23 de set. de 2012

Capítulo 50


This couldn't have happened.



De acordo com as instruções na caixa, já estava tudo pronto. Agora só lhe restava esperar.
A garota se sentou, ainda no banheiro, com o coração batendo tão forte no peito que parecia que ia sair pela boca, passou a encarar o pedaço de plástico a sua frente que ainda tinha a coloração branca. Junto com as instruções, na caixa do teste, também estava escrito que o pequeno pedaço de plástico levava de cinco a oito minutos para mudar de cor. Cinco a oito minutos para decidir, enfim, qual seria o rumo da vida dela dali em diante.
Sentiu sua boca secar de puro nervosismo e engoliu seco. Droga, pensou consigo mesma. Ela podia ter prevenido esse tipo de acontecimento. Podia ter tomado precauções. Podia não precisar estar olhando impacientemente para aquele teste de gravidez à sua frente, esperando com o coração na mão ele tomar a coloração vermelha... ou azul.
Ter um filho agora mudaria tudo. Não que ela se preocupasse com o pai da possível criança, por que ela sabia que ele faria de suas tripas coração para dar tudo de melhor ao bebê. Afinal, ele era assim, não era? Bom por natureza. E ele a amava tanto que, obviamente, evidentemente, amaria seu filho (ou filha) com todo o seu ser.
Mas o problema não era o pai do suposto bebê. O problema era ela. Quer dizer, ela não estava pronta para ser mãe! Ainda era jovem, ainda tinha um futuro pela frente. E além do mais, ela ainda não se achava suficientemente capaz para passar por isso, por uma experiência tão... intensa. Ela já havia mudado tanto... mudaria tão mais se tivesse a responsabilidade de cuidar de um bebê agora. E se falhasse? Com sua falta de experiência, jovialidade e insegurança, era bem capaz que falharia mesmo. Isso sem dizer que teria de mudar todo o seu futuro.
Estava nervosa. Não, ela estava muito mais que nervosa. Por que aquele plástico não mudava a cor de uma vez?! Que tortura! Já haviam se passado mais de trinta minutos para ela, mas ele ainda continuava branco e inoportuno! Ela olhou no relógio de pulso que havia ganhado de seu namorado. Haviam se passado cinco minutos e meio.
Ok, ok, já era hora do teste ter mudado de cor. Já era hora do teste dizer se seu atraso menstrual e sua infame falta de sono durante a noite queriam dizer que ela carregava um bebê dentro de si. Já era hora daquele pedaço de plástico, enfim, mostrar-lhe qual seria o rumo de sua vida daquele momento em diante.
Ela passou a imaginar o que faria se ele ficasse azul. Teria de contar para seu namorado, que ficaria extremamente chocado, mas depois feliz, com certeza. Quer dizer, isso é o que ela achava. Mesmo que eles tivessem conversado um milhão de vezes sobre bebês, nunca haviam sequer discutido a probabilidade de criar um agora.
Então teria que contar para sua família. Já imaginava a cara de Joe e o modo que ele lhe abraçaria, agradecendo veemente por ser tio, dizendo que iria ajudá-la de todas as formas a cuidar do bebezinho. E, ai meu Deus, Josh... ele provavelmente iria...
O teste não estava mais branco. A garota interrompeu seus pensamentos, encarando o teste, e olhou de soslaio para o relógio. Oito minutos e quarenta e cinco segundos. O teste mudou de cor gradativamente, num intervalo de no máximo vinte segundos. Estava meio manchado, e então foi ficando uma tonalidade clara de rosa, mais rosa, mais rosa...
Até ficar vermelho.
O suspiro de alívio da garota foi tão forte e arrebatador que o teste caiu de suas mãos. Passou as mãos pelo rosto, agradecendo a Deus por ter esperado um pouquinho mais para lhe dar um filho. Ainda bem, meu Deus. Ela agora não precisaria se preocupar em cuidar de uma criança e temer falhar da mesma forma como sua mãe falhou com ela.
Ela se levantou, olhou-se no espelho e, sem motivo, riu. Talvez para espantar o nervosismo que ainda corria de relance em suas veias, ou para parar de tremer. Molhou o rosto algumas vezes, até achar que já estava suficientemente aliviada, e depois se secou com a toalhinha que ficava ao lado do espelho. Enquanto passava as mãos pela toalhinha ela encarou a loção e o barbeador de Hector jogados pela pia de qualquer maneira e sorriu mais uma vez. Como ele conseguia ser tão organizado com a cozinha e relaxado com o banheiro?
Danna suspirou de alívio novamente. Não seria agora que, ao lado da loção de barbear de Hector, haveria um xampu que não ardia nos olhos com a logomarca do Mickey Mouse e uma escova de dente enfeitada com um animalzinho. Não agora.
Ela ainda ficou durante mais algum tempo no banheiro, recuperando-se do susto e refletindo sobre tudo, quando o toque irritante de seu celular lhe fez sair correndo para atendê-lo.



