23 de set. de 2012

Capítulo 38

It's such a shame for us to part







Danna respirou fundo, tentando inutilmente inibir o nervosismo. Mas era realmente impossível fazer isso, ainda mais agora que Hayley a encarava com um misto de surpresa e insegurança.
— Hm... claro — ela disse, suspirando igualmente e dando espaço para Danna adentrar a casa.
Ela agradeceu brevemente, tratando de entrar na casa de Hayley, e sentindo o nervosismo apenas aumentar dentro de si. Nunca na vida se imaginara fazendo aquilo, mas ela não tinha escolha. E além do mais, estava decidida a falar com Hayley. Mesmo que isso no fim não significasse nada.
Ela apenas precisava.
— Eu não queria ter aparecido sem mais nem menos, assim — Danna disse para Hayley, já em sua sala de estar. — Mas não tinha como te avisar, e não queria fazer isso por outra pessoa... então achei melhor apenas... vir. Me desculpe o incômodo.
Hayley deu um sorriso singelo.
— Não tem problema — falou, sendo simpática, mesmo estando um pouco surpresa ainda com a visita da garota (Danna, ela havia dito seu nome, afinal). Não esperava que fosse revê-la tão cedo, mesmo que soubesse que um dia, teria de fazê-lo. Mas ela não sentia nada de ruim em relação a menina. Não tinha porquê. — Bem... o que te trouxe até aqui?
Danna mordeu o lábio inferior. O que te trouxe até aqui? Era uma das perguntas que a própria Danna continuava fazendo a si mesma. A verdade... é que ela não sabia bem o porquê. Aliás, sabia, sim, que precisava ir até lá por que precisava reconstruir o que havia destruído, mas isso parecia meio louco. Ainda assim, Danna estava lá, de frente para Hayley, nervosa, sem saber por onde começar.
— Eu vim... falar com você — ela disse, controlando-se para não olhar para as próprias mãos. — Eu precisava vir para... acima de tudo... me desculpar pelos problemas que eu causei.
— Danna, certo? — Hayley perguntou, encarando a jovem a sua frente. Ela fez que sim com a cabeça. — Escuta, você não precisa se desculpar, ok? Não tem por que... afinal, nada é culpa sua. — Ela respirou fundo outra vez, fazendo uma pausa. — Eu devo pedir desculpas pelo que eu te disse naquele dia no quartel, não era minha intenção. Eu apenas estava... tensa. Chocada, triste, de cabeça quente. Não foi minha intenção fazer com que você se sentisse mal, ou culpada.
Danna deu um meio sorriso, quase imperceptível.
— Aquilo não foi nada — ela disse. — E... eu entendo que você ache que não é minha culpa. Na realidade, não é a primeira vez que eu escuto isso. A questão... é que eu não... consigo me sentir bem. Não consigo simplesmente acreditar. Eu precisei vir...
Hayley encarou aquela garota com compaixão. Ela realmente parecia estar... se sentindo culpada por Josh. Estava se sentindo culpada por algo que ela deveria estar com raiva. Estava pedindo desculpas, quando na realidade, ela deveria desculpar.
Isso era apenas tão irreal.
— Bem... você... não deve se sentir mal por isso. Tudo que aconteceu não foi você que causou. — Hayley disse, depois de um tempo.
— Eu sei. E realmente prometi pra mim mesma que não me meteria mais nessa história — Danna disse, hesitando. Suspirou. — Prometi que ia viver fora do caminho de vocês todos, para... poupar o sofrimento, entende? Pra não me sentir mais culpada ainda. E eu ia fazer isso, até... — ela olhou para baixo, procurando coragem. — ...até Jenna me procurar.
— Jenna? — Hayley perguntou de imediato, confusa, ainda sem entender no que aquela conversa levaria.
Danna assentiu com a cabeça.
— Eu não esperava vê-la — disse ela. — A pessoa que eu mais... odeio no mundo, é ela. E... realmente parece que o sentimento é recíproco, mesmo que eu nunca tenha feito nada de ruim à ela; como todas as vezes que ela me procurou, foi para... me deixar mal. Mas dessa vez... ela... me “agradeceu” — Danna fez aspas com os dedos. — Ela me agradeceu por ter conseguido finalmente “destruir a vida do Josh e da Hayley”. Como ela mesma disse. — Danna terminou de falar e Hayley abriu a boca levemente, em completa surpresa. — Foi inevitável não me sentir culpada. Ninguém pode negar que você e Joshua só se separaram por que eu apareci naquele quartel. Eu provoquei tudo isso, e... Jenna, ela...
— Danna, pare — Hayley disse com calma. — Jenna é uma completa vadia e sempre foi. Ela só tenta atingir as pessoas que ela julga melhores do que ela, entenda isso — ela respirou fundo, encarando a garota. — E você não precisa se sentir culpada, por que a culpa não é sua. Você teve e tem o direito de procurar o seu pai. Se existe algum culpado aqui, esse culpado é o Josh. E você não precisa pedir desculpa, ok? O único que deveria pedir perdão é o Josh, e ele deveria pedir a você.
— Ele pediu — Danna disse imediatamente, e Hayley a encarou com uma face confusa. — E na realidade, esta é a maior razão para eu estar aqui.



