Sophie abaixou os olhos.
— Eu não posso voltar, Julia — murmurou. — Não posso. Você sabe por quê. Você sabe por quem. Não posso voltar.
Julia suspirou, sem retirar os olhos da amiga.
— Mas você deve.


[...]


Oh, droga. E agora?
Sophie encarou sua sala de aula vazia, as carteiras largadas de qualquer maneira pelos alunos do oitavo ano que haviam acabado de sair, apressados para chegar em casa e passar o resto da tarde no computador. Bem, talvez Gina não fizesse isso, afinal, era a garota de treze anos mais dedicada que Sophie já havia conhecido, e empenhava-se em tirar a nota máxima em todas as matérias. Inclusive música, canto, matéria essa que a própria garota havia escolhido cursar. Assim como todos os outros vinte e cinco alunos da classe do oitavo ano.
Alunos esses que Sophie não voltaria a ver.
Sua cabeça trabalhava procurando uma saída. Quanto tempo havia que ela não moldava um currículo? Bem, precisava moldar um agora, e urgente. Precisava conseguir um emprego o quanto antes.
Droga. Péssimo momento para ser demitida. Sobretudo quando Julia queria tanto voltar para Nashville e o site dela estivesse se expandindo. Para Julia abrir uma filial na América não demoraria nada.
Sophie achava que conseguia aguentar tudo sozinha. Não ganhava mal na escola, afinal, trabalhava dois turnos e lecionava para mais de duzentos e vinte alunos. Era cansativo, sim, mas era o suficiente. Mas... bem, agora a escola havia achado as aulas de músicas inoportunas e estavam substituindo-as pelos esportes. Sophie e mais três professores foram demitidos, restando apenas um músico, que daria aulas simples de violão para algumas crianças que queriam realmente aprender.
Que ótimo. Sophie só havia trabalhado em apenas um lugar, precisava achar outra escola de música para lecionar, e com certeza recebendo menos do que o necessário. Isso, é claro, se ela conseguisse achar um emprego. Era só dar uma olhada nos telejornais ou mesmo no site de Julia para saber que a inflação estava terrível e a crise econômica tomava conta do país. Muitos estavam sendo despedidos, muitos procuravam emprego, poucos estavam estabilizados. A própria Julia teve de demitir dois redatores há menos de um mês.
Sozinha e desempregada, Sophie não conseguiria lidar com tudo o que estava acontecendo. Agora também não contava mais com a ajuda de Tarris, já que este havia se mudado para Dover e estava casado há menos de dois meses. Sophie sabia que isso havia afetado Julia também — ela perdera seu melhor amigo colorido, além de saber que Tarris fora para Dover procurar por Leighton, a garota que fora separada dele mais ou menos da forma como Julia fora separada de Nate. Na realidade, Tarris só estava no colégio interno em que Julia estava matriculada na época em que se conheceram para ocupar a mente — mais ou menos da forma como Nate fez, indo para o colégio militar antes da hora.
Agora Tarris estava casado com a mulher que amava. E Julia... bem, não. Dava para ver que isso machucava-a. Sophie não podia deixá-la ficar em Londres só por causa dela e de Henry. Quer dizer, o filho era de Sophie, Julia não tinha a mínima responsabilidade sobre ele, e só a ajudara por tanto tempo por que... eram melhores amigas.
Tudo bem, Sophie receberia seus direitos por ter sido demitida, isso poderia suprir suas necessidades por um tempo. Ela trabalhava naquela empresa há quatro anos! As libras que receberia por direito deveriam aguentar até ela conseguir se empregar novamente.
Ela suspirou, pegou suas coisas e saiu da sala. Tinha de esvaziar seu armário também. Oliver Schmidt, professor de flauta, não havia nem sequer dado sua última aula. Esvaziara todo o seu armário e saíra da escola com raiva assim que terminou. Na realidade, de todos os professores demitidos, Sophie foi a única que trabalhou por que prometera aos alunos que lhes diria suas médias, além de ter de entregar as provas corrigidas. Quando souberam que Sophie fora demitida, eles ficaram abalados, e ela mesma também ficou. A turma do oitavo ano era a mais fácil de trabalhar e os alunos a amavam. Fizeram até mesmo uma pequena festa de aniversário para ela, quatro meses atrás.
Sophie sentiria saudade daqueles pirralhos.
Não havia muita coisa no armário. Um diário de notas que ela teria de deixar na direção da escola, alguns livros didáticos, uma foto de Henry pregada à porta, seu celular, um caderninho de partituras, e alguns papeis que Sophie apenas jogava lá dentro. Esvaziou tudo da melhor forma que podia, preferindo deixar os papéis inúteis por lá, e levou os livros e as notas de seus alunos para diretoria, deixando-a com uma secretária qualquer. Enfiou o caderno, o celular e a foto de Henry na bolsa e apertou o sobretudo contra o corpo assim que saiu do prédio da escola particular em que lecionava. Passou a caminhar em passos rápidos conforme o ritmo de Londres mandava até a creche onde Henry estava matriculado. Teria de buscá-lo dentro de meia hora e decidiu ir andando, optando por ter mais tempo para pensar enquanto via sua respiração fazer contraste com o vento frio inglês.
Mas ela não pensou muito. Logo seu celular passou a vibrar, tocando alto uma versão piano de My Heart que ela achara na internet. Era incrível como mesmo depois de tantos anos era possível encontrar os vídeos da Paramore no YouTube.
Quando finalmente achou o celular, Sophie atendeu sem verificar o número, já com medo de perder a ligação. Murmurou um “alô” forçado.
Soph! — ela reconheceu a voz no mesmo momento, deixando um sorriso aparecer em sua face. — Por que não atendeu o telefone antes? Estou te ligando desde cedo!
— Estava na aula, tenho que dar o exemplo para aqueles meninos — ela disse de volta para o aparelho, diminuindo o ritmo do passo. — Meu celular estava no armário, me desculpe.
Eu ia deixar você ser a primeira a saber, mas como você não atendeu o telefone, não me culpe — sua voz estava estranhamente alegre demais. Sophie estranhou, mas gostou.
— Saber de quê, querida irmã? — perguntou ela à Danna, escutando sua risada do outro lado da linha. Era inegável que a pessoa com que Sophie mais mantivera contato ao longo de todos esses seis anos longe de casa fora Danna. Haviam se tornado mais próximas do que já eram quando estavam juntas.
É que... ai, espera um pouco, a Anna está chorando — ela escutou um barulho, indicando que o celular havia sido largado em algum lugar, seguido de um choro alto e fino. Anna, a pequena filhinha de Danna e Hector, mais parecia um anjinho. Tinha cabelos loiros longos que iam até as costas, baseado no que Danna dizia e nas fotos que Sophie tinha dela, já que nunca vira a sobrinha frente a frente. Anna é, na verdade, o nome da falecida mãe de Hector. — Pronto, bebê. Quer falar com a tia Sophie? — ela não pôde deixar de sorrir quando escutou a voz de Danna mais fina, brincando com a filha. Logo depois a voz da irmã foi substituída por choramingos de uma criança. — Pronto, pronto. Ok, Sophie. Sobre o quê eu estava falando com você?
Ela riu.
— Tenho que saber de alguma coisa.
Ah, sim — Danna sorriu, mais para fazer uma pausa dramática do que para qualquer outra coisa. — Eu e Hector marcamos nosso casamento.
Sophie teve que parar de andar para gritar com o telefone.
— SÉRIO?! — gritou, sem se importar com os olhares estranhos direcionados a ela. — Caramba, Danna, que ótimo! Parabéns!
Não aceito seus parabéns assim — Danna havia impostado sua voz e ainda era possível escutar os choramingos ao fundo. — Só vou aceitar quando você estiver aqui, sendo minha madrinha.
Sophie mordeu o lábio, voltando a andar. Não... não teria como ela ser a madrinha de Danna. Primeiramente, Sophie não tinha coragem de voltar para Nashville e encarar... certas pessoas. E agora ainda havia o problema de ela estar desempregada!
