23 de set. de 2012

Capítulo 14

You either love it or guess you don't 



— Não subo naquela coisa outra vez de jeito nenhum! — Sophie declarou para o amigo, que estava em sua frente.
— Mas você tem que tentar! — Luke insistiu, fazendo-a olhá-lo nos olhos azuis. — Se você for desistir toda vez que não conseguir algo, você nunca vai aprender nada.
— Não me importo — Sophie disse, passando a mão delicadamente pelo joelho ralado e fazendo uma careta de dor.
— Claro que se importa — Luke revirou os olhos —, andar de bicicleta é uma das coisas mais legais que existe. Você caiu uma vez só, não se preocupa. Todo mundo cai. Aposto que até o maior bicicletista do mundo caiu!
— Mas dói! — Sophie se queixou, mostrando o joelho machucado.
— Tocar violão também dói, e nem por isso você deixou de aprender.
— Mas dói menos — ela revirou os olhos —, e não precisa passar esse remédio ardido.
— Certo — Luke bufou fraquinho e se sentou ao lado dela —, e se eu prometer ficar do seu lado todo o tempo e não te deixar cair?
Sophie suspirou.
— Promete que não vai sair de perto de mim?
— Prometo.
— E não vai me deixar cair?
— Prometo que não vou te deixar cair. — Luke sorriu, encorajando-a.
— Tenho que aprender a não fazer qualquer coisa por você — Sophie deixou uma risada nervosa escapar. Luke apanhou a sua mão e a fez levantar, indo em direção a rua novamente.
Luke segurou a bicicleta rosa enquanto Sophie subia novamente nela.
— Não precisa ter medo — ele tentou encorajá-la novamente —, é só uma bicicleta. Olha sempre pra frente e pedala, tá?
— Não sai de perto de mim — Sophie praticamente implorou, enquanto posicionava o pé no pedal. — Você prometeu.
— Eu vou correndo do seu lado, tá bom? Eu prometi e não vou te deixar cair.
— Tá. — Sophie respirou fundo e apertou as mãos no guidão.
— Não se preocupa, eu tô aqui. — Luke disse com voz risonha e se aproximou dela, dando-lhe um beijo na bochecha de encorajamento.
Então, de repente, Sophie percebeu que não importava o problema ou a dificuldade; se Luke estivesse ao seu lado, ela superaria.