#Flashback#



Era o primeiro dia de trabalho de Danna desde que sua carteira fora assinada. E verdadeiramente falando, ela não queria trabalhar.
Mas ela não podia perder o emprego, que lhe parecia uma grande chance. Era tudo o que Jenna iria querer. Que sua visita fosse dolorosa o suficiente para fazer Danna perder o emprego e voltar à fossa.
Ela não podia deixar isso acontecer.
— Tá tudo bem? — Dakotah, sua chefe, perguntou-lhe. Danna editava algumas fotos novas no computador da empresa, enquanto repassava tudo o que Jenna havia lhe dito no dia anterior. E Hector também.
Por isso sua face estava tão triste. Tanto que até mesmo Dakotah, que mal lhe conhecia, notou.
— Aham — respondeu, mentindo. — Já estou terminando aqui.
— Hum... eu sou boa com mentiras, sabia? — Dakotah disse, atraindo a atenção de Danna, que tentou sorrir. — Não precisa mentir, ok? Precisamos de uma relação amigável aqui.
Danna tentou sorrir novamente.
— Você é oficialmente a chefe mais legal que existe — disse, fazendo Dakotah rir. — Aconteceram algumas coisas, que... me deixaram pra baixo. Mas não se preocupa. — Foi isso que Danna disse. Sem mentir, mas omitindo. Afinal, essas coisas que aconteciam frequentemente no passado, não só lhe deixava para baixo durante algum tempo. Lhe deixou para baixo durante a vida toda. E foram essas coisas que fizeram com que Danna fizesse tudo de ruim que já tinha feito na vida.
Essa coisa era sua mãe. Que não media esforços para transformar sua vida num inferno.
— Tudo bem, vamos tomar um café, você está precisando — Dakotah disse, insistindo para Danna se levantar.
— Não, tá tudo bem, eu só preciso terminar isso aqui, e...
— Vamos, Danna. Tem uma Starbucks no prédio ao lado. — Dakotah insistiu, e Danna suspirou.
— Realmente acho que...
— Vamos lá, menina — ela pegou a mão de Danna, tirando-a do mouse do computador. — Eu sou a chefe, lembra?
Danna deu um meio sorriso.
— Ok, você venceu — disse, seguindo com Dakotah até o elevador, que não demorou nada e já havia chego ao térreo. Conversavam sobre o trabalho até que adentraram a Starbucks e se dirigiram até uma mesa na janela.
Danna se sentou.
— Você não vai sentar também? — perguntou à Dakotah, que esboçou um sorriso.
— Na verdade... não — disse, encarando-a simpaticamente. Danna franziu a testa, confusa. Então o olhar de Dakotah parou de encará-la e fixou-se em um ponto desconhecido, atrás de Danna, que continuou completamente confusa até o homem aparecer em seu campo de visão. — Ele vai.
Danna deixou a boca abrir em pura incredulidade, enquanto Dakotah mantinha o sorriso no rosto. Josh sorriu para ela.
— Obrigado, Dak — disse, ainda sorrindo.
— Por nada — ela respondeu ainda esboçando seu sorriso. — Vou deixar vocês dois conversando.
E então Dakotah saiu dali, enquanto Josh se sentava de frente para Danna, que ainda estava incrédula. O que... Como...? Josh estava ali para... quê?
— Como... vocês se conhecem? — ela acabou perguntando.
— Dakotah é uma grande amiga desde a adolescência. Conheceu sua mãe. Quando viu seu sobrenome, soube quem você era, e então me avisou... — Josh respondeu, olhando nos olhos de Danna. — Eu estava procurando você.
Danna franziu a testa.
— Por quê?
Josh suspirou.
— Por que preciso conversar com você — ele respondeu, calmo. — Você tem todo o direito de não querer falar comigo, ou... de não querer me ver. Não existe uma palavra que diga o quão errado foi o que eu fiz, especialmente com você, Danna. E acredite em mim quando eu digo que... todos esses anos... a culpa sempre tomou conta de mim. Mas eu só não interferi de verdade na sua vida por que achava, verdadeiramente, que você estava feliz.
Danna encarou Josh, enquanto ele dizia tudo aquilo. De repente, sentiu uma vontade avassaladora de... escutar o que ele tinha a dizer.
— O que vão querer? — perguntou a garçonete, que havia encontrado a mesa.
— Um Frappuccino, por favor — Danna disse baixo e a garçonete anotou.
— O mesmo — Josh disse, e a mulher deu um sorriso e um aceno de cabeça antes de sair.
Danna respirou fundo, vendo a garçonete sair de perto.
— Sabe, Josh... — ela disse, encarando as próprias mãos. — Eu jamais senti raiva de você. Não pense que eu não iria querer te ver, ou algo parecido. Não é o tipo de coisa que eu faria.
Josh assentiu com a cabeça.
— Me disseram que você era mesmo assim. Só precisava... garantir. De qualquer maneira, eu acho que você merece ouvir toda a história — ele disse, respirando fundo. Estar ali não era exatamente fácil, mas Josh sabia que tinha escolhido isso. Ele precisava... ao menos tentar conversar com ela. Tentar fazer com que ela visse seu lado da história. Ela tinha, acima de tudo, direito de saber. Por isso ele começou a falar: — Eu ainda não tinha vinte e um anos quando voltei da guerra. E eu não era mais a mesma pessoa, por que... eu não tinha ninguém. Além, é claro, da minha mãe e dos meus irmãos, mas... eram só eles. Meus amigos tinham ido embora, e... eu havia perdido e magoado a única mulher que amava. Juntando isso com ver o meu melhor amigo morrer nos meus braços, eu estava... perturbado. E isso fez com que eu me tornasse uma pessoa fria e inexpressiva, mais do que eu já era. E como eu não queria ser um encosto pra minha família nem continuar sem tratar a minha... perturbação, eu me realistei. E três dias antes de ir para Louisville, eu reencontrei a sua mãe. Ficamos bêbados. — Josh fez uma pausa, suspirando. Danna o encarava com interesse e relutância ao mesmo tempo, como se quisesse e não quisesse saber de tudo aquilo. De qualquer forma, Josh continuou falando. — Foi só uma noite. Uma noite que eu preferi deixar como irrelevante. Até o dia que eu recebi a carta dela falando sobre você... e foi aí que eu fiz a maior besteira da minha vida. — Ele olhou para baixo, sem conseguir encarar o rosto de Danna. — Jenna queria uma família. Ela queria algo que eu não podia dar a ela, e a você... por que você era tão pequena, e eu... estava tão concentrado na minha carreira, e na minha vida, que... eu coloquei na cabeça que não podia ter uma filha. Então eu paguei a sua mãe para não dizer nada a ninguém e voltei para Louisville. — Josh suspirou, ainda encarando as próprias mãos. A garçonete apareceu e deixou os copos sobre a mesa, mas ele nem sequer