26 de jan. de 2013

Capítulo 4

Perco-me em teus lábios

 

 

 

No céu, as estrelas exibiam todo o seu esplendor, brilhantes e maravilhosas, dando um show de luz como bem fazia a Lua cheia, tão grande e linda que um homem com boa imaginação poderia alcançá-la com as mãos. Movido por um impulso jovial, ainda com as palavras do amigo ecoando em sua mente, o soldado encaminhava-se para um dos dormitórios acompanhado apenas de suas amigas estrelas. Um sorriso pairava levemente em seu rosto recém-barbeado, dando a quantidade de leveza, jovialidade e paixão para um belo homem de vinte e um anos.
Incomum, no meio de uma Guerra Mundial, estar tão feliz. Em um lugar onde predominava a violência e o ódio, no coração do rapaz tudo o que se encontrava era felicidade, leveza, vivacidade. Não sabia onde perdera tudo o que tinha de ruim no coração, mas substituíra por tudo o que havia de bom. Tudo o que ela lhe dava de bom.
— Vou contar-lhe uma novidade, meu amigo — havia dito Taylor, alguns minutos atrás, soltando o braço de seu violão encordoado em nylon para segurar no ombro de Joshua. — Você está apaixonado.
Recordando as palavras de seu amigo enquanto cantarolava uma das músicas que ele tocava há poucos minutos atrás, Josh pegou-se sorrindo mais uma vez. Obviamente, ele negara de todas as formas que estava apaixonado, e viu até mesmo Jon retirar o cigarro de sua boca para dar uma risada que baforou todo o ar ao seu redor.
— Não adianta negar, Farro — dissera o artilheiro, sem a camiseta e com os pés levantados para cima, o cabelo bagunçado e o cigarro no canto dos lábios enquanto ele falava. — Está amando. Uma moça não faria com um homem o que ela faz contigo, caso ele não estivesse apaixonado. Aceita teu rumo.
Taylor rira, o chapéu curto pairando no canto de sua cabeça e um sorriso despreocupado nos lábios. Como sempre, à noite, ele se livrara de toda a farda que usualmente utilizava. Dedilhou uma sinfonia qualquer em seu violão barato, apaixonadamente, e só retirou os dedos do instrumento para aceitar o cigarro que Jonathan acabara de partilhar com ele.
— Quando conheci minha Dakotah, estava indo para o cinema mudo, ver um clássico de Chaplin — disse ele, seus olhos verdes brilhando e encarando o teto, enquanto tragava o cigarro e baforava o ar. — Lembro de tê-la visto, sozinha, na sala. Sentei-me ao seu lado e, curioso, perguntei o porquê de ela não estar no cinema colorido, com som, assim como todos o faziam naquele momento. Ela olhou-me, então, e sorrindo disse-me que em sua opinião, a magia do cinema se encontrava em sua linguagem não-verbal, na música, na ausência de cores. Foi então que eu concordei e pensei, com um sorriso: é com essa garota que vou me casar.
Jonathan e Joshua já riam, principalmente no final, quando Jon decidiu dublar as palavras de Taylor, sempre as mesmas, quando ele contava-lhes a “história de quando conheceu sua amada”. Intimamente, Joshua concordava sobre a magia do cinema mudo, mas nunca dizia tal coisa por que sempre precisava rir da alma extremamente apaixonada de Taylor e da áurea que ela transmitia. Era simplesmente contagiante.
— Já sabemos, York. Depois você passou a ir à casa dela, e quando o pai da menina ameaçou-te com uma espingarda, passou a encontrá-la às escondidas, blábláblá. Casaram-se e tiveram uma filha, justamente como você previra naquele dia, no cinema — Jonathan continuou a história no automático, fazendo pouco dos sentimentos do amigo, mas sem exatamente desrespeitá-lo.
— Não entende onde quero chegar, não é, Howard? — o sorriso de Taylor era irreparável. Ele encarou Joshua. — O que estou querendo dizer, é que assim que vi minha garota, soube que ela era minha, e quando saí do cinema já estava completamente apaixonado. Mas não quis admitir isso de imediato, é claro. Assim como nosso amigo.
Joshua sorriu, negando com a cabeça enquanto sacudia a camiseta branca que iria vestir. Seus amigos conseguiam ser bem piores do que as mulheres amigas de sua mãe quando chegava a hora da fofoca. Chegavam a ser irritantemente chatos.
— Não estou apaixonado — disse ele, suspirando. — Adoro-a, não nego. Seus olhos e seu sorriso são os mais belos que eu jamais vi, e, céus, vocês a viram! Ela parece de fato um anjo! E, além de tudo isso, curou-me. Sei que curou. Ela me deixa vivo.
Taylor deixou-se dar uma gargalhada.
— Joshua, você basicamente acabou de dizer: “eu não estou apaixonado, mas eu a amo” — Taylor afinou sua voz para imitar o amigo, embora, na realidade, sua voz fosse bem menos grossa do que a de Joshua. Isso fez com que Jonathan risse outra vez antes de baforar seu tabaco. — Não pode negar, meu amigo, você está completamente apaixonado. Adora-a, quer tê-la, e céus, eu te conheci antes de contrair a doença! Não via sorriso nesta tua cara. Seus olhos costumavam a serem sombrios, malvados, mas agora estão assim: brilhantes, vivos. Essa garota não te curou apenas fisicamente, ela te curou emocionalmente. Não consegue ver?
Jonathan assentiu com a cabeça.
— Taylor tem toda razão.
Josh coçou sua cabeça, procurando na mente alguma maneira de fugir daquele assunto, mas sabia que não conseguiria. Já havia algum tempo que ele vinha pensando nessa possibilidade e, a cada dia que se passava, mais ele se convencia de que era real. Hayley era seu combustível para continuar vivo. Era sua alma, seu coração. Seu sorriso era tudo o que ele precisava para ter um dia feliz. Não se cansava nunca de imaginar seu olhar majestoso, sua boca delineada, tão linda. Poderia passar a eternidade sentindo-a perto dele, o choque de suas peles, seu rosto macio, suas mãos delicadas, sua cintura fina. Seus cabelos louros, perfeitos para emoldurar seu rosto angelical.
Oh, céus, não havia alternativa senão a de que seus amigos tolos estavam completamente corretos.
— Ela curou-me — Joshua concordou, assentindo com a cabeça. — Mas não posso apaixonar-me aqui. Por Deus, estamos em guerra!
— E daí?! — Taylor exaltou-se. — O amor vem quando menos esperamos, meu caro.
Joshua encarou-o.
— Como posso cortejá-la neste inferno de lugar?! Certamente não era difícil fazê-lo se estivéssemos na cidade, mas, Taylor, estamos em guerra. No meio de uma operação. No deserto norte-africano.
— Há várias maneiras de se cortejar uma moça, Joshua, não se faça de tolo — Taylor deu de ombros, os dedos novamente pousando nas cordas de seu violão. — Certamente você não irá arranjar uma floricultura por aqui, mas mulheres gostam de criatividade e espontaneidade.
— Dê cigarros a ela! — Jonathan gritou num impulso, fazendo com que os homens dessem uma risada sonora. Certamente a nicotina já fazia efeito no cérebro do rapaz.
— Ela não fuma, disso tenho certeza — Joshua respondeu a Jon, ainda com o sorriso em seu rosto. Virou-se para Taylor, certo de que não haveria como ser criativo e espontâneo em um lugar onde predominava as armas e a morte. — E como eu poderia ser criativo e espontâneo, Don Juan?
Taylor sorriu, como se estivesse lidando com amadores. Seus dedos novamente tocaram uma sinfonia lenta e romântica e ele olhou para o amigo tranquilamente, deixando as mãos trabalharem por si só.
— Ora, que tal um passeio à luz da lua?

