ᡶ Perco-me em teus lábios ᡶ
No céu, as estrelas exibiam todo o seu
esplendor, brilhantes e maravilhosas, dando um show de luz como bem fazia a Lua
cheia, tão grande e linda que um homem com boa imaginação poderia alcançá-la
com as mãos. Movido por um impulso jovial, ainda com as palavras do amigo ecoando
em sua mente, o soldado encaminhava-se para um dos dormitórios acompanhado
apenas de suas amigas estrelas. Um sorriso pairava levemente em seu rosto
recém-barbeado, dando a quantidade de leveza, jovialidade e paixão para um belo
homem de vinte e um anos.
Incomum, no meio de uma Guerra Mundial,
estar tão feliz. Em um lugar onde predominava a violência e o ódio, no coração
do rapaz tudo o que se encontrava era felicidade, leveza, vivacidade. Não sabia
onde perdera tudo o que tinha de ruim no coração, mas substituíra por tudo o
que havia de bom. Tudo o que ela lhe
dava de bom.
— Vou contar-lhe uma novidade, meu
amigo — havia dito Taylor, alguns minutos atrás, soltando o braço de seu violão
encordoado em nylon para segurar no ombro de Joshua. — Você está apaixonado.
Recordando as palavras de seu amigo enquanto
cantarolava uma das músicas que ele tocava há poucos minutos atrás, Josh
pegou-se sorrindo mais uma vez. Obviamente, ele negara de todas as formas que
estava apaixonado, e viu até mesmo Jon retirar o cigarro de sua boca para dar
uma risada que baforou todo o ar ao seu redor.
— Não adianta negar, Farro — dissera o
artilheiro, sem a camiseta e com os pés levantados para cima, o cabelo
bagunçado e o cigarro no canto dos lábios enquanto ele falava. — Está amando.
Uma moça não faria com um homem o que ela faz contigo, caso ele não estivesse
apaixonado. Aceita teu rumo.
Taylor rira, o chapéu curto pairando no
canto de sua cabeça e um sorriso despreocupado nos lábios. Como sempre, à
noite, ele se livrara de toda a farda que usualmente utilizava. Dedilhou uma
sinfonia qualquer em seu violão barato, apaixonadamente, e só retirou os dedos
do instrumento para aceitar o cigarro que Jonathan acabara de partilhar com
ele.
— Quando conheci minha Dakotah, estava
indo para o cinema mudo, ver um clássico de Chaplin — disse ele, seus olhos
verdes brilhando e encarando o teto, enquanto tragava o cigarro e baforava o
ar. — Lembro de tê-la visto, sozinha, na sala. Sentei-me ao seu lado e,
curioso, perguntei o porquê de ela não estar no cinema colorido, com som, assim
como todos o faziam naquele momento. Ela olhou-me, então, e sorrindo disse-me
que em sua opinião, a magia do cinema se encontrava em sua linguagem não-verbal,
na música, na ausência de cores. Foi então que eu concordei e pensei, com um
sorriso: é com essa garota que vou me casar.
Jonathan e Joshua já riam,
principalmente no final, quando Jon decidiu dublar as palavras de Taylor,
sempre as mesmas, quando ele contava-lhes a “história de quando conheceu sua
amada”. Intimamente, Joshua concordava sobre a magia do cinema mudo, mas nunca
dizia tal coisa por que sempre precisava rir da alma extremamente apaixonada de
Taylor e da áurea que ela transmitia. Era simplesmente contagiante.
— Já sabemos, York. Depois você passou
a ir à casa dela, e quando o pai da menina ameaçou-te com uma espingarda, passou
a encontrá-la às escondidas, blábláblá. Casaram-se e tiveram uma filha,
justamente como você previra naquele dia, no cinema — Jonathan continuou a
história no automático, fazendo pouco dos sentimentos do amigo, mas sem exatamente
desrespeitá-lo.
— Não entende onde quero chegar, não é,
Howard? — o sorriso de Taylor era irreparável. Ele encarou Joshua. — O que
estou querendo dizer, é que assim que vi minha garota, soube que ela era minha,
e quando saí do cinema já estava completamente apaixonado. Mas não quis admitir
isso de imediato, é claro. Assim como nosso amigo.
