Três
Semanas Depois
Esquecer momentaneamente. Era
isso que Sophie murmurava para si mesma conforme corria para a sala dos
professores, com um pacote de biscoitos recheados na mão. Sim, ela precisava,
pelo menos por essa semana, esquecer momentaneamente seus problemas — enormes problemas, afinal, ela era uma
boba e não aprendia nunca — para que pudesse, depois, pensar no que iria fazer.
Se ela se estressasse com isso agora, enlouqueceria.
Fazia apenas sete dias que iniciara-se
um novo ano, e Sophie ganhara mais seis novas turmas além das que já tinha.
Porém, agora, ela deixara de dar aulas para crianças com menos de dez anos de
idade, o que já era um grande feito. Ensinar qualquer coisa para uma criança
pequena era desgastante. Sophie decididamente se dava melhor com os
pré-adolescentes. Contudo, com tantas novas turmas e ainda com quatro de suas
turmas antigas, Sophie simplesmente estava atolada de trabalho.
E, claro, não se podia esquecer que
faltava apenas uma semana para o casamento duplo de seus irmãos. Sophie era
madrinha e tinha que sair quase todo dia, para fazer isso, experimentar aquilo.
Ela não conseguia entender como seu pai conseguiu organizar um casamento surpresa, uma vez que os
preparativos para isso eram muito mais do que demorados.
Além disso, Henry entrara finalmente
para a escola. Cursava o primeiro ano do ensino fundamental e sempre tinha uma
novidade para contar a Sophie ou a Luke. Mesmo que sempre fosse ela que o
ajudasse nos deveres de casa.
Com tanta coisa acontecendo, Sophie não
podia se deixar levar pelo estresse. Estava morta de medo, de cansaço, de amor.
Precisava dar um jeito e pensar no que iria fazer, sim, mas só depois que a
poeira abaixasse. Esquecer
momentaneamente. Parecia o certo a se fazer por hora.
Aquele sete de janeiro em especial não
estava sendo um dia muito bom, ela refletiu, subindo as escadas como uma louca.
Seu dia começara esquisito e vinha se seguindo esquisito desde então. Por algum
motivo, seu despertador não tocou, então ela se atrasou para o trabalho. Henry
passara a dormir todos os domingos na casa de Luke, então, certamente já estava
na aula. Sophie não tomou café da manhã e seguiu direto para a aula. Por sorte,
sua primeira aula foi às nove da manhã.
Em seu horário de almoço, como sempre,
ela atravessou um quarteirão inteiro para ir ao restaurante. Lá, porém, ela
teve uma surpresa ao encontrar Tarris, Leighton, Nate e Julia — Sophie nem
sabia que Tarris já havia chegado para o casamento, mas ele afirmou que chegara
essa manhã e como Julia sabia onde Sophie sempre almoçava, decidiram matar a
saudade. Até aí tudo bem.
A questão é que Sophie não conseguiu
almoçar. Teve de fazer seu pedido duas vezes, pois os pratos que mandaram para
ela estavam abarrotados de queijo ou amendoim — as únicas coisas no mundo às
quais ela era alérgica. Já quase atrasada, ela decidira não almoçar e comer
qualquer coisa nos intervalos das aulas. Julia insistiu para que ela ficasse no
restaurante e esperasse, e quando finalmente entendeu que Sophie não podia
fazer isso, ofereceu-se para lhe dar uma carona. Sophie não sabia o porquê, mas
ela dirigiu devagar demais. Logo
Julia, que era uma maníaca por velocidade e quase matara Sophie tantas vezes.
Tudo muito estranho, ela
pensou quando viu dois professores, Harry e Julian, que lecionavam violão e
flauta, respectivamente, olharem para ela e darem um sorrisinho sapeca. Franziu
o cenho, quase correndo pelo corredor. Viu a porta da sala dos professores à
sua frente e aliviou o passo, respirando fundo pela pequena maratona. Will, professor
de saxofone, olhou para Sophie e sorriu antes de sair da sala.
Tudo bem, o que está acontecendo com o mundo inteiro?
— Red
Soph! Trouxe biscoito para mim! — disse Dan, assim que Sophie adentrou a
sala. Ela riu e seguiu em direção ao seu armário, girando a combinação certa.
— Me desculpe, Dan, esse é meu — disse
ela, sorrindo. Ok, por que esse armário não abria? Ela tentou de novo os
números que eram a senha para tudo que ela tinha. Um, cinco, cinco. Nada. Era só o que faltava. — Não consegui
almoçar.
— Por quê? — perguntou o moreno. Ele se
aproximou de Sophie e deu um soco no armário, abrindo-o imediatamente. Sophie
sorriu, suspirando.
— Obrigada — disse ela, abrindo o
armário e pegando suas pastas. — Eu fiz meu pedido no restaurante duas vezes,
mas eles me mandaram queijo e amendoim nas duas. Não tinha mais tempo, então
vim pra cá. Deus, minha sala deve estar um caos — Sophie suspirou, jogando tudo
o que não precisava de volta no armário e fechando-o de uma vez.
— Você foi no restaurante mais perto
daqui? — perguntou Dan, e Sophie fez que sim com a cabeça. — Eles vivem errando
pedidos mesmo.
Sophie suspirou, certificando-se de que
já estava com tudo em mãos para a aula.
— Nunca erraram os meus — disse ela. —
Hoje foi a primeira vez.
Daniel sorriu.
— Há sempre uma primeira vez para tudo
— disse ele.
— Claro. Ainda mais em um dia tão
esquisito e conturbado — Sophie refletiu, deixando-se sorrir também. — Preciso
ir para a aula agora. Até mais, Dan — ela acenou, antes de virar as costas e
bater os tênis contra o mármore.
— Até daqui a pouco, Sophie.
Ela parou de andar, paralisada, sem
acreditar. Franziu o cenho e virou-se, encontrando o rosto tranquilo do amigo
de infância, que parecia não ter notado o quão estranho aquilo havia soado.
— Quê? — disse ela, estranhando tudo
aquilo.
— O quê? — Dan a encarou.
— Você me chamou de... Sophie — disse
ela. — Já tem... dez anos que você
não me chama pelo meu nome normal.
Dan fez que entendeu, assentindo com a
cabeça, e depois deu de ombros.
— Nada a ver — disse ele, levantando-se
para ir em direção ao seu próprio armário. Abriu-o com um soco, da mesma forma
que abrira o de Sophie anteriormente.
Ela fez que não com a cabeça, querendo
afastar os pensamentos confusos.
— Estranho — murmurou, adicionando mais
um item à lista de coisas esquisitas que estavam acontecendo naquela
segunda-feira, sete de janeiro. Respirou fundo e desceu as escadas com um pouco
mais de cuidado até o primeiro andar, onde daria a primeira aula do ano para
sua turma favorita. Mas, claro, sem um domínio, aqueles meninos conseguiam ser
os piores alunos da escola — prova disso era que eles foram considerados os
piores, poucos meses atrás, quando Sophie passou a lecionar naquele colégio.
Por isso, era mais do que justo que ela
estivesse esperando uma revolução quando adentrasse a sala. Britany, Lila e
Madison fofocando e rindo escandalosamente. Paul e Riley dando um jeito de
ligar os teclados e infernizando tudo. Kellan, Mitchel e Matt andando por toda
a sala. Nicholas discutindo com Janet e Nathalie. E Kayla gritando para eles
fazerem silêncio, pois a professora já estava para chegar.
Mas não. Quando Sophie adentrou a sala,
quase não acreditou no que estava vendo. Seus alunos não estavam bagunçando,
andando de um lado para outro, tocando, ou sequer conversando. Todos eles, sem
exceção, estavam sentados em seus devidos lugares, calados. Na realidade, assim
que a viram, Sophie notou que Lila e Madison deram duas risadinhas.
— Boa tarde, galera, desculpe o atraso — disse
Sophie, apoiando suas pastas e livros em sua mesa. Mas ao contrário do que ela
esperava, ninguém a respondeu. Nenhum cumprimento, nenhum pio, nem sequer um
sorriso. Todos os seus alunos continuavam sentados e estáticos. — Pessoal, boa
tarde — Sophie aumentou o tom de voz, voltando a cumprimentar seus alunos,
esperando que ao menos um deles a respondesse, mas nada disso aconteceu. Eles
continuavam lá, parados, quietos, olhando diretamente para Sophie. — Hum...
parece que vocês não dormiram bem essa noite. Não vão mesmo falar comigo?
Não falaram. Sophie franziu o cenho,
tentando entender o que eles pretendiam com aquilo. Era uma espécie de
brincadeira de ano novo para aprontar com a professora? Não fazia sentido que
eles continuassem tão quietos e estáticos simplesmente por que queriam.
Isso estava muito estranho.
Então, de repente, Nathalie se levantou
de seu lugar atrás de Janet. Virou-se e começou a andar até o fundo da sala,
sem nada dizer.
— Tudo bem, Nathalie, eu deixei você se
levantar? — Sophie levantou a voz numa tentativa frustrada de impor alguma
autoridade. A menina de treze anos de idade apenas se virou, olhou no fundo dos
olhos da professora e sorriu marotamente, antes de colocar-se atrás do projetor
de imagem.
Espera, o que aquele projetor de imagem
estava fazendo ali? Sophie não tinha notado, mas logo atrás de Matthew, ele
estava bem instalado e ligado a um notebook.
Sem que Sophie percebesse, Madison
levantou-se e logo às luzes que iluminavam aquela sala de aula foram apagadas.
O silêncio fez-se naquele lugar, junto à escuridão, e Sophie simplesmente não
sabia mais o que pensar. O que diabos estava acontecendo ali? Por que seus
alunos estavam tão quietos e trabalhando em equipe para assustá-la?
— Ok, gente, vamos parar com a
brincadeira — disse ela, bufando. — O que está acontecendo?
Novamente, ela não obteve resposta
alguma. E as demais crianças, com exceção de Madison e Nathalie, que estavam
paralisadas em seus devidos lugares, subitamente passaram a se mexer.
Nicholas fez a primeira nota em seu
teclado, e Sophie quase perguntou quem o havia ligado, mas logo ficou sem voz.
Kayla, ao lado de Nicholas, de repente começou a acompanhá-lo e logo toda a
sala tocava a mesma sequência de notas. A respiração de Sophie parou, sua voz
empedrou-se na garganta e sua pele arrepiou-se por completo. Ela conhecia aquela introdução.
A única que não tocava era Janet. A
menina, em vez disso, levantou-se e sorriu para Sophie antes de começar a
cantar.
I don't mean to run. But every time you come around, I
feel more alive than ever.
And I guess it's too much, but maybe we're too young,
and I don't even know what's real.
But I know I've never wanted anything so bad… I've
never wanted anyone so bad.
(Eu não pretendo correr. Mas toda vez que você chega
perto, eu me sinto mais vivo do que nunca.
E eu acho que isso é demais, mas talvez sejamos
muito jovens, e eu ainda não sei o que é real.
Mas eu sei que nunca quis nada tanto assim... Eu
nunca quis ninguém tanto assim.)
Sophie achou que fosse desmaiar ao ouvir a voz de sua aluna
cantar aquela música. Aquela música que tanto significava para Sophie, que
lembrava-lhe tantas coisas, que tanto mexia com ela. Os demais alunos davam
todo o apoio para Janet e tocavam lindamente, cada um à sua maneira, mas tudo
muito bem organizado e bonito.
Ela não sabia o que aquilo queria significar. Mas sabia quem havia arquitetado tudo.
A voz de Janet e os teclados dos meninos ainda ecoavam na
entonação perfeita e fazia com que a mulher de vinte e três anos não
conseguisse controlar ou distinguir suas emoções de maneira alguma. Tudo que
havia em Sophie era surpresa, abalo, incredulidade. Ela não tinha reação, não
sabia mais o que pensar. Seu coração batia com força dentro de seu peito e seu
estômago revirava, seu corpo estava paralisado, seus pelos estavam todos em pé.
Então o projetor de imagem foi ligado, e a atenção dela foi
dirigida para o quadro branco onde ele refletia. Com o coração querendo sair
pela boca, ela viu, lentamente, as palavras começarem a tomar formato.
“Eu
aposto que você se lembra dessa música.
Bonita
a voz dessa sua aluna, não? Puxa vida, você tem verdadeiros artistas aqui. E eu
juro que há alguns meses atrás, não esperava nada dessa turma.
É
claro que isso mudou. Mudou a partir do momento em que você entrou dentro dessa
sala. Hoje, eu acho que de toda a escola, essa é a turma que eu mais preso.
É
claro que eu devia saber. Devia saber que a partir do momento em que você
entrasse na vida dessas crianças, mudaria tudo.
Eu
devia saber que você mudaria tudo na vida de todo mundo. Inclusive e
principalmente da minha.”
Lentamente, Sophie tapou parte do rosto com as duas mãos,
sem acreditar em tudo aquilo. A voz de Janet ainda ecoava, lindamente, e seus
alunos continuavam a tocar. A tela, refletida no quadro branco, parecia apenas
letras vermelhas escritas em uma fonte cursiva.
Ela sabia quem havia escrito aquilo. Sabia quem armara tudo
isso para ela.
Sem que ela percebesse, seus olhos começaram a lacrimejar.
Sophie estava surpresa demais, atônita demais, emocionada demais. Não sabia o
que esperar do fim daquela mensagem, e Adore ao fundo fazia com que ela
quisesse chorar.
Tudo que ela sabia era que Luke escrevera aquilo.
Devagar, a tela foi sumindo, a voz de Janet ainda ecoando,
chegando ao refrão. Sophie não conseguiu retirar os olhos do quadro branco.
“Essa
foi a primeira música que eu realmente escrevi para alguém, você sabia?
Eu
coloquei todo o meu coração e toda a minha emoção nessa letra. Queria fazer com
que você a amasse, queria que você escutasse que era a única a adorar, queria
que você percebesse que você é tudo o que eu estou procurando, queria que você
seguisse todo o caminho ao meu lado.
Eu
estava apaixonado por você, Sophie. Eu tinha dezesseis anos, quase nenhuma
experiência de vida, mas era inteiro e completamente apaixonado por você.
Nove
anos depois, uma vida inteira, eu ainda sou o mesmo garoto.
Eu
cresci. Aprendi muito, mudei. Mas quando penso em você, quando estou com você,
ou quando faço qualquer coisa relacionada a você, eu me torno aquele
adolescente ridículo que te amava. Me torno o rapazinho magricela que tocava
com você. Me torno a criança inocente com quem você se casou.
E
mesmo que eu tenha tentado, tantas vezes, fazer com que isso não fosse real,
simplesmente não dá.
Por
que é você. Sempre foi você. E sempre será.”
As lágrimas já saíam dos olhos de Sophie com toda a
voracidade, sem que ela pudesse sequer pensar em controlá-las. Seus olhos liam
as palavras que apareciam na tela, e isso refletia diretamente nela mesma. A
emoção dentro dela conseguia ser maior do que qualquer outra coisa que ela
jamais sentira, seguida da surpresa e da incredulidade. Sophie não sabia o que
fazer.
Só sabia que sentia a mesma coisa em relação a ele.
Meu Deus, ela mal conseguia respirar tamanha sua emoção, mas
ela sabia que era verdade. Sabia que quando Sophie estava com Luke, era
transportada para todas as épocas de sua vida em que esteve feliz com ele.
Quando estava em seus braços, ela era mulher, era garota, era menina. Quando
estava com Luke, Sophie era ela mesma. Da maneira que foi, é, e será.
Por que ela era dele. Sempre foi dele. E sempre será dele.
“Você
se lembra de quando namoramos?
Se
lembra das nossas implicâncias? Dos nossos beijos, das nossas músicas? Você se
lembra das nossas briguinhas e do nosso ciúme bobo? Lembra do nosso amor?
Você
não foi feliz?
Eu
sei que você está com medo de se machucar, minha linda. Mas você tem que se
lembrar de que eu, apenas eu, posso te fazer feliz nesse mundo. Por que eu sou
seu. Completamente e só seu. Sempre fui, ora, a quem podemos enganar?
Eu
te amo, Sophie. Eu te amo demais. Você é meu mundo, você é meu tudo. Você me
fez o homem mais feliz desse planeta no dia em que disse que me amava. Hoje eu
sou realizado, recebi a bênção de ser pai, e você é a causadora te tudo isso.
Por
favor. Seja minha. Percorra todo o caminho comigo. Nós podemos fazer isso. Nós
podemos alcançar a nossa felicidade outra vez. Nós podemos seguir com o plano.
Nós podemos ser um do outro, para sempre.
Olhe
para a porta. Diga que sim.”
De repente, a música parou. A luz se acendeu, o projetor foi
desligado. Com os soluços presos na garganta, Sophie virou-se imediatamente
para a porta, prendendo a respiração ao vê-lo.
Luke tinha um sorriso sincero no rosto, e apesar de estar
elegantemente vestido em um terno, parecia não ter penteado o cabelo como
sempre. Além disso, carregava Henry nos braços, que sorria da mesma maneira e
estava vestido igual o pai. Ambos estavam visivelmente felizes e sabiam
exatamente o que estava acontecendo ali. Sophie não conseguia parar de chorar,
impedindo os soluços de ecoarem com as mãos, assistindo os dois homens que mais
amava no mundo cochicharem um com o outro.
Ela não sabia o que pensar. Não sabia o que fazer. Seu
cérebro estava paralisado, seu corpo parecia ter se enrijecido, seu coração
parara de bater. A única coisa que ela fazia, ali era chorar, lembrando-se de
cada palavra que Luke colocara em seu projetor de imagem, seus alunos tocando e
Janet cantando a música que mais mexia com Sophie no mundo inteiro.
Então Henry foi colocado no chão e começou a correr na
direção dela. Sophie soluçou e abaixou-se para pegar o filho no colo, por puro
instinto. Ele ainda sorria de orelha a orelha, com seu rostinho jovial
iluminado, seu cabelo mais bagunçado do que nunca. Os olhos azuis dele
encararam os olhos de sua mãe furtivamente antes de abrir outro grande sorriso.
— Mamãe — ele chamou a atenção de Sophie e passou os
dedinhos pelo seu rosto —, o papai ‘tá perguntando se você quer casar com ele.
Olhando o rosto do filho, Sophie deixou-se domar pela
surpresa, que se manifestou em um soluço. O mundo perdeu a cor e ela achou que
fosse desmaiar, até que lentamente o rosto de seu filho voltou a ter foco, tão
lindo. O abalo ainda estava presente nela quando ela virou-se e encontrou o
rosto de Luke, iluminado, risonho, encarando-a como se aquilo fosse a coisa
mais perfeitamente engraçada que existia.
Meu Deus. Luke aproximou-se com cautela e enfiou uma das mãos no bolso
do blazer, de modo que os soluços de Sophie ficaram apenas maiores e mais
aparentes. Bem perto dela, ele ajoelhou-se, e segurou a mão dela que não estava
agarrada ao filho.
— Como eu fiquei muito ocupado ensinando essas crianças a
tocar Adore, não me sobrou tempo para comprar uma aliança, sabe — Luke disse,
todo risonho e lindo, e retirou uma aliança de papel do bolso. Sophie não
conseguia retirar seus olhos chorosos dos dele, sem acreditar que aquilo estava
acontecendo, sem se dar conta de que aquilo não era só um sonho. Meu Deus. — Eu sei que você tem medo,
mas nós podemos enfrentá-lo juntos. Por favor, por favor, seja minha. Aceite.
Case-se comigo. Eu prometo te fazer feliz pra sempre.
— Diz que sim, mamãe! — Henry mexeu no ombro de Sophie,
fazendo com que ela conseguisse deixar-se dar uma risada em meio ao seu choro
compulsivo. Com os olhos ainda transbordando, e os lábios curvado no sorriso
mais sincero que ela já dera na vida, ela respondeu, com toda a certeza do
mundo:
— Sim.
O rosto de Luke ganhou um sorriso e todos os seus alunos
começaram a gritar. Sophie sorriu, deixando que ele colocasse a aliança de
papel em seu dedo, e puxando seu braço para que ele se levantasse e tomasse os
lábios dela em um beijo cheio de emoção.