[...]



 Words, before they are used in a text, are just a set of possibilities, pointing imprecisely to a bank of concepts we have stored in dictionaries or in our minds. Vilson J. LEFFA. — A professora escreveu cada palavra no quadro branco, enquanto alguns alunos copiavam junto com ela. — Essa frase de Leffa, galera, é basicamente um apanhado geral do que nós já estávamos falando, certo? Quer dizer, “As palavras, antes de serem usadas em um texto, são apenas um conjunto de possibilidades, apontando imprecisamente para um banco de conceitos que temos guardados em dicionários ou em nossas mentes”. Isso tudo indica à nossa Lexical Ambiguity. Ou seja, antes de colocada em um contexto, as palavras são apenas um amontoado em nossas mentes, e podem ter dois ou mais significados diferentes. Como um exemplo simples...
Sophie suspirou, escutando a voz da Srta. Jones ecoar pela sua cabeça sem fazer nenhuma diferença. Simplesmente não estava a fim de prestar atenção na aula hoje. Estava sonolenta demais.
Não que ela não estivesse feliz pela volta de Lilian ao colégio, que aconteceu nesse último semestre. É claro que Sophie estava super feliz por isso, afinal, nenhum professor se igualava a Lily quando se tratava de lecionar inglês e literatura. Ela simplesmente tinha esse dom.
Mas agora Sophie não queria estudar, nem fazer nada. Além de estar com muito sono, também estava preocupada e, como não poderia ser diferente, morrendo de saudades. Tentou imaginar Luke agora, a mais de mil e quatrocentos quilômetros de distância dela, participando ativamente de uma aula sobre o mercado financeiro. Sorriu. Muito provavelmente, Luke agora não estaria com o caderno aberto apenas para olhar a foto que ambos haviam tirado no Central Park, e rabiscando qualquer coisa embaixo dela.
Ele estava tão lindo naquela foto. Seu cabelo grande e esquisito parecia mais esquisito do que nunca, seus braços e costas estavam marcados pela camiseta xadrez verde que Sophie havia trazido da Inglaterra para ele, há bastante tempo atrás. Sua barba estava bem feita, e mesmo que seus olhos estivessem fechados (pois na foto, ambos estavam trocando um selinho), ela se lembrava claramente que eles brilhavam quase tanto quanto o sol. Sophie bufou.
Saudade de bosta.
“Sem ânimo pra assistir essa aula assim como eu? Você tá quase dormindo, garota.”
Era o que dizia o bilhete que de repente foi pousado em sua mesa. Jenny estava sentada à frente dela (o que ainda assim era longe o suficiente na sala para que a professora não as pegasse), e vez ou outra virava a cara para garantir que Sophie não estava realmente dormindo. Se bem que Jenny também não estava muito diferente, em questões de sono ânimo.
Acontece que assim que Sophie voltou de Nova Iorque — há cinco dias —, a primeira pessoa com quem falou depois de Danna foi Jenny. Foi, na verdade, a primeira vez que ela viu a amiga chorar.
Jenny e Max haviam terminado. O que era quase impossível se fosse perguntado à Sophie, por que eles dois, de todos os casais, eram os que mais se pareciam. Não discutiam quase nunca e cada um tinha um poder incrível sobre o outro. Ambos amavam videogame, eram teimosos, animados, mas ao mesmo tempo, pé no chão. Mesmo que Max fosse meio idiota às vezes.
Mas ele se provou ser ainda mais idiota e, de alguma maneira, traiu Jenny com uma ex-namorada.
Sophie brigou com Max durante quase uma hora, praticamente gritando, jogando em sua cara o erro que havia cometido. Max reconhecia, para dizer a verdade, e chegou a chorar na frente de Sophie, dizendo que se arrependia. Ele mesmo havia contado sobre a traição para Jenny e pedia perdão desde então.
Mas ela não o perdoaria, Sophie sabia. Essa sempre fora a sua regra número um. Mesmo que ela gostasse muito dele, e tivesse aprendido a amá-lo, Jenny sabia que quem trai uma vez, trai duas. Max a havia perdido definitivamente. Mesmo que a tristeza, a saudade, o orgulho ferido e a dor corroessem-na por dentro.
Então já é imaginável que os últimos cinco dias não foram os melhores da vida de Sophie. Junte dois amigos extremamente machucados com a incerteza sobre seu futuro e a saudade terrível do rapaz que ela ama e você terá uma garota completamente desanimada e sonolenta.
Isso sem dizer, é claro, sobre Danna, que passara o dia anterior inteiro tremendo de medo pela probabilidade de estar grávida. Sophie foi a única que soube de seu medo e foi ela que lhe indicou o teste certo para comprar. Quando Danna estranhou e perguntou, Sophie apenas disse que era uma longa história e riu, lembrando-se de sua época quando apenas dava uns beijos em Luke e a Prof. Lilian e o Prof. Benjamin tinham apenas um casinho. Bons tempos.
De qualquer forma, Danna devia estar fazendo o teste à uma hora dessas.
E, evidentemente, ainda havia a carta de admissão à Juilliard School, que não havia chegado até então. Sophie já havia roído todas as suas unhas por ansiedade e nervosismo. Tanto Danna quanto Luke (à noite, é claro, quando ela ligava para ele), já haviam dito um milhão de vezes para ela ficar calma, mas... bem, era difícil! O que ela faria se não fosse aceita?
Bufou. Ainda bem que Stephy havia saído da cidade, se não ela teria lhe dado outra surra só por ter atrapalhado sua vida em proporções tão grandes.
As duas únicas coisas realmente boas que haviam acontecido nesses últimos cinco dias, eram: a crítica do livro de Joe no New York Times que saiu na segunda-feira; e o pacote que Luke lhe havia dado.
Acontece que a crítica (“Jovem, simples, emocionante, satisfatório e arrebatador. O Pequeno Farro, com sua escrita simples e estonteante, conseguiu cativar e gerar um amontoado de emoções em todos os que leem sua obra, e promete ser um dos escritores da década. O livro, pequeno o suficiente para se ler em uma noite, é grande o suficiente para mudar uma vida.”) havia elevado o número de vendas do primeiro livro de Joe de uma forma absurda. A marca já se aproximava das 250 mil cópias.
Então Martin, o agente de Joe, obviamente quis divulgar com mais intensidade a obra do pequeno garoto e já até havia conseguido um contrato bem satisfatório para a Overturn. Além de ter levado Joe para viajar pelo país, em pequenas (que já não estavam tão pequenas assim) turnês de apresentação. Claro que Josh e Hayley foram junto, e Sophie, sem poder parar de estudar, ficou sob a custódia de Danna. Não que ela reclamasse, é claro. Mesmo que a conhecesse há pouco tempo, Danna era mesmo considerada por Sophie como nada menos do que uma irmã. Era apenas... fácil conversar com ela sobre tudo. E vice-versa.
Quanto ao pacote, que Sophie abriu logo no avião, continham três fotos editadas e emolduradas dela e de Luke. Uma, a que ela havia tirado no show da The Pretty Reckless, fazendo uma careta enquanto ele dirigia. Outra, a que eles tiraram quando ela ficou doente, comendo macarrão, e última, embaixo da árvore (que ela havia colado em seu caderno). Dentro do pacotinho também havia um boneco de pelúcia do Woodstock, que tinha o mesmo cheiro do perfume de Luke. Ela se lembrou de quando os dois, ainda crianças, passavam tardes inteiras assistindo ao Snoopy num canal onde só passavam desenhos antigos. Sophie sempre preferira o Woodstock ao Snoopy, ou a qualquer outro personagem.
Três trufas de chocolate amargo também estavam dentro do pacote, as preferidas de Sophie, sendo que uma estava pela metade. Ela se lembrava de ter sorrido e quase chorado quando viu a trufa com uma pequena mordida de Luke, e foi justamente essa a primeira que ela comeu.
E, por último, um pen drive preso a uma carta, que tinha instruções claras para Sophie só abrir quando a saudade apertar demais. A mesma carta da qual Luke havia se referido quando eles se despediram no avião. Mas mesmo que a saudade de Sophie já estivesse corroendo-a por dentro, quando conversou com Luke durante a noite passada, prometeu a ele que só abriria a carta e veria o que havia no pen drive quando fosse quase insuportável.
“Estou apenas morrendo de sono. Não tenho dormido muito bem a noite, e então passo o dia desse jeito.”
Ela passou o bilhete para a mesa de Jenny sem que a Srta. Jones, que ainda falava sobre ambiguidade lexical, notasse. Viu a amiga apoiar sua caneta azul no papel e rabiscar sem nenhuma cerimônia, antes de passar o bilhete para trás novamente.
“Insônia? Que bosta, hein. Também estou com sono, mas acho que é só... preguiça.
Max deixou uma carta na minha porta hoje”
Sophie suspirou. Não estava sendo nada fácil para Jenny superar toda essa situação uma vez que Max não parava de insistir e pedir para ela perdoá-lo. Sophie detestava ver tudo isso acontecendo daquele jeito.
“Sim, pois é, insônia é um saco. Mas... o que dizia na carta?”
Jenny rabiscou apenas por um quarto de minuto.
“Toda aquela baboseira sobre arrependimento e... ele quer marcar um encontro. Disse que se eu conversar com ele diretamente pelo menos uma vez, ele me deixa em paz.”
Sophie leu o que Jenny havia escrito e se lembrou de relance da conversa que tivera com Max. Da insistência que ele tinha em dizer que tudo fora um erro e que Jennifer era a única garota que ele já havia amado algum dia.
Mas Sophie apenas gritou com ele outra vez. E tinha certeza que tanto Luke quanto Dan haviam brigado com ele igualmente pelo telefone.
“E você vai se encontrar com ele?”
Jenny pareceu hesitar antes de começar a escrever, como se ainda estivesse decidindo o que iria escrever. Ou melhor: o que iria fazer diante toda aquela situação.
“Vou falar com ele daqui a pouco, durante o intervalo, rapidamente. Mas não vou perdoá-lo, Soph. Não posso.”
Depois de deixar o papel na mesa de Sophie, Jenny se debruçou sobre a sua, suspirando longamente e afundando a cabeça nos braços. Era possível apenas ver seu cabelo castanho com uma mecha laranja fazendo contraste.
Sophie se inclinou e colocou uma mão sobre seu ombro, fazendo um pequeno carinho ali, e amiga apertou sua mão em represália. Perdidas em preocupação e, no caso de Jenny, dor, elas nem viram quando a aula acabou.
O sinal bateu e os alunos começaram a sair para o intervalo. Sophie juntou seus cadernos e colocou na mochila, assim como Jenny, e as duas seguiram em direção aos seus armários.
— Você vai lá agora? — Sophie perguntou assim que elas atingiram o corredor.
Jenny apenas assentiu, suspirando.
— Tudo bem — disse Sophie, ficando de frente para a amiga. Abraçou-a com força e deu um sorriso encorajador. — Boa sorte. Te encontro no refeitório.
— Tá — Jenny também tentou sorrir. — E nada de comer aquela coisa com queijo de novo, por favor. Achei que você fosse morrer.
Sophie sorriu e elas seguiram caminhos diferentes. Jenny estava se referindo ao bolinho de queijo que Sophie havia comido no dia anterior, e vomitara na mesma hora que comera, por pouco não chegara ao banheiro. Sua alergia já estava virando uma intolerância, sinceramente.
Depois de arrumar tudo no armário para a próxima aula, ela seguiu em direção ao refeitório e sentiu-se desanimar completamente ao ver o tamanho da fila para a cantina. Haviam tantos alunos que ela poderia facilmente perder noventa por cento do intervalo tentando comprar algo para comer.
Até mesmo sua fome estava com preguiça hoje. Sophie suspirou, passando os olhos pela fila, procurando alguém conhecido que pudesse ajudá-la a furar. Viu Caitlin — alta, magra, olhos e cabelos negros, aulas de Ed. Física, Geometria e Espanhol, desde que Sophie entrou no colégio — consideravelmente perto da cantina.
— Ei, Cate — Sophie gritou, indo em direção à garota, que logo virou o rosto na direção dela. — Posso entrar aí na sua frente? A fila tá enorme...
Caitlin sorriu.
— Claro, entra aí — ela disse, abrindo espaço para Sophie, que sorriu e agradeceu. — Fica me devendo uma.
— Okay — Sophie disse, acompanhada de uma risada. — Então, tudo bem?
A garota assentiu com a cabeça.
— Sim, até que sim — ela respondeu simpaticamente, andando com a fila. — E contigo? Soube que você foi pra NYC esses dias.
— É, eu fui — Sophie disse. — Fui fazer uma audiência pra Juilliard.
— Que maneiro! — exclamou Cate. — Eu já vi você tocando e tudo, cara. Vai se dar super bem lá, hein?
Sophie sorriu, sentindo a mesma onda de nervosismo e fraqueza que sentia desde o dia da audição. Por algum motivo, o que ela achava mais provável era que não, ela não se daria super bem lá, por que não, ela não havia sido aceita.
Mas não foi isso que disse à Caitlin.
— Bem, isso nós vamos ver. Eu espero que sim, né? — ela tentou responder com o máximo de confiança que pôde, o que deve ter funcionado, uma vez que Cate sorriu e começou a dizer que já começara a estudar para poder entrar em Dartmouth. Sophie ainda prestava atenção em seu pequeno monólogo quando entregou alguns poucos dólares para a Tia Molly, a anciã que cuidava da cantina do colégio desde sempre, e pegou seu hambúrguer com suco de laranja em uma pequena bandeja.
Sophie só parou de escutar o que Caitlin dizia sobre o quanto competir no campeonato colegial de vôlei lhe traria benefícios com qualquer faculdade que decidisse cursar, seguido de suas boas notas e seu comportamento impecável, quando sentiu o cheiro das batatas fritas que a colega acabara de comprar.
Oh, não. De novo não.
Sua boca ficou seca no mesmo momento, seu estômago revirou-se por completo, e Sophie apenas entregou a bandeja em suas mãos para a primeira pessoa que viu em seu caminho e saiu correndo instintivamente até o banheiro, que graças a Deus ficava próximo ao refeitório. Debruçou-se sobre a primeira pia que viu — não daria tempo para chegar em qualquer vaso sanitário — e vomitou o café da manhã que Danna havia preparado para ela. Seu estômago ainda revirava com força, e em sua cabeça ela repassava a imagem das batatas fritas e daquele molho nojento, o que só a fazia ficar ainda mais enjoada.
Quando finalmente acabou, seus olhos estavam cheios de lágrimas e seu rosto estava pálido. Abriu a torneira e a deixou escorrer durante algum tempo. Molhou seu rosto, sem se importar com o rímel que havia passado essa manhã, e viu Caitlin se aproximar dela.
— Não sabia que você estava doente — disse ela, enquanto Sophie secava o rosto com algumas toalhas de papel. Seu estômago ainda estava incomodando-a. — Você não vai voltar pra aula.
— Eu tô bem — Sophie disse, suspirando, apoiando-se na pia. — Foi só um enjoo. Tem acontecido algumas vezes desde que eu fui pra NYC.
— Não é de hoje? — perguntou Cate, deixando que sua sobrancelha se arqueasse.
Sophie negou com a cabeça.
— Não. Já têm uns seis dias. — Disse, despreocupada. — Mas não é toda comida. Apenas... algumas me enjoam. Meu estômago anda muito chato ultimamente.
A sobrancelha arqueada de Cate já havia se transformado em um cenho completamente franzido. Aquilo estava muito estranho.
— Soph — ela começou em tom preocupado, sem saber como seguir com a pergunta, e decidiu ser direta: —, como está o seu período?
Sophie tirou as mãos da pia e encarou a colega com o cenho igualmente franzido. A única diferença era que Caitlin estava preocupada, e Sophie...
Subitamente estava com medo.
— O que quer dizer com isso? — ela perguntou em tom quase acusatório, recusando-se a acreditar no que quer que Caitlin fosse insinuar.
— Nada, é que... — Cate tentou ser calma e discreta, mas o rosto de Sophie parecia ter ficado subitamente mais pálido. Mas não por que ela estava doente. — Bem, eu já vi isso acontecer outra vez, sabe, essa coisa de enjoo do nada. Foi com a minha irmã mais velha, ano passado, e... Tipo, Soph...
— Não — Sophie interrompeu com um sorriso no rosto. Havia deixado seu tom acusatório para trás e agora adotara um sorriso de deboche, como se não acreditasse em nada daquilo.Bobagem. Não. — Não é nada disso que houve com a sua irmã, ok?
Cate torceu os lábios, suspirando.
— Olha, Soph, eu não quero me intrometer, é sério — ela colocou as mãos nos bolsos, olhando a colega extremamente pálida nos olhos, já com quase certeza do que estava acontecendo ali. — Mas... se você está enjoada e seu período menstrual tá atrasado... e você chegou a transar sem proteção... Eu não sei, Soph. É possível.
Sophie riu outra vez, negando veemente com a cabeça. Cate estava ficando maluca, só pode. Quer dizer, só por que ela estava com um enjoozinho queria dizer que... oras!
Queria dizer que Sophie estava grávida?
— Não — ela repetiu, mais para si mesma do que para Caitlin, sem arrancar o sorriso do rosto e sem parar de balançar a cabeça. — Não pode ser. Você tá enganada, Cate, redondamente enganada.
A colega de Sophie torceu os lábios mais uma vez e assentiu com a cabeça devagar.
— Posso estar, Soph. Tomara que eu esteja. — Ela respondeu, ainda com a voz calma, procurando ser cuidadosa com suas palavras. — De qualquer maneira, eu falei com a Srta. Jones que você estava doente assim que você saiu do refeitório e ela já falou com o diretor, você está liberada. Acho que ligaram pros seus pais ou algo assim.
As palavras de Caitlin apenas entraram por um ouvido de Sophie e saíram por outro. Ainda estava digerindo a insinuação da colega, revivendo os últimos dias, tentando se lembrar do que sabia sobre o assunto, pedindo a Deus para que... para que...
Para que, por favor, ela não estivesse com uma criança dentro de si agora.
O pensamento fez Sophie estremecer por inteiro e seus olhos começarem a arder. Não, ela não podia estar. Não, não, era impossível! Ela não podia criar um bebê agora, meu Deus!
Desesperadamente, enquanto seguia Caitlin até a sala do diretor, Sophie tentou fazer as contas desde o dia do show até ali. Que dia era hoje mesmo? Droga! Vinte e três, vinte e quatro de agosto? Ela sabia que era sexta-feira, seu aniversário seria na próxima segunda. Vinte e sete de agosto, segunda, então hoje era dia vinte e três. O show fora dia trinta de julho. Já se faziam... Três semanas e meia.
Ela sentiu o pânico começar a tomar conta dela, e em silêncio, tentou se lembrar de quanto tempo levava para sentir os sintomas da gravidez. Três semanas? Quatro? Sophie não sabia, só sabia que queria qualquer coisa que fizesse com que suas suspeitas saíssem de possibilidade. Tentou se lembrar da última noite em que ela e Luke fizeram amor. Droga, não foi premeditado, eles nem sequer sabiam que ia acontecer! O preservativo nem passou perto pela cabeça de Sophie naquela noite, e muito menos na de Luke. Mas... quais eram as chances de isso acontecer dentro d’água? Não era possível...
O carro.
Sophie sentiu seus olhos começarem a lacrimejar, enquanto suas mãos já tremiam tanto que ela parecia ter algum problema. Não, tem que ter uma saída, não é possível, ela pensava consigo mesma, procurando uma razão, qualquer uma, que fizesse com que sua suposta gravidez se tornasse impossível. Pensava incessantemente, ainda parada no banco ao lado da sala do diretor, com a mochila nas costas, esperando Danna chegar para buscá-la. Não, não, tinha que ser mentira. Tinha que ter dado errado. Droga, eles já tinham transado sem proteção uma vez e não aconteceu nada, por que aconteceria agora?
— Soph? — ela ouviu a voz de Danna e levantou os olhos, encontrando a irmã que a encarava preocupada. — Já falei com o seu diretor, vamos? Você parece mal.
Ela assentiu com a cabeça e começou a seguir Danna sem dizer uma palavra sequer. Entrou no carro dela e jogou a mochila no assento de trás, sentindo o pânico se apoderar dela ainda com mais força.
— Chegou isso pra você — Danna disse, antes de ligar o carro, entregando uma carta que estava no porta-luvas para a irmã. Sophie, com as mãos tremendo, logo percebeu que o remetente era a Juilliard School.
Agora sua admissão na escola parecia uma coisa tão pequena. Tão insignificante ao lado de ter de cuidar de... um bebê. De ser mãe.
Mesmo assim, com seus dedos trêmulos, Sophie começou a abrir o envelope enquanto Danna começava a acelerar rumo à casa da garota. Tentando controlar a mente e os olhos, leu, com dificuldade, o que dizia na carta.
Danna estava com um sorriso no rosto quando perguntou:
— O que diz aí?
Sophie suspirou e dobrou o envelope.
— Lista de espera — ela respondeu num fio de voz, sentindo a vontade de chorar se apoderar dela ainda com mais força.
Danna ergueu uma sobrancelha. Parecia feliz e calma.
— Isso é bom, não? Você não foi rejeitada, certo? — perguntou, enquanto fazia uma curva.
— Não fui rejeitada, mas não fui admitida — ela respondeu com a voz desigual. — A lista de espera é como, “vamos ver se um dos nossos alunos morrem ou algo assim, e se sobrar vaga, e não houver mais ninguém, chamamos você”.
Danna torceu os lábios.
— Você vai arranjar um jeito, Sophie — disse, tentando passar tranquilidade para a irmã, que jogara a carta no porta-luvas novamente e afundara a cabeça entre as mãos.
Sinceramente, a última coisa com o que estava preocupada agora era com aquela carta.
— O que deu no teste? — ela perguntou de uma vez com a voz mais grossa que o comum, com a cabeça enterrada entre as mãos.
Danna suspirou.
— Vermelho — respondeu, com o tom aliviado. — Acabei de fazer. Graças a Deus que...
— Você ainda tem o outro? — Sophie a interrompeu, sentindo vontade de irromper em lágrimas.
Danna franziu o cenho.
— Tenho, eu te falei que só iria fazer duas vezes se desse positivo... mas... — ela começou a falar sem entender, até ver Sophie retirar a cabeça dos braços e encará-la com os olhos lacrimejantes e o rosto pálido. Sophie havia saído do colégio por estar passando mal. Pela sexta vez na semana. — Ah, não...
Foi só isso que Sophie precisou para que as lágrimas começassem a sair de seus olhos. Limpou-as com as mãos na mesma hora, completamente assustada, completamente perdida. Danna abriu a boca, surpresa, e repentinamente tomada pelo medo.
— Não... — ela disse, pisando mais fundo no acelerador, passando uma mão pela franja. — Ai, Sophie, por favor...
— Dirige pra casa, Danna, vamos — ela disse, enquanto mais uma lágrima escorria de seu rosto. Recostou seu corpo na porta do carro, sem se forçar mais a pensar e procurar uma saída.
Agora ela apenas precisava fazer o teste e saber a verdade.
— Ai, meu Deus... — Danna murmurava, dirigindo o mais rápido que podia. — Droga, Soph, você só tem dezesseis anos, caramba...
— Eu sei, inferno! — Sophie gritou, passando as mãos pelo rosto, completamente perdida. — Você pode, por favor, parar de jogar na minha cara tudo aquilo que eu sei e dirigir essa merda desse carro mais rápido?!
— Se acalma! — Danna gritou de volta, respirando fundo em seguida, procurando vencer o medo e o nervosismo. — Se acalma, estamos chegando. Não deve ser nada, cara, não...
— Não pode ser nada, Danna — disse Sophie, as lágrimas saindo de seu rosto. — Droga... eu não posso cuidar de um bebê agora, eu não posso, eu... não posso.
— Calma — Danna disse mais uma vez, engolindo em seco. — Calma.
Mas mesmo que essas fossem as palavras que Danna passou a repetir incessantemente desde então, se havia alguma coisa que não havia nelas duas, essa coisa era calma. Sophie estava perdida, desejando do fundo do seu ser que estivesse errada, que Caitlin estivesse errada, que tudo o que envolvia essa suspeita estivesse errado. Ela tinha uma esperança de que era tudo uma infeliz — e põe infeliz nisso — coincidência, e que ela apenas havia ficado doente, ou sua alergia a queijo tinha atingido um novo nível. Desejava tudo, tudo, menos a responsabilidade de ser mãe e ter de cuidar de um bebê.
Por que ela não podia fazê-lo. Não desse jeito. Não agora.
Já Danna não acreditava que saíra de uma preocupação e passado para outra em tão pouco tempo. Ainda uma hora atrás, estava morrendo de medo por poder ser mãe, e agora estava morrendo de medo perante a possibilidade de sua irmã mais nova ser mãe.
Felizmente, logo o carro estacionou na garagem dos Farro, e tanto Sophie quanto Danna arrancaram os cintos do corpo e saíram mais do que rapidamente do quarto. Subiram rapidamente em direção ao banheiro mais próximo e Danna retirou o teste de sua bolsa, entregando-o para uma Sophie trêmula e perdida, antes de ela entrar no banheiro e ler as instruções rapidamente, fazendo tudo conforme o indicado.
— E agora? — Sophie gritou para Danna, que estava do lado de fora do banheiro.
— Agora espera — Danna gritou de volta. — Ele vai mudar de cor. Vermelho, negativo. Azul, positivo.
Sophie não disse nada de volta e passou a encarar o pedaço de plástico, deixando que as lágrimas saíssem livremente de seus olhos.



— Você não entende o quão irresponsável foi isso?! — disse Hayley, claramente se esforçando para não começar a berrar. — Você não consegue imaginar, Sophie! Você tem dezesseis anos!
— Eu não tinha planejado, eu... apenas aconteceu, mãe, eu... — ela tentou se defender, mas Hayley levantou um dedo, indicando que era melhor que ela se calasse e apenas escutasse.
Ela estava errada.
— Você pode conseguir preservativo em todo lugar, Sophie, pelo amor de Deus! — ela já não se preocupava em gritar. — E se você estivesse grávida? Me explica, como você e Luke, duas crianças, iriam cuidar desse bebê? — ela berrou novamente, fazendo Sophie abaixar a cabeça. — E mesmo não estando grávida, Sophie, você sabe o número de doenças sexualmente transmissíveis existem? Sabe o que elas fazem? Sabe quantas pessoas morrem por causa delas?
— O médico já disse que eu não estou grávida, mãe, e Luke não é nenhum aidético — ela disse baixo, fazendo Hayley bufar e ir para o lado. — Eu sei que eu errei! Não vai acontecer de novo!



Mas aconteceu.
Sophie deixou-se soluçar enquanto se lembrava claramente da briga que tivera com Hayley assim que ela descobriu que Luke e Sophie não haviam usado preservativo. Também se lembrava da bronca que recebeu do Dr. Parker, seu ginecologista, e do caderno inteiro de doenças terríveis que ele fez questão de que Sophie visse.
Droga, Sophie sabia das consequências, mas nem sequer pensou nisso. E o plástico não mudava de cor! Quanto tempo já fazia? Danna estava batendo na porta, perguntando. Sophie não respondeu.
Irresponsável. Sophie era uma irresponsável por ter deixado isso acontecer. Por ter se deixado chegar a tal ponto, chorando como uma criança perdida, enquanto encarava um teste de gravidez que se recusava a mudar de cor.
Ela fechou os olhos por um momento, apertando o plástico em suas mãos, pensando em Luke. Pensando nele e em como ele estava feliz em sua faculdade, conforme ele mesmo lhe relatava quase toda noite. De repente pensou no que faria se estivesse mesmo grávida. Ela não poderia morar em Nova Iorque, Luke teria de sair da faculdade e voltar para Nashville. Ou então ficar lá e deixá-la sozinha com uma criança, mas Luke nunca faria isso. Era capaz de estragar o próprio futuro para ficar ao lado dela. Sophie pensou em seus pais. Pensou em Hayley, chorando por dias, e reprovando-a com o olhar toda vez que a visse. Pensou em Josh, decepcionado, lutando para não demonstrar. Pensou nos seus amigos. Com certeza perderia a maior parte deles. Pensou em Jeremy, Katt, brigando com ela e com Luke por terem sido tão irresponsáveis. Pensou em Luke novamente, sentindo-se esgotado e infeliz, diante da reprovação geral. Sophie não iria conseguir constituir umafamília com ele agora. Eles eram tão novos...
Por favor, por favor, bebê, não venha agora. Sophie não estava pronta para ser mãe agora. Esse bebê arruinaria tudo... todo o futuro, todo o planejamento, tudo.
Lentamente, ela abriu os olhos, murmurando em súplica para que o bastão estivesse vermelho. Por favor. Por favor. Ela não pode lidar com um bastão azul agora. Esteja vermelho. Por favor.
Mas ele não estava.
E ao ver o pedaço de plástico azul, Sophie simplesmente começou a soluçar o mais alto que pôde, deixando-se chorar como não se lembrava de já ter chorado alguma vez em sua vida. Deixando com que todo o seu desespero e a sua insegurança saíssem livremente pelos seus olhos e escorressem pelas suas bochechas, ecoassem pela sua garganta, fizessem-na chorar como uma criança boba. Pronto. Era isso, não havia mais volta. Sophie era, definitivamente, uma garota idiota e irresponsável, que acabara de sacrificar sua vida e tudo o que havia nela. Agora, com certeza, ela havia acabado de traçar um novo rumo para sua vida, só por que era idiota. Havia acabado de destruir tudo o que construíra e iria construir, por que era irresponsável. Iria perder a consideração de seus pais, tios, padrinhos, amigos, e do resto do mundo, por que era uma burra. Iria provavelmente perder o amor de sua vida por que era irresponsável. Sophie iria perder tudo.
Só por que era uma idiota e havia engravidado.
Ela soluçou mais alto e viu a porta sendo arrombada. Danna viu o bastão de plástico azul jogado no chão do banheiro, e Sophie não pensou duas vezes antes de se jogar aos braços da irmã, ainda soluçando com força. Danna não falou nada. Nem deveria, afinal, Sophie sabia que já estava tudo arruinado. Tudo por culpa dela.
E o bebê... o bebê não merecia isso. Ele não merecia ser arruinado junto com ela. De todas as pessoas envolvidas nisso, o bebê era o que menos merecia.
Por que, ora, vamos encarar os fatos! Quantas vezes Sophie não vira isso acontecer?
A garota engravida. Ela e o namorado vão morar juntos, depois de ele desistir de tudo por qual havia lutado por. Começa a trabalhar, enquanto ela tenta cuidar do bebê, mas não consegue, pois é muito nova e inexperiente, e tudo acaba começando a desmoronar. Ela e o namorado começam a brigar incessantemente, ambos estressados com a vida que não deveriam ter e não conseguem sustentar. Eles se separam e ela volta a morar com os pais, enquanto a criança cresce com uma mãe amarga e um pai ausente. O futuro dela, e o amor que ela tinha por ele, se vão por que ambos não conseguiram aguentar a barra que é ter um filho antes da hora.
Isso por que, na maioria das vezes, o amor não é o suficiente. Especialmente nesses casos.
Sophie se lembrou da conversa que teve por acaso com Jeremy três dias atrás. Ele havia lhe confidenciado de que daria setenta por cento de sua parte na empresa para Luke assim que ele terminasse sua faculdade, o que já faria dele rico e completamente responsável. É óbvio que Luke jamais teria nada disso se ele se juntasse a Sophie para cuidar do bebê. É óbvio que ele deixaria a faculdade e começaria a trabalhar da mesma forma que trabalhava antes, ganhando um salário minimamente pequeno para manter uma família. Jeremy talvez ficasse tão decepcionado que iria fazê-lo trabalhar como nunca para entender a importância de uma família. Katt passaria a odiar Sophie, do jeito que era superprotetora com o filho. Sophie seria a vilã da história, sempre, para ela. E isso muito provavelmente iria gerar uma briga entre Hayley e Katt, que eram grandes amigas, mas fariam das tripas coração para defender seus próprios filhos. Só para variar, também teria um distanciamento entre as famílias.
Então, depois de Luke ter perdido todo o seu futuro, seu diploma na Ivy League, sua parte na empresa do pai, e obviamente não ter conseguido absolutamente nada como o profissional que sempre sonhou ser, ele passaria a culpar inconscientemente Sophie e o filho deles pela sua grande falha. Eles começariam a brigar sério, e a cada briga, o amor intenso que os envolvia iria se dissipar um pouquinho.
Até não haver mais nada.
Sophie não soube exatamente quanto tempo ficou no ombro de Danna, chorando, mas não disse nada quando a largou. Seguiu para o seu quarto, sentou-se em sua cama, e continuou chorando, um pouco mais baixo, refletindo sobre o que iria fazer com sua vida de agora em diante. Uma coisa era certa: a sua vida, ali, era a que menos importava. Com essa gravidez, Sophie não arruinava apenas a sua vida. Iria mudar tudo, absolutamente tudo, na vida de todos os que a acompanhavam.
Ela não queria isso. Não queria arruinar a faculdade de Luke, seus pais, seus tios. Não queria arruinar sua própria vida. Não queria arruinar a vida do bebê.
E foi por isso que, quase duas horas depois, quando Danna apareceu em seu quarto com algumas coisas para ela comer e perguntou em tom calmo o que ela iria fazer, Sophie disse, quase sem som:
— Eu não vou criar essa criança.

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