22 de set. de 2012

Capítulo 10

It's how you make it happen



Pov. Luke





Confesso que às vezes me sacrifico a bessa pelos meus amigos. Como por exemplo, hoje é uma linda tarde de quarta-feira. Invés de eu estar aprimorando meus dotes na guitarra, curtindo minha namorada, passeando pelo parque, vendo televisão, ficando na internet, jogando videogame, ou fazendo qualquer outra coisa que um adolescente normal faria numa tarde ensolarada de quarta, eu estou tendo aulas.
Tudo isso por quê? Por conta de um amigo.
Certo, não era uma aula normal e, na realidade, ela ainda nem havia começado. Mas poxa! Cinco horas por dia na escola já é o suficiente, não?
Tudo bem, vamos dar um desconto. Apesar de Nate ficar com muitas garotas, ele nunca fica inseguro para falar com alguma (apenas com Lily Matson, quando ele estava na terceira série, mas ele me mataria se eu terminasse essa história...). Talvez ele realmente estivesse interessado nessa Julia... apaixonado, quem sabe.
Ri disso. Nate não é o tipo de cara que simplesmente se apaixona... Ele gosta de mulher, isso é claro! Mas se apaixonar... a ponto de encarar mais duas horas na escola só por aproximação... é, ele tem que gostar muito dela. E eu seria um péssimo amigo se não o ajudasse com isso. Eu acho que ele faria o mesmo por mim.
Até mesmo por que eu não tenho nada contra a tal Julia. Ela sempre me pareceu engraçada, apesar de andar com... ela. E bem, já que ela queria ficar mais tempo no colégio, ela devia ser inteligente, o que já era um crédito.
Lembro-me de quando ela estava no primeiro dia, desorientada, e me pediu pra dizer qual era a sala dela. Logo notei que ela era uma menina legal. Mas é lógico que Nate não se apaixonaria por nada menos do que uma garota sensacional, o que já me faz meio que gostar da Julia, mesmo sem conhecê-la direito.
Isso por que sim, o meu problema com a família Farro é apenas Sophie. Só ela. Mas pelos meus tios, Nate ou Joe, eu mataria.
E certo, eu saí das aulas terríveis de sociologia. Talvez ficar mais tempo na escola realmente não seja tão ruim.
Infelizmente, Dan não estava aqui. Ele não achou nada interessante para cursar por aqui. Música, sim, talvez, mas ele mesmo disse que não precisava aprender partituras para arrancar algumas notas do violão e batuques da sua bateria — sim, ele toca bateria. Muito bem, aliás —, o que o fez nem sequer pensar em ficar mais tempo do que o necessário na escola. Stephy também não se inscreveu, eu até a chamei, mas ela não veio. O porquê... Bem, ela disse ter coisas e tarefas para resolver em casa com o Bill. Levando em consideração que seu pai não morava em casa e sua mãe trabalhava o dia inteiro — o que não os fazia pobres ou algo do tipo, não. O pai de Stephy era um dos empresários mais renomeados do TN, e a pensão que ela e Bill recebiam era grande o suficiente para fazê-la morar em um bairro chique e comprar todas as roupas que quiser —, ela realmente deve ter várias tarefas e regras a seguir. Por mais que Bill nunca tenha me parecido lá o cara mais responsável do mundo.
A questão é que estou eu e Nate aqui, no térreo do colégio, esperando o sinal bater para subirmos os andares e acharmos nossas salas por aqueles corredores. E a Julia ainda nem chegou!
Até que me ocorreu uma coisa...
— Nate — chamei-o —, Julia e a... sua irmã — pigarreei — são melhores amigas, certo?
— Sim. — Ele respondeu passando uma mão no ombro, despreocupado.
— Então, as duas virão para... — minha próxima pergunta foi interrompida por duas garotas adentrando o colégio. Julia... e Sophie.