Joshua sorriu, negando com a cabeça
enquanto sacudia a camiseta branca que iria vestir. Seus amigos conseguiam ser
bem piores do que as mulheres amigas de sua mãe quando chegava a hora da
fofoca. Chegavam a ser irritantemente chatos.
— Não estou apaixonado — disse ele,
suspirando. — Adoro-a, não nego. Seus olhos e seu sorriso são os mais belos que
eu jamais vi, e, céus, vocês a viram! Ela parece de fato um anjo! E, além de
tudo isso, curou-me. Sei que curou. Ela me deixa vivo.
Taylor deixou-se dar uma gargalhada.
— Joshua, você basicamente acabou de
dizer: “eu não estou apaixonado, mas eu a amo” — Taylor afinou sua voz para
imitar o amigo, embora, na realidade, sua voz fosse bem menos grossa do que a
de Joshua. Isso fez com que Jonathan risse outra vez antes de baforar seu
tabaco. — Não pode negar, meu amigo, você está completamente apaixonado.
Adora-a, quer tê-la, e céus, eu te conheci antes de contrair a doença! Não via
sorriso nesta tua cara. Seus olhos costumavam a serem sombrios, malvados, mas
agora estão assim: brilhantes, vivos. Essa garota não te curou apenas
fisicamente, ela te curou emocionalmente.
Não consegue ver?
Jonathan assentiu com a cabeça.
— Taylor tem toda razão.
Josh coçou sua cabeça, procurando na
mente alguma maneira de fugir daquele assunto, mas sabia que não conseguiria.
Já havia algum tempo que ele vinha pensando nessa possibilidade e, a cada dia
que se passava, mais ele se convencia de que era real. Hayley era seu
combustível para continuar vivo. Era sua alma, seu coração. Seu sorriso era
tudo o que ele precisava para ter um dia feliz. Não se cansava nunca de
imaginar seu olhar majestoso, sua boca delineada, tão linda. Poderia passar a
eternidade sentindo-a perto dele, o choque de suas peles, seu rosto macio, suas
mãos delicadas, sua cintura fina. Seus cabelos louros, perfeitos para emoldurar
seu rosto angelical.
Oh, céus, não havia alternativa senão a
de que seus amigos tolos estavam completamente corretos.
— Ela curou-me — Joshua concordou,
assentindo com a cabeça. — Mas não posso apaixonar-me aqui. Por Deus, estamos em guerra!
— E daí?! — Taylor exaltou-se. — O amor
vem quando menos esperamos, meu caro.
Joshua encarou-o.
— Como posso cortejá-la neste inferno
de lugar?! Certamente não era difícil fazê-lo se estivéssemos na cidade, mas,
Taylor, estamos em guerra. No meio de
uma operação. No deserto norte-africano.
— Há várias maneiras de se cortejar uma
moça, Joshua, não se faça de tolo — Taylor deu de ombros, os dedos novamente
pousando nas cordas de seu violão. — Certamente você não irá arranjar uma
floricultura por aqui, mas mulheres gostam de criatividade e espontaneidade.
— Dê cigarros a ela! — Jonathan gritou
num impulso, fazendo com que os homens dessem uma risada sonora. Certamente a nicotina
já fazia efeito no cérebro do rapaz.
— Ela não fuma, disso tenho certeza —
Joshua respondeu a Jon, ainda com o sorriso em seu rosto. Virou-se para Taylor,
certo de que não haveria como ser criativo e espontâneo em um lugar onde
predominava as armas e a morte. — E como eu poderia ser criativo e espontâneo,
Don Juan?
Taylor sorriu, como se estivesse
lidando com amadores. Seus dedos novamente tocaram uma sinfonia lenta e
romântica e ele olhou para o amigo tranquilamente, deixando as mãos trabalharem
por si só.
— Ora, que tal um passeio à luz da lua?
Agora Josh encarava a Lua, grande, e
pensava consigo mesmo que essa talvez fosse a única vantagem daquele lugar
inescrupuloso. O céu, cinzento, era composto pela mais bonita constelação que
ele já presenciara, embora nunca houvesse observado-a em outra ocasião. O ar
estava frio, mas não gelado. Chegava a ser quase aconchegante. O silêncio era
geral, exceto pelo som das botas de Josh contra o chão seco, mas refletindo
sobre isso ele chegou à conclusão de que isso parecia aumentar a beleza da
noite.
Parecia perfeito para um rapaz
apaixonado que agora queria levar sua enfermeira para um passeio e, de alguma
forma, cortejá-la.
Com certo nervosismo presente nele, Joshua
chegou ao dormitório das enfermeiras. Ajeitou a farda sobre os ombros, eretos e
mais fortes, e preparou seu melhor sorriso. Sabia, entretanto, que estava muito
mais apresentável do que deveria estar quando era apenas um doente na lista de
Hayley. Fizera a barba, tomara um belo banho, penteara o cabelo. Embora
soubesse que os pelos de seu rosto deveriam estar muito maiores do que
fatidicamente estavam — supôs que foi barbeado por ela própria, enquanto dormia
—, Joshua nunca deixara a barba crescer e não seria agora que deixaria. Raspou
o rosto com a própria navalha assim que saiu da enfermaria e foi juntar-se aos
amigos em seu dormitório.
Também estava curioso para saber como
era Hayley fora daquele mesmo traje igual de enfermagem. Por isso, antes que se
arrependesse e desse meia volta, distribuiu três batidas singelas na porta
improvisada do dormitório das meninas. Ouviu sussurros e, então, pôs-se a
esperar. Como era evidente, o dormitório estava completamente escuro, mas ainda
era possível que houvesse uma lamparina acesa, como faziam Taylor e Jonathan
naquele momento.
Antes que Joshua pudesse pensar mais
sobre isso, a porta foi aberta, revelando uma garota de no máximo quatorze anos
de idade, a julgar por sua altura, seu corpo e seu rosto travesso. Em suas mãos,
uma lamparina improvisada queimava o óleo. A garota pareceu encarar Joshua por
quase um minuto inteiro até, de súbito, reconhecê-lo e esboçar um sorriso
maroto.
— Hay? — ela proferiu, sem virar seu
rosto. Os olhos continuavam presos em Joshua, quase sapecas, de modo que o
deixou quase envergonhado. Mas ao invés disso ele dirigiu um sorriso de
cumplicidade para a garota. — É para você.
— Como? — Josh pôde escutar o sussurro
dela, vindo do canto esquerdo do dormitório enorme. Parecia de fato que elas
eram as únicas moças acordadas àquela hora da noite.
A menina olhou para Josh e fez um sinal
para que ele esperasse por um segundo, sem abandonar seu sorriso esperto. Saiu,
então, quase saltitante, de modo que ele pôde inclusive escutar o som de seus
pés.
“Seu
namorado está aí”
ele ouviu a menina sussurrar, acompanhada de um risinho. Sorriu ao escutar a
voz atrevida e impertinente dela.
“O
quê? Josh?”
Hayley havia respondido, e algo dentro de Josh se animou ao saber que era dele
que ela se lembrava quando mencionavam um namorado. Nunca havia perguntado,
mas, é claro, seria bastante improvável que Hayley mantivesse um relacionamento
com alguém.
Mesmo assim, a notícia fez com que o
arrepio de ansiedade e nervosismo em seu corpo se tornasse mais forte. O homem
quase se sentia um adolescente.
“Não
sei se é esse o nome dele, mas é o rapaz de olhos bonitos que te faz sorrir
feito boba”
Joshua quase pôde ver a menina dando ombros. “Acho melhor você ir agora. Não se preocupe comigo, te acordarei antes
de embarcar naquele avião. Saia antes que a megera te veja”, novamente, as
palavras da garota. Josh supôs que seria ela a enfermeira que embarcaria ainda
essa noite, junto a tantos outros soldados doentes. Céus. Tão nova.
Então, meio minuto depois, lá estava ela a sua frente. Ele perdeu sua voz e
seu juízo quando visualizou-a, tão linda, angelical, perfeita, à luz da Lua e
da lamparina que ela provavelmente pegara da adolescente. Era a primeira vez
que Joshua via seu cabelo solto, liso, sobre os ombros nus. Em seu corpo, um vestido
azul claro que ia até os joelhos. Joshua poderia passar uma vida inteira apenas
contemplando sua beleza estonteante. Poderia passar o resto de seus dias
sentindo-se tonto e bobo, suas pernas bambas, seu olhar fascinado. Poderia
olhá-la para sempre, e não se cansaria, nunca. Ela seria tudo o que ele
precisaria.
— Josh! O que faz aqui? — perguntou
ela, surpresa e animada ao mesmo tempo. Seus olhos verdes esmeralda eram sempre
lindos, mas à luz da Lua eles estavam hipnotizantes. Ela o encarava com
fascínio, o sorriso no rosto aumentando cada vez mais.
— Vim te convidar para sair — disse
ele, ereto e com a voz bem encorpada, como se houvesse treinado para aquilo uma
centena de vezes. Um sorriso brincava no rosto, como aquele adolescente que
convidava a primeira namorada para tomar um sorvete.
Isso fê-la sorrir de uma maneira que
fez com que tudo valesse a pena.
— O que deu em você? — ela perguntara,
sem conseguir arrancar o sorriso estupefato e perfeito de seu rosto. Não
poderia estar mais surpresa.
Mas também não poderia estar mais
feliz.
— Vim te convidar para sair, ora! — ele
afirmou mais uma vez. — Está certo de que não há cinemas por aqui, ou praças,
ou sorveterias, ou parques. Mas quem precisa disso com uma Lua desse tamanho
nos presenteando com sua beleza?
Estava claro como a água que ela não
esperava pela súbita aparição de Joshua, e muito menos esperava que ele a chamasse
para caminhar à luz da Lua. Ainda assim, também era visível em seu rosto
delicado como uma porcelana que nada a deixara mais incrivelmente feliz e
animada.
— Acho que ninguém — respondeu ela, sem
saber exatamente o que dizer. Estava dominada pelo fascínio do momento, pela
Lua, pela beleza de Josh. Não retirara o sorriso tímido do rosto, entretanto.
Nunca sentira nada parecido anteriormente.
— Pelo menos, não nós — disse ele,
ainda com o sorriso pairando em seu rosto. Estendeu a ela seu braço, para que
ela pudesse segurá-lo e sair da frente de seu dormitório. Com um sorriso
pairando confuso no rosto, Hayley olhou de soslaio para dentro do dormitório e
deixou-se rir tranquilamente. Provavelmente sua amiga adolescente sibilara algo
engraçado.
— Não nós — concordou ela, fechando a
porta atrás de si e segurando o braço de Joshua com toda a determinação que
tinha.
Mentalmente, Josh agradeceu à Taylor
pela brilhante ideia. Claramente Hayley havia gostado, embora parecesse
extremamente perigoso e imprudente sair tarde da noite em, praticamente, um
campo de guerra. Mas a vontade que eles tinham de ficarem sozinhos parecia ir
além dessa periculosidade, desse medo. Como passaram, basicamente, os últimos
dois dias sem mal se ver, poderiam desfrutar da companhia um do outro sem
doente nenhum ao redor.
Só isso parecia bom demais.
Eles caminharam devagar até lugar
nenhum, ela agarrada ao braço dele, observando a Lua com toda a tranquilidade
que exalava de seu espírito. Não disseram nada por um tempo. Apenas sentiam
seus corpos tão perto, suas respirações tranquilas, as batidas calmas de seus
corações. Sentiam-se como se estivessem aonde deveriam estar. Sentiam-se
completos, felizes, em paz. Com um sorriso no rosto, Hayley desejou que ele
fizesse aquilo mais vezes, e apoiou seu rosto no braço dele muito calmamente.
— O que te deu para aparecer, assim, de
repente? — perguntou ela, quebrando o silêncio, dando-se conta do quanto
gostava de sentir Josh tão perto dela. Dando-se conta do quanto ele era forte,
alto, e bonito. Dando-se conta de que não se importava com mais nada naquela
hora senão eles mesmos. Dando-se conta de que ele fizera a barba, colocara sua
farda, e dando-se conta de que ela provavelmente nunca se sentira tão atraída
por homem nenhum em sua vida.
— Senti saudades — disse ele, o sorriso
pairando no seu rosto bonito. Ela sorriu por vê-lo sorrir. — Não a vi hoje e
nem ontem. Estava com abstinência do meu anjo.
Uma risada ecoou da garganta dela.
— Já pedi para parar de chamar-me assim
— disse ela, a voz manhosa. — Não sou anjo nenhum.
— E eu já pedi para que me deixe
continuar a chamá-la assim — retrucou ele, triunfante, com a voz quase tão
manhosa quanto a dela. Isso fê-la rir. — Para mim, você é um anjo.
Joshua escutou-a sorrindo novamente, e
sentiu que ela apertava seu braço com um pouco mais de força. Continuavam a
andar, tranquilamente e devagar, embora já não estivessem perto das tendas.
Sentiam um ao outro e observavam singelamente à Lua, esplendorosa, eminente,
linda. Nada poderia estar mais perfeito.
— Bem, se quer saber, também senti tua
falta. Foi terrivelmente estranho olhar para tua maca e ver outro homem
instalado nela — ela disse, virando o rosto só para encarar seus olhos
castanhos chocolate que penetravam sua alma e aqueciam seu coração. Ele a olhou
de volta, encantado, e sorriu o sorriso mais bonito que Hayley conhecia. — Meus
dias são tão piores sem você como meu paciente...
— É por isso que estou aqui — ele riu,
a voz cheia de entusiasmo e pretensão. — Para trazer a melhora para os teus
dias.
Novamente, uma risada saiu da garganta
da jovem, feliz.
— Não posso negar isso. Você me faz
bem... — ela deixou a frase ecoar, e Joshua notou que ela já segurava seu braço
com as duas mãos. Não conseguia entender como se sentia tão em casa ao estar
com ela.
— Você me faz muito mais do que bem...
Desde a morte de meu pai, nunca me senti assim... tão vivo, tão em paz... — tão apaixonado, ele completou
mentalmente, mas ao invés de dizer aquelas palavras apenas deixou-se dar uma
risada despreocupada.
Ela comprimiu os lábios.
— Eu entendo... — disse ela, respirando
fundo. — Também já perdi alguém que amava muito.
— Pierre? — perguntou ele, enfim
encarando seu rosto que demonstrava certa dor. Viu que ela virou o rosto
imediatamente, encarando-o com a mais profunda surpresa estampada nos olhos.
Josh apressou-se em explicar-se: — Foi esse o nome que você disse quando nos
vimos pela primeira vez. Estava doente, sentindo dor, mas me lembro de que foi
essa a primeira palavra que saiu de sua boca.
Hayley lembrou-se imediatamente. Não
tinha ideia de que ele havia escutado-a. Ninguém sabia de Pierre, senão ela
própria, mas seu descuido fizera com que Josh compartilhasse de sua tristeza
mais aguda.
— Sim, é ele — disse ela, engolindo em
seco e retirando os olhos de Josh.
Notando que ela não dizia mais nada, o
jovem perguntou:
— Ele era seu pai? Namorado? Irmão?
— Irmão — ela respondera imediatamente,
antes que ele pudesse sugerir outro parentesco. Olhou para o chão, esperando
que a dor a atingisse como sempre fazia quando lembrava-se de Pierre, mas dessa
vez isso não aconteceu. — Nossos pais morreram quando eu ainda era muito nova
para me lembrar de seus rostos, e ele cuidou de mim. Sempre cuidou. Crescemos
juntos, em um orfanato, e ele sempre me tranquilizava e me fazia rir. Cuidou de
mim até o último momento de sua vida, três anos atrás.
Josh assentiu com a cabeça, lentamente,
procurando não invadir muito a sua privacidade.
— Sinto muito — disse ele, passando o
polegar lentamente pela mão que apertava seu braço. Viu que ela esboçou um
sorriso, talvez não feliz, mas ainda assim verdadeiro.
— Eu também. Mas... acho que ele ainda
cuida de mim, de qualquer maneira — disse ela, quase tranquila. Fechou os olhos
por um segundo, sentindo a brisa fria da noite tocar seu rosto com cautela. — Ele
me lembra você. Só que você é mais bonito.