Sophie abriu os olhos e praguejou baixo.
Já era a quarta noite que sonhava com Luke! Quarta!
Na primeira e na segunda noite, ela apenas reviveu o momento do beijo. É claro, para acordar ainda mais atordoada.
Mas as últimas duas foram revivendo momentos importantes de sua vida. Como essa agora, sonhando com o dia em que aprendeu a andar de bicicleta. Ela tinha oito anos, Luke dez. Ela tentou manter equilíbrio ainda várias vezes, mas não caiu mais nem uma. Luke sempre estava lá e a segurava.
Um fato sobre Sophie era que ela estava tentando ao máximo não pensar em Luke e naquele beijo. Mas cá entre nós, não estava dando certo. Por que toda vez em que ela fechava os olhos, ela sentia o gosto da boca de Luke. Ela via a imagem dele com o cabelo bagunçado e a camiseta amassada.
Toda vez que Sophie fechava os olhos, seu pensamento se direcionava a ele.
Mas quem dera fosse apenas quando ela fechasse os olhos ou nos sonhos que ela pensasse nele! Fosse apenas isso, não seria um problema.
O problema era pensar nele a todo o tempo.
Bem, ela acreditava e repetia sempre para si mesma que não era nele que ela pensava. E sim no jeito que ele beijava, porque... ele beijava muito bem. E ela estava há um bom tempo sem beijar ninguém.
Carência. Era isso que Sophie tinha, com certeza.
Ou ao menos era nisso que ela queria acreditar.
Decidiu parar de pensar em Luke e sair daquela cama. Não demoraria nada e ela teria de pegar sua mala e ir para o bendito acampamento escolar. Os professores haviam decidido que Brentwood era havia muita história e um fim de semana sem eletricidade alertaria os alunos sobre as necessidades do planeta, ensinando-os a ser mais sustentáveis ambientalmente.
Ok, então.
Foi direto para o banheiro e tratou de se jogar na ducha morna, deixando todos os seus pensamentos se esvaírem aos poucos e concentrando-se no trajeto da água em seu corpo. Estava um pouco cansada da noite de sono, e esse banho lhe faria bem, com certeza.
Depois do banho, Sophie vestiu-se e desceu as escadas, indo até a cozinha.
Estranhou ao ver Hayley com um short jeans (que dava até para ver a sua tatuagem na coxa) e uma camiseta do Ramones, comendo serial com Joe.
Ela não estava arrumada impecavelmente para o trabalho, afinal.
Mas Sophie gostava de quando a mãe voltava para o seu estilo despojado.
— Bom dia! — Ela disse indo em direção a mãe e o irmão e dando um beijo no rosto de cada um.
 Buenos días, hermana! — Joe respondeu, arrancando uma risada de Hayley.
— Bom dia, gatinha — ela disse, fazendo Sophie fazer que não com a cabeça e pegar uma tigela para colocar cereal.
— Onde está o pai? — Ela perguntou enquanto despejava os flocos na tigela.
— Quartel — Hayley. — Parece que hoje tinha um treinamento importante com calouros ou sei lá o quê. — Ela fez uns gestos com a mão, fazendo Sophie rir. — Joe, vai acordar o seu irmão?
— Si. — Joe respondeu sorrindo e Hayley bagunçou um pouco do seu cabelo loiro, olhando-o nos olhos verdes.
— Vamos parar com a brincadeira de ser latino? Você nem parece com um espanhol.
— Ah, mãe, qual é. — Joe bufou e Hayley riu.
— Vai logo, anda, meu Enrique Iglesias loiro. — Joe se levantou e foi até o quarto de Nate.
Mas não antes de Hayley lhe pegar e lhe dar um beijo a força.
Coisas de mãe e caçula.
— Não tem trabalho hoje? — Sophie finalmente disse a pergunta que se formou em sua cabeça assim que a viu.
— Vou deixar você na escola antes e só vou à tarde. — Ela respondeu sorrindo. — Se você quiser, eu levo o Luke também. Juro não olhar pelo retrovisor quando vocês estiverem se beijando no banco de trás.
Sophie cuspiu o cereal que estava em sua boca e engasgou-se, começando a tossir loucamente. Largou a colher e, ainda tossindo, foi até a pia e pegou um copo d’água, tentando acalmar-se.
Hayley apenas riu. Muito. Mesmo.
Depois de normalizada, vários minutos depois, Sophie voltou para mesa ainda com os olhos arregalados.
Hayley deixou outra gargalhada mais forte ecoar.
— Não tem graça. — Sophie disse, largando a colher na tigela. De repente perdeu a fome.
— Tem sim! — Ela disse. — Vai dizer que você achou que seu pai ia guardar segredo?
— Eu não beijei o Luke. — Sophie decidiu mentir como fez para Josh. — Eu odeio aquele garoto.
— Amor, por experiência própria eu digo que isso não interfere em absolutamente nada. — Hayley pegou a tigela de Sophie e a levou para a pia, junto com a sua.
— Como assim, experiência própria? — Sophie se interessou. — Você também já beijou um cara que odiava?
Hayley gargalhou fortemente e Sophie passou uma mão pelo rosto.
Maldito também.
— Sim — ela respondeu recuperando-se —, eu também já beijei um cara que eu odiava. Assim como você. Só que comigo foi diferente...
Sophie decidiu ignorar o que havia acabado de dizer para a mãe.
— Diferente como? — Perguntou.
— Nós discutimos antes e depois de nos beijarmos. Foi só um momento de fraqueza.
— Então não foi tão diferente... — Sophie disse baixo, mais para si mesma do que para Hayley. — E quem foi?
— Seu pai, oras. — Hayley deu ombros e largou as tigelas na pia sem lavá-las.
— Você odiava o meu pai? — Sophie arregalou os olhos.
— Acredita, minha gatinha. As discussõezinhas que eu tenho com o Josh hoje não chegam nem aos pés do que já foi um dia.
Sophie colocou uma mão na boca.
— Não acredito!
— Acredite. Dá pra escrever um livro com a nossa história.
— Eu quero saber! — Sophie se levantou, com um sorriso no rosto. — Como assim os meus pais têm uma super história e eu não sei disso?
Hayley riu e não respondeu.
— É sério, mãe — Sophie se aproximou —, eu preciso saber dessa história.
— Não precisa não.
— Não renegue a história do meu nascimento!
— Começa muito antes de você pensar em nascer.
— Mas foi com a união de vocês que eu fui concebida, então, sim, tudo nessa história me diz respeito. Por favor, mãe, me fala! Vamos, você já começou, agora termine.
Hayley suspirou.
— Vamos lá em cima. — Disse apenas e foi andando. Sophie a seguiu com um sorriso no rosto.
De repente, havia se esquecido de Luke e do mundo. Josh e Hayley, seus pais, tinham uma história de amor por trás deles! Amor e ódio! Ela necessitava saber.
Foi até o quarto dos dois e se sentou na cama, enquanto Hayley abria o guarda-roupa. Depois de muito mexer ali, ela retirou uma caixinha de papelão colorida.
— O que tem aí dentro? — Sophie quis saber.
— A minha história — Hayley respondeu. — Cartas, desenhos, músicas, poemas, textos, diários... tudo.
Sophie retirou um papel bem surrado, amarelo pela idade. O leu devagar.


“Sabe quando tudo finalmente parece estar dando certo?
Voltar para Franklin foi simplesmente a melhor coisa que já me aconteceu. Fiz amigos. Vi minhas irmãs. Reencontrei Josh...
É incrível o modo que o destino gosta de pregar peças na nossa vida. Sim, o destino. Consigo finalmente acreditar nele. Então, me fazer voltar a Franklin, rever Josh como mauricinho, odiá-lo e depois amá-lo... Digo, quando eu era uma criança, esse provavelmente seria o meu primeiro e único desejo. Mas... se eu não tivesse ido embora, será que tudo estaria bem assim?
Será que eu e Josh ainda nos falaríamos?
Será que eu conheceria Jeremy, Sarah, Taylor, Dakotah?
Será que eu estaria feliz, como agora?
Quer saber? Provavelmente não. Com a vida você aprende que muitas das coisas ruins acontecem para bens. É... parece ditado de avó, né?! “Há males que vem para bem”. Mas é a mais pura verdade. Acontece que se eu não tivesse ido para L.A., eu não teria minhas irmãs, não teria meus amigos, não teria meu piano, e muito provavelmente, não teria Josh. E hoje, eu termino meu dia feliz. Finalmente, verdadeiramente feliz.
Obrigada, vida, por me pregar peças. Obrigada, destino, por colocar pessoas tão legais na minha vida.
Apenas, obrigada.
Hayley.”




Sophie sorriu.
— Caramba — exclamou —, isso é... lindo, mãe.
— Agradeça por ainda estar aí — Hayley sorriu. — Um tempo depois eu joguei fora a maioria das coisas que havia escrito sobre o Josh. Só guardei esse porque não falava apenas sobre ele.
Ela sorriu.
— É. Pode começar a contar a história.


***


Luke jogou água fria no rosto pela décima vez, na tentativa frustrada de parar de passar a imagem do beijo em sua cabeça.
Havia sonhado com Sophie — para variar —, e agora estava tentando acordar.
A verdade é que ele estava confuso. Não deveria estar pensando tanto em Sophie!
Mesmo que os pensamentos fossem apenas do quanto ela era insuportável e o quanto ela beijava bem.
Carência, é isso. Luke fez uma avaliação psicóloga dele mesmo e chegou a essa conclusão. Ele estava carente e triste por Stephy tê-lo traído, então, aproveitou a primeira chance de beijar alguém que teve.
É claro que ele lamentava de verdade o fato de Sophie ter sido a primeira oportunidade.
Ouviu batidas na porta.
— Ei, cara, Dan está aí — Jeremy disse do outro lado da porta.
— Estou indo. — Luke respondeu de volta. Tinha se esquecido que Dan iria até a sua casa para os dois seguirem juntos para a escola. Só não contava que Dan chegaria tão cedo.
Abotoou a calça jeans que já estava em seu corpo e saiu do banheiro, para receber o amigo que já havia subido as escadas.
— Ainda não tá pronto? — Ele perguntou.
— Faltam duas horas até o horário de ir pra escola. Me diz, o que você quer?
— Duas horas? — Dan o olhou incrédulo. — Não vamos sair às nove da manhã?
— Não. — Luke suspirou.
— Ah. Foi mal. — Dan sorriu amarelo e Luke fez que não com a cabeça, adentrando o seu quarto. Dan entrou junto.
— Se joga por aí, vou procurar uma camiseta pra vestir. — Luke disse e Dan obedeceu, jogando-se em sua cama.
— Procura um pouco de animação também, né. Sério, cara, você tá péssimo.
— Se ferrar que é de graça você não quer — Luke revidou, retirando a camiseta branca que havia dormido.
— É sério, Luke. O que aconteceu? Você tá estranho pra caramba já tem uns dias.
— É só um pesadelo que vem se repetindo nas últimas quatro noites. — Luke vestiu outra camiseta que havia escolhido e se olhou no espelho, bagunçando o cabelo.
— Que pesadelo? — Dan o olhou com curiosidade. — Não me diz que é de zumbi, por que eu vou ficar com inveja. Eu sempre quis sonhar que eu era um Leon Scott da vida, matava todos os zumbis que quisessem comer o meu cérebro e no final, ainda agarrava a Claire.
Luke o olhou com desdém.
— Você anda jogando muito Resident Evil — ele fez que não com a cabeça. — Mas não tinha zumbis no meu pesadelo.
— Era o quê, então? Fantasmas? Vampiros? Dinossauros? Piolhos gigantes assassinos?
— Piolhos gigantes assassinos? — Luke o olhou assustado. — Qual é o seu problema?
— Me diz logo qual é esse teu pesadelo que tem tomado o seu sono e te deixado um caco.
— É só... — Luke engoliu seco. — Eu fico preso num lugar e não consigo sair, é isso.
— Só isso? — Dan torceu os lábios, decepcionado. Esperava um pesadelo emocionante e aterrorizante! — Bem, pode ser só o seu emocional reagindo a ter ficado preso com a Sophie na detenção. O que, claro, não seria pesadelo nenhum pra mim, até mesmo por que a diretora do inferno foi mandada embora. E além do mais, você não pode negar, ela é uma gata. Se eu não te conhecesse diria que você até a agarrou! — Dan riu de sua própria piada. — Tipo, presos na sala, só os dois... uh...
— Cala a boca. — Luke respondeu, nervoso.
— Que foi? Tô só brincando... Ei... você... você não... AI MEU DEUS!
E então, Dan se jogou na cama começou a rir.
Ele estava apenas brincando! Da mesma forma que brincou com o assunto dos piolhos gigantes assassinos.
Mas quando virou o rosto, parou de rir, e viu que Luke estava completamente vermelho e nervoso, ele soube que havia dado um tiro certeiro.
Luke tinha de aprender a disfarçar. E mentir.
— Mano! — Ele exclamou, colocando uma mão na barriga e deixando as risadas se acalmarem. — Você agarrou a Sophie!
— Cala a merda da boca, Daniel — Luke se aproximou e lhe lançou um olhar assassino. — Se você pelo menos pensar em contar pra alguém, eu pego a sua língua e corto com uma tesoura cega, ok?
— Certo, cara — Dan levantou uma das mãos e se levantou, fazendo um gesto submisso. — Não vou contar pra ninguém que... O LUKE AGARROU A SOPHIE, O LUKE AGARROU A SOPHIE, LA LA LA LA LA, O LUKE AGARROU A SOPHIE! — Dan saiu correndo do quarto de Luke, cantando alto.


***


— Não, peraí — Sophie levou uma mão a cabeça —, tá me dizendo que meu pai era um bad boy?
— Era. Dos nojentos! — Hayley disse, rindo junto a Sophie.
— E ele tinha uma namorada nojenta e amigos nojentos? — Sophie não conseguia imaginar seus pais no ensino médio. Era difícil e engraçado!
Josh.
Josh. Com cabelo grande. Nojento e bad boy.
Era difícil!
— Isso aí. — Hayley concordou com a cabeça.
— E vocês se odiaram só por que se trombaram na rua?
— Não só por isso... Por tudo, na verdade. Começou quando eu tinha seis anos.
— Meu Deus! — Ela riu novamente. — E como vocês passaram a se amar e planejar o meu nascimento?
Hayley gargalhou.
— Ah, teve muita coisa antes da gente assumir que se amava.
— Conta!
— Bem... Jeremy e Sarah, de repente, me chamaram pra sair. E tudo bem, eu ia, né. Eles eram meus únicos amigos e tudo... e sair no sábado a noite não tem nada de mal. É claro, quando você não descobre que era apenas uma forma de te levar pra um encontro.
— UM ENCONTRO? — Sophie perguntou alto, rindo.
— Sim. Eles me inscreveram num site de encontros.
— Ai, meu Deus!
— Pois é. E adivinha quem estava no encontro arranjado pela internet!
— NÃO! — Sophie achou que ia chorar de rir. — Não acredito! E o que aconteceu depois?
— Bem, eu e Josh ficamos muito irritados um com o outro e com os nossos amigos, e então saímos. Entramos num elevador juntos e discutimos lá. Eu o mandei sair e ele não saiu, e disse para eu sair. Eu não fiz isso e nem ele. Então o elevador fechou a porta... e quebrou.
— Caramba, meu! — Sophie apenas ria, vidrada na história da mãe. — Vocês se bateram ali, né?
— Não. Discutimos, gritamos, xingamos e por fim... nos beijamos.
— AH, NÃO! — Sophie novamente caiu em risadas, sem conseguir se controlar novamente. E então, a última recomendação de seu pai lhe veio à mente. — Agora eu entendi!
— O quê?
— O pai disse pra eu ficar longe de elevadores quando ele soube que eu tinha... beijado... o Luke. — Não é que Sophie não tivesse assumido o fato. Ela apenas se sentia desconfortável em assumir isso em voz alta.
Desconfortável não. Mal mesmo.
Hayley, por sua vez, riu muito.
— Não foi só por causa disso que ele disse! — Ela deixou escapar.
— Não?
— Não. Houve outra ocasião...
— Meu Deus! — Sophie riu novamente, mas não tão alto. — Não tem como essa história ficar mais interessante!
— Acredita — Hayley a olhou nos olhos —, tem sim.


***


— Dan. Cala a boca. — Luke pediu pela milésima vez.
— Sophie e Luke, under the tree, K-I-S-S-I-N-G. — Dan cantou a música novamente, fazendo Luke afundar o rosto nas mãos. — Certo, parei. Não era uma árvore. Era uma sala de detenção! — E então, começou a rir novamente.
— Ok, é o seguinte: Ou você para ou você morre agora mesmo, certo?
— Tá, tá, parei. Você já me machucou muito hoje. — E tinha razão.
Havia marcas de socos por todo o pobre Dan.
Mas ele havia parado com a zoação? Ah, não.
— Se eu parar você conta como foi?
— Nem sonhando. — Luke revirou os olhos.
— Era uma vez, um rapaz que tocava violão e tinha olhos azuis chamado Luke. Ele encontrou a alma gêmea dele chamada Sophie. Eles se agarraram numa aula, depois fizeram coisas más e tiveram doze filhinhos!
— TÁ BOM! EU CONTO! — Luke levantou a voz, revirando os olhos. — Doze filhinhos, você é problemático.
— Anda, fala como foi. Tipo, eu quero saber é como vocês se agarraram, por que sabe, vocês “se odeiam”.
— Nada de aspas. Eu a odeio muito. — Luke suspirou. — Estávamos discutindo, então ela me bateu. Aí, sabe, eu prendi os braços dela na parede, pra ela parar de me bater. Então ela chutou a minha perna e eu caí, puxando o braço dela e fazendo ela cair junto comigo. Aí eu tentei levantar e acabei meio que fazendo uma gaiola, sabe? Passando a mão por cima do corpo dela. Então... eu sei lá, quando dei por mim, eu já tava levantando de cima dela, com a boca latejando.
— Que coisa mais linda! — Dan sorriu. — Tipo, vocês dois quase se matam de porrada e no fim de beijam. E a coisa é agressiva o suficiente pra deixar o lábio latejando!
— Não foi tão agressivo quanto... — Bosta – pensou Luke.
— Quanto o quê? NÃO VAI ME DIZER QUE VOCÊ AGARROU ELA MAIS DE UMA VEZ?
Luke levou a mão a cabeça.
— Nos beijamos depois disso, tá legal?
— MEU DEUS! — Dan bateu palmas, de tão feliz. — Sempre soube que esses seus olhinhos de anjinho eram só uma máscara, mas mano, eu não sabia que você era tão danado!
— Danado? — Luke arqueou uma sobrancelha.
Tudo bem, podia ser o seu melhor amigo. Mas era uma tristeza conversar com ele sobre garotas.

***


— Não acredito que ela mandou o Van beijar você, mãe! Que vadia! — Sophie disse entre dentes, olhando com fúria para Hayley. — Ainda bem que você deu uma surra nela!
— É. — Hayley concordou. — Jenna foi uma tristeza muito grande... Imagino o que ela faz da vida hoje.
— Eu também. Apanha de um cafetão. — Sophie revirou os olhos e Hayley gargalhou.
— Bem, depois disso... — Hayley continuou — ...a nossa vida ficou bem fácil, até. A gente se amava muito e estávamos cercados de pessoas legais. Nós até fomos pra Los Angeles nas férias... Foi lindo.
— E a Paramore ganhou o concurso, né?
— Aham. — Hayley concordou sorrindo e se lembrando daquela noite. — No aniversário do seu pai eu pulei de aza-delta com ele.
— Jura? Que maneiro!
— Eu detestei. — Hayley riu. — Mas a parte triste da história vem logo depois...
— Guerra, né? — Sophie suspirou. Essa era a única parte da história que conhecia.
— Ele não me falou nada — Hayley suspirou, lembrando-se da dor que sentiu na época. — Um dia, eu... dormi na casa dele. E aí o telefone tocou e eu atendi... era do exército. Aí eu achei a roupa... e o meu mundo desabou. Quando o Josh chegou nós discutimos, e... ele disse que queria lutar. Que era uma escolha dele ir ou não. Eu... eu me senti sem chão, sem ar, sem motivo pra viver... Foi a maior dor que eu já senti na minha vida inteira.
— Nossa...
— E então, eu saí andando sem rumo. Não sabia pra onde ir. Por que cada lugarzinho daquela cidade me lembrava ele... Então eu fui para a pedra.
— O lugar que lembrava o Jason.
— Isso. E depois ele me achou.
— O Jason?
— Aham. E aí ele me levou pra casa... e cuidou de mim. Ele virou meu melhor amigo depois disso, por que... eu não sei. Ele me entendia. Me amava... sei lá.
— Entendo... E quando você começou a namorar ele?
— Dois anos depois, quando nós todos entramos na faculdade.
— Mas você...
— No dia em que largamos a faculdade pra tentar outro negócio, nós começamos a namorar. Eu tinha decidido que tinha que deixar Josh no passado, e... Jason era um belo futuro. Ele me fazia feliz.
— Hm... E aí?
— Vários anos se passaram. Eu já promovia muitas festas e o Luke já havia nascido. Nicky me lançou um ultimato: Ou você promove essa festa militar, ou sai da minha empresa.
— Não vai me dizer que...
— ...o dono da festa era o Coronel Joshua Farro. Sim, digo.
— Meu Deus! — Sophie gargalhou mais uma vez. — Deixa eu adivinhar: Vocês se apaixonaram e o Jason se apaixonou pela Alana.
— Bem, isso é só um resumo mal-feito... antes, teve o ódio. Novamente.


***


— Mas afinal, se você já tava arrependido da primeira vez, porque raios você a beijou novamente?
Luke suspirou.
— Eu não sei. Acho que foi a carência mesmo, sabe... Por que, mano, a menina é uma insuportável! Eu odeio ela totalmente! Mas... sei lá, ela beija bem.
— Hmm... danado! — Dan disse e bateu palmas uma vez, fazendo Luke o olhar estranhamente. Outra vez.
— Para de falar isso. É idiota. — Ele bufou. — Mas é o que eu disse... A Stephy me traiu, cara, e não é fácil lidar com isso... Eu acho que precisava beijar alguém.
— Ahn... acho que entendi. Se qualquer outra garota tivesse naquela sala você a teria beijado por que você tá na seca.
— É... — Luke torceu os lábios — Qualquer uma não, né. Mas é basicamente isso.
— Mas, mano... você não pode negar que realizou um sonho, não é? Até dois meses atrás você era caidinho por ela.
— Eu não sabia quem ela era — Luke se explicou —, eu achava que ela era só a mesma menina que eu cresci junto. Mas o tempo passa e as pessoas mudam, Dan. Ela não é mais aquela menina amável e brincalhona que eu me apaixonei quando era uma criança...
— E hoje você a odeia.
— Mais do que tudo. — Luke passou uma mão pelo cabelo, tentando afastar os seus pensamentos dela.
Em vão, é claro.
— Ok, você a odeia. Mas como aconteceu o segundo beijo?
— Não vou dizer! — Luke o encarou.
Não havia como dizer como aconteceu o segundo beijo sem parecer o que ele desejava mais do que tudo naquela hora era ficar com ela novamente.
— Ah, você vai.


***


— Claro, claro, o ódio — Sophie disse balançando a cabeça de um lado para o outro. — Mas mãe, você não me disse uma coisa...
— Eu disse tudo pra você — Hayley disse.
— Não disse não — Sophie mordeu o lábio, fazendo sua melhor cara sapeca. — Quer dizer, há um tempo atrás, quando eu te perguntei quando você tinha perdido a virgindade, você respondeu que tinha sido com 16 anos...
Hayley apertou o olhar.
— E...?
— Se os meus cálculos tão certos, com 16 anos você namorava o meu pai...
— E...?
— ...Você não me disse quando foi. Digo, em que ocasião.
— E nem vou dizer. — Hayley a encarava da forma mais engraçada que Sophie já tinha visto.
— Ah, vamos lá, mãe — ela gargalhou. — Foi romântico?
— Não vou dizer, menina, toma vergonha na sua cara. — Sophie gargalhou novamente, percebendo que Hayley havia ficado corada.
— O pai ainda era virgem? — Continuou perguntando, e Hayley fez que não com a cabeça. — Certo, não, né? A ex namorada dele era uma vaca...
— Sophie. — Hayley tentou repreendê-la.
— Foi na viagem pra L.A., né? Você disse que foi lindo, e tudo... Meu Deus! O que a vovó disse?
— Foi antes.
— Antes? Ué, quando? Por que, pra mim, a ocasião mais perfeita seria...
— Sophie, fica calada, tá bom? — Hayley passou uma mão pela franja.
— Você vai me falar quando foi?
— Antes das férias, ele me levou num parque de diversões, então na hora de voltar choveu, o parabrisa do carro quebrou e nós chegamos na casa dele ensopados. Acabou acontecendo.
— Eca — Sophie fez uma expressão de nojo.
— Eu vou te bater — Hayley ameaçou —, me encheu tanto o saco pra falar “eca”?
Sophie gargalhou.
— É brincadeira, mulher, se acalma — brincou. Hayley riu. — Mas se eu tirar a virgindade com 16 você não vai poder me dar bronca nenhuma, né...
— Beware of you, Sophie. — Hayley a olhou feio. — Apenas isso. Cuidado.
— É brincadeira, mãe. Continua contando.