tocou no seu. — A cada dia que se passava, eu sentia... culpa. Por ter abandonado minha filha pra viver minha vida egoísta que eu nem sequer podia compartilhar com ninguém. Por saber que você estava crescendo e eu não estava lá pra ver. Eu já me sentia tão horrível por ter feito o que fiz com a Hayley, e depois o que eu fiz com você, mesmo que você ainda não tivesse consciência disso, fez com que... eu... me odiasse. Eu não queria que você tivesse um pai como eu. Eu não queria que ninguém tivesse um parente como eu. Por que... eu tinha afastado tudo que eu amava de mim, Danna. Até mesmo minha própria filha. Você não merecia ter uma pessoa como eu para te criar, por que eu... simplesmente não iria conseguir. Eu era... tão fraco... — Josh passou a mão pelo rosto, e levantou o olhar para o rosto de Danna. Notou que seu lábio inferior havia começado a tremer e ela se controlava para não deixar as lágrimas caírem. Assim como ele. — Mas eu te amava, minha filha. E me preocupava com você. Sempre me preocupei. Eu soube quando você deu seu primeiro passo, com um ano e dois meses de idade. Soube quando você falou a primeira palavra. Recebia fotos e cartas da sua mãe me dizendo da criança maravilhosa que você era, e mesmo a distância, eu acompanhei o teu crescimento. Jenna me dizia que você era feliz... ela me dizia que você era talentosa, e gostava de pintar e fotografar, e até ganhava prêmios por isso... Ela me disse que você era feliz e eu acreditei. Acreditei que você estivesse na universidade até um mês atrás, por que... ela me fez acreditar. — Josh deixou uma lágrima cair, ainda olhando nos olhos da filha. — Eu devia saber que não era verdade... eu devia saber que você estava sofrendo, eu devia... ter ido tirar você de lá. Devia ter mostrado pra você o que era o amor desde sempre. Eu devia saber, Danna, mas eu não sabia... Eu deixei você viver desse jeito, eu deixei que isso acontecesse, e... eu falhei tanto nisso... — Josh olhou para baixo, deixando as lágrimas caírem livremente de seus olhos, assim como já o faziam com Danna. Era a primeira vez em muitos, muitos anos que ele chorava. — Eu me dei conta de que tudo isso que eu sou, ou finjo que sou... é a mais pura máscara. Dentro de mim, no fundo, está um cara falho que simplesmente não consegue fazer nada certo. Eu me culpo, sempre, por ter feito o que eu fiz com você, especialmente depois do que eu soube. Mas... do meu jeito, à distancia, eu te amei, Danna. E te amo como qualquer um dos meus filhos. E... tudo isso o que está acontecendo agora na minha vida é culpa minha. Mas, agora, eu me dei conta que preciso tentar fazer a coisa certa pelo menos uma vez na minha vida... — Josh fungou, e olhou no fundo dos olhos chorosos de Danna. Ela mordeu o lábio inferior, tentando controlar suas lágrimas. — Eu sei que eu não tenho nenhum direito de te pedir nada. Mas... me perdoa, minha filha. Me perdoa por ter te abandonado ainda bebê. Me perdoa por não estar presente quando você falou sua primeira palavra ou fez seu primeiro recital na escola. Me perdoa por não te acompanhar nas peças de teatro e nem te levar ao médico quando você ficava doente. Me perdoa por não ter bancado o pai chato quando você arranjou o primeiro namoradinho. Me perdoa por não estar lá pra poder te privar de todo o sofrimento que a sua mãe te fez passar. Me perdoa por ter feito você crescer sem um pai. Me perdoa... por tudo de ruim que eu te provoquei. Me perdoa por nunca ter aparecido para dizer o quanto eu te amo, minha filha. Me... perdoa por tudo... — Josh soluçou, deixando com que as lágrimas lavassem seu rosto enquanto ele dizia tudo aquilo que era mais do que verdade. Tudo aquilo que ele tanto precisava dizer à Danna. Todo aquele sentimento e a culpa que por tanto tempo lhe corroeram. Pela primeira vez em vinte anos, Josh chorava. Chorava por ter sido tão falho em relação a filha,que ele jamais deveria ter feito sequer um mal. Agora, as lágrimas saíam de seus olhos por que ele implorava o perdão de Danna, a sua filha que ele abandonara, mas que amava assim como seus outros três filhos. Mesmo que Josh julgasse não merecer, lá estava ele: chorando, abrindo-se, suplicando o perdão de sua filha. A filha que sofrera tanto por causa dele.
Danna, ainda chorando por causa de tudo que Josh disse para ela, apenas se impulsionou para frente e passou os braços pelo pescoço de Josh, abraçando-o. Josh se deixou soluçar enquanto apertou-a para si, mexendo em seu cabelo como se ela não fosse uma mulher, e sim uma criança assustada, que procurava abrigo nos braços do papai. Danna apertou os dedos ao redor dos ombros de Josh e afundou o rosto choroso em seu pescoço, enquanto ele, igualmente choroso, afagava-lhe os cabelos com carinho, e repetia mais uma vez para ela perdoá-lo e que a amava.
Depois de alguns minutos abraçando-o, Danna se separou, limpando as lágrimas de seu rosto com as mãos. Respirou fundo, procurando estabilizar-se, mas era difícil uma vez que as lágrimas ainda insistiam em cair. Quando achou que estava pronta, ela disse:
— Eu nunca vou te culpar pelo que aconteceu comigo. A culpa não foi sua, foi dela, Josh... Eu já disse isso pra você uma vez, e digo outra... eu agradeço a você por você ser o meu pai, por que isso fez com que eu não me tornasse como ela... e saber que você se importava tanto comigo faz... com que nem tudo fosse tão ruim. Por que era nisso que eu acreditava — Danna fungou outra vez, sem se controlar. — Eu acreditava que você se importava e que tinha um bom motivo para não me procurar, e por isso eu nunca nutri nenhum tipo de sentimento ruim em relação à você... Por isso também eu nunca me meti na sua vida, por que eu sabia que você tinha uma família e eu queria que você e os meus irmãos fossem felizes. Por isso eu sinto tanta culpa... por ter... causado tudo isso.
— Você não causou nada — Josh a cortou. — Eu fiz isso. Eu não devia ter feito nada do que eu fiz com você, Danna. A culpa é toda minha, e eu quero consertar tudo de ruim que eu fiz. Mas para tentar... eu tenho que começar pelo meu maior erro. Por isso eu te peço perdão.
Danna soluçou, assentindo.
— Eu te entendo — ela passou os dedos pelos olhos, procurando inibir as lágrimas, antes de olhar nos olhos de Josh. — E te perdôo, pai.