Joshua deixou-se rir, e uma risada
ecoou da garganta dela também.
— Acha que ele gostaria de me conhecer?
Hayley parou de andar por um segundo,
olhando bem no fundo dos olhos do soldado.
— Duvido — disse ela, sendo sincera e
deixando-se rir em seguida.
— Bom, ainda assim, se quer saber, meu
pai ficaria muito feliz em conhecê-la — Josh apressou-se em dizer, ainda com um
sorriso no rosto. — Tenho certeza que ele lhe acharia tão encantadora como eu
acho.
— Sabe o que eu acho, Josh? — perguntou
ela, retoricamente, enquanto voltava a andar com o braço entrelaçado ao do
rapaz. — Acho que está exagerando.
— Meu pai iria adorar tua modéstia.
Hayley deu outra risada, respirando
fundo o ar frio de noite, sentindo um pequeno arrepio correr seu corpo
deliberadamente. Mas não era de frio, ela sabia. Não era o frio que fazia com
que sua pele se arrepiasse, e sim a proximidade do soldado Farro com ela, neste
momento.
— Não entendo como posso me sentir tão
ligada a ti se te conheço há tão pouco tempo — as palavras saíram livremente de
sua boca, sem que ela tentasse repeli-las. Não se importava nem um pouco de
dizer o que sentia para o homem que causava tais sentimentos. Seria uma
profunda tolice.
— Talvez não tenhamos nos encontrado
por acaso — disse ele, com um esboço de sorriso calmo moldado no rosto. —
Talvez já nos conhecêssemos.
— De onde? — perguntou ela, com um
sorriso, tendo certeza de que aquilo era impossível.
— De outras vidas... ou de nossos
sonhos... — ele começou a listar as possibilidades, ouvindo a risada dela. — As
possibilidades são incontáveis. Podemos acreditar no que quisermos.
Ela fez uma pausa, mordendo o lábio
inferior. A hipótese que Josh sugeriu a ela era praticamente impossível, boba,
disfuncional. Ainda assim, parecia tão esperançosa, bela, luminosa. Ela quis
apegar-se a uma dessas teorias e aceitá-las como se fosse sua verdade.
“Podemos
acreditar no que quisermos”. Céus, ele tinha toda razão.
— Talvez... tenhamos sido enviados para
o bem um do outro — disse ela, sorrindo. — Acha possível?
Ele parou de andar para encará-la de
frente, seus olhos luminosos pela lua e pela lamparina a óleo. Engoliu em seco,
ainda abobado por vê-la tão linda, e assentiu com a cabeça.
— Acho completamente possível.
Olhando para seu rosto, o vento batendo
lentamente contra seus cabelos soltos e despenteados, Hayley deu um meio
sorriso. Não sabia como agir ou o que falar; sua atenção fora toda direcionada
a ele, seu rosto bem moldado, seu queixo acentuado e barbeado. Seus lábios
carnudos, chamativos, extremamente sedutores. Seus olhos marrons e perfeitos,
resplandecentemente lindos. Suas sobrancelhas não tão grossas, não tão finas,
seus cabelos lisos, seus ombros largos, seu corpo esbelto e absolutamente belo.
Ela não tinha palavras ou ações por que estava perdida demais na beleza dele, e
em como se sentia balançada e entregue, embora apenas suas mãos estivessem
entrelaçadas. A forma como ele a olhava, tão apaixonante e encantadamente, como
se ela fosse a mulher mais linda do mundo. Podia ver em seus olhos que ele a
desejava, mas via, além disso, que ele adorava-a. Que acreditava veemente que
ela era, de fato, o anjo de sua vida.
Seu coração não se segurava mais dentro
do peito, e lentamente, ela sentiu a mão dele se desprender da sua para
acariciar seu braço. Seus dedos corriam sua pele delicadamente, passando pelo
antebraço, e pelo ombro, como se acariciassem uma peça de arte moldada em
porcelana. Sentiu os dedos dele correrem o alto relevo da alça de seu vestido e
alcançarem, enfim, seu pescoço, para depois tocarem seu rosto com paixão. Uma
corrente elétrica passava pelo seu corpo, seus olhos não conseguiam sair dele.