***


— Não, espera, o Dan tá confuso — Luke fez que não com a cabeça. Dan tinha a estranha mania de falar de si mesmo na terceira pessoa. — Vocês começaram a dialogar?
— É... — Luke concordou em parte. — Sabe, “eu te odeio”, “eu também te odeio”, “é, igualmente”, “eu te odeio de verdade”, etc.
— E como isso levou ao que interessa?
— Conforme a gente ia... “dialogando”, fomos nos aproximando... sei lá, acho que tinha uma força sobrenatural tomando conta de mim.
— Mano, isso parece cena de filme! — Dan fez que não com a cabeça, rindo.
Luke coçou a nuca, rindo um bocado.
Ele tinha que concordar que foi um tanto estranho.
— Eu não sei o que tava dando em mim... é o que eu disse, quando eu vi já tinha passado a mão pela cintura dela e tava beijando de novo. Eu sei lá... Acho que vou me benzer. — Luke deu ombros, fazendo piada de si mesmo.
— Você não a odeia, Luke, meu irmão. Nunca odiou. — Dan o olhou furtivamente nos olhos, ainda sorrindo.
Luke, como esperado, se irritou.
— Lógico que eu a odeio! — Disse alto. — Eu a odeio muito, Dan! Foi só um momento de fraqueza, eu disse!
— Tudo bem, ok. — Dan fez que não com a cabeça. — Você a odeia. E deve ser o único cara que beija uma pessoa que odeia. Tipo, eu odeio o professor de sociologia, mas nem por isso eu saio por aí beijando ele...
— Cala a boca, Daniel, sério — Luke bufou. — Eu já disse, foi carência. E daqui a pouco já dá a hora de a gente ir pra escola e para aquele acampamento chato, por que...
— Você e essa mania boba de mudar de assunto — Dan fez que não com a cabeça. — Olha, é o seguinte. Eu acho que você não odeia a Sophie, e você acha que você só tá carente por causa da Stephy... eu tenho um jeito da gente descobrir isso.


***


— Meu Deus, mãe — Sophie arregalou os olhos. — Você traiu o Jason.
— Não me orgulho muito disso — Hayley riu sem vontade. — Foi... um momento de fraqueza. A proximidade com Josh já estava mexendo comigo de verdade, e aí, quando nós ficamos presos naquele elevador e ele me disse aquelas coisas... Eu... Eu não consegui me controlar.
— Eu sempre soube que o papai tem poder e tudo, mas... — Sophie deixou a frase e a risada morrerem. — Ai, ai. Como Jason ficou?
— Mal — Hayley suspirou. — Ele descobriu a coisa dos bebês no mesmo dia e quando eu voltei pra casa, ele jogou tudo na minha cara. Eu tentei me desculpar, mas... Ele não me ouviu. Ele tinha o direito, é claro. A errada da história ali era eu. Sempre fui eu.
— Sei... e aí, você voltou pro meu pai?
— Não. Jason saiu de casa e eu deixei um bilhete pro Josh antes de ir embora. Sabe aquela frase de The Only Exception? “I know you’re leaving in the mourning when you wake up, leave me with some kind of prove it’s not a dream”?
— Sei... Agora faz sentido.
— É. Ele disse isso pra mim pouco antes de eu adormecer... e então eu deixei um bilhete, dizendo que foi tudo um erro e que eu queria ser feliz longe dele.
— Ele tá aí?
— Está. — Hayley sorriu. — Josh guardou.
Sophie revirou a caixinha até achar o bilhete. Leu-o com atenção.