#Flashback off#



Hayley deixou a mandíbula cair levemente, assim que Danna terminou de narrar por alto o que havia acontecido entre ela e Josh. Não estava surpresa por ela ter lhe dito que Josh havia pedido perdão, pois isso ela achava que ele deveria fazer. Ela estava surpresa por saber que Josh se importava com ela de verdade. Além disso, estava surpresa por que Danna havia dito que Josh haviachorado enquanto lhe implorava perdão.
E se Josh havia chorado... realmente o baque tinha sido muito forte.
O que a deixara surpresa também era o fato de que Danna, mesmo tendo sido ignorada pelo pai durante toda a vida, perdoou-o logo que ele pediu. E o fez de coração. Mesmo depois de tudo.
— Eu... — Hayley começou a dizer. — Eu... ainda não entendo como você não sente raiva dele...
— Hayley — Danna disse, umedecendo os lábios —, Josh ser o meu pai foi provavelmente a melhor coisa que já me aconteceu. Foi ele que... fez com que eu não me tornasse como ela. Eu jamais culpei ele por qualquer coisa que tenha acontecido na minha vida.
Hayley olhou para baixo, mordendo o lábio.
— Jenna foi uma mãe tão má assim? — perguntou, receosa.
Danna suspirou.
— Ela era muito pior do que “má” — ela disse, depois de um tempo. — Ela não hesitava nenhuma vez ao me ofender e me infernizar. Ela sempre, sempre dizia que eu era uma inútil, imprestável, que espalhava desgraça por onde passava. Dizia que eu tinha arruinado a vida dela e por isso ela não ia medir esforços para arruinar a minha. Ela... me odeia — Danna olhou para o lado, suspirando. — Eu cresci assim. Acreditando em tudo que ela me dizia, desde criança, sendo humilhada e ofendida diariamente num ambiente que eu deveria chamar de lar. Você... não sabe o quão horrível é conviver com uma pessoa que não hesita em te machucar.
Hayley mordeu os lábios, suspirando.
— Sim, eu sei — disse, calmamente. — Tive um padrasto quando era adolescente. Não era muito diferente. A diferença era...
— Que ele não tinha nenhum laço de sangue com você — Danna engoliu em seco, enojada apenas por lembrar de Jenna. — Não como a minha própria mãe fez comigo. — Ela fez mais uma pausa, encarando Hayley. — Por isso eu não odeio o Josh, Hayley. Ele se importava, mas... não podia se aproximar. Ele não podia por que achava que eu era feliz, quando na verdade, eu sofria todos os abusos e a humilhação da Jenna. Ela provocou o meu inferno pessoal, Hayley, e ela... está fazendo isso com você também... — ela sustentou o olhar de Hayley sobre o seu. — Jenna mandou o bilhete que te fez ir ao quartel. Foi ela que provocou tudo isso.
Hayley arregalou levemente os olhos, abrindo a boca em surpresa.
— O bilhete... — ela sussurrou, caindo em si. — Uma mulher loira. É claro.
— Foi ela — Danna reforçou, enquanto Hayley bufava. Na verdade, não por causa do bilhete, mas por saber que fora avisada de tudo aquilo simplesmente para nutrir uma vingança idiota deJenna. Bufou de raiva por saber que mesmo depois de tanto tempo, aquela vadia ainda insistia em se meter na sua vida.
Sentindo a raiva correr pelas suas veias, Hayley passou a mão pelo rosto.
— Eu estava imaginando quem poderia ter mandado aquele bilhete. Agora tudo faz sentido.
Danna colocou uma mecha de cabelo por trás das orelhas, vendo Hayley ainda passar as mãos pelo rosto, como se estivesse realmente inquieta. Ela respirou fundo.
— Josh te ama demais, Hayley — disse, baixinho, quase num sussurro. Hayley levantou o olhar, encarando aquela garota com os olhos verdes cansados. — Conversamos mais depois do Starbucks, e ele foi para a casa onde eu estou morando. Ele me contou tudo, e... Deus! Ele te ama tanto...
Hayley olhou para baixo, detestando-se por sentir vontade de chorar.
— Não se trata apenas de amor — ela disse baixo, controlando-se.
Danna hesitou.
— Então se trata do quê? — ela disse, encarando Hayley com firmeza. — Durante toda a minha vida, eu nunca soube realmente o que era o amor. Eu cresci cheia de ódio, raiva, insegurança, culpa, maldade, sofrimento, dor... Eu passei toda a minha vida completa por esses sentimentos horríveis, que me fizeram fazer coisas mais horríveis ainda. E... eu só fui realmente descobrir o amornessas últimas semanas... — Danna suspirou brevemente, vendo que o olhar de Hayley se concentrava nela novamente. — E agora eu... estou amando, Hayley. E... meu Deus! Isso é tão maravilhoso! Eu me sinto tão completa, tão... feliz. Agora que eu estou experimentando do amor, os outros sentimentos ficam tão... pequenos, tão... insignificantes. Eu... sinceramente não me vejo mais sem o amor. Então, sim, Hayley, tudo isso se trata de amor. Por que é ele que... nos faz feliz.
Hayley engoliu em seco, tentando ao máximo segurar suas lágrimas.
— Não é assim — ela disse, respirando fundo. — Eu tentei muitas vezes me entregar ao amor. Mas ele só trás... sofrimento. Eu não quero mais sofrer assim por causa desse amor.
— Hayley — Danna a encarou, séria. — Eu passei a minha vida inteira a mercê do sofrimento. Eu sei muito bem o que é sofrer, o que é sentir dor, e eu cheguei aos pontos extremos desse sentimento. Mas... eu não desisti do amor. — Danna olhava Hayley com uma expressão quase serena, o que apenas deixava a mais velha com mais vontade de chorar. — E você também não desistiu, não é? O teu amor sobreviveu a uma separação de duas crianças inocentes, a brigas e ódio, a sofrimento e armações, e sobreviveu até... a uma guerra. Uma guerra! Caramba, o teu amor já sobreviveu a tanta coisa! Você... não pode desistir agora por minha causa — Danna engoliu seco e apoiou os cotovelos nos joelhos, enquanto encarava Hayley novamente. — Você não deve desistir do amor, por que ele não desistiu de você. E... Hayley, se eu pude perdoar meu pai mesmo com tudo o que eu passei... você pode perdoá-lo também.



Eu estou caindo aos pedaços... mal consigo respirar.
Com um coração partido, que ainda está batendo.
Na dor, existe cura?
Em seu nome, eu encontro significado.
Então, eu estou esperando... Estou esperando... Estou esperando... Mal estou esperando por você.
.


[...]





