14 de set. de 2013

Dica de Sábado: Dom Casmurro

Só para avisar: o post contém BASTANTE spoiler e algumas cenas um tanto quanto detalhadas. Perdão, mas não sei escrever sobre livros sem dar muito spoiler. Sério, mil perdões mesmo.
Outro aviso: comecei como se fosse uma resenha, desenvolvi como se fosse um resumo, finalizei como se fosse uma dica. Acostumem-se com minha retardadice aguda, por favor. E perdão por isso também.
Espero que gostem do post, de qualquer forma. Simbora!

Publicado pela primeira vez em 1899, "Dom Casmurro" é uma das grandes obras de Machado de Assis (na minha opinião, uma das melhores também) e confirma o olhar certeiro e crítico que o autor tinha sobre toda a sociedade brasileira. Pegando a temática do ciúme – muito bem abordada, diga-se de passagem –, Assis conseguiu polemizar no caráter de sua protagonista, a Capitu.
Li esse livro duas vezes, uma, quando tinha uns doze anos, por pura curiosidade já que assisti toda a minissérie da Globo e fiquei perdidamente apaixonada pelo tema e romance. E outra, ano passado, aos dezesseis, para fazer uma prova de Literatura (só não gabaritei a prova por uma questão, aliás, por favor, morram de orgulho de mim, porque odeio ter que estudar literatura hahahaha).
Dom Casmurro é o típico livro que você se irrita e se admira ao mesmo tempo. É uma coisa bem esquisita, mas é realmente o que acontece. Machado consegue brincar com as palavras de uma forma incrível e, com isso, mexe com sua opinião também. Te deixa um tanto quanto tonto enquanto lê, porque ao mesmo tempo que ele explica e te faz ter uma opinião formada – no caso do ciúme que Bentinho sentia de sua mulher, Capitu –, ele faz com que você desista daquela ideia inicial e pense algo totalmente diferente. 
Mas vamos ao início de tudo. O romance começa com uma situação posterior a todas as coisas que já aconteceram, com Bentinho já sendo um homem de idade. E então, ele conta por que e como recebeu o apelido de "Dom Casmurro". A expressão é uma coisa bem fácil de entender, um jovem poeta sentou-se ao lado de Bentinho no trem e tentou ler pelo menos um verso de seus poemas, mas Bentinho simplesmente cochilou, o ignorando. Irritado, o rapaz decidiu, então, apelidá-lo de Dom Casmurro. E não foi que o apelido pegou?
E então Machado iniciou a narração de verdade. Começando um projeto de "rememoração de existência", que ele chama de "atar as duas pontas da vida". Logo, nós somos levados à infância de Bentinho, quando ele vivia com a família num casarão na rua de Matacavalos. Bentinho mostrava-se bem feliz, aliás. Confesso que foi uma das partes mais cansativas para mim, até porque, início de livro é sempre chatinho. Mas nunca me dei bem com o Bentinho, foi um personagem que eu não consegui me apegar, sempre preferi a Capitu. Bentinho sempre fora um menino cheio de complexos e brigas internas enquanto Capitu era uma menina decidida e precoce. Mas voltemos ao rapazinho complexado que leva toda a história. O primeiro fato relevante narrado é, com certeza, também o primeiro motivo de preocupação para o nosso querido Bentinho: uma conversa de sua mãe, donda Glória, com José Dias, um encostado qualquer que vivia às custas daquela família – mas um senhor adorável, também, apesar de fazer um inferno quando queria –, dizendo que Bentinho deveria ser mandado para o Seminário e tornar-se padre. Dona Glória prometera aos céus – desculpe o tom de ironia, é que não me aguento – que tornaria Bentinho um padre pouco antes do menino nascer, já que havia perdido um filho e queria que o outro nascesse em boas condições. É uma coisa bem pirada, até. Mas naquela época, convenhamos, devia ser muito normal. Confesso que não gostaria nem um pouco de viver naquela época. A sociedade era ainda mais maluca do que é hoje.  Mas voltemos à descoberta de Bentinho. O meninio ficara realmente mais furioso com José Dias, o encostado – perdão, mas o apelidei dessa forma e irei chamá-lo assim por um bom tempo –, depois que o ouviu falando sobre a Capitu. Sim! O encostado tivera a coragem de contar para dona Glória a respeito da amizade – colorida – entre Bentinho e Capitu. Uma amizade que era linda, vale frisar. Uma das amizades mais bonitas que já vi. Obrigada por compartilhar essa amizade com o mundo, Machado. Você foi realmente incrível. Meus comentários à parte, voltemos à história.
Bentinho, então, conta tudo para Capitu que não perde tempo e já começa a imaginar inúmeros planos para livrar o amigo – e também amor de sua vida – de toda aquela situação. Porém todos os planos dão errados, puro fracasso. Bentinho acaba sendo mandado par ao seminário, de qualquer forma. Mas antes de ir, selou, com um beijo em Capitu, uma promessa: voltaria logo e se casaria com ela. Pois é, amorecos, o rapazinho complexado ligou o "dane-se" para todos e decidiu, por si só, tornar-se padre coisa nenhuma. Iria para o seminário e daria um jeito de vir embora para casar-se com sua tão amada Capitu. E aí está o que eu mais gosto, a forma decidida em que os personagens resolviam as coisas. Capitu sempre fora assim, como já citei lá em cima, decidida, determinada e precoce. Gostei de ver Bentinho fazer essa promessa à ela já que nunca tive muita simpatia pelo rapaz.
Já no seminário, Bentinho conhece Escobar, que vem a se tornar seu melhor amigo durante toda a trama. Sim, aquele que ganhou fama de ser o traíra graças às cismas de Bentinho, mas isso é coisa para entenderem no fim da resenha. De quelquer forma, Bentinho, nunca visita à família, acaba apresentando seu mais novo amigo para a mãe e Capitu. Tudo normal, todos esperavam, obviamente, que o rapaz conhecesse a família do amigo e se aproximasse ainda mais.
Capitu, enquanto Bentinho estudava – ou fingia estudar – para ser padre, decidiu então se aproximar de dona Glória. E não é que a danada conseguiu convencer a mãe de Bentinho que a relação deles era uma coisa séria e verdadeira? Dona Glória não sabia bem como rsolver o negócio da promessa que fizera, mas queria que seu filho fosse feliz ao lado de Capitu que mostrava-se tão apaixonada por ele, assim como ele por ela. Acaba que dona Glória tira Bentinho do seminário e manda um escravo em seu lugar, alegando que Bentinho não era a pessoa certa para aquilo.  Logo, Bentinho realiza seu sonho e vai estudar Direito em São Paulo e, quando volta, volta sendo o Doutor Bento de Albuquerque Santiago. Por fim, ocorre o tão esperado casamento entre Capitu e Bentinho. Durante a leitura é impossível não sentir e ver o quão verdadeiro o amor que sentiam um pelo outro era, é realmente um romance incrível e intenso. Quando peguei o livro pela primeira vez, não esperava algo tão bom assim. E muito menos esperava me prender tanto à história. Afinal, era praticamente um bebê nesse mundo da leitura e tinha me interessado pela história só por causa de uma minissérie. Mas foi uma experiência que não me arrependi, de verdade.
Mas enfim, voltemos. Escobar também acabara se casando. E com uma antiga amiga de colégio da Capitu! Sim! A Sancha –  a garota de nome estranho, como eu sempre chamei. Mil perdões, mas esse nome realmente é estranho. Mas enfim. A história de Bentinho e Capitu é mais interessante. A propósito, eles formavam o "duo afinadíssimo". Entretanto, a felicidade do casal passa a ser ameaçada – sim, aquela velha história de crise no casamento, todos têm, tiveram e vão ter. Vejam só, até o casal maravilhoso teve. Tudo isso é causado por culpa de um bebê. Sancha, mulher de Escobar, dá a luz a uma bela menininha. Enquanto Capitu nem sequer tinha chances de estar grávida. Porém, em homenagem à Capitu, o casal dá o nome da menininha de Capitolina, o verdadeiro nome da precoce Capitu. Depois de alguns anos, finalmente, Capitu engravida de Bentinho e dá a luz a um belo menininho. Dando seu nome de Ezequiel, em homenagem a Escobar, já que esse era seu primeiro nome.  E então os casais vivem intensamente. Até Bentinho voltar a ter seus complexos e cismas. Bentinho simplesmente vê semelhanças entre seu filho, Ezequiel, com seu melhor amigo, Escobar. E então, sozinho, de repente, chega a conclusão de que Capitu o traiu e o filho é, na verdade, de Escobar. E então tudo desanda.

"Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quartuor..."*

Talvez a criança realmente tivesse semelhanças demais com o Escobar, mas, no caso de manias e um bocado da personalidade, poderia ser por causa da convivência, certo? Na cabeça de Bentinho, não. Todas aquelas semelhanças – e ele insistia em dizer que havia semelhanças físicas, acima de tudo – era o fruto da traição de Capitu, a mulher que ele tanto amou. Numa conversa entre Bentinho e Ezequiel, o homem dissera para o garoto que não era seu pai biológico. Imaginem a cabeça do garoto? Tsc, Bentinho e suas crises repentinas, vai entender! Até pensar em matar o filho ele pensou! Pensou em se matar com uma xícara de café envenenado, também. Bentinho estava ficando completamente maluco... Ou simplesmente se entregando à dor da traição? Vai saber.
Só um P.S. porque não me aguento: Escobar, apesar de ser um ótimo nadador, morre afogado. Aí mesmo que Bentinho fica surtado. Porque Capitu, se realmente o traiu, não demonstra nenhum resquício de que vai contá-lo a tão esperada verdade que, até então, só existia em sua cabeça. Sua última esperança, com certeza, deveria ter sido ouvir a verdade de Escobar, mas aí o cara decidiu bater as botas bem quando notou as semelhanças entre a criança e ele.
Depois de muitas brigas, Bentinho e Capitu decidem se separar. Para evitar os escândalos que na época renderiam muitos comentários humilhantes para Bentinho, arrumaram uma viagem para a Europa.  Um tempo depois, Bentinho retorna ao Brasil sozinho. No maior estilo forever alone, todo abatido. Mas oras, ele que arrumara a situação, certo? Capitu negara a traição até o último segundo. Mas, como disse, Bentinho sempre fora muito carrancudo. Orgulhoso. Bobinho. Complexado. Mas, ainda assim, apaixonado. O tempo foi passando e o famoso Dom Casmurro fora ficando ainda mais triste e nostálgico. 
Capitu, então, morre no exterior.  Nisso, Ezequiel tenta reatar as relações com Bentinho. Mas de nada adianta, Dom Casmurro continua com suas mágoas e o rejeita mais uma vez. Tempos depois, Ezequiel também morre. Só que de uma forma bem infeliz: febre tifóide – que nome horroroso, gente – durante uma pesquisa arqueológica em Jerusalem.
Completamente amargo, Bentinho constrói uma casa de arquitetura igual à  de sua infância. O livro, nada mais é, que uma tentativa de recuperar o sentido da vida. No fim, o narrador, Bentinho, parece menosprezar sua própria criação e acaba se convencendo que o melhor a se fazer é escrever outra obra sobre "a história dos subúrbios".
Sim, exatamente assim, como um completo deprimido fracassado. E talvez ele realmente fosse. Tudo isso fora gerado por uma desconfiança, ele não dera chances para Capitu explicara se havia o traído ou não. Mas confesso que também não tenho uma opinião formada sobre isso. Nunca decidi se acho que Capitu traiu ou não Bentinho. Ela parecia amá-lo bastante, pelo menos. Não fazia sentido toda aquela desconfiança, certo? Mas Bentinho, nosso narrador, insistia nas semelhanças entre Ezequiel e Escobar. Machado de Assis, de forma cativante, brinca com nosso cérebro durante o livro e essa é a parte legal. Isso rende inúmeras discussões com inúmeros argumentos. É um livro que eu recomendo, mas somente para quem tem paciência e gosta de obras antigas.
Para finalizar e polemizar: para vocês, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Leiam "Dom Casmurro" e tirem suas próprias conclusões, depois é só vir aqui e responder nos comentários. Até a próxima resenha/resumo/dica!


*Referência aos futuros – e supostos – triângulo amoroso Bentinho/Capitu/Escobar e o quarteto Bentinho/Capitu/Escobar/Sancha.


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