Não foi muito mais do que um selinho, mas isso era o
suficiente para fazer com que Sophie se sentisse melhor do que nunca, leve, feliz. Luke separou-se dela e acariciou
seu rosto com as costas das mãos, encarando-a como se não acreditasse que ela
era, finalmente, sua noiva. Henry
ainda estava nos braços dela, gritando e fazendo festa assim como todos os
outros alunos, que nada faziam além de assobiar e bater palmas com força.
Sophie entendeu, enquanto encarava o rosto daquele homem que
ela tanto amava, que era isso que ela queria para a vida dela. Que precisava
enfrentar seu medo e só o enfrentaria se estivesse com Luke. Por que ela era
dele, só dele, e sempre seria assim.
Enquanto ele segurava seu rosto com uma das mãos e alternava o olhar feliz
entre ela e seu filho, Sophie viu que ele não poderia estar mais contente.
Viu-se imensamente feliz por isso também, pois sua felicidade refletia na
felicidade dele. Era nisso que o amor deles era baseado.
Sophie não poderia viver sem ele, e nem conseguiria se
pudesse. Tinha um futuro pela frente, sempre teve, mas esse futuro incluía
Luke. Como seu amigo, amante, marido, e
pai de seus filhos.
Como o destino queria.
— Você me surpreendeu com isso — disse ela, não muito alto,
de modo que apenas Henry e Luke escutassem uma vez que a sala ainda estava uma
algazarra. Luke sorriu e encolheu os ombros, mas antes que ele pudesse
responder, Sophie interveio: — Agora é minha vez de te surpreender também —
disse ela e Luke riu, como se não acreditasse que isso seria possível. Sophie
também sorriu, fungou como consequência de seu choro anterior, e segurou a mão
de Luke que estava em seu rosto. Com o coração batendo forte contra o peito e a
certeza de saber que não havia momento melhor para fazê-lo, muito lentamente,
ela colocou a mão dele por cima de sua barriga. — Eu estou grávida.
*****
Cada um com um sorriso no rosto, os dois homens estavam se
vestindo elegantemente. Enquanto o primeiro, de olhos azuis cinzentos e barba
cobrindo parte do rosto, vestia-se com um terno caro costurado à mão por um
estilista que sua mulher indicara-lhe, o outro terminava de fazer o nó na
gravata de seu traje militar. Apesar das diferenças e dos pesares, naquele
momento, nenhum dos dois homens poderiam estar mais felizes ou realizados.
Estavam prestes a assistir uma cerimônia da qual eles se lembrariam para
sempre.
Em toda a sua vida, Josh nunca pensou que poderia estar ali,
no quarto que fora de Nate, arrumando-se para a cerimônia de casamento de três
de seus quatro filhos, acompanhado de ninguém mais, ninguém menos, do que Jason
Bynum. Além disso, nunca pensou que pudesse aproveitar um momento como esse,
deixando todo o passado de lado e focando-se no futuro. Focando-se no que era
de fato melhor para seus filhos.
— Ainda não acredito que vou levar minha única filha ao
altar — reclamou Jason, finalmente ajustando a gravata na altura certa. Mas
isso fez Josh sorrir.
— Ah, por favor — contrapôs ele. — Eu vou levar as minhas
únicas duas filhas para o altar, de
uma vez só.
Jason riu e dirigiu-se até a cama para retirar o blazer do
plástico e colocá-lo sobre os ombros.
— Então você está em desvantagem, General — disse ele,
voltando à atenção para sua imagem no espelho. Encarando a si mesmo, Josh
deixou que seu sorriso se ampliasse antes de ajustar o chapéu em sua cabeça.
— Não estou, não — disse ele, serenamente. — Minhas meninas
são incríveis, e seus noivos são homens de bem. Considero os dois como se
fossem meus próprios filhos. Nada me deixa mais feliz do que poder dar a mão
delas para alguém que realmente mereça. Além disso, meu garoto também está se
casando.
— Com a minha menina — Jason completou, fazendo com que Josh
risse. — Mas eu concordo com você. Demorei para perceber, mas ninguém nesse
mundo inteiro cuidaria melhor da minha Julia do que seu filho. Na realidade, eu
devo muito ao Nate por consertar problemas meus.
Josh assentiu com a cabeça, sentindo as palavras do ex-inimigo
surtirem efeito nele próprio.
— E eu ao Hector — disse ele, abaixando a cabeça por um
momento.
Com um sorriso, Jason deu um tapa amigável no ombro de Josh.
— Nós falhamos como pais — disse ele, suspirando —, mas
mesmo assim, veja só as filhas lindas que temos.
Josh deixou-se dar um pequeno meio sorriso.
— Talvez o destino tenha sido justo e não as penalizou pelos
nossos erros — ele virou-se para Jason, que apertou os lábios e assentiu com a
cabeça.
Respirando fundo, Josh estendeu sua mão para um aperto amigável.
Jason sorriu e apertou a mão do homem.
— Bem-vindo à família, Bynum.
Jason sorriu.
— Bem-vindo à família, Farro.
***
Um casamento triplo aconteceria dali a menos de uma hora, na
grande construção da Christ Church Cathedral, numas das ruas mais movimentadas
da cidade. Como era de se esperar, as casas que há tanto tempo são vizinhas,
dos Farro e dos Davis, estavam lotadas e cheias de correria. Enquanto os pais
dos noivos — com a exceção de Jeremy e Charles, que já estavam na igreja —
arrumavam-se no quarto de que um dia fora de Nate, no fim do corredor do
segundo andar da casa de Josh, as mães ajudavam suas filhas no quarto de
Kathryn e Jeremy, na casa dos Davis. Hayley, Kathryn e Alana levavam muito a
sério a superstição de que os noivos não podem ver as noivas antes do casamento
para não dar azar.
Por isso, Hector, Nate e Luke, agora terminavam de se
arrumar no quarto que ainda era de Joseph. Enquanto Luke e Hector vestiam o
mesmo estilo de terno, Nate estava bem enfiado em seu traje militar de cadete
que era. Todos os três, além de estarem bem elegantes, tinham o mesmo brilho no
olhar. A felicidade por saber que a partir desse dia, as mulheres que eles
amavam, seriam oficialmente suas esposas.
— E pensar que, de início, os únicos a se casar seriam o tio
Hector e a Danna, poxa — disse Nate, brincando, dando os toques finais em seu
traje. Luke deixou-se gargalhar e Hector olhou para Nate como se estivesse
reprimindo uma criança.
— Que história de tio é essa, rapaz? — perguntou ele,
engrossando a voz o triplo do normal, apenas agravando a crise de riso de Luke.
— Não me leve a mal — disse Nate, dando ombros —, é que você
é meio velho, sabe?
Hector deu uma risada sem humor.
— Não sou velho, pequeno Farro. Apenas não acabei de sair
das fraldas como você — disse ele, provocando, causando o puro divertimento de
Luke. Nate sorriu e apontou um dedo para Hector, como se dissesse: “você ganhou
a batalha, mas não a guerra”.
— Está com quantos anos, Hector? — perguntou Luke,
finalmente recuperado, enquanto tentava domar seu cabelo para que ele não
ficasse jogado para todo lado.
— Trinta e um — disse o rapaz, dando-se conta de que já
estava arrumado. — E você?
— Vinte e cinco — Luke disse, com um sorriso amigável no
rosto. Tentou pentear o cabelo para um só sentido, mas ele não estava simples
de se lidar hoje. Será que não entendia que era uma situação especial?
— Eu fiz vinte e dois na última quinta, obrigado por
perguntarem — disse Nate, revirando os olhos enquanto ajeitava o chapéu
propositalmente torto na cabeça. Hector deu uma risada, acompanhado de Luke,
que fez que não com a cabeça.
Então de repente ouviu-se batidas na porta. Luke desistiu de
seu cabelo e começou a arrumar as mangas da camiseta social que ficaria por
baixo do blazer antes das batidas tornarem a acontecer.
— Entra — gritou ele, no automático, sem desagradar nenhum
dos seus demais colegas. Não se deu ao trabalho de olhar para a porta,
esperando que seria alguma criança ou o próprio Joe.
Mas não era. Luke percebeu isso assim que a voz feminina forte
ecoou.
— Mas olha só, quanta elegância — disse ela, atraindo os
olhares dos três homens que estavam ali. Luke deixou seu queixo cair levemente
antes de abrir seu sorriso mais sincero.
— Megan! — disse ele, indo em direção à amiga para
abraçá-la. Apertou o corpo dela contra o seu, sentindo o já conhecido cheiro de
perfume masculino, e sorriu quando eles se separaram. — Você veio!
— Claro que vim! — disse ela, com um sorriso quase tão
grande quanto o de Luke. Olhou para o lado, vendo seus amigos que os encaravam
como se não estivessem entendendo nada. — Oi, rapazes.
— Essa é a Megan Curtis, minha amiga desde a faculdade.
Esses são Nate e Hector, também vão se casar hoje — Luke tratou de fazer as
apresentações, fazendo com que eles sorrissem uns para os outros.
— Oh, sério? Um casamento triplo? Parabéns! — Megan
cumprimentou-os, fazendo com que Hector e Nate agradecessem educadamente. — Com
licença, rapazes. Já trago o Luke para vocês — disse ela, sorrindo, e saiu
porta afora para que Luke a seguisse.
— Agora me explica — Megan recomeçou quando eles chegaram ao
corredor —, como que há um mês você
estava na maior dor de cotovelo, e agora está se casando e tem um filho?!
Eu por acaso dormi mais do que deveria à noite?! Tipo, uns dez anos?!
Luke gargalhou perante a surpresa da amiga.
— Na realidade, eu tenho dois
filhos — disse ele, orgulhoso, fazendo com que Megan soltasse um palavrão.
— Só que o último ainda está em fase de edição.
Megan sorriu.
— Pare de se referir a crianças como se elas fossem uma
música — disse ela, dando um pequeno tapa no ombro do amigo. — Mas sério? Mais outro?
— Foi obra de um descuido — disse Luke, mas sem tirar o
sorriso do rosto. — O melhor descuido que já dei na vida.
Megan gargalhou mais uma vez.
— Meu Deus, Luke Noah Davis é papai — disse ela, afinando a voz propositalmente. — Isso é tão
surreal. E agora está se casando!