— Era só o que me faltava. — Sussurrei.
— Deixa de ser idiota. — ele bufou, e levantou-se para cumprimentar as meninas. — Ei, garota insuportável! — Ele deu um abraço de urso em Julia, que afundou-se em seu corpo (pelo fato de Nate ser enorme e ela, mesmo sendo provavelmente um ou dois anos mais velha que ele, era pequena). No começo, ela pareceu estranhar o abraço, mas logo após, sorriu de canto. Como se ele tivesse sussurrado algo em seu ouvido.
Sophie pigarreou.
— Legal, esqueceu da sua própria irmã. — Ela parecia ignorar minha presença ali. Decidi fazer o mesmo, e não liguei para o ódio insuportável que cresceu rapidamente dentro de mim. Apenas respirei fundo.
— Awn, maninha chata, vem cá. — Nate largou Julia e avançou para cima de Sophie, que fez uma expressão de medo e tentou fugir, mas como Nate era maior que ela, a abraçou fortemente, fazendo-a gemer de dor e insatisfação.
Seria engraçado... se não fosse ela.
— Ei, Luke. — Julia disse sorrindo ao ver aquela cena. Sorri para ela.
— Olá, Julia. — Tentei ser simpático. Não tinha por que ter nada contra Julia! Ela era filha de Jason Bynum, certo? É, certo. — Como vai o seu pai? — puxei assunto.
— Normal... — Ela virou-se para mim — Claro, ainda obcecado com a moto dele, mas... Isso significa que ele está bem. — Ela deu um sorrisinho.
— Obceções de pais são sempre um problema... — Murmurei, fazendo-a rir.
— Seu pai também é obcecado por algo?
— Sim... tipo, eu, minha mãe, a empresa... o Red Sox... — Julia gargalhou gostosamente.
— Qual é a graça do beisebol, gente? Meu pai também adora.
— Você não entenderia. — Dei ombros.
— Bom pra mim. — Ela sorriu e fez que ia se juntar à Sophie. — A gente se vê, Luke.
— Ok, até logo.
É, foi a minha segunda conversa civilizada com a futura-namorada-do-Nate. E ela realmente me parece uma garota legal... vai ver a primeira impressão é a que fica mesmo.
E vai ver a Stephy estava errada em relação à ela... quer dizer, ela não me parece nem um pouco perversa.
Pouco tempo depois, a coordenadora do colégio apareceu. Haviam vários alunos lá, todos inscritos nas aulas complementares — na realidade, 90% eram inimigos do professor Miller, da aula de sociologia, e topariam ir numa viagem à Faixa de Gaza no auge das guerras sangrentas para fugir da aulas dele.
Ela falou um monte de coisas, como saudações e praticamente fez uma monólogo de meia hora até realmente colar o cartaz que dizia onde seria cada aula. A primeira, para mim, seria Teatro. E como Nate iria para o Jiu-Jitsu, eu iria sozinho, para variar. Dei um tapinha nas costas dele e disse “nos vemos na teoria musical”, seguindo em seguida para a aula. Mas decidi parar em um bebedouro antes.
Tomei um gole d’água e segui para a sala, que ficava no segundo andar do colégio. No papel, dizia que as aulas de teatro ocorreriam naquela sala — a única da escola inteira que não havia quadro negro — e depois, no ginásio, que ficava ao lado do colégio. Era mais uma obra particular do que o Ginásio do colégio em si.
Ajeitei fraco as alças da mochila nos ombros e adentrei a sala. A professora — que, vale ressaltar, estava estranhamente vestida e... hum, estava descalça — estava fazendo a chamada. Cheguei a tempo de responder “presente” quando ela mencionou o nome “Luke Noah Davis”.
Não sou muito fã do meu nome do meio... mas deixe para lá.
Sentei-me em uma das poucas cadeiras, na frente mesmo. Não estava a fim de causar mais problemas por já estar atrasado, por isso, sentei na primeira cadeira livre que vi.
Passei os olhos pela fila da frente e notei Julia sentada lá. Não haviam muitos alunos na aula de teatro... quer dizer, não tantos comparados à aula de dança ou vôlei, por exemplo. 10, 15 pessoas? Por aí.
O que me incomodou não foi ver Julia sentada a fila ao meu lado.
O que me incomodou, de verdade, foi escutar a professora dizer “Sophie Williams Farro” e logo depois, ouvir o “presente” dela.
Só pode ser brincadeira, viu.
Ignore, Luke. Apenas deixe para lá. Respire.
— Certo, turma — a professora levantou-se do banco onde estava sentada e passou a deslizar os pés descalços pelo mármore limpo. Mulher estranha. —, se vocês estão aqui, é pelo nome da arte! O mundo do teatro é muito mais do que apenas decorar um texto e interpretá-lo para alguém ver. Atuação é arte, é emoção, é contemplação! — Ela juntou as duas mãos por um momento, parecendo tomar fôlego para continuar. Ela estava interpretando? Sinto que vou achar essa aula mais difícil do que parece. — Meu nome é Linda Lauren e eu tenho orgulho em dizer que sou uma atriz. Mas decidi dedicar meu tempo, meu trabalho e minha vida a ensinar a arte maravilhosa da atuação a crianças como vocês. — Aham, sei. — Para começarmos essa aula... eu quero saber, daqui, quantos podem me dizer um pouco sobre a origem do teatro?
Ela levantou um pouco a cabeça, para ver a turma da melhor forma possível.
Sem resposta, continuou:
— Segundo a Enciclopédia Britanica, a palavra teatro deriva do grego theaomai – olhar com atenção, perceber, contemplar. Theaomai não significa ver no sentido comum, mas sim ter uma experiência intensa, envolvente, meditativa, inquiridora, a fim de descobrir o significado mais profundo; uma cuidadosa e deliberada visão que interpreta seu objeto. — Novamente, ela ficou em silêncio. Tenho a total certeza de que ela leu aquilo em algum livro e decorou para dizer para todos os que perguntassem. Afinal, ela é uma atriz. — Existem várias teorias sobre a origem do teatro, mas muitas especulações dizem que existiam rituais artísticos teatrais em 80,000 a.C. A arte sempre fez parte da nossa vida, quanto mais, o teatro. Imagine o quanto deveria ser chato o nosso cotidiano sem o teatro, sem filmes, sem novelas... Tudo é arte. Nunca se esqueçam disso... tudo o que nos rodeia é arte. E aqui, vocês aprenderão a interpretá-la e ajudá-la e ajudar vocês!
Julia levantou a mão e a professora sorriu. Já citei que ela não anda, e sim, se arrasta?
— Sim?
— Nós vamos estudar a origem do teatro e essas coisas, ou vamos atuar logo? — Ela parecia meio impaciente, fazendo a professora sorrir.
— Que bom que perguntou! — Apesar de tudo, ela parecia bem humorada. Bem humorada demais, até. — Mas, sim, vamos atuar. Na realidade, turma, hoje, no primeiro dia de aula, vocês já vão começar a decorar as falas para a nossa primeira peça de verdade! — A turma ficou feliz após a professora declarar tal frase. Já íamos atuar? Legal, realmente legal. — Eu sempre detestei coisas teóricas — ela soltou um risinho um tanto histérico e o abafou com a mão. Eu deveria estar com a maior cara de “WTF” agora. —, enfim! Sempre achei que se aprende melhor fazendo na prática. É por isso que eu vou ensinar vocês a atuar, atuando. E nós vamos começar a ensaiar a nossa peça, que apresentaremos no final do ano, já na próxima aula.
— E que peça vai ser essa? — O rapaz que estava à minha frente perguntou. Ele tinha os cabelos levemente cacheados e grandes. — Algo clássico, né? Como um conto de fadas, Romeu e Julieta, ou sei lá...?
Novamente, mais um risinho histérico da professora.
— E é aí que você, meu querido jovem, se engana! — Ela juntou as mãos e deslizou seus pés descalços pela sala novamente. Queria perguntar se ela ficava sem sandálias só quando estava trabalhando ou se era daquele jeito toda hora mesmo... — Eu escolhi um romance avassalador! Novo, porém, ótimo! Uma história de amor que envolve mistério e drama, que deixará todos de queixo caído! E que ainda, foi lançado recentemente, e tem conquistados milhares de fãs jovens, igual a você. — Ela o encarou. — Vocês interpretarão Twilight.
Gargalhei.
Juro, foi sem querer.
Crepúsculo? Sério? A Saga Crepúsculo?
— Crepúsculo? — Pensei alto, mas acabou saindo como uma pergunta.
— Exato. — ela sorriu. As meninas da sala, logicamente, estavam em festa. Mas... bem, eu não estava lá tão feliz não. Nada contra a história, é só que... não faz muito o meu estilo. Linda foi até o seu banquinho e pegou vários papéis. — Aqui comigo eu tenho todos os papéis. Vocês podem fazer o teste para um, dois, três ou até quatro personagens! Todos ficarão com algum papel... o que vai mesmo me tomar trabalho será escolher Edward e Bella, logicamente. Mas eu precisarei de papéis para: Emmett, Jasper, Rosalie, Carlisle, Esme, Charlie, Mike, Jessica, Alice, Jacob, James, Laurent, Renné, Victoria e Angela. Pelo que vi, minha turma cairá perfeitamente, juntamente é claro, com os personagens principais.
— Oh, cara! — O rapaz que estava a minha frente virou-se para mim. — Nem acredito nisso!
— Você está feliz? — Perguntei.
— Preferia algo mais clássico. — Ele torceu os lábios. — Ah, sou Max.
— Oi Max. Sou Luke. — Apertamos as mãos. Acho que já tinha visto Max no primeiro ano... é, acho que sim. — E... é, eu também não tô tão feliz com isso.
— Vai se inscrever pra qual papel?
— Sei lá! — Declarei. Eu realmente não sabia que teste fazer. — Talvez... Jasper, eu acho. Ou James.
— Vou fazer para Jasper, também... — Olhando bem para Max, sim, ele parecia com o ator de Jasper. — Por que não faz para Edward?
— Edward não tem olhos azuis. — Respondi sorrindo. Sim, aquela havia sido a desculpa mais terrível que eu poderia arrumar, mas... eu realmente não queria a pressão de ser Edward Cullen. — Farei para James, então.
— Não, continua com o Jasper. Gosto de ter alguém com quem competir. — Max sorriu maliciosamente.
— Certo, então. — Fiz que não com a cabeça e levantei-me da cadeira, pedindo as falas de Jasper e James para ensaiar. Havia uma fila indiana de pessoas e notei que atrás de mim, estavam Julia e Sophie.
Não pude deixar de escutar a conversa delas, mesmo que a sala estivesse uma bagunça.
— Por que você não faz o teste como Bella? — Sophie parecia retrucar.
— Sou a Alice Cullen perfeita. E você é a Bella. Vamos, Soph, só precisa pegar as falas e ensaiar... eu sei que você é uma artista.
— Jasper e James. — A fila andou e eu pedi, tentando ignorá-las. Linda sorriu para mim e me entregou os papéis.
— Acho que você será o Jasper perfeito, garoto. — Ela me analisou e eu sorri amarelo.
— Certo — Sophie —, farei Bella e Rosalie, então. — Saí da frente da professora e segui para o meu lugar.
— Tem certeza que Victoria não é melhor? — Vi Julia olhar de relance para mim e sorrir logo depois. Fiz que não com a cabeça e passei a ler as falas.
Eram poucas as de Jasper... as falas de James tomavam pouco mais que duas páginas, e focava mais na luta em que ele tem com Edward no final da peça.
Só quero ver como farão isso tudo. E quanta verba vai ser necessária para tal.
O fim da aula de teatro foi como o início. A professora contou a história e como seria apresentada a peça, e nos deu os últimos quinze minutos livres para ler e ensaiar as falas.
Estavam faltando cinco minutos para o fim da aula e, de verdade, eu mal podia esperar para sair daquela sala. Estar no mesmo ambiente que Sophie é, realmente, terrível.
O sinal não tocou, mas a professora disse que poderíamos sair. É assim, creio eu, nas aulas complementares. Algo tipo, deu a hora, o professor avisa. Saí da sala relendo as falas e prestando pouca atenção no caminho.
— Ei, cara. — Nate me chamou. Virei para trás... ele não estava com uma aparência tão amistosa.
— Oi. O que houve contigo?
— Vou sair do jiu-jitsu. Definitivamente. — Passamos a caminhar juntos para a aula de teoria musical.
— Por quê?
— Viu a orelha daquele professor?! — Ele pareceu aterrorizado. — Eles não usam protetor! A orelha dele parece um...
— Nate, não. — O repreendi.
— Enfim. Eu sou muito lindo e pretendo continuar com minha linda orelha normalzinha e bonitinha com formato de orelha. — ele suspirou.
— Mas você não corre esse risco no boxe?
— Não, não. Muito raramente, sabe? No MMA, sim, eu correria, mas não no boxe. O bom e velho boxe. Ficarei apenas com ele. Tem vaga na aula de teatro?
Sorri maliciosamente.
Nate detesta Crepúsculo.
— Claro que sim, é só falarmos com a professora. Vamos lá. — Peguei o braço dele e fiz o caminho de volta para a sala de teatro.
— Ei, Professora Lauren — a chamei. Ela estava perdida entre os papéis. —, meu amigo quer participar de suas aulas.
— Que ótimo! — Ela juntou as mãos.
— Ele saiu da aula de jiu-jitsu... quer algo mais... calmo. — Ou que não estoure as orelhas.
— Ah, claro. Meu jovem, você amará o mundo da arte, é tão melhor do que a violência... — Nate sorriu amarelo, vendo os olhos foscos da professora o encararem. — Enfim. Qual é o seu nome?
— Nathaniel Williams Farro. — Ele respondeu sorrindo falsamente.
— Certo, Nathaniel... — Ela sorriu, depois de anotar seu nome. — Na próxima aula teremos testes para a peça, então, qual personagem de Crepúsculo você quer ensaiar?
Nate me olhou com fúria.
— Crepúsculo? Bem, eu...
— Hum... olhando para você... você é um garoto bem forte. Se dará bem como Emmett, aposto.
Nate ainda me encarava com raiva. Olhei para ele e fiz um gesto com a cabeça, como se dissesse “você se enfiou nessa”.
— Pode ser. — Ele deu-se por vencido.
— Perfeito! — Ela lhe entregou alguns papéis grampeados uns nos outros — Nos vemos na sexta.
— Mas... professora... apenas dois dias?
— Você consegue. — Ela virou-se e eu coloquei a mão no ombro de Nate, tirando-o da sala.
— Seu...
— Olha a boca, Farro. — Sorri, cortando-o. — E além do mais, Julia está na aula de teatro.
Nate fez que não com a cabeça, estando mais do que irado. Mais.
— Você sabe que eu detesto isso! Que merda, Luke. Sério, vai se ferrar — Ele, finalmente, me ofendeu, fazendo-me rir ainda mais.
— Só está nisso por que você mesmo quis.
Nate negou com a cabeça novamente. Estava realmente irritado.
— Vamos pra droga da outra aula.