Agora Josh encarava a Lua, grande, e pensava consigo mesmo que essa talvez fosse a única vantagem daquele lugar inescrupuloso. O céu, cinzento, era composto pela mais bonita constelação que ele já presenciara, embora nunca houvesse observado-a em outra ocasião. O ar estava frio, mas não gelado. Chegava a ser quase aconchegante. O silêncio era geral, exceto pelo som das botas de Josh contra o chão seco, mas refletindo sobre isso ele chegou à conclusão de que isso parecia aumentar a beleza da noite.
Parecia perfeito para um rapaz apaixonado que agora queria levar sua enfermeira para um passeio e, de alguma forma, cortejá-la.
Com certo nervosismo presente nele, Joshua chegou ao dormitório das enfermeiras. Ajeitou a farda sobre os ombros, eretos e mais fortes, e preparou seu melhor sorriso. Sabia, entretanto, que estava muito mais apresentável do que deveria estar quando era apenas um doente na lista de Hayley. Fizera a barba, tomara um belo banho, penteara o cabelo. Embora soubesse que os pelos de seu rosto deveriam estar muito maiores do que fatidicamente estavam — supôs que foi barbeado por ela própria, enquanto dormia —, Joshua nunca deixara a barba crescer e não seria agora que deixaria. Raspou o rosto com a própria navalha assim que saiu da enfermaria e foi juntar-se aos amigos em seu dormitório.
Também estava curioso para saber como era Hayley fora daquele mesmo traje igual de enfermagem. Por isso, antes que se arrependesse e desse meia volta, distribuiu três batidas singelas na porta improvisada do dormitório das meninas. Ouviu sussurros e, então, pôs-se a esperar. Como era evidente, o dormitório estava completamente escuro, mas ainda era possível que houvesse uma lamparina acesa, como faziam Taylor e Jonathan naquele momento.
Antes que Joshua pudesse pensar mais sobre isso, a porta foi aberta, revelando uma garota de no máximo quatorze anos de idade, a julgar por sua altura, seu corpo e seu rosto travesso. Em suas mãos, uma lamparina improvisada queimava o óleo. A garota pareceu encarar Joshua por quase um minuto inteiro até, de súbito, reconhecê-lo e esboçar um sorriso maroto.
— Hay? — ela proferiu, sem virar seu rosto. Os olhos continuavam presos em Joshua, quase sapecas, de modo que o deixou quase envergonhado. Mas ao invés disso ele dirigiu um sorriso de cumplicidade para a garota. — É para você.
— Como? — Josh pôde escutar o sussurro dela, vindo do canto esquerdo do dormitório enorme. Parecia de fato que elas eram as únicas moças acordadas àquela hora da noite.
A menina olhou para Josh e fez um sinal para que ele esperasse por um segundo, sem abandonar seu sorriso esperto. Saiu, então, quase saltitante, de modo que ele pôde inclusive escutar o som de seus pés.
“Seu namorado está aí” ele ouviu a menina sussurrar, acompanhada de um risinho. Sorriu ao escutar a voz atrevida e impertinente dela.
“O quê? Josh?” Hayley havia respondido, e algo dentro de Josh se animou ao saber que era dele que ela se lembrava quando mencionavam um namorado. Nunca havia perguntado, mas, é claro, seria bastante improvável que Hayley mantivesse um relacionamento com alguém.
Mesmo assim, a notícia fez com que o arrepio de ansiedade e nervosismo em seu corpo se tornasse mais forte. O homem quase se sentia um adolescente.
“Não sei se é esse o nome dele, mas é o rapaz de olhos bonitos que te faz sorrir feito boba” Joshua quase pôde ver a menina dando ombros. “Acho melhor você ir agora. Não se preocupe comigo, te acordarei antes de embarcar naquele avião. Saia antes que a megera te veja”, novamente, as palavras da garota. Josh supôs que seria ela a enfermeira que embarcaria ainda essa noite, junto a tantos outros soldados doentes. Céus. Tão nova.
Então, meio minuto depois, lá estava ela a sua frente. Ele perdeu sua voz e seu juízo quando visualizou-a, tão linda, angelical, perfeita, à luz da Lua e da lamparina que ela provavelmente pegara da adolescente. Era a primeira vez que Joshua via seu cabelo solto, liso, sobre os ombros nus. Em seu corpo, um vestido azul claro que ia até os joelhos. Joshua poderia passar uma vida inteira apenas contemplando sua beleza estonteante. Poderia passar o resto de seus dias sentindo-se tonto e bobo, suas pernas bambas, seu olhar fascinado. Poderia olhá-la para sempre, e não se cansaria, nunca. Ela seria tudo o que ele precisaria.
— Josh! O que faz aqui? — perguntou ela, surpresa e animada ao mesmo tempo. Seus olhos verdes esmeralda eram sempre lindos, mas à luz da Lua eles estavam hipnotizantes. Ela o encarava com fascínio, o sorriso no rosto aumentando cada vez mais.
— Vim te convidar para sair — disse ele, ereto e com a voz bem encorpada, como se houvesse treinado para aquilo uma centena de vezes. Um sorriso brincava no rosto, como aquele adolescente que convidava a primeira namorada para tomar um sorvete.
Isso fê-la sorrir de uma maneira que fez com que tudo valesse a pena.
— O que deu em você? — ela perguntara, sem conseguir arrancar o sorriso estupefato e perfeito de seu rosto. Não poderia estar mais surpresa.
Mas também não poderia estar mais feliz.
— Vim te convidar para sair, ora! — ele afirmou mais uma vez. — Está certo de que não há cinemas por aqui, ou praças, ou sorveterias, ou parques. Mas quem precisa disso com uma Lua desse tamanho nos presenteando com sua beleza?
Estava claro como a água que ela não esperava pela súbita aparição de Joshua, e muito menos esperava que ele a chamasse para caminhar à luz da Lua. Ainda assim, também era visível em seu rosto delicado como uma porcelana que nada a deixara mais incrivelmente feliz e animada.
— Acho que ninguém — respondeu ela, sem saber exatamente o que dizer. Estava dominada pelo fascínio do momento, pela Lua, pela beleza de Josh. Não retirara o sorriso tímido do rosto, entretanto. Nunca sentira nada parecido anteriormente.
— Pelo menos, não nós — disse ele, ainda com o sorriso pairando em seu rosto. Estendeu a ela seu braço, para que ela pudesse segurá-lo e sair da frente de seu dormitório. Com um sorriso pairando confuso no rosto, Hayley olhou de soslaio para dentro do dormitório e deixou-se rir tranquilamente. Provavelmente sua amiga adolescente sibilara algo engraçado.
— Não nós — concordou ela, fechando a porta atrás de si e segurando o braço de Joshua com toda a determinação que tinha.
Mentalmente, Josh agradeceu à Taylor pela brilhante ideia. Claramente Hayley havia gostado, embora parecesse extremamente perigoso e imprudente sair tarde da noite em, praticamente, um campo de guerra. Mas a vontade que eles tinham de ficarem sozinhos parecia ir além dessa periculosidade, desse medo. Como passaram, basicamente, os últimos dois dias sem mal se ver, poderiam desfrutar da companhia um do outro sem doente nenhum ao redor.
Só isso parecia bom demais.
Eles caminharam devagar até lugar nenhum, ela agarrada ao braço dele, observando a Lua com toda a tranquilidade que exalava de seu espírito. Não disseram nada por um tempo. Apenas sentiam seus corpos tão perto, suas respirações tranquilas, as batidas calmas de seus corações. Sentiam-se como se estivessem aonde deveriam estar. Sentiam-se completos, felizes, em paz. Com um sorriso no rosto, Hayley desejou que ele fizesse aquilo mais vezes, e apoiou seu rosto no braço dele muito calmamente.
— O que te deu para aparecer, assim, de repente? — perguntou ela, quebrando o silêncio, dando-se conta do quanto gostava de sentir Josh tão perto dela. Dando-se conta do quanto ele era forte, alto, e bonito. Dando-se conta de que não se importava com mais nada naquela hora senão eles mesmos. Dando-se conta de que ele fizera a barba, colocara sua farda, e dando-se conta de que ela provavelmente nunca se sentira tão atraída por homem nenhum em sua vida.
— Senti saudades — disse ele, o sorriso pairando no seu rosto bonito. Ela sorriu por vê-lo sorrir. — Não a vi hoje e nem ontem. Estava com abstinência do meu anjo.
Uma risada ecoou da garganta dela.
— Já pedi para parar de chamar-me assim — disse ela, a voz manhosa. — Não sou anjo nenhum.
— E eu já pedi para que me deixe continuar a chamá-la assim — retrucou ele, triunfante, com a voz quase tão manhosa quanto a dela. Isso fê-la rir. — Para mim, você é um anjo.
Joshua escutou-a sorrindo novamente, e sentiu que ela apertava seu braço com um pouco mais de força. Continuavam a andar, tranquilamente e devagar, embora já não estivessem perto das tendas. Sentiam um ao outro e observavam singelamente à Lua, esplendorosa, eminente, linda. Nada poderia estar mais perfeito.
— Bem, se quer saber, também senti tua falta. Foi terrivelmente estranho olhar para tua maca e ver outro homem instalado nela — ela disse, virando o rosto só para encarar seus olhos castanhos chocolate que penetravam sua alma e aqueciam seu coração. Ele a olhou de volta, encantado, e sorriu o sorriso mais bonito que Hayley conhecia. — Meus dias são tão piores sem você como meu paciente...
— É por isso que estou aqui — ele riu, a voz cheia de entusiasmo e pretensão. — Para trazer a melhora para os teus dias.
Novamente, uma risada saiu da garganta da jovem, feliz.
— Não posso negar isso. Você me faz bem... — ela deixou a frase ecoar, e Joshua notou que ela já segurava seu braço com as duas mãos. Não conseguia entender como se sentia tão em casa ao estar com ela.
— Você me faz muito mais do que bem... Desde a morte de meu pai, nunca me senti assim... tão vivo, tão em paz... — tão apaixonado, ele completou mentalmente, mas ao invés de dizer aquelas palavras apenas deixou-se dar uma risada despreocupada.
Ela comprimiu os lábios.
— Eu entendo... — disse ela, respirando fundo. — Também já perdi alguém que amava muito.
— Pierre? — perguntou ele, enfim encarando seu rosto que demonstrava certa dor. Viu que ela virou o rosto imediatamente, encarando-o com a mais profunda surpresa estampada nos olhos. Josh apressou-se em explicar-se: — Foi esse o nome que você disse quando nos vimos pela primeira vez. Estava doente, sentindo dor, mas me lembro de que foi essa a primeira palavra que saiu de sua boca.
Hayley lembrou-se imediatamente. Não tinha ideia de que ele havia escutado-a. Ninguém sabia de Pierre, senão ela própria, mas seu descuido fizera com que Josh compartilhasse de sua tristeza mais aguda.
— Sim, é ele — disse ela, engolindo em seco e retirando os olhos de Josh.
Notando que ela não dizia mais nada, o jovem perguntou:
— Ele era seu pai? Namorado? Irmão?
— Irmão — ela respondera imediatamente, antes que ele pudesse sugerir outro parentesco. Olhou para o chão, esperando que a dor a atingisse como sempre fazia quando lembrava-se de Pierre, mas dessa vez isso não aconteceu. — Nossos pais morreram quando eu ainda era muito nova para me lembrar de seus rostos, e ele cuidou de mim. Sempre cuidou. Crescemos juntos, em um orfanato, e ele sempre me tranquilizava e me fazia rir. Cuidou de mim até o último momento de sua vida, três anos atrás.
Josh assentiu com a cabeça, lentamente, procurando não invadir muito a sua privacidade.
— Sinto muito — disse ele, passando o polegar lentamente pela mão que apertava seu braço. Viu que ela esboçou um sorriso, talvez não feliz, mas ainda assim verdadeiro.
— Eu também. Mas... acho que ele ainda cuida de mim, de qualquer maneira — disse ela, quase tranquila. Fechou os olhos por um segundo, sentindo a brisa fria da noite tocar seu rosto com cautela. — Ele me lembra você. Só que você é mais bonito.
Joshua deixou-se rir, e uma risada ecoou da garganta dela também.
— Acha que ele gostaria de me conhecer?
Hayley parou de andar por um segundo, olhando bem no fundo dos olhos do soldado.
— Duvido — disse ela, sendo sincera e deixando-se rir em seguida.
— Bom, ainda assim, se quer saber, meu pai ficaria muito feliz em conhecê-la — Josh apressou-se em dizer, ainda com um sorriso no rosto. — Tenho certeza que ele lhe acharia tão encantadora como eu acho.
— Sabe o que eu acho, Josh? — perguntou ela, retoricamente, enquanto voltava a andar com o braço entrelaçado ao do rapaz. — Acho que está exagerando.
— Meu pai iria adorar tua modéstia.
Hayley deu outra risada, respirando fundo o ar frio de noite, sentindo um pequeno arrepio correr seu corpo deliberadamente. Mas não era de frio, ela sabia. Não era o frio que fazia com que sua pele se arrepiasse, e sim a proximidade do soldado Farro com ela, neste momento.
— Não entendo como posso me sentir tão ligada a ti se te conheço há tão pouco tempo — as palavras saíram livremente de sua boca, sem que ela tentasse repeli-las. Não se importava nem um pouco de dizer o que sentia para o homem que causava tais sentimentos. Seria uma profunda tolice.
— Talvez não tenhamos nos encontrado por acaso — disse ele, com um esboço de sorriso calmo moldado no rosto. — Talvez já nos conhecêssemos.
— De onde? — perguntou ela, com um sorriso, tendo certeza de que aquilo era impossível.
— De outras vidas... ou de nossos sonhos... — ele começou a listar as possibilidades, ouvindo a risada dela. — As possibilidades são incontáveis. Podemos acreditar no que quisermos.
Ela fez uma pausa, mordendo o lábio inferior. A hipótese que Josh sugeriu a ela era praticamente impossível, boba, disfuncional. Ainda assim, parecia tão esperançosa, bela, luminosa. Ela quis apegar-se a uma dessas teorias e aceitá-las como se fosse sua verdade.
“Podemos acreditar no que quisermos”. Céus, ele tinha toda razão.
— Talvez... tenhamos sido enviados para o bem um do outro — disse ela, sorrindo. — Acha possível?
Ele parou de andar para encará-la de frente, seus olhos luminosos pela lua e pela lamparina a óleo. Engoliu em seco, ainda abobado por vê-la tão linda, e assentiu com a cabeça.
— Acho completamente possível.
Olhando para seu rosto, o vento batendo lentamente contra seus cabelos soltos e despenteados, Hayley deu um meio sorriso. Não sabia como agir ou o que falar; sua atenção fora toda direcionada a ele, seu rosto bem moldado, seu queixo acentuado e barbeado. Seus lábios carnudos, chamativos, extremamente sedutores. Seus olhos marrons e perfeitos, resplandecentemente lindos. Suas sobrancelhas não tão grossas, não tão finas, seus cabelos lisos, seus ombros largos, seu corpo esbelto e absolutamente belo. Ela não tinha palavras ou ações por que estava perdida demais na beleza dele, e em como se sentia balançada e entregue, embora apenas suas mãos estivessem entrelaçadas. A forma como ele a olhava, tão apaixonante e encantadamente, como se ela fosse a mulher mais linda do mundo. Podia ver em seus olhos que ele a desejava, mas via, além disso, que ele adorava-a. Que acreditava veemente que ela era, de fato, o anjo de sua vida.
Seu coração não se segurava mais dentro do peito, e lentamente, ela sentiu a mão dele se desprender da sua para acariciar seu braço. Seus dedos corriam sua pele delicadamente, passando pelo antebraço, e pelo ombro, como se acariciassem uma peça de arte moldada em porcelana. Sentiu os dedos dele correrem o alto relevo da alça de seu vestido e alcançarem, enfim, seu pescoço, para depois tocarem seu rosto com paixão. Uma corrente elétrica passava pelo seu corpo, seus olhos não conseguiam sair dele. Não conseguiam sair dos belos traços que o compunham tão perfeitamente, o homem mais bonito que ela já conhecera.
Ele deu um passo para frente, ficando agora tão mais próximo. Hayley levantou seu rosto, ouvindo a respiração desregulada dele, e quando deu por si, já não conseguia mais controlar seus sentimentos, sua respiração, seu desejo, seus atos. Olhou para baixo, por um momento, tentando colocar os pensamentos em ordem, e quando novamente ergueu os olhos, o rosto dele já estava tão perto que ela podia sentir seu hálito cálido. Sentia o calor de seu corpo, exalando, dominando-a. Podia ver o seu nariz acentuado, sua pele barbeada, e o contorno de seus lábios rosados e profundamente sensuais. Conseguia inalar o seu cheiro característico, vicioso, afável. Fechou os olhos, sabendo, enfim, que se perderia nele, densamente, avassaladoramente.
Perdeu-se. Não importou-se. Passou as mãos pelo rosto dele, sentindo a pele barbeada pinicar contra os seus dedos finos, e manteve os olhos fechados quando suas testas se colaram, lentamente, fazendo suas respirações se misturarem. Seu peito já arfava, sua pele queimava, seu coração martelava com todo o pudor.
Uma chama acendeu-se dentro dela quando seus lábios se tocaram timidamente.
O choque de suas bocas foi tão intenso e profundo que eles precisaram de alguns segundos, apenas pressionando seus lábios, lenta e brandamente. Nunca, antes, em suas vidas, eles sentiram-se tão enternecidos. As mãos de Josh detinham o rosto dela com firmeza, porém delicadamente. Seus lábios se encontravam ternamente tocados contra os dela, num gesto lento e ainda assim profundamente apaixonado. Em seu coração, explodia todo o amor e felicidade que ele possuía, desesperadamente e sem limites. Dentro de seu corpo, sua alma, seu espírito, o que falava mais alto era a felicidade e a emoção que sentia por estar, enfim, beijando os lábios da moça mais linda e angelical que ele já conhecera. Em toda a sua vida, Joshua nunca se sentira tão emocionadamente bem.
Suas línguas se entrelaçaram vagarosamente e ela embrenhou os dedos nos cabelos lisos dele, perdida e profundamente realizada, enquanto sentia os lábios do homem mais maravilhoso que já conhecera juntarem-se com os seus. Sentiu como se não houvesse mais nada com que precisasse se preocupar, senão Josh e o beijo que ambos trocavam, apaixonadamente. Sentiu-se tão bem, tão entregue, que achou que poderia ficar ali durante a noite toda, e a vida toda. Sentiu que encontrara, de fato, seu lugar no mundo. Sentiu-se completa, feliz, emocionada, apaixonada. Sentiu que era ali que precisava estar, com ele, por que ele era seu combustível para viver.
Agora as mãos dele corriam sua cintura, unindo seus corpos. Hayley podia sentir o coração dele batendo, tão forte e rapidamente, como se quisesse sair do peito, assim como o dela. Ainda mantinha os dedos perdidos nos seus cabelos pretos, ainda sentia os lábios dele presos aos seus, suas línguas tocando-se sem pressa, como se o mundo fosse deles. Sentiu que se a Terra acabasse naquele momento, ela e Josh não seriam atingidos. Tudo o que existia, tudo o que importava, eram os dois e o quanto eles estavam apaixonados um pelo outro, embora se conhecessem há tão pouco tempo.
Sem conseguir se desprender dos lábios dele, cada vez mais entregue, cada vez mais envolvida pelo beijo calmo, desejando-o cada vez mais, ela sentiu seu corpo ser erguido do chão e abraçou o pescoço dele com o braço, embora seus pulmões implorassem cada vez mais impiedosamente por ar. Desprendeu seus lábios por um segundo e abriu seus olhos, encontrando os de Josh, castanhos e lindos, encarando-a como se ela acabasse de fazê-lo se sentir o homem mais feliz do mundo. Como se não importasse mais nada, só ela, e apenas ela. Como se, embora ele não a conhecesse há mais de duas semanas, era ela a mulher que ele queria para sempre. Como se ele acreditasse veemente que era ela o anjo de sua vida, feita para fazê-lo viver.
E olhando para aqueles olhos marrons, pela primeira vez, ela acreditou nisso também. Acreditou que era possível. Com um sorriso bonito, terno e realizado escapando pelos lábios latejantes, e ainda suspensa no ar pelos braços fortes de Josh, ela fechou os olhos antes de aproximar seus lábios de novo. Provou de seu sabor mais uma vez, e percebeu que jamais se cansaria disso, dele. Novamente suas línguas estavam entrelaçadas, unidas, explorando-se comovidamente. Novamente seus braços estavam em volta dele, novamente seus corpos estavam colados. Novamente Hayley percebeu que Josh era o homem mais significativo para ela.
Não importava o que dissessem. Hayley soube, naquele momento, presa em seus braços e no beijo de seus lábios rosados, que Josh fora enviado para ela. Não sabia por quem, ou por que, mas ele era dela. Fora mandado para ela. E estar ao seu lado, senti-lo, beijá-lo, ou apaixonar-se intensamente por ele, era inteiramente e completamente certo.




Oiii?AUEHAUEHAEUHHAE
Eu não coloquei notinhas iniciais por motivos de: não precisava. Mas enfim, como vão vocês, amores mios?
ÇAPSOKAÇ~PSOKALS ESSE CAPÍTULO, HEIN?! EU FALEI QUE IA TER ATUALIZAÇÃO NO SÁBADOOOOOOOO *U* CURTIRAM? I hope so.
Estão me pedindo muito pela Trucker, mas eu tenho de dizer que não tenho como postá-la hoje. Tenho trabalhado em vários projetos pararelos, e isso acabou me abstendo de escrever para esta fanfique que os senhores estão gostando tanto *U* DESCULPAAA!! Eu não tenho nada do próximo capítulo e ainda estou me sentindo mau em relação à Sex and Stuff. 
Mas semana que vem tem Trucker pra vocês. Pro-me-to,
AGORA VAMOS FALAR DESSA RENASCER? AWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW MY HEART <3333333333
Geente, esse capítulo. Eu o escrevi há umas duas semanas mas ainda sou inteiramente apaixonada por ele por motivos de: OLHA ESSES DOIS! ELES SÃO O SHIPPER MAIS PERFEITOS QUE EU JÁ ESCREVI, OK? FORAM FEITOS UM PARA O OUTRO E MEU DEUS DO CÉU O AMOR A LUA TUDO TUDO TUDO MEU CORAÇÃO MEUS SENTIMENTOS MINHA EXISTENCIAAAAAAAAAAAAA </3
Não sei lidar.
E isso é por que eu que escrevo.
Sinto que vocês sentem também <3 E GENTE, SOBRE O SEGREDO DA HAYLEY: eu tô entregando ele de bandeja, sos. Tem gente que já sacou. Vamos pensarrrrrrrrrrr *U* eu acho que vou demorar mais uns capítulos para que ele seja inteiramente exposto. MAS DICAS ESTÃO ROLANDO E VOCÊS SÓ PRECISAM, Ó, SACAR.
Seus lindos.
Sobre esse Taylor: a p a i x o n a d a.
Sobre esse Jon: o mesmo do Taylor.
Sobre esse Josh: socorro, me dá esse homem.
Sobre essa Jenna: por um mundo onde eu possa abraçá-la para sempre, soc.
Sobre esse beijo: ÃPOSKQÇOPJ~PSIQ~BNEOABSÇIUQVEIAÇSVBIYQVULWSVAUVQUIVSAIHASÇOIJQMNJH,SB ,JX BJHAV SJGCVQGQUWHIASPOIAKPSOIAKSPAOSKAPOJQWASAOPSIKAS socorro, escrever isso foi tão bom.
Foi tão lindo ;'3 tão lindo.
tão lindo.
Comentem pra mim? ;-;
Muito amor para vocês,
Sarinha ;3



19 de jan. de 2013

Capítulo 3


Saber Lidar




E aí, seus gostosos. -qn PALSÃPSOALOP TUDO BEM COM OS MEUS BEBÊS?
Eu honestamente não sei por que continuo perguntando se vocês estão bem. Quer dizer, sim, vocês estão, e se nao estiverem, não me diriam anyway. Acontece que o "tudo bem" é uma linguagem bastante injusta com as pessoas, por que é uma casualidade. Você pergunta tudo bem por educação. Mas no meu caso, bom, eu realmente quero saber como vocês estão por que zelo pelo bem estar absoluto de vocês.
E se não estão bem, pelo menos, eu garanto uma risada até o fim dessa página. Tudo bem? *U*
PÕASLKAÕPSALKÕPS EU ESTOU IDIOTA HOJE, POR MOTIVOS DE: GENTE. A TRACKLISSSSTTT!!!!!! DO "PARAMOOORE"!
quem joshayzou a still into you bate aqui o/
Enfim. gente, eu surtei demais hoje, soc. Amei tudo isso e e OPALKSÕPASOLASPOL ME DÁ ESSE ALBUM NOVO. 
Mas enfim.
Gente, vocês ficaram tão felizinhos com essa fic que me motivou demais. AÇSOPKASÕPASLK POR QUE SEI LÁ, AMORES, VOCÊS GOSTARAM DESSA FIC MAIS DO QUE TODAS AS OUTRAS? Eu sei lá, eu confesso que adooooooro a Trucker, mas meu sentimentos são maiores pela Renascer. Enfim, GENTE, EU FICO FELICISSIMA COM VOCÊS GOSTANDO DISSO, OK? ASÇOPAKSAOPALKS 
Obrigada, mesmo *U* é muito legal ver vocês dedicados a uma fic.
Eu particularmente curti bastante esse capítulo AOPSLKAPSOLASPOAS por motivos de: vocês verão. Então, *U* ok, vamos ler. Não tenho mais o que falar, acho. :3





Mas só por que eu estava infectada, não queria dizer que iria ceder e me entregar. Josh Farro já me deu mais de um motivo para desprezá-lo, embora eu o conheça muito pouco. E essa minha vontade de beijá-lo e etc. só acontece por que eu não estou tendo autocontrole o suficiente. Se eu estiver suficientemente resolvida comigo mesma, posso rejeitá-lo e, como Josh tem mesmo toda a escola aos seus pés, irá se esquecer de mim em breve.
É isso aí.
Por isso, estava bem confiante quando me dirigi à primeira aula, ao lado de Dakotah. Nosso primeiro tempo era convenientemente o mesmo. Biologia.
— Vem sentar no fundo comigo — ela disse, mais como uma ordem do que qualquer outra coisa, assim que adentramos a sala pouco expansiva, dividida em três filas de mesas coladas umas nas outras. Era evidente que o laboratório era adepto das aulas pelo sistema de parceiragem. — Só quem dá aulas de biologia aqui é o Turman. E ele é um cara maluco e meio surdo, que não gosta muito dessas coisas de higiene pessoal, se você me entende. Não vale a pena se sentar na frente. Ele super ama ligar o projetor de imagem e quase nunca a gente usa os microscópios, então dá pra dormir bem tranquilamente.
Eu sorri, dirigindo-me para a última fileira da esquerda com Dakotah. Sentei-me ao lado da janela, que dava bem de cara para o estacionamento. Dava para ver alguns garotos matando o primeiro de aula com uma caixa de Budweiser. Que bela vista!
— Repetentes — sussurrou Dakotah no meu ouvido, com certeza se referindo aos moleques. — Já fizeram o primeiro ano mais ou menos nove vezes. Suas mães não os deixam sair da escola, embora eles quase nunca fiquem dentro dela.
Levando-se em consideração de que é necessário ter no mínimo quinze anos de idade para se entrar no primeiro ano, e que era muito improvável que aqueles garotos tivessem mais de dezoito, era óbvio que não era possível que eles houvessem repetido nove vezes a primeira série. Mas aprendo rápido que Dakotah era do tipo exagerada.
Por isso eu ri.
— Kathryn já fez uma matéria sobre o alcoolismo na adolescência? — perguntei. O Centennial Jornal era, na verdade, um jeito de conseguir uma verbinha extra para o colégio, pelo que Dakotah havia me contado. Cada exemplar custava 75 centavos, embora todos soubessem que o papel e a energia que a impressora a laser gastava não devessem custar mais de 20. Mesmo assim, a escola em massa passou a comprá-lo desde que Kathryn Camsey havia assumido o editorial.
Dakotah deu de ombros.
— Katt tem coisas mais interessantes para escrever. Ela mesma sempre diz que o difícil não é escrever uma matéria, e sim fazer com que as pessoas leiam — Dakotah direcionou o olhar para a porta, onde cada vez mais pessoas entravam. — Por isso que ela é má. Ela não mede esforços para fazer com que as pessoas comprem seu jornal.
Ergui uma sobrancelha, curiosa. Sinceramente, de todas nós, Kathryn era a que mais parecia ser uma menina legal. Mas Dakotah se referia a ela como má e determinada até demais.
— Como assim? — perguntei.
Dak riu.
— Ela sabe da vida de todo mundo — disse ela. — É a maior fofoqueira de todos os tempos, mas ela é esperta, por que se vangloria com isso. Não sei bem como ela se informa, só sei que ela sabe. Dos mil alunos daqui, eu tenho quase certeza de que ela sabe o nome de oitenta por cento. E já deve ter a ficha pronta de todos os novatos. Soube que o irmão do Farro está na primeira série, então esse é um ano que promete, por ter dois Farro’s na mesma escola, e blábláblá.
Assenti com a cabeça. Já tinha entendido que os Farro meio que mandavam na cidade.
— Por causa do império do caminhão — concluí.
Dakotah sorriu e assentiu com a cabeça.
— A mina de ouro de Franklin anda sobre seis rodas — disse ela. — Ou oito. Sei lá quantas rodas um caminhão tem. De qualquer maneira, é por isso que Katt anda conosco. Não nos importamos de ela ser a nossa Gossip Girl, e ela tem personalidade demais para andar com as Líderes.
— Justo — eu torci meus lábios.
Já tinha batido em cinco líderes de torcida durante minha vida, e sei melhor do que ninguém que elas são uns filhotes de pavão sem cérebro. Obcecadas pelo cabelo, pela maquiagem perfeita e pelo corpo esquelético perfeito na cabeça pequena delas. De todas as vezes que briguei com alguma, fiz questão de quebrar um nariz ou deixar um defeito permanente no rosto.
Mas não pense que nunca tentei fazer amizade com uma patricinha desse estilo. Uma vez, confesso, uma líder foi minha dupla na aula de Biologia, e eu pensei: “vamos lá, Hayley. Dê uma chance à garota. Vai ver ela apenas se finge de burra para ser aceita pela trupe. Vai ver ela só gosta de dançar e dar piruetas. Não é? Talvez ela até seja legal.
Bem, deixe-me contar uma coisa: ela não era.
Seu olho esquerdo ficou roxo por três semanas seguidas.
— Mas espera — eu disse, de repente sendo bombardeada por uma possibilidade que me assombrou —, Katt não vai escrever nada sobre mim, vai?
Dakotah olhou para mim como se eu houvesse pedido dinheiro emprestado a ela.
— Você acha que ela te pouparia? — perguntou retoricamente. — Katt é má, Hayley. Não tem escrúpulos. Escreveria sobre a própria mãe se isso lhe trouxesse leitores.
— E como é que você me deixa contar tudo pra ela sendo que ela muito provavelmente vai dizer isso para a escola inteira?! — eu quis gritar, mas minha voz saiu como um sussurro esganiçado. Não sabia nada sobre o Centennial, mas certamente não queria entrar no colégio como “a primeira infectada do ano”.
— Calma! — Dakotah riu. — Kathryn não vai publicar nada se você for esperta. Todos temos segredos, e ela tem os dela. Por isso que ninguém nunca soube sobre a ficada do Farro e da Jenna na festa de aniversário dele.
Minha cabeça raciocinou rapidamente.
— Jenna a chantageou.
Dakotah assentiu com a cabeça, sorrindo para mim. Como se gostasse de meu raciocínio rápido em relação às coisas más.
— Isso. Acontece que Katt tem um caso antigo com um quarterback, não tão poderoso como Josh Farro, mas é com certeza o seu melhor amigo — a voz de Dakotah havia se tornado um sussurro. Ela se aproximou de mim. — O nome dele é Jeremy Davis. Ele e Farro cresceram juntos, pelo que sei, e ambos são farinha do mesmo saco. Mas Jeremy tem uma garotinha preferida. E ela é a editora-chefe do jornal do colégio. Só que ninguém sabe disso, a não ser eu, Jenna, e agora, você.
Deixei um sorriso nascer tranquilamente em meus lábios. Incrível estar em um colégio há meia hora e já saber dos podres de uma das garotas mais importantes dentro dele. Parece que Deus não poderia me dar uma vizinha melhor do que Dakotah.
— Tranquilo. Depois de saber disso, meu nome nunca vai aparecer no jornal de Kathryn — disse, sorrindo, e me recostei um pouco. Olhei para a janela mais uma vez. Os repetentes continuavam rindo enquanto acabavam com suas Budweiser’s.
Dakotah deu um tapinha no meu ombro.
— Por isso que gosto de você — disse ela, com uma risada fraca escapando pela garganta. — Ei, olha lá a sua maldição.
Encarar a porta foi inevitável. Lá estava Josh, com sua jaqueta de couro preta colada ao corpo, dois garotos sorridentes entrando na sala junto a ele. Seu olhar grudou em mim e seu sorriso só ficou mais aberto. Ele deu uma cotovelada em cada garoto, e então os três estavam me encarando.
Olhei para Dakotah.
— Mas que merda é essa? — perguntei, sabendo que ela percebia que havia três garotos bonitos até demais parados no meio da sala enquanto me encaravam e sorriam. Dakotah torceu os lábios.
— Josh, Jeremy e Taylor — disse ela. — Parece que ele andou contando sobre você para os amiguinhos dele. Ignore-os. Pelo amor de Deus, desinfecta. Você é maneira demais para se deixar levar pelo idiota do Farro.
A voz de Dakotah saíra também como um sussurro, mas antes que eu pudesse dizer a ela que não estava infectada — o que era também uma grande mentira —, os três garotos já estavam à nossa frente. Josh, Jeremy e Taylor, embora eu não soubesse quem era Jeremy e quem era Taylor. Mas agora eles também olhavam para Dakotah, que havia tirado o boné e deixado seu cabelo louro e verde amassado caído pelos ombros. Estava bem gata. Algo me dizia que o moreno de olhos verdes notara isso.
— Olá, meninas — quem falou foi o louro, esfregando uma mão na outra. Encarei-o inexpressiva assim como Dakotah fazia. — Parece que tivemos a sorte de pegar o mesmo tempo em Biologia, não?
— Se importam se nos sentarmos aqui na frente de vocês? Sabe como é, não estamos a fim de levar cuspe do Turman — o moreno continuou a fala do louro como se eles fossem a mesma pessoa, embora sua voz fosse pouca coisa mais grossa do que a dele. Josh ainda me encarava com seu meio sorriso no rosto, divertindo-se só em me ver. Encarei-o com a melhor cara má que tinha. Não estou infectada pela sua maldição, seu caminhoneiro idiota! Não importa o quanto você seja gato!
Céus. Pelo menos eu estava na janela.
— Nos importamos, sim — Dakotah respondeu com desprezo. — Mas como não podemos impedir vocês de ficarem aí, façam a merda que quiserem.
Os dois riram de novo. Concluí que estavam mexendo com Dakotah exatamente por que ela os desprezava. Devia fazer isso desde que entrara no Centennial. Com certeza eles teriam todas as meninas do colégio aos seus pés — ambos tinham jaquetas de atletas —, mas assim como todo garoto, queriam o prêmio mais difícil. Mas, notoriamente, Josh não fazia parte da tentativa frustrada de paquera à minha nova amiga. Seus olhos estavam grudados em mim, sem escrúpulos, tentando me dizer alguma coisa que eu sabia exatamente o que era. O olhar de Josh era tão profundo e arrebatador que parecia, honestamente, que ele estava vendo através da minha blusa. Se eu não estivesse encarando-o com a expressão de “vou te matar a qualquer momento”, provavelmente enrubesceria.
Isso se já não estivesse enrubescida. Não estou acostumada com esse olhar “comedor” de garoto nenhum.
— Wow, alguém não acordou de bom humor hoje — o moreno havia dito novamente para Dakotah, um sorrisinho cafajeste no canto de seus lábios. — Vamos lá, Dak, seja legal. Sabia que você tem um péssimo hábito de pré-julgar as pessoas? Podíamos nos conhecer melhor. Tenho certeza de que se você passasse um período comigo, mudaria de ideia sobre minha índole. Por que não fazemos um teste? Vamos trocar de duplas. Você se senta comigo, e nossa querida Hayley fica com meu amigão aqui — ele deu um tapa particularmente forte nos ombros de Josh, fazendo-o dar um sorriso tão cafajeste quanto o dele, senão mais. Olhou para mim mais uma vez e ergueu uma das sobrancelhas.
— Estou super de acordo — disse ele, comendo-me com os olhos mais uma vez.
Apesar de me sentir imensamente atraída e tal, eu sinceramente não estava gostando disso. Josh me encarava como se eu já fosse dele. Eu o tinha beijado uma única vez, e isso não iria acontecer de novo. O fato de sua boca ter encostado uma única vez na minha não lhe dava o direito de me olhar como se fosse me levar para um motel no fim do dia, quer dizer, eu não sou uma dessas garotas. Apesar de não ser uma fresca, não sou uma vadia.
E foi aí que eu comecei a sentir uma vontade muito grande de mandá-lo tomar naquele lugar por me encarar daquele jeito. Mesmo que um dos meus mantras fosse o “não se arrependa de nada”, era exatamente esse o sentimento que crescia dentro de mim a cada segundo que eu segurava o olhar de Josh sobre o meu corpo. Eu não era uma dessas. Posso tê-lo beijado, o.k., mas eu não sabia que ele era um mauricinho, arrogante, pegadorzinho, quarterback e riquinho. Se eu soubesse disso, posso garantir que não teria ficado com ele em hipótese alguma.
Por isso eu decidi naquele momento que não gostava de Josh Farro. Não gostava de seu maldito Império do Caminhão, não gostava de seu jeito caipira, não gostava de seu cabelo idiota, não gostava de seu ar de superior. Não gostava do seu atrevimento. Não gostava do jeito que ele me olhava. Não gostava do jeito que ele falava comigo. Mesmo que muitas outras garotas possam achar isso excitante — a coisa toda do “estou te olhando como se na minha mente você já tivesse satisfeito todas as minhas fantasias sexuais” —, eu estava começando a não pensar justamente o contrário. Na verdade, estava começando a me irritar de verdade com isso.
— Eu não vou me sentar com ele — eu disse, a voz saindo até mais impaciente do que eu fatidicamente estava. A propósito, como o moreno de cabelo grande e olhos verdes sabia o meu nome, mesmo? Josh havia saído contando para geral que tinha ficado comigo, era isso?
Mais um motivo para odiá-lo. Filho da mãe. Eu já deveria saber.
— Deixe de ser idiota, Taylor — disse Dakotah ao garoto. Taylor. Então ele era o Taylor e lourinho que nos encarava com um divertimento iminente nos olhos era Jeremy, o peguete de Kathryn. — Primeiramente, não, eu não pré-julgo as pessoas. Apenas sigo a filosofia de “pense mal e acertarás”. Se eu acho que você é um idiota, mauricinho, pegador de merda e retardado, provavelmente você é mesmo. E não estou a fim de comprovar isso por que sua presença me irrita. Além disso, Hayley já disse que não quer fazer dupla com Josh.
Tive de me deixar dar um risinho após o discurso de Dakotah. Wow, ela manda mesmo bem na hora de dizer o que pensa. “Pense mal e acertarás”. Vou aderir.
— Ai — Taylor levou uma mão ao coração e fez uma imitação muito boa de um homem que foi apunhalado no peito. — Isso doeu, amor. Doeu de verdade.
— Vá. Se. Foder. — Dakotah rosnou, ficando realmente irritada. Estava vendo a hora de ela se levantar e dar uma cadeirada nas costas dele.
— Só se for com você — seu sorriso cafajeste tomou uma proporção imensurável. Realmente, agora seria a hora de Dakotah enfiar a cadeira em suas costelas, mas ela não fez isso. Apenas bufou de um jeito bem assustador e o xingou novamente de outro nome bastante feio. Mandou-o se sentar em outro lugar com seus “amigos de merda”, ordem que os meninos obedeceram, embora Taylor carregasse um sorriso tranquilo no rosto e houvesse lhe jogado um beijo no ar quando ela o fuzilou com os olhos.
— E é por isso que o homicídio não devia ser ilegal no Tennessee — ela disse para mim, bufando, antes de passar a mão pelo rosto, cansada da presença de Taylor.
— Sério, o que foi isso? — perguntei curiosamente, referindo-me totalmente à minha nova amiga. Evidentemente, o caso dela e do garoto chamado Taylor era antigo. Quis saber mais sobre o assunto, sim, mas só para ignorar o peso do olhar de Josh que ainda pairava sobre mim. E minha raiva dele.
— Taylor York — apontou ela, sem sequer olhar para a figura do garoto que se sentara na terceira fila, do outro lado da sala, sozinho. Josh se sentara na última fileira com seu amigo Jeremy, pude ver com o canto do olho. — Me enche o saco desde que entrei nesse colégio. É obcecado para ficar comigo, mesmo que seja, como você deve saber, farinha do mesmo saco do Farro. Entenda, Hayles, essa escola está lotada de idiotas.
Dakotah estava muito irada. Bufei e assenti com a cabeça, encarando Josh por meio segundo com uma última mensagem subliminar: pare de me olhar, inferno!
— Não consigo duvidar — anunciei, antes que um velho muito estranho adentrasse a sala e se apresentasse como Bob Turman, o professor de biologia.
Já estava dormindo antes de ele pronunciar seu sobrenome.


[...]


Felizmente, meus últimos tempos não estavam munidos de Josh Farro ou sua trupe. Depois de um período de biologia, tive um de química e um de álgebra, ambos acompanhada de Kathryn.  A propósito, concluí a missão “não-deixar-a-editora-chefe-do-jornal-espalhar-para-geral-que-a-Hayley-agarrou-o-Josh-Farro-no-dia-trinta-de-agosto-de-dois-mil-e-doze-às-quatro-e-cinquenta-e-cinco-da-tarde”. Mencionei levemente o assunto “Jeremy Davis” e logo minha amiga havia ficado muda. Depois de, é claro, ameaçar matar Dakotah de umas quarenta formas diferentes. De qualquer forma, não parecia envergonhada ou mesmo irritada comigo. “Perdi a matéria da semana”, dissera ela, chateada apenas pelo jornal.
Foi aí que eu percebi que Kathryn era obcecada por manter sua personalidade profissional e por isso não deixava que o mundo soubesse de seu caso com o amigo louro de Josh. Como se ela quisesse viver apenas para seu jornal, e ser a garota genial por trás de tudo, um robô, que não tinha escrúpulos, não amava e nem tinha necessidades. O que era mais ou menos o que ela era mesmo.
— Jeremy, às vezes, vai as festas de Kathryn e beija meninas, um monte, na frente dela — Dakotah me dissera, alguns minutos atrás. — Ela não esboça reação nenhuma. É completamente indiferente ao ciúme ou qualquer coisa assim. Ela meio que namora o garoto há dois anos, mas, sinceramente... não está nem aí para nada. Não sei como ela consegue ser tão fria.
E foi neste momento que Kathryn Camsey se tornou minha diva. Estou idolatrando-a como jamais idolatrei alguém. No almoço, quando eu, Katt, Jenna e Dakotah nos juntamos novamente, disse isso a ela. Exibindo sua elegância britânica, ela sorriu:
— Não é difícil, Williams. Você pode fazer melhor do que eu. Prove-nos que é a única deste Centennial que resistiu à Maldição.
Mais ou menos nessa altura, eu descobri que Dakotah era a única garota das três que não era comprometida de certa forma. Katt tinha um caso com um dos quarterbacks, e Jenna tinha um namorado desde os oito anos de idade, ou alguma coisa assim, pelo que Dakotah havia me dito na aula de filosofia, um tempo depois.
Dakotah: Eles eram amigos na infância, aí cresceram e começaram a namorar, e são o casal mais grudento do mundo. Vão se casar e ter crianças melequentas e continuar nesse fim de mundo pra sempre.
Eu: Mas a Jenna não foi amaldiçoada?
Dakotah: Foi, mas isso foi quando o Kevin tinha viajado e eles aderiram ao “relacionamento aberto”. Não deu certo para nenhum dos dois. Jenna só agarrou o Farro, estando ela completamente bêbada, e depois chorou duas semanas inteiras por ter traído o amor de sua vida e blábláblá. Quando Kevin voltou, achei que eles fossem se engolir. Parecia uma cobra tentando comer outra pela cabeça.
Eu: Ai, que nojo.
Dakotah: É. Nojento. Aqueles dois são terríveis.
Eu: Espero nunca me apaixonar na minha vida.
Dakotah: É por isso que eu adoro você!
Conheci o Kevin Perkins na hora de ir embora. Agarrei minha mochila e, enquanto conversava com Dakotah, fui me despedir das meninas; Kevin e Jenna estavam abraçados como se fossem casados. Ela mantinha um sorriso bonito e simples no rosto, assim como ele, que estava com uma mão levemente pousada em suas costas.
Tipo: o quê?
Mas ele é um garoto bem legal. Conversei com ele durante três minutos inteiros e não senti vontade de bater nele nem uma vez. Isso é um ótimo sinal, se é que você quer saber. Desde que conheci Dakotah, já senti vontade de bater nela aproximadamente oitocentas vezes. E olha que eu gostei dela.
Voltamos para nossa rua e então Dakotah descobriu que havia perdido as chaves de casa. Seu pai já estava em sua loja — a única joalheria da cidade, da qual Dakotah Rae era a designer —, e não atendia o celular. Ela xingou algumas vezes a capacidade do pai de “não atender a porcaria do telefone, por que diabos ele tem aquele aparelho idiota se nunca o atende?” e então eu a ajudei a arrombar sua porta. Depois disso, segui para minha própria casa, feliz e saltitante.
Tudo bem. Não.
Mas estava realmente contente por ter conhecido todas essas garotas malucas e ter entrado dentro da rotina Centennial de educação. Não era o pior colégio do mundo. A comida era boa. Tinha um grupo de gurias legais que não precisavam ser Líderes de Torcida para serem populares com os garotos ou com qualquer outra coisa. E... bem, a comida era boa.
Quando chegou a hora de escolher uma atividade extracurricular, entretanto, foi um momento difícil. Uma folha A4 estava completa, cheia de nomes impressos na fonte Arial 12 para que os alunos pudessem se inscrever em qualquer uma delas. Na parede que dava o acesso à secretaria e à sala dos professores (o mesmo andar dos armários), seis folhas de papelão grudadas. Cada uma dividida em quatro partes. Para participar de uma atividade, bastava o aluno escrever seu nome em um dos papelões.
E encarando aquilo muito bem, durante o que o relógio apontou serem dois minutos e meio, eu me peguei assinando com minha caligrafia desigual o nome “Hayley Nichole Williams” no papelão que dizia, eminente:
“VÔLEI”.
Mas as atividades extracurriculares começariam só dali a uma semana, portanto, agora eram 14h de uma tarde ensolarada de segunda-feira, e eu estava cuidando de minha irmãzinha menor. Aparentemente, ela passara a manhã inteira colorindo — a porta do meu quarto entupida de “desenhos da Hayley” comprova este pequeno fato — e só depois que eu cheguei que a criança resolveu fazer bagunça. Em quarenta minutos, ela correu pela casa inteira e bateu seu próprio recorde de subir as escadas, dançou e cantou a mesma música infantil aproximadamente vinte vezes na frente da TV, pulou do sofá para o chão e então se desembestou a pular sem motivos três vezes, até eu mandá-la parar. Além disso, parecia que meu nome se tornara a palavra preferida dela.
Quando ela finalmente se jogou no chão de cerâmica e anunciou, com sua voz dengosa, que estava “com caloooooooor, Haaaaayleeeeeeey”, consegui convencê-la a tomar um banho frio (desde que ela usasse o biquíni, ok, você tem que aprender a lidar com uma criança). Ajudei a pequena a vestir o sutiãzinho minúsculo e molhei-a dos pés a cabeça com a mangueira da ducha, escutando-a gritar e rindo, enquanto dava uns bons gritos também. Só estávamos nós duas em casa — Cate saíra assim que eu chegara —, e podíamos fazer a bagunça que queríamos.
A melhor parte de se cuidar de uma criança é que você também pode se tornar uma criança e ela nem vai ligar. E nada é mais divertido do que um banho; isto é, se você souber como dá-lo. E eu sou uma babá bastante competente, se quer saber.
Quando terminamos, vinte minutos depois, enrolei McKayla em sua toalha da Hello Kitty e carreguei-a no colo até seu quarto. Sequei seu cabelo e ajudei-a a colocar seu vestidinho preferido sobre o corpo: o azul. O que era estranho, uma vez que ela tinha um milhão de vestidos com estampas diferentes, rodadinhos, rosinhas, com bichinhos, e etc. Mas ela quis o azul. Que... simplesmente era azul.
Depois de arrumar seu cabelo em duas marias-chiquinhas (seu penteado favorito) e calçar nela os “chinelos de sair”, saímos de casa, ela no meu colo. McKayla queria tomar sorvete de morango, e, para ser sincera, já fazia bastante tempo que eu não saía de casa para um sorvete com uma criança. Mas não sabia como chegar à sorveteria alguma, de modo que quando tranquei a porta da casa do meu pai, me dirigi até a casa de Dakotah.
— Oi, e aí, Williams — ela disse assim que me viu, um sorriso no rosto. Ainda estava com a mesma roupa que usou na escola, mas seu joelho estava completamente esfolado. — E quem é essa menina fofa?
McKayla sorriu e disse seu nome.
— Hayley vai me levar para tomar sorvete e viemos pedir que você nos acompanhe — disse minha irmãzinha em seguida, me fazendo rir. Dakotah me acompanhou. Ela não falava sempre assim, mas na maioria das vezes que ia interagir com alguém que não era da família, se esforçava para que sua frase saísse completamente correta.
Coisas do meu pai, se eu bem sei. Ele que força uma criança de quatro anos a ver adaptações cinematográficas de 1930.
O pior é que ela gosta também.
— Não conheço o caminho de uma sorveteria e minha pequena Lady não vai me deixar em paz se eu não levá-la — disse eu para Dakotah, que mancou de uma perna para outra. — E aí, tá a fim?
Dakotah sorriu imediatamente. Mesmo sem conhecê-la por muito tempo, eu sabia de alguma forma que ela era do tipo de garota que topava praticamente todo tipo de diversão, por mais bizarra que fosse.
— Com certeza! — disse ela. — Você vai pagar por que estou sem dinheiro.
— Você fica me devendo — eu dei de ombros. — Aliás, que merda aconteceu aí?
Dakotah fez uma careta, olhando para seu próprio joelho esfolado.
— Hayley! Você sabe que não é nada educado ficar falando palavrão! — McKayla, ainda no meu colo, me repreendeu. Tapei a boca com a mão que estava livre.
— Oh, certo, me desculpe! — murmurei, fingindo-me de envergonhada. — Não voltará a se repetir, Senhora.
McKayla bufou, irritada comigo.  Cruzou os bracinhos em volta do peito.
— É bom mesmo — ela respondeu.
Dakotah estava rindo a minha cara.
— Sua irmã é uma graça — disse ela, sorrindo. — E é que eu estava voltando da quadra e minha roda passou em cima de uma pedra. Meu skate empenou e meu joelho vai ganhar uma nova cicatriz.
— Tem que passar Mertiolate — McKayla apontou para o joelho de Dakotah, os olhinhos apreensivos em minha mais nova amiga. — Mata os bichinhos que ficam dentro do machucado e não arde, sabia?
Dakotah sorriu para ela.
— É, eu soube. Já passei, não se preocupe, os bichinhos estão todos mortos.

 Depois que McKayla insistiu para que Dakotah despejasse mais remédio sobre o seu novo machucado, comaçamos a caminhar, debaixo do sol quente, até o que eu pensava que seria uma sorveteria. Fomos conversando com minha irmãzinha durante o caminho e, mesmo com o joelho ferrado e mancando, Dakotah não hesitara em carregar seu skate. Chegamos depois de mais ou menos dez minutos. Demoraríamos menos se McKayla não parasse de pedir colo o tempo todo. Ela pedia para ser carregada, e eu a colocava no colo. Ela pedia para descer trinta segundos depois, eu a fazia descer. Após cinco idas e vindas, decidimos que ela iria andando de qualquer maneira, decisão que ela não aceitou de imediato e que lhe gerou um belo bico no rosto.
Mas ela se animou quando entramos em uma das sorveteriazinhas que havia no centro da cidade.
Dakotah e eu pedimos um milkshake pequeno, enquanto McKayla escolheu o Sunday mais caro da casa. Paguei tudo e nos sentamos em uma das mesinhas coloridas do lugar, observando o sol torrar o asfalto lá fora. Quase não tomei meu sorvete, uma vez que tinha que ajudar minha irmãzinha cabeçuda a acertar o buraco da cara. Mesmo aos quatro anos, ela era incapaz de colocar uma colherada na boca sem cuspir metade do sorvete ou melar todo o rosto. Portanto, enquanto eu alimentava uma criança, minha amiga se alimentava com nossos dois milkshakes. E eu estava com muito mais calor do que quando havia chegado.
— Sabem como chegar em casa? — anunciou Dakotah, do nada, levantando-se.
— Sim, mas a Srta. não vai embora sem nós — disse eu, tranquilamente, colocando mais uma colher do Sunday na boca de McKayla e limpando dos lados. Embora sua boca estivesse cheia, seus olhos ficaram miúdos e pidões. A mensagem era clara: ela não queria que Dakotah fosse embora.
— Preciso — disse ela. — A loja do meu pai fica na rua aqui de cima e eu não fui trabalhar hoje. Vou escutar um monte. Preciso desenhar pelo menos um brinco legal para conseguir o conserto do meu skate... e te pagar o milkshake — ela deu um sorriso amarelo.
Dois milkshakes — eu corrigi. — Você tomou o meu, Rae.
— Mas você o comprou para si mesma. Teria pago por ele mesmo se eu tivesse trazido o dinheiro. Não é minha culpa — disse ela, levantando os braços. Rolei os olhos enquanto ela se aproximava para deixar um beijo na bochecha da minha irmã. — Tchau, Princesa. Te vejo outro dia, o.k.?
— Mas... — McKayla deixou a voz morrer e suspirou, derrotada. — Passa Mertiolate no seu machucado para sarar direitinho.
Dakotah deixou-se gargalhar.
— Eu prometo.
Assim que Dakotah saiu, eu continuei a alimentar minha irmã enquanto tomava também do sorvete dela, entre uma colherada e outra. Como toda criança, McKayla era extremamente lenta para comer, mesmo quando se tratava de uma guloseima que ela simplesmente adorava. Mas eu via em seus olhos que ela estava se divertindo e provavelmente contaria de seu dia para Cate hoje no jantar.
— Meu Deus, Jonathan! — virei meu rosto abruptamente, vendo um rapaz de uns quinze anos com duas crianças pequenas em uma mesa bem afastada da nossa, mais para o fundo da sorveteria, perto de uma mesinha de totó. — Não consegue comer sem se melar inteiro! Olha só o que você fez com a sua camisa, moleque!
Continuei encarando o que eu presumia serem irmãos. McKayla também se calou, portanto, concluí que prestigiava a cena assim como eu. O menininho que se melara com o sorvete, Jonathan, começou a gritar que não tinha culpa.
— Jon é um bobão, Jon é um bobão, Jon é um bobão... — começou a cantarolar a menininha que se sentara ao lado de Jonathan, fazendo chacota. O menino virou-se para ela com raiva.
— Boba é você, sua idiota! — gritou ele.
— Eu não te chamei de idiota, seu bobão!
— Eu vou te matar!
Torci meus lábios enquanto Jonathan agarrava os cabelos da garotinha e ela começava a mordê-lo.
— Ai, merda! — gritou o moleque de quinze anos, que provavelmente cuidava das duas pestinhas. — Parem com isso agora! Pelo amor de Deus, não conseguem ficar um segundo sem brigar! Vão se ferrar, vocês!
Fui anotando na mente todos os erros do garoto enquanto cuidava do que eu presumi serem seus irmãos menores. Primeiro: ele não ajudou as crianças a tomarem seus sorvetes, quando claramente eles não tinham mais de cinco anos. Segundo: ele falou pelo menos quatro palavrões desde que eu passara a observá-los, e isso já era um péssimo exemplo. Crianças imitam o que os adultos fazem. Se a menina chamara Jonathan de bobão, provavelmente ouvira alguém fazendo isso anteriormente. Terceiro, e mais grave: o garoto idiota repreendeu uma criança na frente de outra.
Se você está cuidando de duas crianças ao mesmo tempo, isso é mais ou menos como a regra número um de coisas para não fazer. Nunca se repreende uma criança na frente de outra, pois isso mexe com o equilíbrio das coisas. A outra criança vai pensar que também tem o poder de repreender, ou vai querer ridicularizá-lo de alguma maneira. Geralmente não é por mal. É o senso de humanidade na criança lhe impulsiona a fazer essas coisas.
No fim, tudo acabava em briga; exatamente como acabara ali. E ao invés de repreender os dois com a voz firme, o garoto mais velho se desesperava e tentava apartar a briga com a violência.
Torci os lábios de novo, fazendo que não com a cabeça.
— Ele não é um bom irmão maior — disse McKayla, abrindo a boca como um sinal claro de que precisava de mais sorvete. Assenti com a cabeça e atendi prontamente o seu pedido, ciente de que minha irmãzinha de quatro anos era mais esperta do que o adolescente que agora tentava retirar os dentes de sua irmã da carne do braço de Jonathan.




E aí?
Aqui eu já apresentei para vocês duas coisas que amo nessa fic: crianças e Taylor+Dakotah. PAÕLSA~PSOAPASL~POAL POR QUE, GENTE, AMO TUDO ISSO?????????? AÕLPAÕPALSA~POSK ESSA FIC É UM AMOR.
E o Centennial. Vale lembrar que é mesmo uma escola de Franklin (uma das três públicas de ensino médio), e eu não vi nada sobre ela, e então ela exista na realidade, a Centennial High School da Trucker é fictícia.
Assim como tudo aqui PAOSKLA~SOALK~SOPS~PO
E eu sou apaixonada por essa McKayla??????? apçoskaolasp adoro crianças. E eu sempre digo que uma criança dá o brilho correto a qualquer história.
É por isso que o Nicholas Sparks vende tanto. De 10 obras dele, 8 tem uma criança apaixonante. Juro! Eu li pelo menos 70% do trabalho dele. ÇPAOSLK~SOA~PSALS CRIANÇAS SÃO UM AMOR. Descobri isso depois do Luke. E do Henry.
Então é difícil não escrever crianças, ainda que elas sejam uns pestinhas, como Jonathan e a "menininha sua irmã", que vocês já sabem quem é.
~POALSÃPSOLAS ENTÃO, POR FAVOR, COMENTEM PRA MIM! Tentarei responder tudo <3 E mesmo que não o faça, eu amo os senhoritos, tá? *u*
Lots of love,
Sarinha :3