Luke ainda sorria, sem conseguir esconder a felicidade.
— Eu a amo — disse ele, encolhendo os ombros. — Preciso dela
na minha vida, o que posso fazer?
Megan aliviou seu sorriso, olhando admirada para o amigo
enquanto fazia que não com a cabeça. Meu Deus, quanta mudança para pouco Luke!
Veja só esse rosto iluminado, esse olhar vivo, essa expressão de felicidade. O
que essa Sophie tinha que conseguia deixá-lo tão feliz?
— Essa mulher tem o poder de te mudar, não é? — perguntou
ela, com um sorriso pairando bem levemente no rosto. — Onde está o Luke
obscuro, chato e insensível que eu conheci?
Luke deu uma risada, encarando a amiga.
— Ele redescobriu o amor — explicou-se, fazendo com que
Megan suspirasse antes de abraçá-lo novamente, induzida e controlada por um
turbilhão de sentimentos, desde o orgulho até a pura emoção em ver o rapaz que
um dia ela amara casando-se e, de alguma maneira, estar muito feliz por isso. — O Colin veio?
Megan soltou os ombros do amigo e assentiu com a cabeça.
— Sim, claro que sim. Ele já está na igreja. Trevor e Mell
também vieram, estão doidos para te ver. Mell principalmente, né, por que já
não te vê há eras. Mas ela só vai ficar na cidade hoje, pega um voo de
madrugada — Megan explicou-se e mexeu em seu longo cabelo ruivo.
O sorriso de Luke se ampliou.
— Que saudade da Melissa, cara — comentou ele. — Acho que
tem mais de um ano que eu não a vejo.
— Mas assim como eu, ela não podia perder o seu casamento —
disse Megan. — Está louca para conhecer a sua noiva.
— Sophie vai adorá-la — contrapôs Luke, sem perder seu bom
humor e mexendo em seu cabelo. Droga, poderia tê-lo cortado antes do casamento,
não? — Ambas já foram vocalistas de bandas minhas e tocam piano muito bem.
Megan apertou os lábios, achando o argumento de Luke muito
válido, e assentiu com a cabeça.
— Sinto que eu não
tenho nada em comum com Sophie — disse ela, um sorriso pairando no rosto. —
Mesmo assim, estou muito ansiosa para conhecê-la.
Luke deu um sorriso sapeca.
— Ela está no primeiro quarto do último andar da casa ao
lado — disse ele, dando ombros. — Meu filho também está lá.
***
— Minha. Nossa —
disse o rapaz de olhos escuros, corpo esbelto e cabelos escuros que iam até o
início de seus ombros, lisos, sedosos a ponto de deixar qualquer mulher com
inveja. Seu sotaque britânico só o deixava mais bonito. — Vocês. Estão.
Maravilhosas.
Danna, Julia e Sophie deixaram-se rir perante o elogio do
namorado de Joe, mas não o contestaram. Os vestidos que estavam em seus corpos
eram simplesmente lindos, apesar de simples e não serem todos iguais. O cabelo
de Julia estava encaracolado, metade preso e metade solto, dando a leveza certa
para a maquiagem em seu rosto. Sophie soltara todo o seu cabelo estridente,
assim como Danna, que assumira seus fios louros depois de toda uma vida. Com o
cabelo claro, Danna conseguia ficar mais linda ainda do que já era.
E, evidentemente, a felicidade que irradiava das garotas
apenas concluía os pacotes de beleza. Sophie até agradeceu a Deus por Jonathan
ter adicionado algum humor ao quarto, uma vez que Hayley não parara de chorar
desde o momento em que as meninas chegaram do cabeleireiro. Alana também
controlava-se à muito custo. Enquanto elas colocavam o vestido, Sophie
sinceramente não entendeu uma palavra do que a mãe dissera, choramingando.
Suspeitava que Alana não chorara por que... bem, ela era a mãe de Julia. E é
impossível não rir estando perto de uma Julia nervosa.
Isso por que sim, claro, todas elas estavam muito nervosas. Faltavam pouco menos de
quarenta e cinco minutos para o casamento e elas já estavam praticamente
prontas, o que agravava o fator ansiedade. Céus.
Elas iam mesmo se casar. A ficha ainda não havia caído.
— Estão lindas, incríveis, sexys — disse Joseph, já
devidamente vestido em seu terno, encarando as irmãs e a amiga, com os olhos
verdes brilhantes e emocionados.
— Estão maravilhosas — disse Jon, segurando a mão de Sophie
e de Julia ao mesmo tempo, antes de voltar sua atenção para Danna,
majestosamente. — Estão tão lindas que eu vou largar o Joe para poder casar com
vocês.
Joe bufou, indignado, enquanto as mulheres começavam a rir.
— Não se eu te largar primeiro — disse ele, encarando o
namorado com os olhos fulminantes.
Sophie não conseguiu deixar de gargalhar, achando graça
daqueles dois. Sinceramente, quando Joseph e Jonathan se juntavam, conseguiam
ser o casal mais engraçado do mundo.
— Sinto muito, rapazes, mas nós já estamos indo nos casar —
disse ela, encolhendo os ombros como em um pedido de desculpas. Jon deu de
ombros e mexeu em seu cabelo, encarando seu namorado em seguida.
— Sorte sua — disse ele.
Danna fez que não com a cabeça, um meio sorriso formado nos
lábios bem delineados e maquiados.
— Por que vocês, meninos, não vão ser úteis e descobrir o
que Henry e Anna estão aprontando? Eles saíram daqui já faz uns cinco minutos —
disse a mais velha e o casal assentiu, indo em direção à porta em seguida. Mas
quando Joe abriu a porta, logo viu que uma mulher desconhecida para ele se
aproximava do quarto. Sorriu, sendo simpático.
— Pois não? — disse ele, assim que ela parou à sua frente.
Sophie e as demais mulheres, incluindo Alana e Hayley,
entreolharam-se completamente confusas. Obviamente, Joe estava conversando com
alguém que queria entrar ali, e pela voz, não era ninguém que elas conheciam.
“Sou amiga de um
dos noivos, quero conhecer a futura esposa”
elas escutaram a voz abafada pela porta que Joe havia encostado.
“Oh, sim, claro.
E quem gostaria?” a voz simpática de Joe voltou a ecoar e
Sophie olhou para Hayley, que ergueu os ombros, demonstrando que não sabia o
que aquilo significava.
“Megan Curtis” novamente, a voz da mulher ecoou. Contudo, enquanto os
rostos de todos continuavam confusos, Sophie subitamente caiu em si e arregalou
os olhos. Abriu a boca, incrédula. Julia percebeu que a amiga estava estupefata
e perguntou quem era a mulher.
Sophie só teve tempo de sibilar “ex-namorada do Luke” antes da porta abrir e o rosto amistoso de
Joe reaparecer.
— Diga olá para as noivas mais lindas do universo, Megan —
disse o rapaz, e Megan sorriu abertamente, transmitindo sinceridade. Sophie
soltou o ar que nem percebera que segurara nos pulmões.
— Oi, gente — disse Megan, acenando levemente com a cabeça.
— Meu Deus, vocês... estão lindas!
— Oh, obrigada — Danna respondeu, sendo simpática.
Julia deu uma risada.
— Nós sabemos — afirmou ela, dando ombros e fazendo com que
todas rissem. — Estou vendo que a Sra. já esteve no nosso lugar, não? — Julia
apontou para a mão de Megan, de modo que todas as pessoas no quarto viram a
aliança de ouro tilintar no dedo da mulher. Sophie deu-se ao luxo de sorrir.
— Ah, sim, estive — disse Megan, descontraída. — Vocês
acreditariam se eu dissesse que estou em lua de mel?
— Não brinca, sério? — perguntou Julia. Sophie não conseguia
parar de sorrir, sabendo que a amiga estava usando o tom de voz que utilizava
para conseguir informações. Jornalistas.
— Juro que é — Megan não deixara seu sorriso. — Mas nós
decidimos passar hoje por aqui para vermos o casamento do Luke. É uma coisa que
eu não poderia perder.
— É, mas Luke irá se casar no meio de dois casais — parecia
que apenas Julia sustentava a conversa com Megan. Danna não fazia questão e,
bem, Sophie não se sentia à vontade. Já a nossa querida Leslie e sua irreverência...
— Eu sei! Vi todos os meninos ainda agora — disse Megan, bem
tranquilamente.
— São lindos, não são? — finalmente, Danna manifestara-se
com um sorriso. Julia deu sustentabilidade ao argumento respondendo a pergunta
que não foi feita a ela.
— São muito lindos, mas vocês também estão maravilhosas —
disse Megan, deixando os olhos passarem por cada uma das noivas, lentamente. —
Humm... Você é a Sophie?
Sophie olhou para ela e deixou-se sorrir. Megan não parecia
esconder nada por trás de seu sorriso, e... bem, o fato de ela estar usando uma
aliança confortava Sophie em proporções inimagináveis. Por isso, ela até
deixou-se mexer em sua franja mais lisa do que nunca.
— Sou sim — respondeu, sem deixar de ser simpática. — Como
soube?
Megan apertou os lábios e olhou para cima, como se
precisasse de uma boa resposta para dizer aquilo. Jogou um dos pés para frente,
até voltar seus olhos verdes para o rosto de Sophie novamente.
— Eu não sei — respondeu ela, deixando-se sorrir em seguida.
— Achei que você é a que mais tem a ver com ele... de vocês todas.
Julia fez que não com a cabeça, desgostando da ideia.
— Você até pode ter acertado, mas saiba que foi por pouco.
Eu já fui apaixonada pelo Luke, também — disse ela, dando ombros. Danna iniciou
uma crise de riso aguda. — E ela também. E aquela ali, a minha mãe, também.
O simples comentário de Julia desencadeou uma série de
risadas, principalmente em Danna, Sophie e na própria Megan. Sinceramente,
estando tão perto do momento de se casar, Sophie não entendia como Julia
conseguia fazer piada de tudo uma vez que ela estava uma pilha de nervos.
— Ai, Deus — disse Megan, recuperando-se. Voltou o olhar
para Sophie. — Humm... podemos conversar? — ela se referiu a Sophie ainda com
vestígios da crise de riso no rosto.
— Claro — respondeu a mulher de cabelos estridentes, enfiada
em um vestido de noiva. Danna e Julia entreolharam-se, trocando risadinhas
cúmplices, e Sophie retirou seu salto alto para ir conversar com Megan no
corredor. De alguma maneira, não se sentia mal por isso. Por algum motivo,
Sophie não odiava Megan. Por mais que isso parecesse estranho e premeditado.
— Aquela garota é engraçada — comentou Megan, obviamente
referindo-se a Julia. Sophie riu.
— É por que ela está muito nervosa — esclareceu ela, dando
ombros. — Quando Julia está muito nervosa, faz esse tipo de coisa. Quando está
muito nervosa, ela trava. Não sei nem se ela vai conseguir andar para dentro da
igreja.
Megan assentiu com a cabeça, sem deixar seu sorriso
simpático. Não sabia bem o que estava fazendo ali, claro, apenas sabia que
precisava conhecer a futura esposa de Luke e colocar tudo em pratos limpos para
não gerar qualquer tipo de futura discórdia ou discussão. Sophie mordeu o lábio
inferior, sem saber como lidar diante do silêncio desconfortável que se deu.
— Hum... — Megan tentou começar, igualmente desconfortável —
você é meio diferente do que eu imaginei.
Sophie riu.
— Menos alta, eu aposto — disse ela, fazendo piada consigo
mesma e arrancando uma risada descontraída de Megan.
— Ah, não. Isso não. Como você pode ver, eu também não sou
uma modelo, então — ela deu ombros, com os lábios ainda contraídos em um
sorriso.
— Eu não posso dizer isso, vi fotos suas na internet — disse
Sophie, sendo sincera. — Aliás, você toca muito bem.
— Obrigada — Megan assentiu cordialmente com a cabeça, ainda
se sentindo meio desconfortável, mas... gostando disso ao mesmo tempo. Céus,
que complicação. — Bem, eu... — ela tentou começar o assunto certo, mas as
palavras ficaram meio presas em sua garganta. Ela pigarreou, vendo o rosto
iluminado e muito bonito da futura esposa de Luke. Os traços de seu rosto ainda
tinham uma jovialidade como as de uma garota de quinze anos, apesar de
transmitirem a experiência e maturidade de uma mãe. Com a maquiagem limpa e
leve que passaram sobre sua pele, Sophie conseguia mesmo ser uma bela noiva.
Principalmente por que em seus olhos castanhos, percebia-se claramente que ela
estava queimando de amor pelo homem que daqui a poucas horas, seria seu marido.
— Eu só... queria deixar claro, sabe, que Luke é meu amigo, e... apenas isso,
entende?
Sophie pareceu se divertir com a expressão de Megan, e
sorriu, levantando uma das mãos.
— Não precisa se preocupar com isso, Megan — disse ela,
ainda sorrindo simpaticamente.
— Eu sei — ela disse, também sorrindo. — Estava com medo de
você ser uma daquelas ciumentas sanguinárias e tudo mais.
Sophie sorriu.
— Mas eu sou — ela deu de ombros. Por alguma razão, Megan
achou que fosse mentira. — Não posso dizer que nunca senti ciúme de você, seria
mentira. Mas isso foi uma outra época, em uma outra... sei lá, órbita. Não se
preocupa, que eu não vou criar caso ou coisa assim, por que... Luke gosta de
você, entende? E você dele. E... meu Deus, você não sabe o tamanho de coisas
pelas quais eu já passei com ele, então... eu confio nele. Nisso. Confio nisso
que nós temos — Sophie mordeu um dos lábios, achando que havia falado demais.
Megan sorria para ela. — Enfim, só saiba que eu não me preocupo com isso.
A mulher de cabelos ruivos longos deixou-se rir tranquilamente
e assentiu com a cabeça.
— Eu me sinto melhor assim — afirmou ela, encolhendo os
ombros. — Bem que Luke disse que eu iria gostar de você.
Sophie sorriu.
— Ele me disse a mesma coisa também.
— Bem... — Megan passou as mãos meio suadas pelo vestido que
usava, sorrindo. — Parabéns! Quer dizer, pelo bebê — ela apontou para a barriga
de Sophie, fazendo a mulher abrir a boca, quase indignada.
— Aquele boca grande! — disse ela, ainda fingindo raiva.
Megan sorriu.
— Por favor, não o recrimine! Ele está todo orgulhoso —
disse ela, dando ombros.
— Eu sei — disse
Sophie, revirando os olhos, fazendo Megan rir. — Ele não fala mais comigo, você
precisa ver! Quando ele me vê, não fala mais o meu nome, ele fala “olha só a
minha filhinha!”. Acho que para ele, agora, eu sou uma grande máquina de gerar
filhos.
Isso fez Megan gargalhar. Ela assentiu com a cabeça, sabendo
que Sophie estava exagerando.
— Meu Deus, será que Colin vai ficar assim quando nós
tivermos os nossos? — perguntou ela, sem abandonar suas risadas.
Sophie assentiu com a cabeça.
— Ah, com certeza. Homens são babões — disse ela, dando
ombros, fazendo com que as risadas de Megan não cessassem.
— Aliás, onde está seu filho? — perguntou ela.
— Henry está brincando com Anna, a prima dele. É filha da
moça loira que vai se casar, ela é minha meia-irmã — Sophie se explicou, com um
sorriso. — Aposto que você está curiosa para ver como é o filho do Luke, mas...
bem, imagine um Luke com cinco aninhos de idade e você pode reconhecê-lo em
qualquer lugar.
Megan ergueu as sobrancelhas, surpresa.
— Sério?!
— Sim, eles são parecidíssimos. Os olhos azuis, o sorriso
bobo, o cabelo sempre bagunçado, o formato de rosto... — disse Sophie, com um
sorriso no rosto. — Você vai vê-lo daqui a pouco na cerimônia. E se apaixonar
como todo mundo.
— Aposto que vou — disse ela, com um sorriso no rosto, meio
surpresa por perceber que Sophie, a mulher pela qual Luke sempre fora
apaixonado, era... um amor de pessoa. Muitas revelações para pouca semana,
Megan refletiu. — Enfim, vou deixar você terminar de se arrumar. Tenho que ir
para a igreja, ainda não sei nem como chegar lá — ela sorriu. — Parabéns
novamente. Pelos seus filhos, e... por conseguir fazer o Luke tão feliz. Acho
que nunca o vi daquele jeito. E aposto que esse brilho no seu olhar também é
por causa dele.
Sophie deu um meio sorriso.
— É mesmo — assumiu ela, simpaticamente.
— Estou feliz por vocês, Sophie — Megan olhou no fundo de
seus olhos. — Parabéns por tudo.
***
Ele só tinha quatorze anos, mas estava sentado ao piano,
meio nervoso, encarando a Igreja à sua frente cheia de pessoas. Estralou os
dedos pela vigésima vez e virou o rosto, encarando a garotinha que estava ao
lado do piano. Ela sorriu para ele encantadoramente, como se não estivesse nem
um pouquinho preocupada. Erich sorriu e fez que não com a cabeça, invejando o
espírito da criança que vê divertimento até nas situações mais embaraçosas.
Se bem que a pequena Claire York, apesar de seus nove
aninhos de idade, cantava bem demais para se preocupar com a aceitação do
público ou não.
Erich respirou fundo outra vez. Adorava tocar piano, mas
nunca tocara no meio de tanta gente. Em Franklin, ele e seus três melhores
amigos tinham uma banda de garagem, mas Erich era o baterista, e não o
tecladista. Além disso, com aquela banda os meninos preferiam tocar grunge aos
novos estilos de música que estouravam por aí.
Agora tudo era diferente, mas Erich tinha que fazer
direitinho. Seus três primos maiores iriam se casar e, quando perguntaram se
ele poderia tocar, ele lembrava-se que aceitara sem hesitar. Zac, seu pai, até
estranhou, mas depois ficou orgulhoso. Na realidade, nesse momento, ele
encarava o filho com o mesmo sentimento nos olhos.
E, claro, Erich já vinha ensaiando essa mesma música havia
pelo menos dois meses, todo santo dia. Ele nem sabia mais como errar, pois toda
vez que sentava-se ao piano, tocava a mesma coisa. Sua mãe não aguentava mais,
segundo ela própria.
A cerimônia já estava prestes a começar. A Christ Church
Cathedral estava cheia de convidados e amigos de todos os noivos e noivas, que
eram seis. O padre já estava bem
posicionado em seu lugar, assim como os noivos: Luke, Hector e Nate,
respectivamente. Hayley, Kathryn e Alana estavam em um canto esquerdo, com
sorrisos iluminados nos rostos, mas já lacrimejando. Tudo estava pronto — só
faltava as noivas chegarem.
Oh, as noivas. As belas noivas. Cada uma diferente, cada uma
com uma história que ligava ao momento que as três amigas iriam viver agora.
Cada uma delas tinha um motivo, uma caminhada, uma luta, um amor diferente
pelos seus parceiros. Cada uma havia sofrido à sua maneira para, agora,
realizar sonho de casar-se com o homem de sua vida. Suas histórias dramáticas e
românticas estavam todas interligadas de alguma maneira, mas ao mesmo momento
em que eram tão juntas, eram tão individuais.
Mas uma das semelhanças entre aquelas três mulheres que logo
entrariam na igreja era a felicidade. A felicidade que sentiam por amar.
Quanto aos elegantes noivos, todos eles mal conseguiam
manter-se de pé. Tremiam, sentiam suas mãos suarem, deixavam com que a
ansiedade os domasse como marionetes. Não falavam nada, apenas mantinham os
olhos presos na porta da igreja, aguardando o momento em que as mulheres de
suas vidas entrariam, vestidas de branco, acompanhados pelos seus sogros. Eles
mal conseguiam respirar.
Refletindo sobre a vida, tanto Luke, quanto Nate e Hector,
percebiam que nada do que acontecera fora por acaso. Não foi por acaso quando
Hector, subitamente, sentiu uma necessidade de andar pela rua naquela noite e
achou um pequeno anjo, perdido, caído, desmaiado em seus próprios medos. Não
foi por acaso, ele sabia, por que ele sempre estivera destinado a amar Danna
como amava agora.
As histórias eram diferentes. Nate tinha um símbolo do
infinito gravado no braço, para mostrar o quanto amava sua Julia, desde que
tinha apenas treze anos de idade. Não
foi por acaso que ela se foi, mas também não foi por acaso que voltou. Nate
sempre soube que a amaria mesmo com toda a dor da distância, e ali estava ele,
vivendo a prova. Mostrando para ele mesmo e para o mundo que sim, aquele amor
de crianças era real, e que também
era infinito. Assim como mostrava seu pulso marcado.
As histórias se interligavam. Luke, filho dos melhores
amigos de Hayley, crescera tendo a garota que mais amava como vizinha. Amou-a,
em todos os aspectos mais esquisitos desse mundo. Desejou-a, detestou-a,
odiou-a, odiou a si mesmo por não odiá-la. Confundiu-se, confundiu-a. Chorou,
fê-la chorar. Sorriu, fê-la sorrir. Acima disso, de todos os sentimentos e
reviravoltas, de toda a confusão e conturbação, ele foi dela. Ele a amou.
Planejou um futuro com ela. Um futuro que, a partir de hoje, com seus dois
filhos, começava triunfante.
Quando dois sentimentos distintos entram em conflito, vence
o mais forte. A relação amor-ódio de Luke e Sophie já foi triunfante para ambos
os sentimentos, mas agora, a guerra havia sido vencida. Enquanto aguardava sua
amada aparecer, Luke apenas teve certeza, outra vez, que o amor venceu. E
sempre venceria.
Murmúrios e um bip para Erich Farro, filho de Zac, pianista
da noite, deram a certeza de que as noivas haviam chegado à igreja. Luke, Nate
e Hector sentiram seus corações baterem com mais força dentro do peito quando
viram a cauda da limusine. Viram suas amadas saindo dali, e pelo menos mais três
pessoas ajudarem-nas para que tudo desse certo. As organizadoras do casamento
pareciam falar algo muito sério entre si, e então, poucos segundos depois, a
música começou a ecoar.
Os corações dos noivos, e de todos os que sabiam a história
da música, aqueceram-se. Logo a voz calma e melodiosa da pequena Claire York
começou a cantar My Heart enquanto Erich acompanhava a menina ao piano.
Trocando um sorriso cúmplice, Josh e Jason apareceram,
acompanhados de suas respectivas filhas na porta da igreja. Segurando o braço
esquerdo de seu pai, lá estava Sophie, radiante. Carregava um sorriso
emocionado em seu rosto e sentiu vontade de chorar quando seu olhar cruzou com
o de Luke, que a encarava, atônito, perdido em tamanha beleza e tamanha
perfeição. Ela deixou-se dar uma risada, acompanhada de uma espécie de fungada,
olhando firmemente para Luke e seu terno maravilhoso com detalhes em prata. Não
acreditava que realmente estava ali. Não acreditava que iria realmente se casar
com ele.
Ao lado direito do militar, segurando seu outro braço,
estava Danna, que nunca parecera tanto com sua filha como agora que estava com
os fios de seu cabelo longo acobreados em um loiro discreto. Diferente de sua
irmã, seus olhos já transbordavam, sem acreditar que depois de tanto sofrimento,
lá estava ela. Casando-se. Com o homem que um dia salvara sua vida. Depois de
pensar que nunca seria feliz e que não havia nada de bom que esse mundo pudesse
proporcioná-la, depois de se envolver com todo tipo de problema... ela havia encontrado o amor. Havia
encontrado no homem que sorria para ela agora. No pai de sua filha. Na melhor
pessoa que ele já conhecera na vida. Havia encontrado esse amor em um homem
chamado Juan Hector Estebán, e se sentiria feliz em carregar seu sobrenome a
partir daquele dia.
Além de encontrar o amor em Hector, ela encontrou a
verdadeira fé. A fé na vida. Como
dizia a tatuagem que ela agora carregava em seu braço: breathe and have faith. Era isso que Danna iria fazer até o fim de
sua vida: respirar e ter fé. Viver em mercê dessa sua fé que ela adquirira com
ele, e com sua filhinha, tão pequena e tão esperta. Por que se ela tivesse fé,
tudo se resolveria como tinha de ser. Por conta dessa fé, hoje Danna era feliz,
e casava-se com o homem de sua vida.
Por último, segurando o braço direito do homem em que ela há
tão pouco tempo atrás jurava odiar, lá estava Julia. Chorando e sorrindo ao
mesmo tempo, apertando o caule do buquê de rosas com tanta força que ele estava
quase quebrando. Apoiava-se no braço de Jason e sabia que se não fosse por
isso, jamais conseguiria andar. Nate estava tão lindo à sua frente, com seu
traje militar, encarando-a com um sorriso que ia de uma orelha a outra. Ela o amava tanto. Sempre o amara tanto.
E depois de tanto tempo separados, de tanta dor e tanto sofrimento que a
distância lhes submeteu, lá estava ela! Casando-se com ele! Lá estava ela, indo
em direção ao altar, indo na direção dele, para ser dele para sempre. Lá estava ela, indo prometer estar com ele para
sempre, tornando-se uma Farro. Lá estava ela, fazendo o caminho de sua vida,
que a levaria para Nate até quando a morte os separaria. Ou talvez nem ela
conseguisse fazê-lo.
A voz de Claire chegou ao refrão. Joshua, com os dois braços
entrelaçados as suas filhas, continuou andando acompanhado de Jason, que
segurava o braço de sua única menina. Enquanto eles andavam, não conseguiam se
sentir mais realizados e felizes. Não conseguiam distinguir ou classificar a
emoção de sentir suas meninas apertarem seus braços, chorarem e rirem ao mesmo
tempo, enquanto seus futuros maridos as esperavam com a maior cara de bobo
apaixonado do mundo. Tanto Josh quanto Jason lembraram-se de quando eles eram os bobos apaixonados, e que
dessa paixão, nasceram as meninas que aprenderam a amar e agora estavam se
casando também. O orgulho, o amor, a emoção eram tão grandes que a posição de
militar forte já saíra do grande General Joshua Farro quando seus olhos
começaram a lacrimejar. Enquanto caminhava, ele agradeceu a Deus de corpo,
coração e alma, por aquilo estar acontecendo e por tudo estar dando certo para
suas meninas que ele amava muito mais do que a ele mesmo.
Claire parou de cantar e só escutou-se o ecoar do piano de
Erich quando as noivas e seus pais alcançaram o altar. Joshua sorriu, beijou o
rosto de Sophie e apertou a mão de Luke antes de entregá-la. Olhou para Danna,
fungou, abraçou-a e novamente apertou a mão de Hector antes de entregar sua
filha mais velha ao rapaz. Jason, por sua vez, deu um abraço na filha e
sussurrou que a amava, antes de apertar a mão de Nate com força e sorrir para
ele.
Feitos os casais, o padre, parecendo emocionado com a música
e toda a situação, começou a fazer suas leituras. Sophie e Luke, Hector e
Danna, Nate e Julia, levantaram suas cabeças, atentos a leitura do Antigo
Testamento, o Novo Testamento, o Salmo e, por último, o Evangelho. O padre lia
compassadamente, de modo que cada palavra fosse absorvida por cada pessoa que
estava presente na igreja, e então retirou os olhos aparentemente cansados de
sua Bíblia para fazer seu sermão.
Começou sua homília falando sobre como as escrituras nos
ensinam que o casamento é um dom de Deus na criação, e um meio da sua graça, um
santo mistério, no qual o homem e a mulher se unem numa só carne. Disse sobre o
propósito de que nessa vida, as pessoas que estão selando matrimônio devem
pertencer-se mutuamente, envolvidos nesse amor, até o fim de suas vidas, tal
como Cristo está envolvido com sua igreja. Explicou o modo em que, agora,
marido e esposa devem se confortar e ajudar reciprocamente, tanto na miséria
quanto na abundancia, fielmente, iniciando uma vida na comunidade. Disse sobre
a importância de ajudar Deus na Criação, tendo filhos e abençoando-os com seu
cuidado e educação.
Enquanto apertava a mão de Luke e escutava as palavras do
padre, Sophie não conseguia impedir as lágrimas de descerem pelo seu rosto.
Desde muito cedo ela descobrira as mesmas máximas que o padre repetia em sua
detalhada homília. Ela sempre fora fiel a Luke, sempre o amara e sempre
pertencera a ele, e apenas ele. As lágrimas saíam tranquilamente de seus olhos
enquanto, agora, ele começava a falar sobre a importância da família e Sophie
se lembrava da criança que agora carregava em seu ventre. Outro filho, outro
filho dele. Mais um bebê para
constituir a família que ela tão erroneamente separou, há muito tempo atrás.
Agora, enquanto selava matrimônio com o homem que amava, perante Deus e sua
família, ela sentia do fundo de seu coração emocionado que fazia a coisa certa.
Por ela, por Luke, e por seus filhos.
O mesmo efeito surtia nas duas outras mulheres que,
emocionadas, casavam-se com os homens que amavam. Julia não conseguia parar de
apertar a mão de Nate, chorando mais do que qualquer outra pessoa dentro
daquela igreja. A cada palavra do sermão, Julia concordava em pensamento,
completamente envolvida pela áurea de amor que Nate transmitia, pronta e devota
a passar toda a sua vida ao lado dele. Danna não estava muito diferente, as
lágrimas saindo levemente pelos seus olhos, a alegria irradiando de seu
coração.
Ao fim da homília, o padre direcionou-se unicamente aos
noivos, com seus olhos azuis cinzentos, cansados e compreensivos.
— Os votos que estais prontos a fazer, sê-lo-ão em nome de
Deus, que é o juiz de todos, e conhece os segredos dos corações; portanto, se
qualquer de vós sabe de alguma causa pela qual não vos possais casar
legitimamente na Igreja de Cristo, deve declará-la agora — declarou ele,
dirigindo-se a toda a congregação. Não tendo resposta, ele virou-se para o
primeiro casal, com o papel em mãos. Todos os casais colocaram-se de frente um
para o outro, de modo que pudessem olhar no fundo de seus olhos e partilharem
de sua emoção. — Muito bem. Nathaniel Williams Farro, receberás Julia Leslie
Bynum por tua legítima esposa? Estás decidido a amá-la, confortá-la, honrá-la,
protegê-la, e a guardar-lhe total fidelidade até á morte?
Nate, com o maior dos sorrisos no rosto e o coração
irradiando felicidade, respondeu, serenamente:
— Sim, estou.
O padre voltou sua atenção para Julia.
— Julia Leslie Bynum, receberás Nathaniel Williams Farro por
teu marido? Estás decidida a amá-lo, confortá-lo, honrá-lo e protegê-lo, e a
guardar-lhe total fidelidade até á morte? — perguntou o padre novamente, de
modo que Julia, encarando o rosto perfeito de Nate, precisou engolir o choro
para responder, sorrindo:
— Sim, estou.
Lentamente, o padre direcionou sua atenção para o próximo
casal. Hector, olhando nos olhos de Danna, ouviu o ancião fazer a mesma
pergunta que fez ao casal anterior. Mais do que certo, Juan Hector, o rapaz que
apaixonara-se pela garota que resgatou, sorriu antes de dizer:
— Sim, estou.
— Danna Elizabeth Rice Farro, receberás Juan Hector Estebán
por teu marido? Estás decidida a amá-lo, honrá-lo, confortá-lo e protegê-lo, e
guardar-lhe toda fidelidade até a morte?
Danna, com seu sorriso mais feliz, verdadeiro e esperançoso,
respondeu:
— Sim, estou.
Quando o padre virou-se para o terceiro casal, Sophie já mal
se aguentava. A felicidade por estar ali, pronta para prestar seus votos ao
homem que amava mais do que tudo no mundo, e ver as suas duas melhores amigas e
irmãs no mundo inteiro tão felizes quanto ela, era simplesmente maravilhosa.
— Luke Noah Davis, tu receberás Sophie Williams Farro como
tua esposa? Estás decidido a amá-la, honrá-la, confortá-la e protegê-la, e
guardar-lhe toda fidelidade até a morte?
Olhando no fundo dos olhos da única mulher que ele já amou
no mundo, Luke respondeu:
— Sim, estou.
— Sophie Williams Farro, receberás Luke Noah Davis por teu
marido? Estás decidida a amá-lo, confortá-lo, honrá-lo e protegê-lo, e a
guardar-lhe total fidelidade até á morte? — o padre voltou a perguntar,
encarando Sophie, enquanto ela encarava Luke. Soluçou, emocionada, e disse,
quase sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo:
— Sim — disse ela, fungando, visualizando o rosto tão
perfeito de Luke sorrir para ela —, eu estou.
Domados pela emoção, os casais continuaram a olhar um ao
outro, todos com um sorriso no rosto, todos com lágrimas nos olhos, todos
sabendo que aquele dia poderia ser considerado como o mais especial da vida
deles. Julia e Sophie, principalmente, lacrimejavam sem conseguir retirar o
sorriso do rosto, demonstrando com aquele simples ato que sim, Deus, elas amavam seus noivos. Com todo o coração.
Como não poderia ser diferente, as noivas não eram as únicas
que deixavam-se dominar pela emoção e choravam sentidamente. Hayley, Alana e
Kathryn estavam juntas, sentadas na primeira fileira, chorando sem conseguir
parar. Hayley, por ver Nate e Sophie casando-se, e por Danna, que já
considerava como se fosse sua própria filha. Alana, por ver sua filha, sua
Julia, da qual ela tanto se orgulhava, se casando com o primeiro namorado da
adolescência. Alana sempre soube que Julia sabia bem o que queria, mas Nate era
uma demonstração típica do temperamento da filha. Ninguém a faria mais feliz
nesse mundo. Já Kathryn, não conseguia aguentar-se ao ver seu filho, Luke, tão
homem e responsável, morto de amores por uma mulher, casando-se com ela
enquanto ela esperava o segundo filho dele.
Um dos pensamentos que as três mulheres, mães orgulhosas,
tinham em comum, era de como o tempo passa rápido. Como aqueles bebês que elas
seguraram nos braços, há tão pouco tempo atrás, agora estavam em sua cerimônia
de casamento? Como seus filhos, que até outro dia eram simples crianças
inocentes, agora estavam ali? Como cresceram e chegaram ali tão rápido?
O tempo era tão passageiro, tão cruel. Principalmente para
uma mãe que é completamente apaixonada pelo seu filho e que sempre o verá como
uma criança apesar de tudo.
— Pois que tendes, então, o propósito de contrair o santo
matrimônio, dai o vosso consentimento na presença de Deus e da Sua Igreja — o
padre disse após o último consentimento dado na cerimônia por Sophie. Sua
cabeça foi levemente arqueada para Nate e Julia, que sorriram, cada um recebendo
os votos que haviam escrito. Como ensaiado, Nate seria o primeiro.
Alternando o olhar entre a futura esposa e o papel em suas
mãos, ele suspirou, começando:
— Eu só tinha treze anos quando te conheci — começou ele, o
microfone em seus lábios, a expressão de surpresa surtindo em alguns convidados
e o choro desencadeando em outros que já sabiam da história. — Eu tinha certeza
que você era a garota para mim, e quando começamos a namorar, muito jovens, eu
soube que iria ficar com você para sempre. Eu te amo, Julia — Nate mordeu o
lábio inferior e levantou os olhos de seu papel, vendo-a chorar mais ainda. —
Eu amo o seu sorriso, eu amo o seu cabelo, eu amo a sua irreverência, sua
sinceridade, sua paixão... eu amo o seu jeito de me fazer te amar. Você é o ar
que eu respiro, você é a luz que ilumina meu dia. E eu mal posso esperar para
ser seu marido e te fazer feliz. Até que a morte nos separe... se conseguir.
Com os olhos ainda transbordando e o sorriso estampado no
rosto, Julia recebeu o aceno de cabeça do padre, indicando-lhe que era sua vez.
Ela respirou fundo, tentando se controlar, e segurou seu papel.
— Você se lembra da primeira vez em que nos beijamos? —
perguntou ela, retirando os olhos do papel para encarar o rosto de Nate, que
esboçou um sorriso. Ele assentiu com a cabeça. — Eu não sabia o que tinha dado
em mim. Você estava num campeonato de boxe, lutando, e o seu adversário era bem
maior que você. Eu sinceramente não aguentei ver você perdendo, por que eu sabia que você tinha capacidade para vencer.
Então passei por cima de umas cem pessoas, cheguei ao ringue e juntei nossos
lábios antes que você pudesse se recuperar da surpresa. Eu lembro que foi como
se eu tivesse estado nas nuvens e voltado por um segundo, mas logo acabou, e eu
disse para você ganhar a luta — Julia respirou fundo, fungando, sua voz
embargada pelo choro. Ela sorriu. — Você ganhou. Eu não sabia na época, mas
hoje eu entendo que não importa qual luta estejamos enfrentando, se nós
estivermos juntos... a gente vence. Passamos muito tempo separados,
sobrevivemos a muitas coisas, mas agora que estamos juntos... tudo pode ser nosso.
Por isso eu te aceito como meu marido e dou-me a ti como esposa, e prometo te
amar, te respeitar e te ser fiel, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza,
até que a morte nos separe se conseguir. Além disso, eu prometo nunca mais te
deixar. Prometo estar sempre com você. Infinitamente.
Deixando Nate e todos os indivíduos ali presentes
emocionados, Julia finalizou seus votos ainda com o rosto choroso. Lentamente,
o padre disse, em seu microfone, o nome completo do segundo casal.
Hector foi o primeiro, já segurando seu papel e o microfone
junto à boca. Ele respirou fundo, iniciando sua leitura em seguida.
— Você vive dizendo que foi salva por mim, mas não tem ideia
do quanto está errada — iniciou ele, alternando a leitura entre o papel e o
rosto da mulher que amava. — Antes de você, minha vida não era nada. Eu nem
sequer consigo me lembrar, pra dizer a verdade. É só um borrão. Minha vida,
minha verdadeira vida, começou no
momento em que você entrou nela. Em você, Danna, eu encontrei a inocência e a
sinceridade. Encontrei minha bondade, minha consciência. Encontrei meu amor, a
minha paixão. Quando você entrou na minha vida, eu encontrei a minha missão. E
se hoje eu sou feliz, tudo foi você quem me proporcionou. Eu não te salvei,
pequena Danna. Você me salvou de uma vida que não valia a pena — Hector retirou
os olhos do papel durante um segundo para olhar nos olhos chorosos de Danna. —
Obrigado por aparecer na minha vida. Obrigado por me amar. Obrigado por ser a
mãe da minha filha. Obrigado por me salvar. E obrigado por, a partir de hoje,
tornar-se a minha esposa. Eu te amo mais do que qualquer outra coisa nesse
mundo.
Danna, com os olhos chorosos, precisou de um momento antes
de se recuperar e segurar o microfone perto de seus lábios. Hector sorria,
emocionado, encarando-a.
— Você, de fato, me
salvou — iniciou ela, dando ênfase no “de fato” para que Hector não a
contestasse mais. Ele sorriu. — Mas não apenas isso. Além de me salvar, você me
deus os maiores presentes que uma mulher pode receber. Você fez com que eu
acreditasse em mim mesma e nos outros, e fez com que eu me tornasse uma pessoa
melhor. Você me mudou, me desviou do mau caminho, me transformou em uma pessoa
certa. Você me deu fé. Você me deu amor. Você me fez mãe. E, agora, eu não
poderia estar mais feliz por você me fazer esposa — Danna retirou os olhos do
papel, encarando o rosto de Hector, tão lindo, à sua frente. — Eu te amo,
Hector, e prometo te amar para sempre, até o último dia de nossas vidas.
Prometo sempre te amparar e estar contigo. Prometo cuidar de Anna e de nossos
futuros filhos com todo o amor e dedicação que houver dentro de mim. Prometo
ter fé. Fé em mim, e em nós. Fé no nosso amor e no nosso futuro. Na nossa
eternidade.
Com os olhos lacrimejando, Hector deu seu sorriso mais
aberto e emocionado, tendo de se segurar para não abraçar sua noiva com toda a
força que tinha nos braços. Suspirou, olhando para ela, e agradecendo a Deus
mais uma vez por tê-la em sua vida.
— Luke Noah Davis e Sophie Williams Farro — disse o padre,
balançando a cabeça para o terceiro e último casal. Luke sorriu lindamente, com
o papel em suas mãos, e posicionou o microfone perto dos lábios antes de
começar a falar.
— Eu passei a noite toda de quinta olhando para esse papel,
tentando escrever algo que fosse muito especial e que fizesse jus a esse dia.
Mas eu sei e você sabe que qualquer coisa que eu escreva só fica boa se você
escrever comigo — Luke sorriu, encarando Sophie com o olhar mais sincero que
tinha. Ela sorriu também. — Bem, lá vai — ele disse, lendo a frase que havia
escrito. — Eu te odeio, Sophie Williams Farro. Você é teimosa, medrosa, às
vezes chata, e às vezes o seu temperamento irrita demais — a frase de Luke causou comoção em quem mal conhecia a
história, mas o rosto de Sophie ganhou uma risada. — Mas... eu te amo. Amo
quando você é teimosa, medrosa, chata e temperamental. Amo tudo isso, mesmo que
odeie, e Deus sabe que isso não faz sentido algum e eu estou provavelmente
confundindo a cabeça de todas as pessoas presentes aqui. A questão é que essa é a verdade: eu te odeio, mas morro
de amores por você. Sou apaixonado por tudo,
absolutamente tudo em você, e
seus defeitos detestáveis estão dentro do pacote. Eu odeio te amar, ou amo te
odiar, ainda não decidi bem o termo certo, mas... ter esse sentimento me faz
feliz. Me faz o homem mais feliz do mundo inteiro. E, hoje, agora, eu não
poderia estar mais feliz por me tornar seu marido perante Deus, nossa família e
amigos. Não poderia estar mais feliz por ser pai dos seus filhos — Luke
respirou fundo, levantando seu olhar para encarar a noiva, que sorria e chorava
ao mesmo tempo, emocionada. — Obrigado por me fazer amar odiar você. E obrigado
por amar me odiar também.
Sophie, emocionada, refletiu sobre as palavras de Luke antes
de iniciar sua própria leitura. Meu Deus, ele tinha tanta razão. Ela o odiava,
porém o amava, e isso não fazia o menor sentido. Mas fazia sentido para ela.
O padre acenou com a cabeça para que Sophie iniciasse sua
leitura, e ainda recuperando-se, ela começou:
— Ultimamente eu tenho pensado e refletido sobre o destino —
começou ela, respirando fundo para não deixar o choro manifestar-se. — Analisei
cada fato, cada pequeno fato de modo individual, e cheguei à conclusão de que
nada nessa vida é por acaso. Percebi que nós andamos na linha do destino, mesmo
que tenhamos nosso livre arbítrio. Não entendo como, mas ele dá um jeito de nos
colocar de volta no caminho — Sophie sorriu. — Pelo menos foi assim comigo.
Desde crianças nós já éramos destinados a ficar um com o outro, e depois de
muita briga e muito ódio, distância, nós nos entregamos. Nos entregamos a um
amor completamente despadronizado, a uma paixão que nos incandesceu, e mesmo
que nós dois tentássemos nos desviar disso posteriormente, lá veio o destino e
nos colocou no caminho do outro outra vez — Sophie suspirou, vendo o rosto de
Luke, tão lindo, encará-la com muita emoção. Ela sorriu. — Por isso decidi
parar de fugir. Eu te amo, Luke, apesar
de te odiar, e hoje tenho prazer e satisfação em dar-me como tua esposa.
Como tua mulher. Como a mãe dos teus filhos. Como tua, apenas tua, e unicamente
tua. Até o fim dos meus dias.
As noivas e noivos já não eram os únicos que choravam
naquela igreja. A maior parte dos convidados deixavam uma ou duas lágrimas
caírem, entorpecidos pelo amor e pela paixão que irradiava dos três casais
amigos e apaixonados. Os que amavam, queriam amar mais. E os que não amavam,
queriam amar. Queriam algo como o que aqueles seis tinham.
Como foi ensaiado, após os votos, chegara a hora da entrega
das alianças, e todos levaram seus olhos para o início da igreja. Quem vinha
trazendo as almofadas de camurça, lindamente, eram Henry e Anna, de mãos dadas,
cada um com uma almofada nas mãos, sorrindo e andando no compasso em que haviam
ensaiado. Sophie, Luke, Danna e Hector, principalmente, não conseguiram
controlar suas lágrimas.
Henry estava mais do que elegante, em seu terno sob medida
com detalhes em prata. Sorria, abertamente, lindamente, com toda a leveza do
mundo. Seu queixinho estava vermelho, pois ele tirara a sutura um dia antes,
mas ainda assim ele não poderia estar mais lindo. Não estava de óculos, por
isso seus globos azuis e encantadores eram lindos e incandescentes.
Já Anna, com seu sorrisinho fofo e seu cabelo loiro com
cachos nas pontas, tinha um vestido branco como o da mãe com detalhes também em
prata — a cor da festa. Segurava a mão de Henry com muita leveza e andava
feliz, vendo sua mamãe e seu papai ali, se casando. Anna não sabia muito sobre
a vida, mas sabia o que era um casamento, e sabia que era muito especial.
Esperava um dia casar-se também, da mesma forma, em uma igreja com muitas
pessoas.
Quando eles chegaram ao altar, Henry posicionou-se
primeiramente em direção de Nate e Julia, como haviam ensaiado, e Anna
posicionou-se na frente de seus pais.
Nate e Julia pegaram suas devidas alianças, olhando-se nos
olhos, e o rapaz tomou a mão da amada antes de beijá-la, delicadamente.
Posicionou a aliança de ouro no inicio do seu dedo anular, e com um sorriso no
rosto, disse:
— Dou-te esta aliança como sinal do nosso casamento. De
corpo e alma te honro, tudo o que sou te dou, e tudo o que tenho partilho
contigo, no amor de Deus, Pai, e Filho, e Espírito Santo — disse ele com o
maior dos sorrisos, encarando a esposa enquanto posicionava a aliança em seu
dedo. Chorando, Julia pegou a mão dele, e beijou-a como ele fizera pouco antes.
— Dou-te esta aliança como sinal do nosso casamento. De
corpo e alma te honro, tudo o que sou te dou, e tudo o que tenho partilho
contigo, no amor de Deus, Pai, e Filho, e Espírito Santo — ela repetiu as
palavras com o nó na garganta, segurando as mãos de Nate enquanto as lágrimas
escorriam libertamente pelo seu rosto.
Depois disso, foi vez de Danna e Hector darem mutuamente
suas alianças. Eles olharam um nos olhos do outro e Danna sussurrou que o amava
mais uma vez antes de ele posicionar a aliança no dedo anular de sua mão
esquerda, os olhos escuros queimando de amor, o sorriso mais feliz que ele já
tivera. Repetiu as palavras que havia ensaiado tantas vezes e encaixou o anel
de ouro no dedo da esposa, beijando delicadamente sua mão em seguida. Com o
coração irradiando e os olhos transbordando, Danna fez o mesmo, repetiu as
mesmas palavras e deu-lhe a aliança como prova de seu amor incondicional e do
matrimônio que eles acabaram de selar. Beijou sua mão e entrelaçou-a com a dela
em seguida, olhando em seus olhos como se sua vida estivesse ali. E de fato
estava.
Em seguida chegou a vez de Luke e Sophie. Henry colocou-se
na frente deles, esticando a almofada de camurça, e tanto o pai quanto a mãe
agacharam-se para ficar no tamanho do filho. Henry abraçou e beijou o rosto dos
dois antes de segurar a mão de Anna e ir para o lugar onde a organizadora do
casamento determinara. Mais do que emocionados pela sinceridade e inocência do
filho, Luke e Sophie colocaram-se na frente um do outro, ambos com lágrimas nos
olhos. Luke segurou a mão tão macia e perfeita da melhor pianista que conhecera
na vida e posicionou a aliança, dessa vez de ouro, em seu quarto dedo da mão
esquerda, ou dedo três da mão de um guitarrista. Sorriu com o pensamento bobo e
repetiu as mesmas palavras, com toda a emoção que tinha no coração:
— Dou-te esta aliança como sinal do nosso casamento. De
corpo e alma te honro, tudo o que sou te dou, e tudo o que tenho partilho
contigo, no amor de Deus, Pai, e Filho, e Espírito Santo.
Luke beijou a mão de Sophie, o que a fez fechar os olhos
momentaneamente, sentindo os lábios dele contra seus dedos, e quando os abriu
já estava chorando novamente. Sem controlar-se, ela segurou a mão de Luke e
posicionou a aliança em seu dedo anular, cheia de emoção.
— Dou-te esta aliança como sinal do nosso casamento. De
corpo e alma te honro, tudo o que sou te dou, e tudo o que tenho partilho
contigo, no amor de Deus, Pai, e Filho, e Espírito Santo. — Ela repetiu, e
beijou sua mão em seguida, tendo-o finalmente como seu esposo.
Também emocionado, o padre suspirou e aproximou-se de seu
microfone, lentamente.
— Na presença de Deus, e perante esta congregação, Nathaniel
Williams Farro e Julia Leslie Bynum, Juan Hector Estebán e Danna Elizabeth Rice
Farro, e Luke Noah Davis e Sophie Williams Farro, consentiram em se unir em
santo matrimônio; e confirmaram esse ato pela junção das mãos, e pela dádiva e
aceitação das alianças. Portanto, eu os declaro marido e mulher. Não separe o
homem o que Deus uniu — terminou o padre, fechando o livro e dirigindo toda a
sua atenção para os três casais a sua frente. — Podem beijar as noivas.
Quando os três casais juntaram seus lábios ao mesmo tempo e
toda a igreja começou a aplaudir, todos perceberam que aquele era apenas o
começo de um futuro que cada casal compartilhava à sua maneira. Três histórias,
diferentes e interligadas. Três amores.
Um deles nasceu da salvação; o outro, suportou uma distância
interminável e um tempo colossal; e o terceiro, costumava transformar-se em
ódio de vez em quando.
Mesmo diferentes, os três casos eram casos de amor
verdadeiro.
E sendo verdadeiro, seriam para sempre.