“Josh,
Essa noite foi um erro. Não um erro seu, mas sim, um erro meu.
Você me disse mais cedo que não teve escolha em ir para a guerra naquela época. Você foi porque foi designado. Porque mandaram você ir. Você não teve escolha em me deixar.
Agora me diga: já que você não teve escolha, foi escolhido pelo destino que eu sofresse sem você, certo?
Eu penso que é isso que ele quer. Me ver sofrer.
Não sinto mais raiva de você. Não te culpo por mais nada. A culpa não foi sua. Se você teve que ir, bem, eu tive que ficar e sofrer.
Acontece que eu sofri muito. Mais do que você possa imaginar. Eu tive de deixar minha cidade favorita no mundo, tive de deixar de acompanhar o crescimento das minhas irmãs, tive de me formar em um colégio diferente com pessoas diferentes dos meus amigos pra evitar o sofrimento, que foi inevitável. E ainda, para não machucá-los mais, eu tive de fingir que estava tudo bem comigo... Eu tive que fingir, Josh. Tive que guardar minhas lágrimas para quando eu entrava na ducha e as lágrimas se misturavam com a água. Tive que deixar para soluçar no meu travesseiro quando eu tinha certeza que não havia mais ninguém por perto. Tive que lutar contra tudo em mim para não te querer. Não querer sentir suas palavras, seu corpo, sua voz, sua boca, você. Eu lutei, lutei muito, e achei que tinha vencido minha luta interna.
Mas aí você reapareceu.
E eu percebi que não tinha ganhado porcaria nenhuma! Você ainda continuava em mim. E eu ainda continuava te amando.
E eu te amo. Te amo com toda a certeza do mundo. Te amo mais do que eu mesma, mais do que o ar que eu respiro.
Mas... o amor não é... bom. É, não é bom.
Eu já sofri muito por amor. Tenho sofrido por ele desde que completei 6 anos, com a separação dos meus pais.
Me diz se é bom que eu continue amando, porém, sofrendo?
Se eu tiver que sofrer mais pra te ter, eu... Eu não vou aguentar... Eu não quero mais, Josh... Eu estou esgotada... Eu não tenho mais forças para lutar contra mim mesma...
Por isso, eu te peço, te imploro, não me procure mais. Por que eu simplesmente não agüento mais tudo isso.
Me desculpe,
Hayley”



— Uau — ela disse com a voz esganiçada, tentando inibir a vontade de chorar. — Eu... Uau. É... triste...
— Foi muito triste escrever — Hayley riu sem vontade. — Eu... sentia que se aceitasse o Josh, eu iria sofrer. Eu tinha sofrido tanto que fiquei com medo de sofrer de novo...
— Entendo — Sophie dobrou delicadamente o papel e o guardou dentro da caixinha novamente.
— Mas e ele? O que ele fez?
— Sinceramente, na época eu pensava que ele tinha deixado de ligar. Passou a falar comigo só quando era extremamente necessário, para a sua festa militar. Aí a Alana foi com o Jason pra Londres... Eu soube que não amava o Jason pela forma com a qual eu fiquei feliz pelos dois. — Hayley riu. — Faltando um dia para a festa, perderam o meu vestido...
— Ai, sério?
— E substituíram por um branco, mais lindo ainda.
— Mas mãe, vocês não se casaram no mesmo dia da festa militar do... Ah! Entendi!
— Foi surpresa. — Hayley riu. — Eu não sabia! Juro que nem passou pela minha cabeça!
— Cara, que lindo!
— Você não tem idéia. Nós dançamos uma música, e depois ele subiu no palco e contou a nossa história lá em cima... eu quase morri, né. Aí ele me chamou lá pra cima e... me pediu em casamento da forma mais linda possível. Eu aceitei e ele disse... “você não entendeu, vamos nos casar agora”.
Sophie apenas ria.
— Então, do nada, apareceram alfaiates e todo mundo foi pra um canto da sala, e a Tamiris que era a minha estagiária se revelou, porque ela tava arrumando o casamento... e aí a Erica trouxe o buquê com a Belle e eu fiquei pronta em questão de minutos. Quase morri de chorar no casamento. Foi ainda mais lindo quando o Luke trouxe as alianças! Ele mal sabia andar...
— Que lindo, mãe! Meu pai é perfeito, apenas. — Sophie riu mais.
— Então na nossa lua de mel, eu parei de tomar os remédios propositalmente, confesso. E você veio em seguida, pra felicidade de todo mundo. Nós nos mudamos pra cá, por que fica perto da melhor escola de Nashville... Um tempo depois teve toda a complicação com a gravidez do Nate... Mas graças a Deus deu tudo certo. E depois veio Joe. E... sabe, como lição de tudo isso, eu aprendi que não importa o quanto você sofra... vai ter sempre um pouco de felicidade a sua espera. Eu não me imagino mais feliz do que sou hoje em dia.
Sophie suspirou, sorrindo, e não respondeu. Foi até a mãe e a abraçou com força.
— Você tinha razão — Sophie comentou —, a história dá um livro.
— Ela está se repetindo, Sophie. — Hayley riu, encarando-a. — Você não odeia o Luke.
— É diferente, mãe. Você e meu pai foram feitos um para o outro, quando ao Luke... A gente passou a infância junto, só isso. Depois de crescidos a gente viu que não tínhamos nada a ver um com o outro. Ele foi um idiota comigo e eu passei a odiá-lo. A questão do beijo foi só fraqueza.
— Filha, você não odeia Luke. — Hayley a encarou. — Você odeia amar o Luke.


[...]


— Nate, por favor — Julia passou uma mão pelo rosto.
— É sério — ele entrelaçou suas mãos. — Detesto não estar indo pra esse acampamento idiota.
— Eu já disse que não importa quando jogadores de basquetes existam no ensino médio — Julia o encarou. — Nada supera o meu boxeador do primário.
— Não diga primário — Nate riu de canto —, fundamental é melhor. E ano que vem eu vou pra esse ensino médio idiota te proteger.
— Já disse pra você não se preocupar — Julia sorriu, aproximando-se dele. — I’m yours.
Nate sorriu e a beijou, enquanto Sophie descia as escadas com sua mala pesada nas mãos. Pousou a mala no chão quando chegou ao fim das escadas, esperando o casal apaixonado acabar de se agarrar.
— Oba, acabou. Agora vamos, né? — Sophie disse, batendo um pé.
— Deixa de ser chata, Soph. Calma aí. — Julia respondeu, abraçando a cintura de Nate com a mão. Ele passou uma mão pelo seus ombros.
— Se vocês ficarem de agarração a vida toda eu nunca vou sair daqui. — Sophie bufou e gritou Hayley, avisando que ela já podia levá-las para a escola.
Nate deixou um beijo no topo da cabeça de Julia e apanhou a sua mala, carregando-a para fora da casa, onde o carro de Hayley já esperava.
— A mala da sua irmã você não carrega, né, safado?
— Não estou ficando com a minha irmã, safada. — Nate respondeu no mesmo tom, guardando a mala de Julia no porta-malas do carro.
— Se ferra, Nate — Sophie revirou os olhos e Julia riu.
Hayley apareceu, com a chave do carro nas mãos.
— O Luke não vai com vocês? — Ela perguntou com um sorriso sapeca no rosto, direcionado para Sophie, que bufou e entrou no carro.
— Luke foi com o Dan mais cedo, mãe — quem respondeu foi Nate, que obviamente não notou o olhar assassino de Sophie direcionado para Hayley. Ele fechou o porta-malas e se virou para Julia.
— Se cuida, linda.
— Sempre — Ela sorriu e lhe deu um último beijo de despedida, abraçando seus ombros largos logo após. Deixou um beijo em sua bochecha e entrou no carro.
Não demorou nada e elas já estavam em frente a escola. Sophie despediu-se da mãe e pegou as malas.
— Caramba — Julia exclamou após o carro ir embora. — Eu não acredito no que eu estou vendo!
— O quê você... — Sophie parou a pergunta no meio quando se virou e viu Luke um tanto longe, quase na esquina... beijando uma garota.
Sophie riu.
Não por que ela estava feliz.
Na verdade, ela não tinha idéia de por que estava rindo. Apenas sentiu uma grande vontade, e riu. Como se naquela risada ela transmitisse todo o seu ódio.
Que, acreditem, era enorme.
— Dane-se, eu não ligo. Vamos entrar — Sophie pegou sua mala e saiu carregando-a para dentro do colégio.
— Sei lá, acho que depois da traição ele saiu beijando um monte de meninas — Julia disse, arrastando sua mala —, tipo, muitos caras fazem isso...
— Vamos mudar de assunto, né? Pior do que falar no Luke é falar em quem tem o azar de beijá-lo. — Alguém assim como você, não é, queridinha?, ela ouviu seu pensamento ecoar e fez que não com a cabeça, sentindo o ódio dominá-la completamente.
Havia sido uma idiota em ter correspondido aos beijos de Luke.
— Tá, tá. Deixa de ciúme. — Julia riu do seu próprio comentário e Sophie bufou.
Não é ciúme, pensou ela. É só vontade de matar.
— Ei, meninas — Soph ouviu a voz de Dan ecoar. Fez um sorriso e o abraçou, seguida de Sophie.
— Ei, Dan — Julia disse —, dá licença, eu vou ali falar com o Sr. Marshwell, já volto.
— Vai lá, Nate’s Lady. — Dan disse cumprimentando-a militarmente e Julia riu, saindo de lá.
— E aí, Dan. Tudo bem? — Sophie perguntou.
— Tudo ótimo, mas... — ele a olhou significativamente, mordendo um lábio. — Não tão bem quanto você, não é?
— Não sei do que você está falando — Sophie arqueou uma sobrancelha.
— Ok, ok. Você não sabe... — Ele riu. — Vamos deixar que o Luke te refresque a memória daqui a pouco, né, Red Soph? — Dan soltou um riso e saiu de perto.
Sophie sentiu o rosto esquentar mais de raiva.
— Não acredito que aquele infeliz te contou — ela bufou. Luke tinha prometido!
Largou a mala e foi, bufando, em direção à Luke, que estava conversando com Stephy. Viu a loira sair de perto de Luke com um rosto aparentemente choroso assim que chegou perto dele.
— Olha aqui, seu filho da mãe — ela começou, fazendo-o virar-se para ela. — Eu tô pouco me ferrando pra você e pra essas whores que você costuma pegar, mas eu achei que nós tínhamos combinado de você não contar pra ninguém sobre o que aconteceu na segunda, não foi? Certo, eu deveria saber que não posso confiar em você pra bosta nenhuma.
— Eu não contei pra... Dan. — Luke bufou.
— É, Dan. Isso era pra ser um segredo, seu imbecil! — Ela tentou respirar fundo, coisa que não conseguia pela enorme raiva que tomava conta dela. — Eu sinceramente não sei onde estava com a cabeça pra ficar com você e aceitar ser só mais uma das suas.
— Eu — Luke a interrompeu — não sei onde estava com a cabeça para ficar com você.
— Quer saber? Vai se danar. Eu te odeio.
— Também te odeio. — Luke disse, mas Sophie já havia se virado e andava batendo o pé, morrendo de raiva.
Mesmo que ele tivesse gostado da idéia de ficar com outra garota para comparar, se estava apenas carente mesmo, parece que tudo estava conspirando, por que:
1 – A garota não beijava tão bem como Sophie;
2 – Stephy havia visto e dado ataque; e
3 – Agora Sophie achava que ele estava agarrando geral por ter raiva de Stephy.
Não que ele ligasse para a opinião de Sophie, mas não era verdade.
— Ah, dane-se — ele disse baixo, decidido a não ligar para mais nada.
Ele odiava Sophie e iria esquecer aquilo, por que não ia acontecer de novo. Não mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário