17 de out. de 2013

[Resenha] Jane Eyre, de Charlotte Brontë

Título Original: Jane Eyre
Skoob












Jane Eyre é uma menina órfã que vive com sua tia, a sra. Reed, e seus primos, que sempre a maltratam. Até que, cansada do convívio forçado com a sobrinha de seu falecido esposo, a mulher envia Jane a um colégio para moças, onde ela cresce e se torna professora. Com o tempo, cresce nela a vontade de expandir seus horizontes. Ela põe um anúncio no jornal em busca de trabalho como governanta. O anúncio é respondido pela senhora Fairfax, e Jane parte do colégio para trabalhar em Thornfield Hall. Lá, ela conhece seu patrão, o sr. Rochester, um homem brusco e sombrio, por quem se apaixona. Mas um grande segredo do passado se interpõe entre eles.






Alô! É quinta feira e Sofia tem comentários literários para tecer. Seja bem vindo!
Para a resenha de hoje, vamos viajar para a Inglaterra Vitoriana e descobrir que, apesar de estarmos no século XIX, já existiam protagonistas femininas com uma coragem inexorável e uma força de vontade devastadora… tudo isso, enquanto usavam um corpete.

“Eu não sou nenhum pássaro; e nenhuma rede me prende; eu sou ser humano livre com uma vontade independente.”

1. O universo

Como já referi, a história de Jane Eyre, nossa heroína, desenrola-se na Inglaterra vitoriana, por volta de 1850’s. Claro que esse cenário vem com o seu próprio conjunto de regras – sobretudo sociais – e implicações na história. É do conhecimento geral que a ordem social de então era extremamente rígida (especialmente para quem já leu Jane Austen - mas não falemos de Jane nessa resenha, para evitar que Charlotte dê algumas voltas no seu caixão, visto que ela própria criticou o trabalho de Austen), o que vai em muito condicionar a forma de pensar de Eyre, e logo, também de agir - assim como condiciona as ações daqueles que a envolvem.
Talvez seja por isso que decisões que, nos nossos dias, nos parecem exageradas e irracionais, tenham toda a justificação para ser tomadas por Jane. Os princípios morais são outro fator que em muito influenciará a protagonista, e também eles se devem ao contexto histórico onde ela se encontra.
Para Charlotte Brontë, esta é a realidade em que ela habita, por isso aquilo que nos parece estranho ou ultrapassado por ser próprio dessa época, obviamente, não levanta quaisquer dúvidas para a autora. Fora isso, penso que é um retrato muito interessante da sociedade de então, e visto por olhos um pouco diferentes do habitual - os de Jane, que por vários motivos, se torna quase sempre marginal à sociedade.
Tudo isto, penso eu, só enriqueceu o trabalho de Brontë, que por si só, é um ótimo trabalho descritivo.

Pontuação:


2. A escrita e o enredo

A escrita é, como não poderia deixar de ser, caracteristicamente vitoriana, rica em descrições, detalhes, e referências a passagens de outras obras. Há um embelezamente estético que não passa despercebido a leitor algum, mas o fato é que a narrativa se torna apelativa e não propriamente pesada em adjetivos e descrições, como seria de esperar. Isto deve-se à capacidade de Brontë em contrabalançar com perícia a descrição e a ação - tudo isso, sem abandonar um certo tom de crítica social muito sutil -, mas também se deve, e em muito, ao enredo.
E o que tem de tão especial esse enredo? O que o torna tão bom é a sua complexidade e os seus enigmas, sendo que, muitas vezes, a ação se desenrola de formas inesperadas para o leitor. Existem mistérios e dúvidas que, durante muito tempo, ficam por responder, deixando até o leitor mais atento indeciso sobre o que pensar. As explicações acabam sempre por surgir, mas só depois de alguma tortura. Mas admitamos: que leitor comprometido não curte um pouquinho de tortura?

Pontuação:


3. Os personagens

Esta é uma obra com um elenco de personagens consideráveis - até porque é uma biografia, o que faz com seja incluídas todas as pessoas que, de um jeito ou de outro, foram importantes na vida de Jane. Mas também por ser uma biografia, há muitas personagens recorrentes - ou seja, que surgem uma e outra vez, e muitas vezes desaparecem por algum tempo só para voltar a surgir no futuro - e, claro, há um claro protagonismo dado a Jane. O palco é dela.
E ainda bem! Pessoalmente, eu adoro Jane. Como em toda a obra bem escrita, ela possui os seus defeitos - dificuldades em resistir calmamente à opressão; um temperamento ou muito manso, ou muito prepotente; uma submissão natural a caráteres mais fortes... -, mas o jeito como ela valoriza a humanidade nas pessoas, muito mais do que o seu aspecto; a importância que ela dá ao conhecimento e a disfrutar um bom livro; a necessidade que ela tem de ser amada e de, por sua vez, amar de volta; a força impetuosa com que ela persegue seus valores morais... Tudo isso me faz querer me identificar com ela, o que a torna, de longe, na minha personagem favorita. O que pode não acontecer com você - e, como eu já falei noutras resenhas, é uma das características que eu considero mais importantes quanto a construção de um personagem.
Os restantes personagens são extremamente diferentes entre si - e muitos deles possuem um caráter muito marcado - o que eu acho que demonstra ainda mais o brilhantismo de Brontë. Honestamente, para mim, são os personagens que fazem o livro valer a pena.

Pontuação:


4. A temática

Sendo uma biografia, Jane Eyre não tem uma única temática fortemente marcada. Porém, eu diria que o contraste entre o amor e os valores morais é o tema mais recorrente e, talvez até, importante de todo o livro. Em muitas situações, Jane é forçada a escolher entre ser apreciada, amada - ou simplesmente incluída socialmente - e seus valores morais e, no fundo, a própria pessoa que ela é. A minha apaixonada admiração por Jane começa com sua enorme força de vontade, que nunca a permite viver numa situação em que ela se sinta anulada como pessoa.
Em momentos críticos, ela sempre escolhe aquilo em que acredita e aquilo que ela quer acima de qualquer outra coisa. E o fato de ela o conseguir fazer talvez lhe dê esperança e coragem a si para fazer o mesmo. Sei que, comigo, foi isso o que aconteceu.

Pontuação:


5. Tópico surpresa: O vlog

"O vlog?", você pode estar-se perguntando, "mas que vlog?!". Bem, é certo que ele não foi criado por Brontë (well, duh), mas também é verdade que ele existe, e pretende se passar por algo que a própria Jane criaria.
À semelhança daquilo que Hank Green e Bernie Su fizeram com The Lizzie Bennet Diaries, Alyssa Hall (a própria atriz que interpreta Jane) e Nessa Aref criaram uma história virtual a ser contada principalmente através do formato de vlog (aqui está o site da história, intitulada "The Autobiography of Jane Eyre"). O legal é que se pretende que os personagens pareçam realmente existir (como o que aconteceu com a história de Lizzie), e que as interações virtuais entre o público e eles sejam o mais realistas possíveis.
Até agora, posso garantir que isso está acontecendo. A história está plausível, e tem sido uma aventura assistir, semana após semana, a como os escritores escolherão adaptar essa história tão antiga - e, pelos vistos, tão contemporânea.
O resultado foi um vlog criativo, apelativo, e muito, muito engraçado. Especialmente engraçado.
Assista por você mesmo ;)



Pontuação:


Conclusão

Ao nos trazer Jane Eyre, Charlotte Brontë provavelmente não considerou ter criado uma obra que resistiria às provações do tempo e que, século e meio depois, seria visto como um clássico, digno até de adaptações para formatos mais recentes da tipicamente humana narração de histórias. O fato, porém, é que eu, assim como muitos outros fãs, amo ler e reler essa história, e estou simplesmente deliciada com a chance que tenho agora de ver essa obra recontada numa webseries.
E se o nome de Brontë lhe pareceu familiar, é porque ela é irmã de Emily Brontë, a autora d'O Morro dos Ventos Uivantes, outro livro que se tornou um clássico. Tendo lido os dois, posso dizer que considero o trabalho de Charlotte muito mais interessante, complexo, realista e apelativo - mas essa é só minha opinião. Se gostou - ou odiou - O Morro dos Ventos Uivantes, minha sugestão é: leia Jane Eyre e compare. Nada como uma boa rivalidade entre irmãs para inspirar a criatividade ;)

Pontuação final:
 





Nota da revisora (Sarah Malta): o vlog The Autobiography Of Jane Eyre, até semana passada disponível apenas em inglês (para os que, como Sofia, têm as manhas de pegar um filme sem legenda e entendê-lo completamente), graças à Larissa Siriani (que também legendou The Lizzie Bennet Diaries), está agora está sendo esporadicamente legendado no canal dela no YouTube.
Dica de amiga? Faça um favor a si mesmo e assista. É de matar de tão bom que é.



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