Por mais que Sophie quisesse ver Danna se casando, era... simplesmente impossível.
— Não posso, Danna — ela murmurou para o telefone. — Não tenho como.
Ah, Soph, por favor! Eu vou me casar! Eu preciso de você aqui, vamos, por favor, faça isso... — Danna começou a implorar.
Sophie suspirou.
— Não dá mesmo! — exclamou. — Danna, eu acabei de ser demitida. Não sei como vou conseguir um emprego e não tenho dinheiro para gastar com uma viagem tão longa e cara. É... impossível, não tem como.
Você foi demitida? — a voz de Danna parecia assustada. Ou empolgada. Ou os dois.
— Fui — Sophie começou a andar com um pouco mais de velocidade. — Assim que cheguei à escola, atrasada, para variar, tive uma reunião com a diretoria e eu fui demitida com outros três professores.
Ai, mas... — Danna começou a choramingar assim como sua filha. — Por favor, Sophie! Eu já até estou imaginando o seu vestido! Ok, mentira, eu não estou, nem ligo para isso, é Hayley que está. Mas... caramba, você precisa vir. Eu pago sua passagem e a do Henry, ok?
Sophie negou com a cabeça mesmo que a irmã não pudesse ver.
— Não, de jeito nenhum — disse ela. — Não vou aceitar seu dinheiro, ou empréstimo, ou qualquer coisa assim. Se fosse para eu ir, Danna, eu teria de ir por mim mesma, e Julia teria de ir junto. Além do mais, não tenho tempo para gastar em Nashville... E nem se atreva a falar com o Joe!
Sophie pôde escutar Danna bufando. Era incrível como quando qualquer um quisesse convencer Sophie a fazer alguma coisa, a primeira pessoa que procuravam era Joseph. Simplesmente por que sabiam que Sophie não conseguia dizer “não” para ele. Na realidade, ela até conseguia, mas ele não aceitava e no fim ela fazia o que ela queria.
Mas Joseph manipulava todos assim.
Mas eu queria tanto você aqui, cara. É especial pra mim. E Henry seria meu pajem, tão lindo, naquele terninho... — Danna já estava melhor em choramingar do que Anna.
— Desculpa, Danna — Sophie torceu os lábios. — Não vai dar.
Danna havia ficado chateada, é verdade. Sophie também ficaria caso se colocasse no lugar da irmã.
Mas Sophie não tinha coragem, simples assim. O dinheiro era sim uma desculpa, mas mesmo que ela pudesse, não iria. Nashville... trazia muitas lembranças. Lembranças doloridas. Sobretudo, Sophie não conseguia se imaginar encarando Kathryn ou Jeremy — tinha certeza de que estava sendo odiada por ambos.
Isso por que, evidentemente, Luke também a odiava.
Sophie não tivera muitas notícias dele desde que foi embora. A última vez que soube dele foi quando Julia, atualizando sua página no Facebook, achou o seu perfil e chamou-a para ver.
Na foto, lá estava ele, com seus vinte e dois anos, a barba impecavelmente feita e o cabelo ainda bagunçado e ridículo. Era uma foto bem normal, parecendo ter sido tirada numa festa de faculdade, seu sorriso estava estampado e feliz. Na foto de sua capa, uma guitarra. Quanto aos dados, estava morando em Nova Iorque e trabalhando por lá em uma empresa chamada Feeling of Feeling, que Julia descobrira ser uma banda, posteriormente. “Em um relacionamento enrolado”.
Sophie não quis ver o resto e deixou Julia sozinha com seu notebook e seu vício em redes sociais. Já bastava por um dia ver tudo aquilo, todo aquele Luke sem sequer um vestígio de que um dia fora dela.
Claro que Sophie esperava e, na realidade, até queria isso. Queria que Luke fosse feliz sem ela, sem sentir sua falta, e que algum dia, quem sabe, ele fosse capaz de perdoá-la por ter ido embora sem mais nem menos e, na compreensão dele, ter engravidado de um inglês qualquer que nem sequer assumiu a criança. Mas acontece que na prática... tudo é diferente. Tudo dói mais. E se não fosse por Henry, Sophie não aguentaria.
Obviamente, Sophie pensou muito antes de decidir que não iria contar de Henry para Luke. Pensou muito durante muito tempo e decidiu não o fazer. Provavelmente isso só deixaria Luke com mais raiva dela, e além do mais, envolveria Henry em uma grande briga judicial e um ambiente ruim que uma criança não deveria estar. Seu filho merecia crescer em um ambiente calmo, amoroso e feliz, e não na casa de seus avós maternos, tendo sua atenção dividida por dois pais machucados que mal conseguiam falar um com o outro sem brigar.
Por isso Sophie mentiu. Por que era o melhor para todos. Para Luke, que não ficaria sabendo subitamente que tinha um filho, e para Henry, que poderia crescer sem um pai, mas cresceria em um ambiente onde um pai não seria necessário. Já que, na realidade, ele tinha quase duas mães.
Mas Sophie sabia que isso iria acabar algum dia, e esse dia já estava próximo. Julia não falava muito sobre Nate já fazia alguns anos, mas toda vez — toda vez — que Sophie a observava sem que ela soubesse, Julia estava olhando para a tatuagem de infinito. Mesmo que a amiga já fosse uma mulher feita, toda noite passava pelo menos vinte minutos escrevendo em seu diário, com a única exceção das noites em que ela não passava em casa (nada de pseudo-namorados perto de Henry, outra regra de Sophie). E toda vez que Nate conversava com Sophie, ele perguntava “e como estão as coisas com o Henry e com a Julia?”. Como se envolver o garoto na pergunta fosse tirar sua verdadeira dúvida.
A mais pura verdade era que a “situação temporária” que ambos criaram estava pelo fim. Então seriam apenas Henry e Sophie, na grande Londres, procurando viver da melhor maneira possível. A questão era: como fazer isso sem um emprego?
A pergunta ainda martelava na cabeça de Sophie quando ela chegou à creche de Henry, bem na hora. Ele estava jogando cartinhas com dois meninos no canto da sala, quando a professora chamou-o e Henry agarrou a mochilinha o mais rápido que pôde, despedindo-se de seus amigos — James e Simon, Sophie os conhecia —, e indo em direção à sua mãe que esperava na porta com um sorriso no rosto.
Ele era mesmo o menino mais lindo do mundo, não era? Seu cabelo meio loiro, meio castanho, estava bagunçado novamente, crescido para todo lado. Caramba, Sophie batalhava para deixar o cabelo do filho certinho, mas ele parecia ter vontade própria. Certo, ainda assim, ele era lindíssimo, com seu sorriso aberto faltando dois dentinhos inferiores — Henry passara meia hora pulando e dizendo que estava rico quando viu a nota de dez libras que a “fada do dente” deixara em seu travesseiro —, e seus olhos azuis profundos que só não eram mais hipnotizantes por estarem cobertos pelos seus óculos de grau que caíram perfeitamente em seu rosto. Ele usava óculos desde que aprendera a ler, há quatro meses, quando Sophie suspeitou de que o pingo do “i” estava grande demais em suas tarefas de casa. Mas ele havia se tornado o garoto de óculos mais charmoso do mundo.
Sophie se agachou, ficando na altura do filho que correra até ela e passara os bracinhos pelo seu pescoço, apertando-a e deixando um beijo carinhoso em sua bochecha. Ela o apertou contra si, sorrindo, beijando seu rosto duas ou três vezes e chamando-o de lindo, perguntando se estava tudo bem. Henry sorriu, se afastou e assentiu veemente com a cabeça.
Outra vantagem dessa fase: as crianças não sentem vergonha das mães, mesmo que estejam sendo observadas pelo resto de seus colegas. Ser mimado é absolutamente normal e até gostoso.
Sophie segurou a mochila do filho e apertou sua mão, seguindo para fora da creche que não ficava nada longe do apartamento dela na St. Alban’s Street, que ficava perto demais do centro de Londres. Joe pagara caríssimo por aquele apartamento, Sophie sabia, e ela só não o vendia para comprar outro que era um pouco mais longe daquela loucura por que... bem, não podia.
— Como foi a aula hoje? — ela perguntou a Henry, que sorriu.
— Muito legal! — ele respondeu sorridente, andando rapidamente para acompanhar o ritmo da mãe. — O Simon vomitou.
Sophie fez uma careta.
— Coitadinho! Por quê? — ela olhou para Henry, que havia adquirido a expressão que Sophie classificava como séria. Era aquela expressão que ele usava quando parecia que iria discursar, mas na verdade só queria usar o banheiro.
— Por que... sabe aquela menina? A Kate? Aquela que usa maria-chiquinha quase sempre? Ela levou um sanduíche de creme de amendoim e o Simon vomitou quando sentiu o cheiro.
Sophie não desfez a careta do rosto.
— E isso classificou o seu dia como muito legal? — perguntou, fazendo Henry dar uma risada gostosa.
— Não, mãe! — respondeu ele como se isso fosse muito óbvio, sem parar de rir. — É que por causa disso a moça teve que limpar a sala e a gente teve dois recreios.
— Dois? — Sophie parecia interessadíssima, sorrindo para o filho. — Isso parece ótimo.
— Eu ganhei quatro vezes do James no futebol — Henry se gabou. — Eu tenho o pé mais forte de todo mundo! Fiz quatro gols!
Sophie gargalhou, escutando a voz que Henry fazia quando queria imitar um desenho animado, se gabar por alguma coisa ou dizer “eu sou o garoto mais forte do mundo!” quando brincava com Julia. Seu celular tocou novamente. Danna.
— Alô — Sophie murmurou, andando mais devagar e segurando o pulso do filho com mais força.
— Quem é? — Henry perguntou, o sorriso estampado no rosto, superinteressado. Ele ajustou os óculos no rosto e seu dedo acabou sujando a lente.
— É a Danna — Sophie disse para ele.
Ei, Sophie, quem está aí? — Danna perguntou do outro lado da linha.
— O Henry, acabei de pegá-lo na creche — Sophie respondeu. — Tudo bem? — ela perguntou para Danna de imediato, estranhando a ligação, uma vez que Danna acabara de desligar o telefone.
Sim, eu tenho uma proposta para você. A resolução de todos os seus problemas. — Danna estava dizendo impostando sua voz novamente. Sophie escutou alguém dizer algo ao fundo. — Ah, sim. E tudo isso é culpa de Hector.
Sophie sorriu, chegando a um ponto em que ela e Henry teriam de atravessar uma rua. Ela entregou o celular ao filho, que o colocou na orelha, e pegou Henry no colo, pronta para atravessar.
— Oi, tia Danna — Henry começara a conversar enquanto Sophie ria. — Tudo bem com você? Tudo bem com a Anna? Tudo bem com o tio Hector? Tudo bem com a vovó? Tudo bem com o tio Joe? Tudo bem com... Mamãe está atravessando a rua... Ela me deu o celular... Eu tô bem, hoje o Simon vomitou.
Sophie gargalhou e colocou Henry no chão, retirando o celular das mãos do filho e passando a andar até o prédio que já estava visível para ambos.
— Pronto — ela disse para o telefone.
Um dia eu entendo a vontade dele de saber do bem-estar de todo mundo. E quem é Simon? — a voz de Danna estava confusa e Sophie gargalhou outra vez. — Enfim, não importa. A questão é que eu acabei... tudo bem, o Hector acabou de resolver todos os seus problemas.
— Hum — Sophie murmurou. — Criaram um chocolate que não acaba? Fizeram o Henry aprender a se limpar sozinho?
Sophie não viu, mas soube que Danna havia revirado os olhos.
Não. Te arranjamos um emprego. — Ela disse quase como se não ligasse e Sophie franziu o cenho. — Depois que falei com você, eu falei com a Julia, que fez o seu currículo num instante e me mandou por email.  Então o Hector falou com um amigo dele que abriu uma loja de música aqui em Nashville há menos de um ano, e a escola está sendo muito frequentada, sabe, fizeram até festa de inauguração, e é um prédio enorme bem no centro. Eles precisam de uma professora de piano e, sabendo que você foi formada pela Laurent Louis, a vaga já é sua. Só precisam da sua carteira de trabalho para assinar. Você começa a trabalhar na segunda.
Sophie engasgou com a própria saliva. O quê?!
— O quê?! — ela transformou seus pensamentos em um grito esganiçado, achando tudo aquilo estranho e surreal demais. — O que você acabou de dizer?
Você não está mais desempregada, pois te arranjamos um emprego em Nashville, o que é incrível, por que além de você ficar perto da sua família, vai ser minha madrinha de casamento — Danna repetiu tudo como se não fosse nada demais. — E Julia também será uma madrinha, já que ela disse que vai vir reabrir o site dela em Nashville.
Sophie quase ficou tonta, entrando no prédio apenas por que Henry a guiava. Quando eles atravessaram as portas, Henry soltou sua mão e correu até o elevador, cumprimentando o porteiro e todas as pessoas que trabalhavam ali com um sorriso estampado no rosto.
— Danna, isso é uma brincadeira, não é? — disse ela, voltando ao planeta Terra e quase correndo para alcançar o elevador em que Henry já entrara. Agora seu filho conversava com Thomas, o rapaz que apertava os botões, provavelmente contando sobre seus dois recreios e o eventual vômito de Simon.
Não — Soph ouviu a voz da irmã. — Não é, Sophie. Eu estou falando sério. Você sabe que aí na Europa vai ser difícil você arranjar um emprego, e aqui... bem, aqui está a sua família.
Sophie bagunçou a franja, tão absorta em seus pensamentos que nem sentiu o frio na barriga que sempre sentia quando estava sendo erguida por um elevador.
— Danna... eu... não tenho como voltar para os Estados Unidos... — ela começou a dizer, mas estava tão pasma que só conseguia repetir o que sempre dissera a si mesma e aos outros. Não era capaz de formular argumento algum, neste momento.
— Nós vamos para os Estados Unidos?! — o grito de Henry se sobressaiu à história que ele contava para Thomas. — Mamãe, nós vamos para os Estados Unidos?!
Sophie hesitou.
— Não, amor, não vamos — ela respondeu para ele. — Danna... você sabe por quê. Eu realmente gostaria de estar aí para o seu casamento, mas pense... o quão horrível isso seria.
Sophie, por favor! Horrível?! — Danna aumentou o tom de voz. Devia estar gritando com o telefone uma hora dessas. — Caramba, a gente sente a sua falta aqui, e não falo só por mim. Josh ganhou mais cabelos brancos desde que você foi embora, e eu só não digo o mesmo da sua mãe, por que... bem, você sabe, toda aquela tinta. Mas pensa só no Joe, que sempre foi dependente de você. O próprio Nate. Ou os seus amigos! Sabia que aquele garoto grande e esquisito já se casou com a Marie?
Sophie não pôde deixar de sorrir pensando em Dan.
E... tudo bem, ela também sentia saudade. Sentia muita saudade. Perdeu a conta de quantas vezes, enquanto cuidava de Henry, ela não desejou que sua mãe estivesse ali, principalmente quando ele contraiu pneumonia e quando era um recém-nascido. Perdeu a conta de quantas vezes assistiu filmes como Querido John apenas para se lembrar de Nate — ele sempre condenara a protagonista por não esperar John voltar da guerra. Ficara com raiva da Amanda Seyfried por causa desse filme. — Sonhava quase toda noite com os momentos bons e ruins que tivera com os irmãos, e sonhava reencontrá-los, de vez em quando. Queria ter estado em casa quando Joe escreveu seus outros dois best-sellers que Sophie teve de comprar numa livraria. Gostaria imensamente de conhecer a sobrinha, filha de Danna, que segundo ela era uma garotinha sapeca, elétrica e que gostava de conversar.
Mas Sophie não poderia voltar. Não poderia por que voltar incluía aguentar todos os olhares acusatórios, todos os interrogatórios, todas as sentenças e decepções. Se voltasse, quantas vezes Henry não seria perguntado sobre o seu pai por más línguas? Ele teria de recomeçar, mesmo que fosse muito novo, e talvez não se adaptasse. E ainda havia a suspeita de Luke estar lá. O que ele faria se a visse novamente?
Sophie não aguentava pensar em todo o mal que tinha feito para ele. Não aguentava e não queria pensar sobre isso. Encará-lo... faria com que ela visse tudo. Sophie sabia que olharia dentro de seus olhos azuis e veria toda a dor, toda a mágoa e todo o ódio, lá, guardados, sombreando seu olhar tão puro. Ela não... não queria voltar a vê-lo, pois isso incluía toda a culpa que sentia.
Voltar para Nashville era inviável de todas as maneiras. Ao mesmo tempo que Sophie queria — e como queria — estar perto de sua família, ela não queria de forma alguma estar perto das pessoas que a queriam mal, e pior, queriam mal ao seu filho.
— Eu morro de saudades também, Danna. Você não tem ideia do quanto. — Sophie suspirou e o elevador abriu as portas. Henry segurou a mão dela e se despediu de Thomas. — Mas... é difícil. Londres é onde eu devo estar se... não quiser colocar minha vida e a vida do meu filho de cabeça para baixo.
Acontece que às vezes, Soph, nós precisamos virar nossa vida de cabeça para baixo — a entonação de sua voz havia ficado mais suave. — Se a minha vida não tivesse virado de cabeça para baixo, eu não estaria aqui agora. Provavelmente não estaria nem viva. Tudo de bom que eu tenho hoje eu devo a essa reviravolta. Incluindo você.
Sophie suspirou, mordendo o lábio inferior. Danna... tinha razão. Neste ponto, Danna tinha toda razão.
Toda reviravolta que houvera na vida de Sophie trouxera algo de bom para ela, sempre. Por exemplo, quando seus pais se separaram. Foi uma época horrível, mas as coisas boas que aconteceram em seguida foram inegavelmente incríveis. E quando ficou grávida... bom, ela poderia ter se separado do amor de sua vida. Mas ganhara o maior presente que Deus poderia lhe dar.
Henry era sua vida. Sophie não amava nada da maneira que o amava.
— Eu... vou pensar sobre isso, ok? Te ligo depois — disse ela, retirando a chave do apartamento de dentro da bolsa e desligou o telefone. Respirou fundo, procurando a chave certa para destrancar a porta, quando Henry rodou a maçaneta e a abriu.
— Tá aberta! — ele gritou e Sophie olhou em seu relógio. 15h20min. Como a porta estaria aberta se Sophie se lembrava claramente de trancá-la?
— Onde está o meu príncipe?! — ela soltou o ar de seus pulmões em puro alívio quando escutou a voz de Julia. Henry gritou e adentrou a casa correndo. Sophie fechou a porta atrás de si enquanto via o filho pular nos braços da melhor amiga, gargalhando pelas cócegas que ela agora despejava sobre ele.
Sophie mordeu o lábio. Não conseguia ver a si mesma sem Julia... mesmo que soubesse que a amiga teria de ir para Nashville, e iria. A questão era que elas duas haviam superado todas as dificuldades, juntas, e Henry provavelmente só não sentia falta de um pai por causa dela. Afinal, era Julia quem assistia desenhos animados que envolviam carros — Sophie os achava insuportavelmente chatos — com ele, era Julia quem assistia a beisebol e futebol com ele, todas as noites de domingo, comendo salgadinhos que posteriormente iriam entupir suas artérias. Julia quem o mimava com presentinhos. Julia quem o aconselhava em relação a garotas — Henry havia ganhado um beijo na bochecha de uma coleguinha enquanto brincava com massa de modelar duas semanas atrás e conversara quase duas horas sobre isso com quem? Não com sua mãe, mas sim, com Julia.
Julia era especial para Henry, e... vê-la indo embora deixaria um vazio em sua vida. Um vazio muito grande.  E seu filho era muito pequeno para já sentir as dores que a vida impõe. Dores como a saudade.
De qualquer maneira, com o que for que acontecesse, a vida dos dois levaria uma reviravolta. Se Julia fosse embora — e Sophie continuasse desempregada —, tudo mudaria. Se eles fossem embora com Julia, tudo mudaria também, mas a diferença é que eles teriam Julia e o resto da família.
Mas também teriam os inimigos.
Droga, Sophie estava confusa. Queria e não queria voltar, por motivos diferentes e mais confusos ainda. Estava com medo, estava nervosa, estava... simplesmente confusa.
— Adivinha quem comprou cookies? — Julia gritou, segurando Henry no colo.
— Cookies! — ele gritou de volta, sorrindo, quando ela o colocou no chão.
— Estão na mesa. Não coma tudo! Sua mãe ainda vai te fazer comer todas aquelas frutas essa tarde — ela não tinha certeza de que Henry escutara tudo o que ela dissera, uma vez que o garoto saíra correndo como um furação para a cozinha. Sorrindo, Julia se virou para Sophie.
— Esse Lucas é uma graça — disse, pegando seu laptop que estava na estante de livros e se jogando no sofá em seguida. — Qual companhia aérea você prefere? Ih, já era, comprei pela Air France.
Sophie encarou Julia com os olhos arregalados.
— Eu...
— Tem que fazer suas malas — Julia a interrompeu, apontando o dedo para a amiga. — Só não sei como vamos fazer para carregar esse piano. Sério, Sophie, por que você não toca um instrumento mais difícil de locomoção, hein?
— Julia, eu ainda...
— Não fez o passaporte do Lucas. Vamos ter que providenciar isso hoje — Julia assentiu veemente com a cabeça, digitando loucamente em seu notebook.
— Mas Julia, você...
— Vou montar um escritório em Nashville, já tenho até meus contatos de quem trabalhará comigo — ela interrompeu novamente e Sophie revirou os olhos.
— Julia, eu... cala a boca! — ela apontou o dedo para a amiga, que começou a rir. — Eu ainda não sei se vou. Não sei se eu, ou Henry, estamos prontos. Eu... não sei.
— Nesse caso, eu sei por vocês dois — Julia sorriu, conversando como se estivesse fazendo uma propaganda de sabonete. — Não quero me separar de vocês dois, Soph. Mas eu quero, mais do que tudo, ir embora daqui para onde é realmente o meu lugar. E você sabe que é o seu também.
Sophie se sentou no sofá.
— Eu... tenho medo, Julia. Eu fui embora de lá por sentir medo, e não quero voltar para enfrentar tudo aquilo que não enfrentei seis anos atrás — confessou Sophie. Julia fechou o laptop e encarou a amiga com seus grandes olhos verdes e, por hora, compreensivos.
— Não há como construir um futuro sem enfrentar o passado, Sophie — ela torceu os lábios. — Acho que quem disse isso foi Aristóteles.
Sophie riu.
— Eu acho que você acabou de inventar isso.
— Pode ser, ambos somos pensadores incríveis — ela deu de ombros, fazendo a amiga rir novamente. — A questão é que você precisa ir. Precisa... enfrentar tudo e todo mundo, de cabeça erguida, por você e pelo seu filho. Por que querendo ou não, um dia ele vai perguntar por que você nunca vai para lá e vai questionar melhor o paradeiro do pai dele.
Sophie só foi capaz de assentir com a cabeça. Julia tinha razão. Filha de uma mãe, ela sempre tinha razão. Ou talvez fosse apenas sua sagacidade jornalística.
— Mas... e se não der certo, Juzy? — ela levantou os olhos para encarar o rosto risonho da amiga, que segurou sua mão.
— Você ainda vai ter a sua melhor amiga pra te apoiar.



[...]



Três dólares por uma caixa de suco de morango. Três dólares. Aquilo era um assalto, caramba! Por que tudo em aeroporto tinha que ter o triplo do preço normal?
A pequenina Anna Elizabeth pouco estava ligando para o valor de seu suco favorito, entretanto. Tudo estava bom demais. O suco estava na temperatura certa, ela vestira seu vestido mais bonito, e Luna, sua boneca de pano preferida, estava com ela. Além do mais, sua mamãe havia dito que ela iria conhecer sua tia e seu priminho daqui a pouco.
— Quando eles vão chegar, mamãe? — perguntou a menina, quando retirou o canudinho do suco da boca. Estava sentada no colo da mãe, balançando suas perninhas curtas.
Danna sorriu.
— Daqui a pouco — respondeu ela, segurando Anna com um braço e passando os olhos pelo portão de desembarque de onde Sophie e Henry deveriam sair. A ansiedade corria pelas suas veias, oras, estava morrendo de saudades da irmã e do sobrinho!
Danna ainda não acreditava que eles estavam realmente voltando para Nashville. Não sabia o que Julia dissera para Sophie, mas seja lá o que for, funcionara muito bem. Danna estava pensando em fazer uma faculdade de jornalismo para saber manipular as pessoas bem daquela forma. Sorriu com o pensamento bobo.
Julia fora mesmo excepcional. Danna gostaria de abraçá-la só para agradecer, mesmo que a conhecesse muito pouco. Só a vira pessoalmente uma vez, quando fora à Londres, e desde então as duas só conversavam vez ou outra pelo telefone. Mas Danna gostava dela. Afinal, uma pessoa que se tornara a melhor amiga de sua irmã e o amor da vida de seu irmão não poderia ser nada menos que incrível.
Claro que tanto Julia quanto Danna haviam omitido algumas coisas para Sophie quando argumentaram para trazê-la à Nashville. Bem, omitir não é mentir.
O portão se abriu e Danna ficou atenta para ver a irmã. Levantou-se do banco, segurando a filha no colo, vendo a loucura de pessoas procurarem por suas malas na esteira que começara a rolar. Danna começou a se aproximar e a viu. Um ponto vermelho estridente no meio de uma multidão, que segurava a mão de um garotinho de cabelo loiro espetado para cima.
— Ali, Anna. Olha a tia e o primo ali — Danna apontou, fazendo sua filha sorrir. Sophie achou Danna com os olhos e sorriu instantaneamente, pegando a mão de Henry e indo em direção à irmã. Sem parar de sorrir, ela alcançou e abraçou Danna apenas com uma parte do corpo, pois a outra mão ainda apertava a de Henry, e havia uma criança entre as duas.
— Meu Deus, que saudade — Sophie sussurrou, separando-se da irmã. Danna sorriu. — E quem é essa linda? — ela afinou a voz, olhando para a pequena Anna.
— Anna — ela respondeu, concentrada em tomar seu suco.
— E ela? — Sophie apontou para a boneca de olhos azuis e cabelo loiro que estava em seus braços. Anna retirou o suco da boca e sorriu.
— É a Luna — respondeu ela, sorridente. — Ela é linda, né? Lá em casa eu tenho a Luna e tenho o Neville que o papai me deu. Ele tem o dentinho torto igual o Neville. Você sabe quem é Neville?
Sophie sorriu e pegou Henry no colo. Danna havia dito algo sobre Anna gostar de conversar.
— Hum... não, não sei. — Confessou ela.
— Harry Potter, mamãe! — Henry se manifestou, sorrindo para a prima. — A tia Julia comprou todos os DVDs. A Luna é a menina loirinha.
Anna sorriu.
— Você parece com o Draco! E fala igual ele também. — Exclamou, apontando para Henry. — Só que o Draco é mau! Você é mau?
Henry negou com a cabeça.
— Eu não sou o Draco, eu sou do bem! — e lá estava ele usando sua voz séria novamente. Sophie sorriu, indo em direção à esteira e pegando as duas malas que havia trazido. A mudança ainda iria chegar, quando Julia viesse, na quinta-feira. Ainda era domingo.
— Que legal — disse Danna. — Anna achou alguém para conversar sobre Harry Potter o dia todo. Acredita que ela vê um desses filmes pelo menos uma vez por dia?
Sophie riu, arrastando uma das malas, e Danna segurou outra.
— Henry gosta de todo tipo de filme e desenho animado. Eu tive que trazer todos os DVDs dele, e acredite, é muita coisa. — Ela sorriu. — Onde está Hector?
— Trabalhando. Vai da loja direto para a casa de Josh — Danna respondeu com um sorriso no rosto. — Nate está fazendo um churrasco.
Sophie gargalhou.
— E desde quando Nate sabe fazer churrasco?
— Ele não sabe — Danna riu. — Sinto medo de chegar naquela casa e encontrá-la incendiada.
Sophie fez que não com a cabeça, seguindo Danna pelo aeroporto. Tudo bem, ela não podia negar que estava eufórica demais. Estava absolutamente alegre. Ela iria a um churrasco na casa dos Farro! Nate estava lá! Joe, Danna, Hector, seus pais! Meu Deus, por quanto tempo Sophie não quis isso?
Agora ela notava o quão morta de saudades estava. Uma nova parte dela se acendia conforme ela ia saindo daquele aeroporto, ciente de que estava em Nashville outra vez, depois de seis anos. Seis anos que passaram tão rápido. E estava feliz. Feliz por estar em casa, escutando aquele monte de sotaques sulistas ao invés dos sotaques ingleses de seus conterrâneos britânicos.
As duas mulheres adultas e as duas crianças seguiram para o carro de Danna assim que saíram do aeroporto. Danna havia colocado até mesmo duas cadeirinhas no banco traseiro do carro, uma para Anna e uma para Henry, que na realidade detestou o utensílio. Segundo ele, incomodava muito e apertava.
Pelo menos Henry foi conversando com Anna do aeroporto até a casa de Josh e Hayley. Ambos pareciam ter se dado absolutamente bem, não paravam de falar um segundo sequer, e Anna até mesmo ofereceu seu suco para o primo e novo amigo. Sophie adorou o fato de eles terem feito amizade tão rapidamente.
Se bem que Henry sempre fora muito sociável. Anna não parecia ser diferente.
E Sophie também foi conversando com Danna durante todo o trajeto, mas sem conseguir olhar para a irmã. Seus olhos estavam grudados na Nashville lá fora. Seus monumentos, os prédios, os conjuntos residenciais e condomínios, o Rio Cumberland. Passaram em frente à antiga escola de Sophie, enchendo-a de todas as lembranças possíveis. Sua cabeça já estava começando a doer quando o carro de Danna virou na sua antiga rua e passou em frente à casa dos pais de Luke.
O coração de Sophie acelerou com a lembrança de todos os momentos que passara naquela casa. Todos os ensaios da Paramore na garagem, ou das tantas vezes que ficou com Luke em seu quarto, conversando, estudando, tocando, ou mesmo fazendo amor.
Ela respirou fundo enquanto o carro de Danna estacionava na frente da casa de Hayley. Seja forte. Você sabia que seria assim.
— Chegamos? — Henry perguntou com a voz eufórica demais. Sophie sorriu, escutando a voz do filho, lembrando-se mais uma vez de que tudo valera a pena.
— Chegamos, garotão! — foi Danna quem respondeu. — Já vou te tirar dessa cadeirinha. Você é grande demais para um garoto de quatro anos! — a ultima frase dela foi dita com um olhar malicioso para Sophie. Ah, legal, Danna. Isso, melhore as coisas, me condene mais.
Sophie saiu do carro sem se importar de pegar suas malas. Retirou o filho da cadeirinha e ele pulou para fora do carro, sorrindo avidamente.
— Aqui faz tanto sol! Eu estou suado — disse ele, passando a mão pela testa. Sophie sorriu e pegou-o no colo, dando um beijo em sua bochecha e limpando seu rosto com uma das mãos.
— Você prefere o frio? — perguntou ela, sorrindo.
— Não — Henry sorriu. — Sol é legal. Vou ficar moreninho igual a tia Juzy.
Sophie gargalhou, dando mais uns beijos na bochecha do filho. Danna também pegara sua filha no colo e já abrira a porta que dava para a sala de estar dos Farro. Sophie sentiu seu estômago revirar de ansiedade e seguiu com seu filho até lá.
A primeira pessoa que viu fora Joe, quase irreconhecível, com os cabelos maiores do que nunca e os olhos grandes e vivos. Havia esticado, estava muito maior do que ela. Assim que a olhou, ele abriu seu sorriso, largando o que quer que estava em sua mão e gritando seu nome.
Sophie colocou Henry no chão e abraçou o irmão o mais forte que pôde.
Caramba, aquele não podia ser seu pequeno Joseph. Aquele homem não podia ser seu irmãozinho que dormira em sua cama quando tinha pesadelos. Aquele rapaz não podia ser o garotinho que ligava para Sophie todo dia quando ela estava na Inglaterra, da primeira vez.
— Senti tanto a sua falta, Soph — ele disse, sua voz rouca e arrastada, sua mão apertando a cintura da irmã que agora era tão menor que ele.
— Você não sabe o quanto eu senti a sua também — ela sorriu, apertando o ombro de Joe. — O que aconteceu? Da última vez que te vi, eu era maior que você.
Joe sorriu, afastando-se da irmã e segurando a ponta de suas mãos.
— Os tempos mudam, linda — e piscou um dos olhos. Sophie gargalhou, assistindo seu irmão, tão crescido e tão... seguro de si. Sophie sabia que Joe já assumira sua sexualidade para a família — e para o resto do mundo, uma vez que agora ele era famoso —, mas ainda assim era tão engraçado vê-lo tão diferente.
Sophie havia perdido tanto de seu crescimento.
A próxima que viu foi Hayley, seu cabelo ainda malucamente vermelho, seus olhos verdes sempre vivos, agora brilhantes por ver a filha que não via há tanto tempo.
Sophie se jogou nos braços da mãe enquanto escutava Joe falando com Henry. Segurou-se para não deixar as lágrimas cair enquanto apertava-a o mais forte que podia, tentando aplacar toda a saudade que sentira daquela mulher. Todas as vezes que ela quis, da forma mais intensa, a presença da mãe. Agora que Sophie também tinha um filho, o que ela sentia pela mãe havia se transformado de um amor para uma espécie de compreensão. Hayley sempre fora tão forte. Sophie a admirava tanto.
Ela se afastou da mãe e riu gostosamente, limpando o canto dos olhos da mulher que lhe dera a vida.
— Como está a Sra. Williams-Farro, hein? — perguntou, fazendo Hayley rir.
— Vovó! — Henry, que agora estava no colo de Joe, abriu os braços para ir falar com Hayley. Caramba, ela ia acabar chorando assim, Sophie sabia.
Ela ainda nem havia saído da porta e já estava indo abraçar a terceira pessoa. Sophie jogou os braços para cima e abraçou Josh, enquanto ele apertava sua cintura e retirava seus pés do chão, fazendo-a gritar. Sophie riu. Josh estava tão diferente e tão igual ao mesmo tempo. Seu cabelo havia ganhado alguns fios brancos, mas isso só o deixara mais bonito, grisalho. Seu trabalho militar não conseguia fazer com que ele ficasse menos forte, era incrível.
— Como vai minha filhinha? — ele perguntou, após soltar Sophie, colocando uma mecha de seu cabelo em sua orelha.
— Vou bem, pai — ela sorriu. — Você está grisalho!
Josh sorriu.
— Verdade, acho que vou pegar uma daquelas tintas toxicas da Hayley e passar no cabelo — ele mexeu nos fios, fazendo Sophie rir. Henry estava sendo mimado por Hayley agora.
— É impressão minha — Sophie escutou uma voz masculina ecoar e virou o rosto —, ou isso aí são rugas na sua cara?
Ela gargalhou, correndo até Nate, que esperava no canto da sala. Ele segurou sua cintura e a levantou do chão da mesma forma que Josh fez, rodando-a no ar. Sophie sorriu e pediu para ele soltá-la.
Nate estava tão grande. Tinha mais ou menos o triplo de massa muscular do que tinha da última vez que ela o vira — tudo bem, da última vez que Sophie o vira ele tinha quinze anos. Mas... ainda assim! Ele estava tão grande! E por algum motivo, estava vestido com a farda de soldado americano que era.
Sophie sentira saudades dele. Muitas saudades.
— Então quer dizer que já temos outro soldado na família? — Sophie perguntou, separando-se dele e fazendo uma continência.
— Na verdade, cadete — disse ele, quase se gabando. Sophie riu. — Acabei de voltar do quartel, na realidade. Por isso o uniforme. Pai, eu vou me trocar, não deixe a carne queimar!
— Tradução: não deixe outra peça de carne queimar — Joe resmungou, fazendo Sophie rir.
Josh sorriu e saiu em direção à área dos fundos. Segundo a fumaça que ardia os olhos de todos naquela casa, provavelmente era ali que estavam queimando carne bovina. Sophie se aproximou de Henry, que conversava com Hayley, Danna e Joe, contando alguma coisa. Anna estava ao seu lado e assentia a todo e qualquer argumento que o garoto dava.
— Aí o juiz apitou, e quem foi marcar a falta foi o John Tarry, e ele chutou e... gol! Bem no meio da rede! Aí eu e a tia Julia começamos a gritar e o Chelsea ganhou. Foi muito massa. — Ele assentiu com a cabeça, dando consistência ao seu argumento.
— Julia sempre foi meio maluca — Joe concordou, mordendo o lábio.
— Acho que ele conseguiria manter uma conversa animada com o Hector — Danna suspirou, encarando o sobrinho.
— A tia Julia é muito legal — Henry disse. — Ela sempre assiste beisebol e futebol comigo, por que a mamãe acha chato.
Sophie revirou os olhos e pegou o filho no colo, beijando o seu rosto.
— Mas é chato! — disse ela, choramingando, fazendo Hayley concordar plenamente. — Amor, são apenas homens correndo atrás de uma bola. Ou no caso do beisebol, correndo, arremessando, agarrando e rebatendo uma bola.
— Mas mamãe! — Henry estava usando o seu tom argumentativo. Sophie sorriu. — É por que você é menina. Meninas não gostam de esportes.
— Mentira — Sophie disse, afinando a voz para usar do tom argumentativo também. — Julia é uma menina e gosta, não é?
Henry pareceu pensativo.
— Mas a tia Julia é uma menina diferente — argumentou Henry novamente.
— Eu concordo. — Sophie virou o rosto para de onde a voz tinha vindo e encontrou Nate, vestido casualmente, com um sorriso no rosto. Desceu as escadas rapidamente, indo em direção a ela. — Concordo plenamente, sobrinho.
Henry olhou para Nate desconfiado, sem conhecê-lo direito.
— Você conhece minha tia Julia?
Nate sorriu.
— Se conheço — disse, dando ombros. — Estavam falando de futebol? Assisti o jogo Chelsea e Liverpool da semana passada. Tarry é um babaca, mas fez um gol bonito.
Após essa frase, Henry e Nate entraram em uma discussão detalhada sobre futebol que durou mais ou menos meia hora. O garoto parecia conhecer tanto sobre futebol quanto Nate, por pura instrução de Julia, que tomara gosto por toda espécie de esporte depois que teve de escrever um artigo esportivo para a faculdade.
E, por incrível que pareça, a carne não foi queimada. Isso por que Hector chegou poucos minutos depois e tomou conta do churrasco, transformando-o em algo que magicamente dera certo.
Sophie estava muito feliz. Henry fizera amizade com todo mundo, e tanto seus pais quanto seus irmãos pareciam encantados com ele. Pela primeira vez, em muito tempo, ela se sentia... em casa. Se sentia como se estivesse onde precisava estar. E nada a deixava mais feliz do que perceber que seu filho tinha a mesma sensação, enquanto brincava com sua nova família.
Após o almoço, Anna quis assistir Harry Potter e a Ordem da Fênix pela décima vez na semana, segundo Danna. Felizmente, o filme estava entre os DVDs de Henry e as duas crianças foram assistir o filme na sala de estar, acompanhados de Hector e Danna. Josh e Hayley arrumaram a cozinha e Sophie perdeu Nate de vista, quando Joe a chamou para seu quarto.
— Quero te mostrar uma coisa — ele dissera, segurando a mão da irmã e carregando-a até o seu quarto.
Meu Deus, Sophie não sabia que era possível caber tantos livros em duas estantes. O quarto de Joe estava impecavelmente arrumado e cheio de livros, com o mesmo papel de parede que ele tinha quando ela foi embora, com a única diferença de que agora algumas molduras estavam coladas. Os artigos da New York Times, por exemplo, e as capas de seus quatro livros publicados.
Joe sentou-se a mesinha e abriu o laptop. Indicou uma cadeira para Sophie se sentar também.
— Esse é o meu novo livro, que será lançado daqui a poucos meses — ele disse, abrindo o arquivo. — Quando eu soube da história, precisei escrevê-la. Quero que você mesma veja.
Sophie apertou os olhos, lendo o nome que estava destacado na primeira página do arquivo.


Odeio Amar Você
Joseph Farro

Tessa Nichole Collins é uma garota que já passou por muitas coisas, boas e ruins, em seus dezessete anos de vida. Considerada rebelde pela sociedade californiana, à qual estava inserida, Tess muda-se de volta para Franklin – TN com sua mãe após ela se divorciar de seu padrasto. A garota de cabelos vermelhos estridentes realmente esperava e acreditava que sua vida iria se normalizar como tinha de ser, mas seu destino foi atrapalhado por um indivíduo: Damon Basso. Quando criança, era o melhor amigo de Tess, mas hoje, para ela, era apenas um badboy idiota.

Damon James Basso vivera todos os seus dezoito anos de idade na cidadezinha de Franklin, Tenesseee. Considerado popular na escola e com as garotas, considerava-se feliz. Tinha um bom relacionamento com seus irmãos e namorava a garota mais bonita do colégio. Tudo estava perfeito até que uma garota resolveu reaparecer em sua vida: Tessa Collins. Sua melhor amiga quando criança, Tess era realmente uma gracinha. Mas agora, não passava de uma roqueira metida a rebelde que insistia em atrapalhar a sua vida.

Damon e Tessa não tinham ideia do que o destino reservava para ambos. Na realidade, eles se amavam... e odiavam a si mesmos por isso.



Sophie levou a mão à boca. Ela reconheceria aquela história em qualquer lugar. Encarou Joe, que esperava ela terminar de ler com um sorriso sapeca no rosto, parecendo achar tudo aquilo imensamente engraçado.
— Você... — Sophie tentou formular a frase, mas os nomes ainda estavam martelando em sua cabeça. Tessa Nichole Collins. — Você escreveu a história dos nossos pais?
Joe gargalhou.
— Sim — disse, tranquilamente. — Soube da história a meio do ano passado. Quer dizer, como assim meus pais tinham uma super-história de amor e eu não sabia disso?
Sophie riu.
— Eu pensei exatamente a mesma coisa quando soube — declarou, bagunçando a franja e respirando fundo. — Meu Deus, Joe! Eu... estou sem palavras, sério. Meu Deus.
Joseph riu novamente.
— Essa foi o livro que eu mais gostei de escrever e está todo mundo curioso por que eu só disse que seria baseado em uma história real, e que minha escrita iria mudar um bocado — ele juntou as mãos. — É a segunda vez que me empenho em um romance de verdade. Desses de fazer as mulheres lerem em uma noite.
— Nossa, Joe — Sophie não conseguia normalizar seu estado de espírito. — Isso é perfeito. O que a mãe e o pai disseram?
— Ah, mamãe ficou emocionada, e tal — ele deu ombros. — O pai disse que Damon é um nome que provavelmente seria discriminado no quartel, mas não ligo pra ele. Os dois estão felizes. Todo mundo está.
Sophie sorriu, os olhos grudados no laptop novamente.
— Eu posso pegar um manuscrito para mim? Eu realmente gostaria de ler antes da publicação — disse ela, em tom de súplica para o irmão. — Como presente de boas vindas?
Joseph apertou os olhos e moldou os lábios em um sorriso descontraído.
— Como se eu conseguisse dizer não para você — ele deu ombros.

Enquanto Joe foi imprimir o arquivo para Sophie, ela foi dar uma olhada em Henry. Seus olhos azuis estavam atentos por baixo dos óculos enquanto os efeitos especiais ecoavam do televisor. Estava deitado no tapete junto à Anna enquanto Hector e Danna estavam sentados no sofá, parecendo não prestar muita atenção no filme. Sophie perguntou se Henry estava bem e ele apenas fez que sim com a cabeça, atônito demais no filme.
Sem nada para fazer, ela se dirigiu à porta da casa de Hayley, no intuito de se sentar na escadinha para pensar, como tantas vezes fizera quando era adolescente.
Mas dessa vez Nate também estava lá.
Ele deu espaço para Sophie se sentar, sem nada dizer, e os dois começaram a observar o movimento fraco da rua naquela tarde de outono. O olhar de Nate estava distante e Sophie olhou de soslaio para o seu braço. Lá estava ela, a tatuagem de Julia. A tatuagem do infinito.
Sophie suspirou.
— Como está você, Nate? — perguntou sinceramente, olhando para suas próprias mãos. Seu irmão estava tão diferente, claro, também pudera. Mas a pergunta que Sophie fazia era direcionada a apenas um ponto. Ponto esse que ela tinha certeza que Nate entendera.
— Você sabe — disse ele, suspirando também —, vivendo na medida do possível.
Ela assentiu com a cabeça, mergulhando num silêncio de alguns segundos que não chegou a ser desconfortável, mas quase reconfortante. Como um complemento para a frase do irmão.
— Você ainda a ama, não é? — ela perguntou, puxando seu braço e fazendo-o encarar a tatuagem. Não tinha certeza, mas Sophie achava que vira uma ponta de sorriso no canto de seus lábios.
— Já faz muito tempo, Sophie — disse ele, apenas, sem brechas para continuar. Sophie entendeu e assentiu novamente com a cabeça, sem soltar a mão do irmão. Recostou sua cabeça no ombro dele, novamente mergulhada no silêncio, compartilhando a dor que ele sentia com a dor que ela sentia também. Um silêncio que era mais revelador do que mil palavras. — Henry é filho do Luke, não é?
Sophie sentiu seu sangue congelar dentro das veias e seu estômago revirar. Sua visão sumiu por um ou dois segundos e ela perdeu a força nas pernas. Sua voz não saía. Ela... ficou paralisada. Simplesmente paralisada.
— Não precisa responder — Nate continuou. — Eu sei que sim. Tudo faz sentido agora. Você ter ido para Londres e deixado Luke aqui sem mais nem menos, e ter aparecido um ano depois com um moleque de seis meses nos braços, filho de alguém que você mal conhecia — ele fez uma pausa, deixando Sophie sozinha com seus medos e culpas. — Bem que eu estranhei, nem acreditei, para dizer a verdade. Mas... vendo esse menino hoje... ele é a cara do Luke, Soph. Você não foi embora por que quis. Foi embora por que... precisou esconder o menino. Então a Julia te ajudou. — Sophie abaixou a cabeça, respirando fundo. Droga. — Eu só não entendo... por que você não ficou? Por que você não ficou e cuidou do Henry aqui?
Ela mordeu o lábio inferior.
— Eu não o queria — respondeu sentindo uma pontada no coração. — Eu iria dá-lo para a adoção. Para um casal de pais incríveis que cuidariam dele melhor do que eu.
Nate encarou a irmã.
— E por que não fez isso?
Sophie limpou a lágrima que desceu pela sua bochecha, levantando os olhos para encarar os de Nate.
— Por que eu me apaixonei por ele — ela mordeu o lábio inferior, encarando o irmão com tristeza.
Nate assentiu com a cabeça e voltou sua atenção para o movimento da rua.
Sophie respirou fundo, tentando normalizar seu estado de espírito.
— Por favor, Nate — ela começou —, não conta para ninguém. Eu decidi deixar Henry fora de toda essa complicação. Por favor. Ninguém pode saber disso.
Nate deu um meio sorriso.
— Eu não vou contar nada, Sophie — disse, segurando a mão da irmã e apertando. — Por que eu sei que um dia... você mesma vai.
Ele levou a mão da irmã até os lábios e a beijou, levantando-se e adentrando a casa. Deixou uma Sophie confusa, com todas as emoções que existiam transbordando de dentro do seu ser. Como Nate descobrira?
Caramba, não era para ninguém saber. Isso apenas complicaria a vida de todos, incluindo Henry e o próprio Luke. Eles não mereciam isso. A melhor saída era que tudo se normalizasse e ficasse da mesma forma que estava.
Sophie respirou fundo. Nate não iria contar a ninguém. Mas se ele fora capaz de perceber, quem mais seria? Apenas ele, Julia e Danna sabiam até agora. Ainda assim era muita gente.
Nate estava errado, Sophie não iria contar isso para ninguém. Não era capaz. Não seria capaz de contar isso a ninguém, sobretudo Henry, que já havia lhe perguntando sobre seu pai certa vez.
Sophie apenas o chamou para sentar e explicou que tivera um namorado que amava muito, ele era um ótimo rapaz e um músico talentoso. Mas as coisas não haviam dado certo e eles se separaram antes de Henry nascer.
Desde então, o garoto não perguntara mais de seu pai. Provavelmente ficara triste ao ver a mãe chorando na frente dele, mesmo que Sophie houvesse se segurado ao máximo. Quando o garoto a abraçou, ela não conseguiu se aguentar e chorou mais. Henry, apesar de muito novo, era muito sensível à dor das pessoas, e dormiu na cama de Sophie naquela noite para garantir que ela não choraria mais.
Essas e outras atitudes faziam dele cada vez mais parecido com o pai. O pai que ele não podia saber que tinha.
Sophie suspirou e limpou os olhos, pronta para se levantar e sair dali. Mas um barulho fê-la parar.
— Cowboy! — a voz masculina exclamou. — Solta! Solta meu tênis, Cowboy, caramba! — Sophie virou o rosto para a casa ao lado, vendo um rapaz sair pela porta, lutando com um cachorrinho chihuahua preso a uma coleira. Seu coração parou. — Cowboy, merda! Você vai estragar meu Nike, filho da mãe!
Luke.
Por uma fração de segundo, foi como se tudo houvesse ficado em câmera lenta. Luke pegou o cachorro no colo e virou acidentalmente o rosto, fazendo com que seus olhares se encontrassem por um segundo que mais pareceu uma hora. Sua voz falhou, seu rosto ficou pálido, e ele piscou três vezes para garantir que não estava tendo uma miragem.
Então tudo voltou ao seu tempo normal. O chihuahua latia, irritado, e a boca de Luke estava entreaberta. O coração de Sophie passou a pular dentro do peito como se quisesse sair dali naquele mesmo momento e sua respiração ficou audível.
— Sophie.
Ela foi capaz de escutar perfeitamente o seu murmuro, tão baixo que não era possível que se sobressaísse aos latidos de Cowboy, o chihuahua.
— Luke — ela murmurou em controversa, mais para ter certeza de que estava realmente vendo-o depois de todos esses anos.
Meu Deus, como ele estava diferente. E lindo. Seu cabelo parecia maior e mais bagunçado, seus olhos azuis estavam perfeitamente brilhantes de pura surpresa. Ele também estava maior, Sophie achava. Seus ombros estavam mais largos, seu peito mais aparente, seus braços mais musculosos. A barba em seu rosto parecia não ser feita há pelo menos quatro dias.
— Você voltou — ele murmurou novamente. Sophie notou o quanto ele estava parecido com Jeremy com aquela barba malfeita.
— Ainda hoje — ela respondeu por alto e viu os lábios de Luke se contraírem em um sorriso.
Um sorriso que cortou o seu coração. Por que Sophie sabia que ele não sorria por que estava feliz em vê-la, e muito menos por que havia perdoado-a, ou não tinha ressentimentos.
Luke sorria sim. Mas sorria por que, subitamente, havia sido atingido por toda a raiva que sentia dela.
— Que bom — disse ele, passando uma das mãos pelo cabelo. — Como está indo o seu futuro? Do jeito que você quer, aposto.
Seu sorriso aumentara. Com todo aquele deboche, era como se ele despejasse sobre Sophie toda a ira e a dor que sentira ao longo desses anos. Sophie conseguia ver.
Conseguia ver nos olhos dele.
— Sim, Luke — respondeu ela, sem abaixar os olhos, com o tom de voz suave. — Do jeito que quero. Só por que o meu futuro não saiu como planejado, não quer dizer que ele não está da maneira que eu quero que esteja.
Luke sorriu mais uma vez, assentindo com a cabeça e fazendo um carinho na parte de trás da cabeça do seu cachorro.
— Sou obrigado a concordar com você — disse no tom mais debochado que Sophie jamais o vira usando. Foi como se ela tivesse sido atingida por um soco na barriga. Mesmo assim não perdeu a compostura. — Enfim, Sophie, eu tenho que ir. Estou cheio de compromissos para hoje. — Ele se dirigiu para o Audi parado na frente da casa de Kathryn e Jeremy. — A gente se vê.
Luke entrou rapidamente no carro e arrancou com ele para longe dali, deixando ali uma Sophie desolada.
Não por que ele a havia tratado mal.
E sim por que ele ainda estava cheio de ódio dentro de si.

Notas Finais

Ei, bebês! ASOPSOKASAS E aí? Tudo bem?
Então, estamos aqui. No blog. OAV Fanfics. Para sempre <3POASKÃPOSKÃOPSK gente, seguinte. A maior parte das coisas desse blog são provisórias. Tipo essa caixinha de comentários aqui. Ela tá feinha e etc, mas eu arrumarei. Outra coisa que também arrumarei são os hiperlinks aqui, mas TODOS OS CAPÍTULOS DA OAV 1 E 2 JÁ ESTÃO POSTADOS AQUI. Incluindo esse que não está postado no Nyah! Fanfiction.Então, gente, é o seguinte. Comentem aqui pra mim, que isso está caracterizando essa nossa mudança. Tá? :3Vamos falar sobre esse capítulo. QUEM AÍ QUER UM HENRYYYYYYYYYYYYYY??????????? S2S2S2S2S2Gente, eu estava escrevendo e me apaixonando por essa criança perfeita, meu Deus, que lindo. E A ANNA? S2S2S2 ai.Eu disse que ia passar tempo bruscamente e passei. *U* Amei esse capítulo.E tô morrendo de dó do Luke :cPRÓXIMO CAPÍTULO TEM REVELAÇÕES E ENTRADA DE MAIS UMA PERSONAGEM NOVA, como não poderia ser diferente. <3 Que mais que eu posso spoilar pra vcs? Talvez o primeiro reencontro de Nate e Julia?e.... Eu iria falar outra coisa, mas me esqueci.Oh, sim. A partir de hoje, como eu perdi as "MP's", vocês podem me mandar um email a hora que quiserem, ok? aqui tá meu endereço: saramaltas@gmail.comResponderei tudinho :3 vou ver se faço um forms ou uma ask.fm para o blog, também, caso seja necessário. E..... Obrigada por estarem aqui. Eu amo vocês. ^^