Pov. Hayley
— Josh, deixa de ciúme bobo! Eu não tinha como voltar pra sua casa, por que eu passei o dia inteiro lá! Não podia ir pra casa do meu pai porque ele tá no clube, e minha casa tava trancada, porque a minha mãe saiu pra transar com
um desses caras quarentões que vai acabar casando com ela, vindo morar aqui e fazendo todo mundo sofrer de novo! Droga, Josh, vai á merda!
Eu estava chorando. E depois de explodir, senti os braços de Josh passarem pela minha cintura, me puxando para perto dele, colando nossos corpos e afagando meu cabelo. Apertei seus ombros e desabei, deixando minhas lágrimas de puro medo molharem sua camiseta.
Ele segurou meu rosto com uma das mãos e deixou um beijo no topo da minha testa, para depois sussurrar:
— Tudo bem... vai ficar tudo bem.
Não sei se foi bem pelo jeito dele de dizer, ou pela forma que seus olhos me passavam segurança, mas eu acreditei. Acreditei que tudo ia ficar tudo bem, por que uma onda de alívio invadiu meu peito oprimido pelo medo e pela ideia de ter de enfrentar... um novo Andrew.
Josh me fez sentar e contar toda a história para ele, e eu o fiz, deixando algumas lágrimas caírem enquanto isso. Detestava o fato de minha mãe simplesmente não entender o tanto que isso me machucava. Detestava e abolia a ideia de ter... de enfrentar todo aquele inferno de novo.
— E... é isso, Josh. — Foi o que disse, quando terminei de contar a história. — Puxa! Eu... eu não quero tudo de novo!
Josh assentiu com a cabeça, compreensivo.
— Olha, Hayles, eu sei que você tá triste e com medo... mas sei lá, esse cara pode ser legal... — ele disse, visivelmente escolhendo as palavras que deveria usar.
— Josh, não tem nem 2 meses que a gente voltou pra Franklin. — Rebati, secando uma lágrima que ainda insistia em descer.
— Mas... — Josh mordeu um lábio. — Hm... você não disse que eles eram amigos na adolescência?
— É...
— Então... nós éramos amigos quando crianças... — apesar de me contradizer, ele parecia completamente calmo, e eu não sentia a mínima vontade de discutir com ele por causa disso. Em parte... ele até tinha razão. — Na verdade... chegamos até a nos casar. — Ele deu uma risada gostosa, e mesmo que uma lágrima rolasse pelo meu rosto pálido, eu não deixei de rir também. Uma gargalhada pequena saiu pela minha garganta e eu vi que seus olhos brilharam levemente.
Suspirei.
— Eu sei, Josh... mas o Andrew era tão horrível, que eu... eu não consigo imaginar um cara com a minha mãe... eu sinto muito, mas ela simplesmente não sabe escolher. O meu pai, que foi com certeza o melhor dela, a traiu. O
Andrew, meu Deus! Não tem nem como dizer... — Respirei fundo outra vez, passando as mãos pelo rosto. — Eu só não consigo pensar em um cara legal com a minha mãe.
— Bem... — Josh fez uma pausa, hesitando. — Acho que você precisa conhecer o cara antes...
Suspirei novamente, cansada.
— É... — concordei. — Talvez você tenha razão.
— E de qualquer forma, se ele fizer alguma coisa, qualquer coisa contra você, você sabe, ele morre. — Depois dessa, ele deixou uma meia risada aflorar no canto de sua boca e eu tive de rir. Ele se aproximou, tocando meu rosto com a mão. — Tô falando sério.
Então ele me abraçou, fazendo com que eu me sentisse bem com o mundo novamente. Como se por um segundo, todas as minhas inseguranças, os meus medos, sofrimentos e machucados se fossem simplesmente por que eu estava com ele.
Como se... o seu abraço fosse a minha cura. Para qualquer coisa que fosse.
Percebi que iria querer aquele abraço pelo resto da minha vida.



Hayley abriu levemente os olhos, dando de cara com o livro aberto em seu colo. O abajur também estava ligado, e seu relógio marcava 2h19 da manhã. Suspirou.
Passara metade da noite tentando dormir, mas não conseguira de maneira nenhuma. Sua cabeça estava um turbilhão de pensamentos, seu coração inundado por sentimentos. Todas as palavras de Danna ecoavam em sua mente, indo e vindo, fazendo com que Hayley pensasse mais e mais sobre tudo aquilo. De modo que ela não havia conseguido dormir, e quando finalmente conseguira...
Bem, sonhara com Josh.


“O teu amor sobreviveu a uma separação de duas crianças inocentes, a brigas e ódio, a sofrimento e armações, e sobreviveu até... a uma guerra. Uma guerra! Caramba, o teu amor já sobreviveu a tanta coisa!”


Mesmo sem conhecer aquela garota direito, Hayley tinha de convir que ela tinha razão. Ela tinha muita razão sobre isso.
O amor dela tinha sobrevivido a coisas absurdas, coisas a que nenhum outro amor havia sobrevivido. O amor que existia entre Hayley e Josh era... maior do que os sofrimentos. Como Danna havia dito, ele tornava os outros sentimentos pequenos e insignificantes. Esse amor completava-os.
Hayley se pegou pensando se não estaria sofrendo pela falta do amor. Ou melhor, pela falta do amante.
Droga, essa era a verdade. Hayley sentia saudade de Josh. Mesmo depois de tudo, ela sentia tanta saudade dele que era quase insuportável. Por isso ela sempre procurava por ele ao acordar. Por isso ela sempre sentia um enorme vazio em seu peito, que ela sabia, ela tinha certeza que não ia se preencher por outra pessoa. Ela sentia tanta falta do seu cheiro, do seu toque, dos seus beijos, da suas palavras, do seu carinho, do seu corpo... ela sentia tanta falta dele por completo que era dilacerante.
Secando a lágrima que havia deixado cair, Hayley fechou o livro que estava no seu colo, lembrando-se das palavras de Danna e de como o abraço de Josh havia sido reconfortante naquele dia, há tantos anos atrás, quando eles compuseram Breathe. Sentiu um arrepio correr sua espinha e mordeu o lábio, impedindo-o de tremer e começar a chorar outra vez. Outra vez.
Mas ela sabia que dessa vez não iria chorar por que estava com raiva de Josh pelo que ele havia feito. Dessa vez, ela choraria por saber que ele não estava lá. Ela choraria... de saudade.
E ela chorou. Deu livre passagem para as lágrimas lavarem seu rosto e deixou que os soluços fluíssem de sua garganta, fazendo o mínimo de barulho possível. Sentindo o peito doer, ela chorou. Chorou copiosamente, simplesmente por sentir tanta falta do homem que tanto amava. Chorou por ele, chorou por ela mesma, chorou pela dor, chorou pela saudade, chorou por sentir saudade. Chorou por que precisava chorar. Chorou por que queria chorar. E chorou por vários minutos, até ela achar que era o suficiente ou que já havia passado do limite.
Então, fungando, sentindo os olhos doloridos e o nariz irritado, ela se dirigiu até o banheiro. Lavou o rosto, jogando água fria em seu rosto inchado pelas lágrimas, e quando terminou, olhou-se no espelho.
Um suspiro escapou de sua garganta. Ela estava uma bagunça!
Não apenas sua aparência, mas também... seu interior. Dava para ver em seus olhos verdes sem brilho. Sua bagunça interior ia muito além do seu cabelo frisado preso num coque ou o seu rosto inchado sem nenhum vestígio de maquiagem. Hayley estava uma bagunça de sentimentos, de pensamentos, de emoções. Ela estava uma bagunça por que sua vida estava uma bagunça. Estava uma bagunça por que era isso que Josh provocava nela. Era isso que a falta de Josh provocava nela. Era isso que o maldito orgulho, a maldita saudade, a maldita incerteza e o maldito medo provocavam nela.
Bagunça.
Hayley Nichole Williams estava uma verdadeira bagunça.
Então, olhando-se no espelho, Hayley bufou de impaciência e decidiu jogar seu orgulho e seu medo para o lado. Ora, vamos encarar os fatos! Ela precisava enfrentar a situação. De frente.Não por meio de um processo judicial, ou uma conversa sem querer com Josh. Ela precisava enfrentar a situação como Danna fez esta tarde. Ou como Josh fez com ela há alguns dias atrás.
Ela tinha de enfrentar de verdade a situação.
E foi por isso que ela soltou o cabelo, passando a escova rapidamente por eles logo depois. Foi por isso que ela pegou o rímel no armário do banheiro e passou pelos cílios apressadamente. Por isso ela voltou ao quarto e vestiu sua calça jeans, seguida por uma blusa e um sobretudo, pois era madrugada e lá fora devia estar fazendo muito frio.
E foi por isso que ela pegou as chaves do carro e saiu de casa, às quase 3h00 da manhã.
Ela realmente não estava pensando muito no que fazia quando pegou a estrada com o carro de Sophie. Era como se seu bom senso estivesse paralisado pela decisão maluca que havia tomado. Agora que estava dirigindo, ela não daria para trás. Pelo menos, ela não pensava em o fazer.
Agora Hayley iria enfrentar a situação.
Precisou circular aquele lugar da cidade por umas três vezes até achar o prédio que queria. Quando o carro parou no estacionamento, Hayley suspirou, olhando a si mesma no reflexo do retrovisor. Então retirou a chave da ignição e apertou o sobretudo contra o corpo, sentindo o frio bater contra a sua face descoberta. Batendo as sapatilhas contra o asfalto da calçada, ela se dirigiu até a entrada do prédio que queria chegar.
O porteiro, que claramente estava cochilando, assustou-se ao ver Hayley por lá tão tarde. Mas ela só precisou dar algumas explicações para que o homem dissesse em qual apartamento ela precisava bater e em que andar ele estava. Ela agradeceu e subiu, já não apertando mais o sobretudo contra o corpo, por que o ar do prédio já chegava a ser quase aconchegante.
Desacelerou o passo quando saiu do elevador e adentrou o andar do apartamento onde queria estar. Com o número que o porteiro tinha lhe dito na cabeça, Hayley foi até o fim do corredor, sentindo o coração apertar contra o peito.
Com as pernas praticamente se movendo por conta própria, ela andou até o apartamento certo e fechou o punho, pousando-o na porta. Fechou os olhos, suspirando, e bateu três vezes com firmeza na madeira.
O tempo que esperou não passou de um minuto, mas para ela, pareceu quase uma eternidade. Sua respiração estava desregulada, seu coração batia a mil por minuto, mas ela não daria para trás. Já estava ali. Que levasse sua loucura adiante, então.
Quando a porta foi aberta, ela precisou segurar o ar dentro dos pulmões, e sentiu, finalmente, uma onda de medo e insegurança atingi-la por inteiro.
— Hayley? — ele disse, parando de bocejar e dando lugar à um sorriso em seu rosto sonolento.
Aquele sorriso. Hayley se pegou esboçando um meio sorriso também.
— Oi, Josh — ela disse, tentando manter a calma. — Posso entrar?
Josh coçou a nuca num gesto nervoso, mas ainda com os lábios curvados em um sorriso calmo e surpreso ao mesmo tempo.
— Claro! Mas claro que pode! — respondeu, rindo nervoso.