Não conseguiam sair dos belos traços que o compunham tão perfeitamente, o homem
mais bonito que ela já conhecera.
Ele deu um passo para frente, ficando
agora tão mais próximo. Hayley levantou seu rosto, ouvindo a respiração
desregulada dele, e quando deu por si, já não conseguia mais controlar seus
sentimentos, sua respiração, seu desejo, seus atos. Olhou para baixo, por um
momento, tentando colocar os pensamentos em ordem, e quando novamente ergueu os
olhos, o rosto dele já estava tão perto que ela podia sentir seu hálito cálido.
Sentia o calor de seu corpo, exalando, dominando-a. Podia ver o seu nariz
acentuado, sua pele barbeada, e o contorno de seus lábios rosados e
profundamente sensuais. Conseguia inalar o seu cheiro característico, vicioso,
afável. Fechou os olhos, sabendo, enfim, que se perderia nele, densamente,
avassaladoramente.
Perdeu-se. Não importou-se. Passou as
mãos pelo rosto dele, sentindo a pele barbeada pinicar contra os seus dedos finos,
e manteve os olhos fechados quando suas testas se colaram, lentamente, fazendo
suas respirações se misturarem. Seu peito já arfava, sua pele queimava, seu coração
martelava com todo o pudor.
Uma chama acendeu-se dentro dela quando
seus lábios se tocaram timidamente.
O choque de suas bocas foi tão intenso
e profundo que eles precisaram de alguns segundos, apenas pressionando seus
lábios, lenta e brandamente. Nunca, antes, em suas vidas, eles sentiram-se tão
enternecidos. As mãos de Josh detinham o rosto dela com firmeza, porém
delicadamente. Seus lábios se encontravam ternamente tocados contra os dela,
num gesto lento e ainda assim profundamente apaixonado. Em seu coração,
explodia todo o amor e felicidade que ele possuía, desesperadamente e sem
limites. Dentro de seu corpo, sua alma, seu espírito, o que falava mais alto era
a felicidade e a emoção que sentia por estar, enfim, beijando os lábios da moça
mais linda e angelical que ele já conhecera. Em toda a sua vida, Joshua nunca
se sentira tão emocionadamente bem.
Suas línguas se entrelaçaram
vagarosamente e ela embrenhou os dedos nos cabelos lisos dele, perdida e
profundamente realizada, enquanto sentia os lábios do homem mais maravilhoso
que já conhecera juntarem-se com os seus. Sentiu como se não houvesse mais nada
com que precisasse se preocupar, senão Josh e o beijo que ambos trocavam,
apaixonadamente. Sentiu-se tão bem, tão entregue, que achou que poderia ficar
ali durante a noite toda, e a vida toda. Sentiu que encontrara, de fato, seu
lugar no mundo. Sentiu-se completa, feliz, emocionada, apaixonada. Sentiu que era ali que precisava estar, com ele, por
que ele era seu combustível para viver.
Agora as mãos dele corriam sua cintura,
unindo seus corpos. Hayley podia sentir o coração dele batendo, tão forte e
rapidamente, como se quisesse sair do peito, assim como o dela. Ainda mantinha
os dedos perdidos nos seus cabelos pretos, ainda sentia os lábios dele presos
aos seus, suas línguas tocando-se sem pressa, como se o mundo fosse deles.
Sentiu que se a Terra acabasse naquele momento, ela e Josh não seriam
atingidos. Tudo o que existia, tudo o que importava,
eram os dois e o quanto eles estavam apaixonados um pelo outro, embora se conhecessem
há tão pouco tempo.
Sem conseguir se desprender dos lábios
dele, cada vez mais entregue, cada vez mais envolvida pelo beijo calmo, desejando-o cada vez mais, ela sentiu
seu corpo ser erguido do chão e abraçou o pescoço dele com o braço, embora seus
pulmões implorassem cada vez mais impiedosamente por ar. Desprendeu seus lábios
por um segundo e abriu seus olhos, encontrando os de Josh, castanhos e lindos,
encarando-a como se ela acabasse de fazê-lo se sentir o homem mais feliz do
mundo. Como se não importasse mais nada, só ela, e apenas ela. Como se, embora
ele não a conhecesse há mais de duas semanas, era ela a mulher que ele queria para sempre. Como se ele acreditasse
veemente que era ela o anjo de sua
vida, feita para fazê-lo viver.
E olhando para aqueles olhos marrons, pela
primeira vez, ela acreditou nisso também. Acreditou que era possível. Com um
sorriso bonito, terno e realizado escapando pelos lábios latejantes, e ainda
suspensa no ar pelos braços fortes de Josh, ela fechou os olhos antes de
aproximar seus lábios de novo. Provou de seu sabor mais uma vez, e percebeu que
jamais se cansaria disso, dele. Novamente
suas línguas estavam entrelaçadas, unidas, explorando-se comovidamente.
Novamente seus braços estavam em volta dele, novamente seus corpos estavam
colados. Novamente Hayley percebeu que Josh era o homem mais significativo para
ela.
Não importava o que dissessem. Hayley
soube, naquele momento, presa em seus braços e no beijo de seus lábios rosados,
que Josh fora enviado para ela. Não sabia por quem, ou por que, mas ele era dela. Fora
mandado para ela. E estar ao seu lado, senti-lo, beijá-lo, ou apaixonar-se
intensamente por ele, era inteiramente e completamente certo.
Oiii?AUEHAUEHAEUHHAE
Eu não coloquei notinhas iniciais por motivos de: não precisava. Mas enfim, como vão vocês, amores mios?
ÇAPSOKAÇ~PSOKALS ESSE CAPÍTULO, HEIN?! EU FALEI QUE IA TER ATUALIZAÇÃO NO SÁBADOOOOOOOO *U* CURTIRAM? I hope so.
Estão me pedindo muito pela Trucker, mas eu tenho de dizer que não tenho como postá-la hoje. Tenho trabalhado em vários projetos pararelos, e isso acabou me abstendo de escrever para esta fanfique que os senhores estão gostando tanto *U* DESCULPAAA!! Eu não tenho nada do próximo capítulo e ainda estou me sentindo mau em relação à Sex and Stuff.
Mas semana que vem tem Trucker pra vocês. Pro-me-to,
AGORA VAMOS FALAR DESSA RENASCER? AWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW MY HEART <3333333333
Geente, esse capítulo. Eu o escrevi há umas duas semanas mas ainda sou inteiramente apaixonada por ele por motivos de: OLHA ESSES DOIS! ELES SÃO O SHIPPER MAIS PERFEITOS QUE EU JÁ ESCREVI, OK? FORAM FEITOS UM PARA O OUTRO E MEU DEUS DO CÉU O AMOR A LUA TUDO TUDO TUDO MEU CORAÇÃO MEUS SENTIMENTOS MINHA EXISTENCIAAAAAAAAAAAAA </3
Não sei lidar.
E isso é por que eu que escrevo.
Sinto que vocês sentem também <3 E GENTE, SOBRE O SEGREDO DA HAYLEY: eu tô entregando ele de bandeja, sos. Tem gente que já sacou. Vamos pensarrrrrrrrrrr *U* eu acho que vou demorar mais uns capítulos para que ele seja inteiramente exposto. MAS DICAS ESTÃO ROLANDO E VOCÊS SÓ PRECISAM, Ó, SACAR.
Seus lindos.
Sobre esse Taylor: a p a i x o n a d a.
Sobre esse Jon: o mesmo do Taylor.
Sobre esse Josh: socorro, me dá esse homem.
Sobre essa Jenna: por um mundo onde eu possa abraçá-la para sempre, soc.
Sobre esse beijo: ÃPOSKQÇOPJ~PSIQ~BNEOABSÇIUQVEIAÇSVBIYQVULWSVAUVQUIVSAIHASÇOIJQMNJH,SB ,JX BJHAV SJGCVQGQUWHIASPOIAKPSOIAKSPAOSKAPOJQWASAOPSIKAS socorro, escrever isso foi tão bom.
Foi tão lindo ;'3 tão lindo.
tão lindo.
Comentem pra mim? ;-;
Muito amor para vocês,
Sarinha ;3