Não era certo se sentir tão bem vendo a fúria de outra pessoa, ainda mais, sendo essa pessoa um de meus melhores amigos. Mas, cara, eu tive que agüentar uma hora inteira dentro daquela sala com a insuportável da Sophie por causa dele mesmo. Se estou sentindo prazer em vê-lo sofrer, é por que preciso de ao menos um pouco de felicidade.
Pelo menos, agora é outra aula. Sophie não faria teoria musical, afinal, ela estudou quatro anos na melhor escola de música da Inglaterra — provavelmente, do mundo. Por que faria uma aulazinha complementar?
Por que sério, até o ar que eu respirava sem ela no mesmo ambiente ficava mais limpo. Ela emanava energia negativa.
— Finalmente! — O professor disse ao ver eu e Nate entrarmos na sala. Sim, estávamos atrasados... mas... não deram nem cinco minutos. — Achei que os cavalheiros não iriam mais chegar! Quem é Farro e quem é Davis?
Engoli seco.
— Eu sou Davis. — Disse num fio de voz.
— Senhor Luke Davis e Senhor Nathaniel Farro, vocês acabaram de perder minha explicação inicial sobre melodia e o que faremos nessa aula, então, por favor, sentem-se em seus lugares juntos aos seus parceiros e lhes peçam que eles os expliquem.
Ficou claro que a aula seria em dupla pelo simples fato das filas serem duplas. O problema era que Julia estava sozinha em um canto, e Sophie sozinha em outro. Sim! Sophie estava lá! Agora, me diga: POR QUÊ?
E como não bastasse o fato de ela ter vindo para essa aula, ela não sentou junto à Julia! Por que não sentaram juntas?
Respirei fundo e vi Nate se apressar em ir até a Srta. Bynum.
Fiquei lá, parado, com cara de idiota. Mas eu não podia me sentar ao lado dela! Não se quisesse sair vivo desta aula. Ou sem matar ninguém.
— Não vai se sentar, Mr. Davis?
— Sim, professor, eu poderia trocar de lugar com...
— Sente-se. Agora. — Ele falou de forma extremamente dura e grossa. Suspirei e me apressei em sentar-me na cadeira ao lado de Sophie. Não me dei ao trabalho de olhá-la.
— O que ele explicou? — Perguntei, notando que todos haviam aberto um caderno e estavam escrevendo algo.
— Acho que deixei claro naquele dia que não quero que me dirija a palavra. — ela bufou, escrevendo algo em seu caderninho.
— Não sei se você notou, mas eu não tenho escolha. Estou sendo obrigado a me sentar do seu lado.
— Jura? — ela ironizou.
— Dá pra parar de ser idiota e me dizer o que ele explicou? — Eu perguntei e esperei. Ela apenas me ignorou.
Respirei fundo.
— Sophie, estou tentando não ser grosso com você... — comecei, mas fui interrompido pela sua gargalhada sarcástica.
— Sinto dizer, mas não está tendo êxito.
— É só me dizer o que ele passou, inferno! — Exaltei-me. Qual é, me dá um desconto. Quem não se exalta quando a pessoa que você mais odeia no mundo inteiro é a única que pode te ajudar e simplesmente se recusa a fazer isso?
— Não. Vou. Dizer. — Ela disse compassadamente, sem ao menos me olhar.
— Professor! — Chamei a atenção do professor, que estava bem ocupado escrevendo loucamente em algum papel. Ele me olhou e fez um gesto com a cabeça, mandando-me continuar. — Minha colega não quer me dizer o que o senhor explicou.
— Por quê? — Ele largou o lápis e ajeitou os óculos.
— Pergunte a ela! — Joguei os braços para cima, fingindo não saber de nada. Sophie provavelmente me encarava com a maior cara de “vou te matar” agora.
— Senhorita Farro?
— Por que eu não quero explicar nada a ele. Ele é um idiota, fraco, influenciável e babaca. — Ela respondeu com a maior naturalidade do mundo, fazendo algumas pessoas dizer algo como “uh...” ou “ai...”.
O professor sorriu sarcasticamente.
— Pois eu sugiro que a Srta. deixe de lado suas opiniões sobre o Sr. Davis se não quiser ter a nota mínima. Não sei se a senhorita sabe, mas a sua nota aqui pode e vai interferir em sua média escolar normal. — Ele disse e voltou a olhar os papéis e escrever neles.
Sophie bufou.
— Faça uma redação dizendo o que a música significa pra você. Ele vai avaliar essas bostas e definir o padrão musical da turma, para projetar um melhor método de aprendizagem. — Ela disse tudo praticamente cuspindo, sem ao menos me olhar.
Abusei de minha ironia olhando-a no fundo dos olhos, sorrindo largamente e dizendo:
— Muito obrigado.
Vi ela revirar os olhos e levantar a mão. Não, ela não levantou seu dedo para me mostrar, talvez por saber que o professor saberia disso.
Peguei meu caderno e comecei minha redação.
Até que senti algo bater contra minha cabeça. Virei-me para trás, e lá estavam Nate e Julia. Ele havia jogado uma borracha na minha cabeça?
Ele começou a fazer a forma de um coração com as mãos e Julia sussurrava algo como “isso é amor”.
Olhei-os espantados. Como assim? Eu a odeio! Odeio, certo? Odeio.
Sussurrei um “vão para o raio que os parta!” bem devagar, para que lessem meus lábios perfeitamente. Legal, já me basta uma idiota fútil ao meu lado, agora tenho dois bobocas que acham que eu sinto algo por ela além de ódio mortal.
Estão errados. E não sabem o quanto.
Aquela aula foi, definitivamente, mil vezes pior do que a do teatro. Além do professor Christopher ser terrível, estar perto de Sophie e respirar o mesmo ar impuro que ela, ainda tinham Nate e Julia para me encherem o saco!
Sim, eu estava com muita sorte! Meu dia estava indo de bom à melhor. Coisa linda.
Espero que tenham sinto a ironia.
Finalmente, aquela bendita aula acabou. Entreguei a minha redação e saí da escola o mais rápido que pude. Não queria nem falar com Nate. Ele tinha me feito ficar justamente nas mesmas aulas que Sophie. Inacreditável, isso.
Coloquei meus fones de ouvido e tentei me perder no rock alto que The Pretty Reckless me proporcionava, enquanto andava devagar. Senti um pequeno empurrão me projetando para frente e sorri, ao olhar para trás e ver Stephy se acabando de rir.
Retirei os fones e fui até ela, pegando-a pela cintura e beijando-a. Encerrei o beijo com dois selinhos e ela sorriu.
— Como foram as aulas? — perguntou mordendo o lábio inferior.
— Péssimas — não me agüentei e a beijei novamente. Ela sabe que provoca quando morde o lábio daquele jeito.
— Vamos melhorar o seu dia, então. — Ela deu um sorrisinho sonoro e se separou de mim, segurando o meu braço fortemente, e passamos a fazer o caminho da minha casa.
Eu amava quando ela se agarrava ao meu braço, desde a primeira vez. Demonstra que... hum... sei lá, é só uma sensação incrível.
Fomos em silêncio em direção a minha casa. Assim, desse jeito. Ela agarrada ao meu braço e escutando música pelo outro fone. Só isso.
E taí um dos fatos que me fez gostar de Stephy. Não é necessário muito pra ficar de bem com ela... digo, a simples presença dela já me traz uma certa boa sensação... Eu não precisava me esforçar. Eu só era eu mesmo, e ela só era ela... e assim a gente caminhava junto... Era tudo tão... fácil. Não havia sofrimento nem briga... era algo bom, constantemente. Sinceramente? Acho que esse é o intuito do namoro, em si. Ficar feliz. E eu ficava feliz perto dela, sem mentira! Não que eu sentisse meu coração pular dentro do peito quando a via, ou aquele arrepio enorme, ou qualquer outra dessas coisas que citam muito nos filmes e livros clichês de hoje em dia. Não sabia se eu estava apaixonado, pra ser sincero. Mas eu não queria que ela fosse embora, por que me agrada muito mesmo ficar com ela.
E bem... ela já havia dito que me amava uma vez.
No dia que eu tiver certeza que o meu sentimento for mútuo, ela saberá disso. Por agora, tenho deixado tudo como está. Está bom assim... ela mesma sabe disso.
— Luke? — Ela passou uma mão pelo meu rosto — Oi? Você tá meio aéreo hoje.
— Desculpa — murmurei, sem graça. Notei que já estávamos na minha rua, e quase em frente a minha casa.
— Pensando em quê?
— Você, oras — Respondi sorrindo e ela corou um bocado. Sim, eu sabia muito bem que ela gostava daquilo, e afinal, não me custava ser romântico. E não era mentira, eu estava mesmo pensando nela. Passei a mão pelos bolsos tentando achar a chave de casa. — Espera, eu acho que minha chave tá dentro da mochila. — Separei-me do braço dela e abri a mochila, passando minha mão por toda ela, até achar o metalzinho gelado.
Abri a porta e deixei Stephy entrar.
— Sua mãe tá aí? — Ela perguntou. Bem, digamos apenas que o relacionamento da minha namorada com a minha mãe não é o dos melhores. Stephy até tentou ser simpática, mas minha mãe simplesmente não aceita! Outro dia ela disse que eu me magoaria por ela. Disse que ela era problema. Disse que não gostava dela.
É. Pois é. Coisa de mãe, sabe? Sou o único filho, afinal.
— Não — respondi fingindo indiferença —, e nem meu pai. Ela tá super enrolada na promotora de festas e meu pai, então, nem se fala. — Vi ela se jogando de qualquer jeito no sofá. Outra coisa que gostava nela: Ela se fazia de folgada. Mas qual é, não enganava ninguém.
Sentei-me ao seu lado.
Não é preciso dizer que assim que ligamos a TV, começamos a conversar. E conversa vai, conversa vem, começamos a nos beijar. E beijo vai, beijo vem, ele foi aprofundado.
Soltei um suspiro fraco ao sentir as unhas dela arranharem fraco a extensão de meu abdômen. Enquanto isso, ela me beijava da forma mais calorosa que já havia experimentado. Separei-me de sua boca por um segundo, buscando ar, e ela desceu a boca para meu pescoço. Não havia nem notado o momento em que ela sentara em meu colo.
Lá ela começou a deixar mordidinhas e lambidas que, vou te contar, maltrataram.
Eu já sabia aonde aquilo pararia.
— Stephy... — murmurei com a voz esganiçada. — ...por favor, eu acho que ainda não é hora... — Tentei terminar a frase, juro que tentei.
Mas ela me calou com mais um daqueles beijos.
Senti as mãos delas saírem debaixo da minha camisa e arranharem minha nuca levemente. O beijo estava super urgente, e eu já podia sentir que estava me animando.
— Stephy... — novamente, tentei. Não queria ser um idiota com a menina, por mais que estivesse difícil. — ...eu acho que é muito cedo ainda para nós... — Dessa vez, ela não me calou com um beijo. Apenas senti ela deixar uma marca no meu pescoço.
— Steh... — minha voz estava mais como um suspiro do que como uma voz normal, eu mal consegui proferir o seu nome. Não consegui, aliás. Ela subiu sua boca vagarosamente até a minha e me deu um daqueles beijos, de arrancar todo o ar do pulmão e jogá-lo para o espaço. — Stephy, eu... — Senti as mãos dela, novamente, passarem por baixo da minha camisa e me arranharem. Ah, dane-se. — eu... Vamos para o meu quarto.

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