Ela olhou para baixo, e com um outro meio sorriso nos lábios, adentrou o apartamento de Josh.
Como esperado, seu apartamento não estava completamente iluminado. Toda a luz da única sala de estar vinha de um lustre amarelo que ficava no teto. Hayley só o observou por um momento, até voltar seu olhar para Josh, que havia fechado a porta e agora, passava os dedos pelos cabelos desarrumados.
Ele estava dormindo, Hayley pensou. É claro, afinal, a maioria das pessoas normais estão dormindo às três da madrugada.
Claro que não era apenas os cabelos de Josh que mostravam que ele estava dormindo. Ele estava vestido com um short cinza de algodão que ia até pouco mais do meio de suas coxas, e uma camiseta regata branca completamente amassada estava pousada pelo seu peito bem definido. Hayley quase pôde ver Josh escutando as batidas na porta, pegando a camiseta e vestindo-a de qualquer jeito para poder se levantar. Sentiu vontade de sorrir com esse pensamento bobo.
Josh afrouxou os ombros e bocejou outra vez.
— Posso dizer com toda a certeza do mundo que você é a única pessoa que pode me acordar a essa hora no meio da noite e ainda assim fazer com que eu fique feliz — ele disse, dando um meio sorriso. Ela o fez também, brincando com a chave do carro nos dedos. Pousou-a numa mesinha que estava perto dela, e depois virou-se para Josh.
A pouca luz fazia seus olhos brilhantes ficarem mais penetrantes do que nunca. O sorriso em seu rosto fazia com que ela quisesse simplesmente não dizer nada e se jogar em seus braços. Droga.Por que ele tinha de ter tanto poder sobre ela, sem ao menos fazer sequer um esforço?
Por que ela tinha de ser tão... dele?
— Conversei com a Danna hoje a tarde —Hayley disse, de repente, fazendo com que as sobrancelhas de Josh se arqueassem em surpresa.
— Como assim? — perguntou, fingindo-se de confuso. — Oh! Que surpresa! Eu não tinha a menor ideia de que aquela menina levada faria uma coisa dessas.
Hayley deixou-se rir.
— Você sabia.
Josh sorriu também.
— Fui à casa dela essa tarde, mas Hector me disse que ela estava falando com você depois de hesitar bastante — Josh se explicou.
— Quem é Hector? — Hayley franziu a testa, até que se lembrou do que Danna havia falado sobre amor.
— Acho que é o namorado dela — Josh coçou a nuca. — Ainda não sei bem o que eles são, na verdade.
— Ah — Hayley disse, assentindo com a cabeça, e enfiando mais as mãos nos bolsos do sobretudo. Retirou o seu olhar do de Josh, encarando seus próprios pés, que não conseguiam ficar parados, devido ao nervosismo. — Ela me disse que você conversou com ela.
Josh passou a mão pela sua barba que estava para fazer. Parecia que agora que Hayley não lhe mandava fazer a barba, ele não o fazia por pura preguiça.
— Eu conversei — Josh respondeu em tom neutro. — Uma adolescente inteligente que por acaso é nossa filha me disse que nunca é tarde para fazer a coisa certa.
Hayley sorriu.
— Ela tem razão — disse, voltando a olhar nos olhos castanhos e hipnotizantes de Josh. — Danna me disse que você chorou.
Josh deixou seu sorriso aumentar.
— É. Chorei. — Respondeu, assumindo.
— A última vez que te vi chorando foi quando você tinha sete anos e o Zac tinha quebrado seu carrinho — Hayley disse, ainda com o sorriso brincando nos lábios. — Você... nunca chora.
Josh deixou o seu sorriso aliviar nos lábios, até ficar quase sério.
— Eu choro. Deixei uma lágrima cair naquela noite em que ficamos juntos depois da discussão no elevador e você foi embora, deixando aquele bilhete. Deixei outra cair, de emoção, no nascimento de cada um dos meninos. — ele disse, encarando Hayley, mas ainda com a boa expressão no rosto. Até que a sua face deu lugar à uma expressão mais sombria e triste. — Mas a última vez que eu realmente chorei com a exceção de quando falei com a Danna, foi...
— ...na morte do Nate. — Hayley completou, engolindo em seco. — Eu vi.
— É — Josh concordou, suspirando. — Você viu.
Hayley olhou para cima, lembrando-se de cada momento do sonho que teve há tanto tempo atrás. Lembrando de Josh, naquela roupa camuflada, sujo de sangue, vendo o rapaz que parecia tão bom dizer para ele ficar e lutar por ela. Lembrou-se de quando Nate começou a cuspir sangue e Josh gritou, chorando, pedindo, implorando para que ele não morresse.
E quando o sangue de Nate parou de pulsar, ela viu Josh pegar sua arma e a do amigo e ir matar quem o havia matado.
Ela viu Josh gritando. Ela viu Josh atirando. Ela viu Josh sendo atirado. Ela viu tudo. Ela estava lá.
— Por que eu vi, Josh?! — ela perguntou, aumentando o tom de voz uma oitava. Seus olhos já começavam a brilhar por conta das lágrimas novamente. — Que espécie de ligação é essa que nós temos? Por que mesmo depois de tanto tempo eu sonhei com aquilo? Por que? — ela olhou para ele, implorando por uma resposta com o olhar. Notou que os olhos de Josh já estavam tão confusos e tristes como os dela. — Eu vi tudo, Josh. Eu vi você, eu vi o Nate morrendo. Eu vi você chorando! Eu gritei! Eu gritei pra você não ir até o campo de batalha sem proteção, mas você não me ouvia... eu gritei, Josh. Eu entrei em pânico! Eu vi você sangrando, eu vi aquela bala entrando no seu braço. Eu vi você na guerra... Eu não sei como, mas eu vi! Eu estava lá! — Ela já quase gritava, e de seus olhos, algumas lágrimas já haviam começado a rolar. Josh mordeu seu lábio inferior. — Por que é que a gente é... tão conectado assim?
Josh engoliu em seco, sentindo o nó se formar na garganta.
— Eu não sei — respondeu, com o coração apertado por ver Hayley chorar daquela maneira.
— Por que tudo entre a gente é tão complicado? — ela perguntou outra vez. — Quer saber de uma coisa? Eu odeio tudo isso! Odeio o fato dessa ligação que a gente tem ser tão... profunda. Odeio o fato de toda vez que nós tentamos ficar juntos, eu saio machucada. Odeio o fato de que, mesmo depois de tudo o que você fez pra mim, eu... — Hayley soluçou, passando a mão pelas bochechas — ...eu... não consigo deixar de te amar. Eu não consigo parar de te amar mais do que tudo. Droga. Eu odeio tanto isso...
Josh, ainda com a garganta se fechando, olhou para baixo e respirou fundo.
Então ele se aproximou de repente de Hayley e, segurando sua nuca, tomou seus lábios num beijo urgente, cheio de saudade e remorso.



Vim pra lhe encontrar, dizer que sinto muito. Você não sabe o quão amável você é.
Tenho que lhe achar, dizer que preciso de você, e te dizer que eu escolhi você.
Conte-me seus segredos, faça-me suas perguntas.
Oh, vamos voltar pro começo...
Correndo em círculos, perseguindo as caudas, cabeças num silêncio à parte.



Hayley segurou seu rosto com as duas mãos, enquanto ele ainda segurava sua nuca e devorava seus lábios num beijo completamente nostálgico. A cada segundo, a cada movimento, era como se eles precisassem mais um do outro. A verdade era essa: tanto Josh quanto Hayley estavam em completa abstinência um do outro. Eles sentiam falta desse beijo molhado e cheio de emoção. Eles sentiam tanta falta da companhia um do outro que doía, dilacerava. E naquele beijo, num único beijo, eles tentaram aplacar toda essa falta, essa abstinência, essa dor. E mesmo que fosse considerado errado, eles não conseguiam parar. Não podiam parar de sentir-se, por que era justamente disso que eles precisavam para ficarem completos.
Eles precisavam estar juntos para estarem totalmente felizes. Eles precisavam... estar inteiros.
Hayley afundou seus dedos nos cabelos de Josh, movendo suas línguas como se fossem feitas uma para a outra. Sabendo que aquilo era errado, mas ela não queria parar. Não quando Josh era a única cura para a doença que ele mesmo causara. Não quando ela havia saído de casa às três da manhã para se encontrar com ele. Não quando ela o amava mais do que tudo.
Quando seus pulmões simplesmente não agüentavam mais ficar sem ar, seus lábios se separaram devagar, e Hayley se deixou entregar naqueles braços que por tantas e tantas vezes foram o seu refúgio mais seguro. Apertando o ombro de Josh, ela se deixou desabar, enquanto — da mesma forma que ele fez naquele dia em que eles compuseram Breathe — ele afagou seus cabelos e disse que tudo ia ficar bem, com a voz meio chorosa.
— Eu estou... com tanto medo — Hayley disse entre seus soluços, ainda sem se desgrudar do abraço de Josh. — Eu... queria apenas te esquecer. Eu queria tanto apenas assinar aquela droga daquele divórcio e seguir com a minha vida, com as crianças, só... sendo feliz com o que eu preciso ser. Mas eu não consigo! Por que eu... te amo... tanto... e isso é tão mais forte e maior do que qualquer outra coisa! Eu te odeio por ter escondido uma filha de mim, eu te odeio por ter me deixado pra ir guerrear, eu te odeio por não entender quando eu estava dizendo a verdade, eu te odeio por ser frio comigo quando eu precisava do seu apoio! Mas... mesmo te odiando tanto, eu não consigo parar de te amar mais do que a mim mesma! Eu não consigo desfazer essa ligação tão intensa que a gente tem desde... sempre! — Ela se separou dele, encontrando seus olhos, que agora deixavam algumas lágrimas cair. — Por que eu não consigo parar de te amar mesmo com todo o mal que você já me trouxe? Por que eu ainda tenho que te amar tanto? Tanto?! — ela passou as mãos pelo rosto, saindo do abraço de Josh.
— Por que você faz parte de mim — Josh respondeu, finalmente, deixando as lágrimas saírem calmamente de seus olhos. — Por que nós nos amamos a vida inteira. Não é algo que se pode controlar, Hayles... você não sabe o quanto eu mesmo me odeio por te trazer tanto sofrimento assim... E eu sei que sou a pessoa mais egoísta do mundo por isso, mas, por favor, olha pra mim — Josh se aproximou dela e segurou seu rosto com uma das mãos. Hayley soluçou. — Eu não consigo viver sem você. Simplesmente não consigo. Eu te amo tanto, Hayley, tanto... eu daria tudo pra voltar atrás e arrumar tudo isso! Tudo! Por que tudo o que eu menos queria era te ver assim por minha causa. Eu te amo demais e te ver assim me corta completamente!
— Eu já sofri demais — Hayley disse, mordendo o lábio inferior, tentando reprimir as lágrimas. — Eu não quero mais sofrer, Josh. Mas... a cada dia que se passa, parece mais que eu também não consigo viver sem você. É como se eu jamais alcançasse a verdadeira felicidade se você estivesse longe. E eu queria tanto simplesmente esquecer tudo e me entregar de novo... mas eu sinto tanto medo... tanto medo de sofrer novamente... Por que dói, Josh. Dói demais. Eu não quero mais que doa! — ela deixou a voz aumentar de tom outra vez, soluçando. — Eu só queria que tudo fosse mais fácil... eu só queria não estar com tanto medo...



Ninguém disse que seria fácil...
É uma pena nós nos separarmos.
Ninguém disse que seria fácil... Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim...
Oh, me leve de volta ao começo.




Josh se aproximou dela novamente, puxando-a para si em outro abraço. Deixou que Hayley se apertasse a ele novamente enquanto as lágrimas saíam de seus olhos e escorriam pela sua bochecha, molhando o ombro de Josh.
— Não vai ficar mais fácil... — ele disse tentando manter o tom de voz instável. — Me desculpe se eu te amedrontei em relação a mim mesmo. Eu nunca quis machucar você, Hayles, nunca... Se eu pudesse eu pegaria toda a tua dor e agüentaria tudo sozinho. Mas eu não posso. — Josh passou a ponta dos dedos pelos seus cabelos vermelhos, suspirando, com algumas lágrimas teimosas saindo de seus olhos. — Tudo o que eu tenho a te oferecer sou eu mesmo. Eu, imperfeito, falho do jeito que eu sou. Mas isso inclui também todo o amor que eu sinto por você e tenho pra te dar. — Ele passou a olhar para seus olhos, quase desesperado. Respirou fundo, tentando manter a voz mesmo com o choro. — Talvez o meu amor não seja o suficiente, mas ele é tão grande... E eu faço de tudo, tudo, para poder acabar com a sua dor. Para poder acabar com a minha dor que só fica maior a cada dia que eu passo sem você. Eu prometo que...
— Shh — Hayley disse. — Não promete nada, por favor.
— Certo — ele sussurrou, juntando suas testas. — Eu não vou medir esforços para acabar com o seu medo e a sua dor, minha Hayles. — Josh disse, colocando uma mão na nuca dela e juntando seus lábios rapidamente, num selinho demorado. — Eu te amei durante a minha vida toda.
Hayley apertou os olhos, deixando as lágrimas caírem mais uma vez.
— Eu também te amei durante a minha vida toda — ela sussurrou, mordendo o lábio inferior, e deixando mais lágrimas saírem de seus olhos. — Mas... eu não posso mais continuar. Mesmo com a saudade, mesmo te amando tanto, eu... não posso.
Então ela secou as lágrimas com a manga do sobretudo e se afastou, deixando um Josh completamente desconcertado e com os olhos cheios de lágrimas encarando-a, enquanto seu lábio inferior tremia.
Hayley pegou a chave na mesinha onde havia deixado, e soluçando, se dirigiu até a porta.
— Eu não posso te perder, Hayles! — Josh gritou, paralisando-a, fazendo-a voltar.
— Eu sempre fui sua, Josh — ela disse baixo, olhando diretamente para ele. — Não sinto mais raiva pela Danna, ou por nada. Mas eu não agüento mais esse sofrimento. Me desculpe, mas... é demais pra mim.
— Eu te amo — Josh soluçou, ainda parado no mesmo lugar.
Hayley deixou um soluço alto escapar de sua garganta, também.
— Eu também — ela respondeu, antes de fechar a porta e sair, chorando, em passos rápidos dali.



Diga-me que me ama, volte e me assombre. Oh, quando eu corro pro começo, correndo em círculos, perseguindo nossas caudas... Voltando a ser como éramos.

Ninguém disse que era fácil, é uma pena nós nos separarmos.
Ninguém disse que era fácil, ninguém jamais disse que seria tão difícil assim.
Eu estou indo de volta para o começo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário