Sanidade
E vocês não estão acreditando nos seus olhos.
MAS ACREDITEM, POR QUE EU, SARAH, ESTOU AQUI, NO MESMO DIA, COM TRUCKKKKKKEEEEEEEEEERRRRR!!!!!!!!!!!!
ASÇOIJQKÇWOISJÇOQIHEÇLUOIÇHQWOIJSAÇOPQIKWÇASOPJAS
Não vou falar nada nessas notas por que to acabada. Só o que o seguinte: comentem pra mim, ok? Eu mereço, poxa. Poucas pessoas leram o capitulo 7 e tudo mais, então, mais do que justo comentar nos dois, ok? <3
Só isso mesmo <3
Amo vocês, leiam com o coração.
MAS ACREDITEM, POR QUE EU, SARAH, ESTOU AQUI, NO MESMO DIA, COM TRUCKKKKKKEEEEEEEEEERRRRR!!!!!!!!!!!!
ASÇOIJQKÇWOISJÇOQIHEÇLUOIÇHQWOIJSAÇOPQIKWÇASOPJAS
Não vou falar nada nessas notas por que to acabada. Só o que o seguinte: comentem pra mim, ok? Eu mereço, poxa. Poucas pessoas leram o capitulo 7 e tudo mais, então, mais do que justo comentar nos dois, ok? <3
Só isso mesmo <3
Amo vocês, leiam com o coração.
Uma
das coisas que aprendi enquanto babá é que criança gosta de diversão — não
importa o quão absurda e idiota ela pareça a você, adolescente bem resolvido
que é. Isto significa que se o seu Filho Provisório (é como eu gosto de chamar
os bebês encarregados a mim) quiser que você pule entre os tapetes como se o
chão estivesse coberto de lava e tubarões — Isabelle não acreditou na minha
teoria de que tubarões não poderiam nadar em lava sem virarem peixe frito —,
você tem de fazê-lo. E, se por acaso, seu Filho Provisório quer que você imite
o sapo da história — “por favoooor, Hayleeeeeey” —, você não tem outra escolha
senão imitar. Por que aos olhos da criança, você não está passando uma vergonha
imensuravelmente grande.
Só
está se divertindo.
Por
isso aprendi a gostar desse emprego. Às vezes, é muito complicado ser um
adolescente, ter responsabilidades, escola, coisas com que pensar. Por metade
do meu dia, tudo o que preciso fazer é pensar como uma criança e me divertir
como uma. Além disso, só fazia duas semanas que eu trabalhava para os Farro,
mas Jon e Belle me aguardavam furtivamente na porta toda vez que eu chegava.
Aquelas crianças me amavam. Tanto quanto eu aprendi a amá-las.
Mas
como toda criança, Jon e Belle tinham seus pontos que as diferenciavam do resto
do mundo. Hoje, por exemplo, enquanto preparava sanduíches de manteiga de
amendoim e deixava-os entretidos com o meu Tijolo Telefônico, uma coisa
engraçada aconteceu:
Jon:
Haayleeeeeeey, você tem aquela música no seu celular?
Eu:
Que música?
Jon
segurando o celular com suas mãozinhas: Aquela música... que passa na tevê...
Eu
retirando as cascas de uma fatia de pão por que Isabelle era chata: Têm um
bocado de músicas que passam na tevê, Jon.
Jon,
choramingando, enquanto Isabelle colocava meu Tijolo Telefônico na boca: Mas é
aquela... I... set them up, set them up,
set them uuup....
Eu,
largando o que estava fazendo e me dirigindo a Isabelle para retirar o celular
de sua boca: Belle, por favor, você sabe que não é certo colocar celulares na
boca. Lembra do que te falei?
Belle:
Hmm... não.
Eu,
lhe lançando um olhar incriminador: Não?
Belle
suspirando: Não colocar coisas na boca que não são de comer.
Eu:
Celular é de comer?
Belle:
Não, mas eu queria saber o gosto!
Eu:
Mas o que foi que conversamos?
Belle,
suspirando: Não colocar coisas na boca que não são de comer.
Eu:
É isso aí.
Jon:
Hayleeeeeey! Você tem ou não tem a música?!
Eu:
Que música?
Jon:
Eu já te falei!
Eu: Qual?
Belle
para Jon: Aquela que tem a mulher de olho azul?!
Jon,
entusiasmadíssimo: É!
Então
eles passaram a cantar a música para mim e eu concluí que se tratava Startruckk,
cantada por 3OH!3 com a participação de Katy Perry (a mulher dos olhos azuis,
como Isabelle deliciosamente ponderou). A letra basicamente falava sobre uma
pessoa que não aderia ao amor e usava as outras pessoas em sentidos, no mínimo,
sexuais.
Na
minha época, as crianças cantavam músicas sobre passarinhos.
Tanto
Jon quanto Isabelle ficaram muito desapontados comigo quando eu lhes disse que
não tinha a música no celular — uma vez que ela fora um sucesso há pouco mais
de dois anos atrás —, mas prometi a eles que poderíamos tocá-la no violão de
Zac. Isso os animou muito. Jonathan quis gravar um vídeo para fazer sucesso na
Internet, e eu disse que tudo bem, mas a verdade é eu provavelmente jamais
jogaria uma coisa dessas no YouTube. A
facilidade de se lidar com uma criança é que, às vezes, você pode contar ume
mentirinha aqui e acolá. Ele não saberá a diferença entre as coisas.
Por
isso, por volta das cinco da tarde, depois de fazê-los comer seus sanduíches e
beberem seus copos de leite achocolatado, e bronqueá-los pela quinta vez no dia
por que ambos estavam brigando — veja só, está no meio do meu turno e eu só o
fiz cinco vezes, não vinte, como antigamente — subimos as escadas em direção ao
quarto de Zac. Peguei seu Fender (!) emprestado por alguns minutos e o levei ao
quarto de Jonathan, que se encontrava menos bagunçado do que o da irmã.
— Eu
nem sabia que a Hayley sabia tocar violão! — gritou o pequeno menino de cinco
anos, entusiasmado, enquanto eu sentava-me em sua cama. Meus Filhos
Provisórios, ao contrário, continuavam de pé. Ambos estavam muito animados.
Antes mesmo de eu começar a tocar, já estavam cantando a música.
—
Mas eu sei fazer tudo o que existe! Você já devia ter imaginado — disse eu,
dando ombros. Jonathan me olhou como se percebesse imediatamente a mentira
implícita no meu olhar.
—
Mentira sua, Hayley! — gritou ele, aproximando-se de mim com suas perninhas
curtas e seu olhar castanho incriminador.
— É
sério, eu sei fazer tudo.
—
Mentira!
— É
verdade!
—
Não — Isabelle se meteu em nossa discussão, aproximando-se também. — Você sabe
contar até cem? Aposto que você não sabe contar até cem, Hayley.
Sorri
para ela, deixando o violão de lado por um segundo para me ajoelhar. Ficamos
então todos do mesmo tamanho.
—
Sei sim — disse, passando os dedos pelo seu pescoço e fazendo-a encolher-se,
rindo, de cócegas. Jonathan se colocou entre mim e sua irmã enquanto eu me
sentava entre minhas próprias pernas.
—
Hmm... mas eu aposto que você não sabe trabalhar!
Jon
havia me confidenciado uma vez que o sonho de sua vida era, vejam só, trabalhar. Isso por que, para ele, o
trabalho consistia em dirigir caminhões (a influência do veículo sobre as crianças
Farro era absurda). Ninguém tinha mais caminhões de brinquedo nessa cidade do
que Jonathan Farro.
(Talvez
só o Rick.)
— Na
verdade, cuidar de vocês é o meu trabalho, então eu sei fazer isso também. Já
disse, eu sei fazer tudo — dei de ombros, segurando a cintura de cada Filho
Provisório e sentando-os cada um em uma das minhas pernas. Jonathan passou os
bracinhos pelo meu pescoço e Isabelle começou a brincar com o meu cabelo.
—
Você sabe cortar cabelo? — perguntou ela.
—
Sei. Eu mesma corto o meu.
— Já
sei uma coisa que você não sabe! — Jonathan disse com tanta animação que seu
grito com certeza poderia ser audível no andar de baixo. Isabelle ficou
interessadíssima e perguntou “o quê?”. — Você não sabe consertar os carros que
nem o Josh!
Estremeci
só com a menção ao nome e em minha cabeça resmunguei o fato de Jonathan e
Isabelle serem irmãos de quem eram. Minha crise de infecção Farro ainda estava
presente, mas eu a tratava com o melhor antibiótico de sempre: a ignorância.
Mas, é claro, essa é uma história que você já conhece. O que não contei a você
é que ando fazendo isso há alguns dias.
— É
— respondi sorrindo, fazendo cócegas no pescoço do garoto também. — Consertar
motor de carros não é pra mim. Mas eu faria isso se quisesse aprender.
Eles
não me escutaram por que estavam muito ocupados rindo por terem tirado a limpo
a minha mentira deslavada de saber tudo o que podia. Nada como uma conversa em
crianças para animar os ânimos, ainda que eles houvessem feito a menção ao nome.
(E
ainda que eu soubesse que, a poucos metros de mim, um Josh Farro sem camisa e
completamente manchado de graxa consertava motores e amortecedores e suspensões
de carro exibindo toda a sua virilidade incrível, e tudo o mais. Ignorei isso
também.)
—
VAMOS LOGO, HAYLEY, VAMOS CANTAR! — disse o Jon, saindo do meu colo e começando
a pular de um lado para o outro como se sua vida dependesse de não manter os
pés no chão por mais de um segundo. Isabelle logo juntou-se a ele e começou a
pular sem nenhuma finalidade, também, só por que era divertido.
É
muito fácil se divertir quando se tem cinco anos de idade.
—
O.k.! O.k.! — disse eu, vencida, voltando para a cama de Jon com uma leve
dormência nas pernas por ter me sentado no chão. — Vamos lá, então. Já estão
prontos para começar?
Enquanto
Isabelle gritava o “siiiiiiiim!” mais audível da história do universo, Jon
parara de pular e dissera:
—
ESPERA, DEIXA EU PEGAR O MEU ÓCULOS!
Jonathan
correu até a sua cômoda e revirou todas as gavetas até pegar um par de óculos
escuros praticamente do tamanho de seus olhos. Colocou-os no rosto e eu imediatamente
comecei a rir. Não me leve a mal, é que ele ficava a coisa mais bonitinha do
mundo com aquilo.
—
Tá, eu sou a Katy Perry e o Jon é aquele cara! — entenda como “aquele cara” os
dois integrantes da 3OH!3. Assenti com a cabeça, fazendo uma nota no violão
para garantir que ele estava afinado. Mas meu Filho Provisório olhou para sua
irmã como se fosse assassiná-la. Não sei como consegui distinguir tal coisa com
seu óculos escuros, mas o fiz. Talvez seja apenas meu instinto Maternal
Provisório.
—
Não! — gritou ele, irritado, virando-se para Isabelle. — Eu quero ser a Katy Perry!
Isabelle
levou aquilo como uma afronta.
—
Mas você é menino! — gritou ela.
—
Não tô nem aí, eu vou ser a Katy Perry por que ela fica com as partes mais
legais! — ele gritou de volta.
—
Não! Eu vou ser a Katy Perry!
— Eu
que vou, sua idiota!
—
Não vai não, idiota é você, eu vou contar para a Hayley!
— Eu
vou arrancar sua cabeça!
—
Ei! — eu gritei, intervindo. Os olhos de Isabelle já começavam a marejar e não
demoraria nada para ela chorar descontroladamente. Jonathan estava vermelho de
raiva. Meu grito os calou, mas ainda assim, ambos estavam com muita raiva.
Sexta vez no dia. Tudo bem, ainda é melhor do que vinte. Portanto, como de
praxe, comecei a falar, bem calmamente (as crianças tem mais medo de você
quando você demonstra calma absoluta do que quando grita como uma gralha): —
Vamos esclarecer uma coisa aqui: ninguém vai ser ninguém. E, se eu pegar vocês
discutindo de novo, não vai ter música, nem violão, nem Katy Perry, e nem nada.
Vai todo mundo direto para a soneca.
Estamos entendidos?
Isabelle
coçou um dos olhos.
—
Mas...
—
Estamos entendidos ou não?! — minha voz ainda soava calma e profunda.
Ambos
abaixaram a cabeça e assentiram.
— Eu
não ouvi.
—
Sim, Hayley — responderam em uníssono.
Encarei-os
durante dez segundo inteiros — mais ou menos o tempo que você pode incriminar
uma criança e dissipar parte do clima ruim —, e esperei que eles levantassem as
cabeças e olhassem para mim. Isabelle já estava quase chorando de verdade, mas
antes que ela pudesse fazê-lo, eu fiz uma introdução improvisada de Starstrukk
no violão de Zac.
— E
aí, vamos ou não? — perguntei.
—
Não quero mais! — gritou Isabelle, seu lábio inferior tremendo, sua raiva de
mim e do seu próprio irmão exalando pelo seu corpo. Jon já parecia melhor e até
recolocara seus óculos. Isabelle era sempre a mais difícil de se lidar.
—
Bem, você pode ir dormir, então. Prefere dormir ou tocar violão?
Jon
suspirou alto.
—
Tá! Você pode ser a Katy Perry — disse ele, vencido, mas eu conseguia ver a
esperteza naquelas palavras. Jonathan sabia muito bem que, se Isabelle
preferisse ir para a cama, ele iria também. Como eu disse a você anteriormente,
tudo o que uma criança quer é se divertir.
Exceto
quando ela está de birra.
— Tá
bom — disse ela, ainda cabisbaixa.
Eu
fiz que não com a cabeça.
— Só
vou começar a tocar quando vocês se animarem de verdade.
—
MAS EU TÔ ANIMADO, HAYLEY! — gritou Jonathan e começou a pular de novo. Não
consegui controlar minha gargalhada. — NICE LEGS, DAISY DUKES, MAKES A MAN GO,
fiu, fiu. — Isabelle e eu desabamos a rir quando Jonathan tentou assobiar. Sentei-me
no tapete outra vez, enquanto duas crianças tinham crises de riso comigo.
—
O.k... eu vou contar até três, e no três vocês começam — eu disse e Jonathan
gritou um “YEAH!” enquanto Isabelle apenas riu. — Um... dois... três!
Comecei
a tocar um ritmo mais rápido, deixando uma versão acústica malfeita da música
para que as crianças pudessem se divertir. Embora Jonathan tenha combinado de cantar
a parte dos integrantes do 3OH!3, ambos acabaram cantando as duas partes, o que
foi ainda mais divertido. A música toda consistia em gritos, o que deu-lhes a
oportunidade perfeita para pular e mexer os braços enquanto cantavam.
E
essa é só mais uma razão para eu amar esse emprego. Eu estava basicamente
errando todas as notas, e eles errando toda a letra da música, mas ninguém se
importava com isso. O que era importante era que Isabelle e Jonathan estavam
dançando e brincando, os dois juntos, sem brigar, como os irmãozinhos que eram.
O importante é que esse é o tipo de momento corriqueiro que você guarda na mente
para sempre. O importante é que as risadas eram tantas que basicamente
interceptavam a música inteira. O importante era a diversão.
Meus
Filhos Provisórios estavam se divertindo, e isso era o bastante para mim.
Entretanto,
é claro que algo havia que ter destruído o momento perfeito. E este algo, como
vocês já devem ter imaginado, é justamente o irmão mais velho dessas crianças.
—
ESTÃO CANTANDO E NÃO ME CHAMARAM? — Josh gritou assim que entrou no quarto de
Jonathan e eu imediatamente parei de tocar. Seu cabelo estava preso atrás das
orelhas, seu peito completamente à mostra, e eu podia ver o cós de sua boxer por
que ele não se lembrara de colocar um cinto na calça jeans apertada e suja de
graxa. Pergunto-me o que ele tem contra a uma aparência respeitável.
—
JOSH! — tanto Isabelle quanto Jonathan gritaram e correram para os braços do
irmão. Josh abaixou-se e pegou cada um deles no colo — como se isso fosse,
tipo, muito fácil —, sorrindo para
eles. Fechei os olhos por um segundo e senti vontade de morrer. Infelizmente,
eu já sabia muito bem que todo mundo da família Farro amava e idolatrava Josh Farro. Rick, como vocês já sabem,
orgulha-se dele pela sua força de vontade e seu trabalho árduo. Beth o ama pelo
mesmo motivo, embora não confie inteiramente nele. Zac o idolatra simplesmente
por que Josh o idolatra de volta. Quanto aos menores, Josh os conquistou com
doces e carinho. Quer dizer, qualquer criança pode ser conquistada com doces e
carinho. — A gente não te chamou por que a gente achou que você ‘tava ocupado
consertando o carro! — Foi Jonathan quem disse.
Suspirei.
—
Ah, mas eu sempre ‘tô livre para um karaokê — disse ele, colocando seus irmãos
no chão. — Não sabia que você tocava, baby.
Revirei
meus olhos para ele. É como eu o tratava ultimamente. Na última semana, não
respondi às suas provocações, piadinhas, e etc. Apenas ignorei-o como se fosse
completamente irrelevante. Não disse nem sequer o seu nome.
Pode
me chamar de Hayley Gelo Williams.
—
Por que você chama a Hayley de baby? Ela não é um bebê! — Isabelle concluiu. Eu
sorri, trazendo-a para perto de mim e abraçando-a por um momento, para mostrar
a Josh que seus irmãos eram mais meus do que dele naquele momento.
— E,
na verdade, você não está convidado — era a primeira vez que eu me referia a
ele na semana. Josh contraiu os lábios e levantou as mãos acima de seus ombros
definidos e nus, como se dissesse que eu havia ganhado a batalha.
— Mas
o Josh canta bem! — disse Jonathan, acabando com a magia do momento.
Olhei
para ele.
— De
qualquer forma, já são quase seis da tarde e vocês estão nojentinhos. Vamos
tomar um banho, tirar esse suor e essa manteiga de amendoim da pele, e dormir
um pouco. O.k.?
É
claro que não estava tudo o.k. Tanto Isabelle quanto Jonathan começaram
imediatamente a reclamar alto, e dizer o quanto eu estava sendo má, que nós nem
sequer gravamos o vídeo, que eu estava sendo chata, etc.
—
Sem reclamações — disse eu. — Sua mãe não vai querer chegar em casa e encontrar
vocês pregados de suor. Se vocês não tomarem banho, sabe o que acontece? Quando
forem abraçar alguém, a sujeira vai grudar você nessa pessoa para sempre.
Josh
gargalhou na porta do quarto de Jonathan. Ah, que ótimo, eu nem sequer posso
lidar com minhas crianças em paz, agora.
—
Ah, não, Hayley! — Jonathan reclamou de novo, choramingando.
—
Que tal a gente fazer isso: — a voz de Josh ecoou outra vez na porta do quarto
do garoto e todos nós viramos a atenção para ele — Hayley dá um banho na Isa e
o garotão vem comigo. Estou precisando mesmo lavar meu cabelo. Você acha que
pode me ajudar, cara?
De
repente, Jonathan estava sorrindo.
— ‘Tá...
— disse, ainda relutante, embora a situação toda houvesse me incomodado. Eu não
precisava que Josh me ajudasse a
fazer o meu trabalho. E não queria deixar de ficar de olho no Jonathan.
—
Oba! Banho de garotas! — Isabelle jogou-se nos meus braços e eu segurei seu
corpinho pequeno. Josh também já colocara seu irmãozinho no colo e agora
brincava de jogá-lo no ar. Levantei-me, segurando a garotinha de quatro anos
contra mim.
—
Você vai mesmo dar um banho nele? — perguntei o mais desagradável que pude.
Josh sorriu.
—
Vou, ué. Jon vai me ajudar a lavar o meu cabelo, não é?
Fechei
os olhos por só um segundo, pedindo paciência a Deus.
—
Certo, então não o deixe molhado por muito tempo, por que ele pode ficar
gripado. Não molhe o rosto dele com o chuveirinho e não deixa ele se ensaboar
sozinho, por que ele não consegue. Não use o xampu normal e não o deixe coçar
os olhos. Não coloque...
—
Hayley, meu amor — ele me interrompeu, sorrindo. — Eu sei como dar banho nessas
crianças. Cuidava deles antes de você.
A
fúria nasceu nas extremidades e devagarinho tomou todo o meu corpo. Segurei Isabelle
contra mim com mais força para não matar seu irmão com um soco bem no meio de
sua fuça. Violência não seria um exemplo
nada bom para aquelas crianças.
Portanto,
me controlei.
—
Certo — pronunciei cada letra muito calmamente, deixando bastante claro que eu
o mataria com os olhos, se pudesse. — Não demore.
E
saí em direção ao banheiro principal. Não sabia onde Josh e Jon tomariam banho,
mas tinha quase certeza que o quarto de casal era uma suíte, portanto não me
preocupei. Passei a me concentrar ao máximo à tarefa de limpar o corpo da
garotinha da qual eu estava cuidando, o que fez com que tudo fluísse com certa
lentidão. Eu tentava, ao máximo que eu podia, não imaginar que Josh Farro
estava no quarto ao lado tomando banho. Tentava mesmo.
Mas
era difícil.
Decidi
trançar o cabelo de Isabelle para me manter ocupada. Limpa, vestida e com o
cabelo trançado, Isabelle estava completamente pronta para ir para a cama.
Estava bocejando muito, também. Imaginei como estaria Jonathan agora.
Provavelmente morrendo de sono assim como sua irmã.
Levei-a
no colo até o seu quarto. Como agora ela praticamente não se aguentava em pé,
não precisei contar nenhuma história, ou levá-la ao quarto de Jon para que
ambos pudessem dormir juntos. Apenas coloquei-a dentre as cobertas e
entreguei-lhe Bug, sua aranha de pelúcia. Menos de dois minutos depois, a
respiração da garotinha já estava profunda. Beijei seu rosto, encostei a porta
e saí dali.
Minhas
pernas, as safadas, me levaram direto ao quarto de Jon, implorando para que o
garoto já estivesse vestido e dormindo. Não sei se eu estava pronta para ver
Josh trocando de roupa enquanto ajudava seu irmãozinho a tomar banho. Seria
demais para mim. Demais para a minha mente maluca.
E,
para dizer a verdade, eu não sei o que Josh estava fazendo em casa. Pelo que
haviam me dito no Centennial, sua festa de aniversário era praticamente o Baile
de Boas Vindas do colégio. Comparecia quem queria ao salão da Farro’s Carrier
(já mencionei que esse é nome da empresa de Rick? Bem, estou falando agora.
Original, não acha?), onde rolava todo tipo de diversão existente. “Cada festa é uma lenda”, foi o que Kevin Perkins
dissera para mim semana passada, enquanto eu tentava aturar sua presença medíocre.
Não me leve a mal. Só não consigo me dar completamente bem com geeks. A festa
aconteceria daqui a três dias, mas ao invés de estar arrumando os preparativos,
Josh estava me enchendo o saco.
De
qualquer maneira, Jon estava bonitinho aninhado às suas cobertas, com os olhos
vidrados na sua lâmpada azul. Não deixei com que ele percebesse minha presença
e desci as escadas muito calmamente. Agora, como vocês bem sabem, era a parte
de arrumar a bagunça que meus Filhos Provisórios deixaram na casa. Rezei com
toda a fé que tinha no corpo e na mente para que Josh não estivesse lá embaixo.
E, graças a Deus, não estava. Bem mais tranquila, dirigi-me a cozinha e tirei a
mesa onde os pratos dos sanduíches ainda estavam pousados. Na pia, já havia uma
frigideira suja por que assim que cheguei à casa dos Farro, Jon exigiu comer
ovos mexidos. Aparentemente, Zac comera uma porção, mas esquecera-se de dar um
bocado ao seu irmão menor.
Molhei
as mãos e comecei a lavar.
— Te
achei, baby — a voz ecoou atrás de mim. Virei-me imediatamente na direção dela,
que vinha acompanhada do cheiro forte de desodorante aerosol. Josh estava a um
metro de mim, com as mãos nos bolsos da calça limpa, o peito finalmente coberto
por uma camiseta preta simples. Seu cabelo estava molhado. — Achei que não iria
sair daquele banheiro.
Virei-me
de volta para a pia e voltei a lavar a frigideira. Coloquei detergente sobre a
esponja, molhei as mãos, esfreguei o cabo, liguei a torneira...
—
O.k., Hayley, esse joguinho de “ignorar o Josh” já perdeu a graça — disse ele,
com a voz mais presente dessa vez. Senti meu interior tremer, mas não falei
nada. Apenas bufei. — Pare de lavar essa louça. — Ele se aproximou de mim e me
forçou a olhá-lo. Larguei a frigideira na pia e deixei minhas mãos molhadas
pingarem no chão, atordoada demais pelo seu olhar castanho, que estava tão
perto.
Mas
eu não podia me deixar levar de novo. Kathryn estava errada. Eu não seguiria
seus passos. Jamais.
— O
que você quer? — perguntei, fria.
—
Quero que você me conte o porquê de eu estar sendo ignorado — disse ele, me
encarando duramente. Eu o encarava a altura, entretanto. — Só quero saber por
que você não está falando comigo. Só quero saber por que você me odeia assim.
Honestamente, Hayley, eu não me lembro do que eu fiz para te deixar tão
irritada. E, tudo bem... eu posso te conhecer bem, ainda que você não queira
aceitar isso, mas amor — ele se aproximou de mim, provocante, firme, me fazendo
engolir seco — eu não leio mentes.
Você vai precisar me dizer o que está te incomodando.
Meu
coração parecia que ia sair pela boca, mais uma vez. Eu apenas bufei e não
respondi novamente. De certa forma, Josh tinha razão por estar irritado, e eu
me dei conta de que o havia beijado e depois lhe dera o maior gelo de todos.
Virei-me
de costas, já que ele estava a uns dois passos de mim. Não queria olhar para
seus olhos e encontrar todo aquele desejo, toda aquela vontade de respostas, de
mim. Senti-me aliviada imediatamente por não precisar encará-lo, mas ainda
assim, fraca por fazê-lo.
Josh
riu baixinho.
—
Você está me ignorando de novo, ou isso é um convite para eu olhar sua bunda? —
eu quase pude ver o sorriso cafajeste pousado em seu rosto, como se ele
estivesse contando a piada do século.
Não
pude evitar. Agarrei a primeira coisa que vi na pia — o que acabou sendo a
velha frigideira de Jon — e atirei contra ele com toda a força que eu tinha,
meu peito inflando de raiva. Um barulho de alumínio batendo contra o chão, Josh
gritou. Percebi que havia acertado seu ombro.
Ele
gemeu por um segundo com a mão sobre o local atingido. Respirou fundo.
Então
sorriu.
—
Bela forma de estabelecer contato, baby, mas eu realmente prefiro que você me diga o que está acontecendo.
Eu
já estava com raiva demais. Bati as mãos contra a pia e me aproximei dele com
um só passo, dando um soco forte no seu ombro, onde havia batido a frigideira.
—
Primeiro — fui dizendo assim que diferi meu soco. Josh sorriu e se afastou de
mim. — Eu. Não. Sou. Baby. Meu nome é Hayley Williams e você sabe disso.
Segundo — dei-lhe outro soco, que foi mais um empurrão. Josh deu um passo para
trás. — Não me olhe como se eu estivesse nua. Eu não gosto. Terceiro — outro
soco, outro passo para trás —, você é um garoto ridículo, e o fato de eu ter te
beijado duas míseras vezes não significa que você me tenha completamente! Eu
não sou uma dessas meninas que você simplesmente agarra por agarrar! Quarto...
Antes
que eu pudesse diferir outro soco contra ele, Josh agarrou meu pulso, sorrindo.
—
Você não é uma dessas meninas, Hayley
Williams — ele me encarou por alguns segundos. Seu sorriso agora desaparecera
de seu rosto. Eu via em seus olhos que ele falara sério. — A menos, é claro,
que queira ser. Baby... — e lá estava o olhar cafajeste de novo, ainda que
dessa vez ele estivesse carregado de outra coisa. Josh largou meu braço e
concentrou-se em apenas me olhar. — Se você quiser ser mais do que isso, precisa me dizer. Eu não vou adivinhar
que você está chateada comigo por que eu já namorei outras garotas. — Ele
segurou minha mão delicadamente, e entrelaçou-a com a dele. Olhei para nossos
dedos, juntos, encaixando-se perfeitamente uns nos outros. A outra mão de Josh
segurou minha cintura mais delicadamente do que nunca. Quando meu olhar voltou
ao dele, havia profundidade. Não sei como explicar. Simplesmente havia. — Eu
sou um homem decidido, você sabe. E eu quero ter você. Por Deus, eu falo sério
quando digo que nunca senti isso antes, e eu não estou a fim de parar. Se for o
que você quer, linda, eu paro de ficar com as outras garotas. É só dizer e eu
serei exclusivo — o rosto de Josh aproximou-se do meu, e eu inalei seu cheiro
viciante, o calor de sua pele. Meu coração não conseguia voltar à normalidade.
Eu senti sua barba malfeita pinicar minha bochecha, enquanto ele sussurrava,
provocantemente: — Você me deixa maluco, Hayley Williams. Como consegue?
Seu
hálito invadiu meu olfato, o calor de sua pele me enevoava, confundia meus
pensamentos. Meu corpo inteiro, cada célula, clamava por Josh Farro. Eu estava
completamente arrepiada, completamente entregue. Eu queria beijá-lo. Queria
dizer a ele que ele me deixava completamente maluca também, só de se aproximar,
só de aparecer.
Mas
ao invés disso, apelei para o pouco de sanidade que ainda me restava e saí de
seus braços, dessa vez sem violência. Retirei suas mãos das minhas e fui na
direção contrária a ele, por que eu sabia que o contato me enfraquecia. Josh só
conseguiria me ganhar se tocasse em mim, por que quando isso acontecia, minha
pele entrava em erupção.
— Me
dê um tempo para pensar, tudo bem?! — eu disse, relativamente baixo,
relativamente alto, enquanto minha cabeça rodava e minha carne clamava pela
carne dele. Por algum bom motivo, dessa vez Josh não se aproximou. Suspirei e
encarei seus olhos castanhos. Talvez eu só devesse ser sincera. — Não consigo
confiar em você, Farro. E não quero me entregar a alguma coisa que vá me
machucar, entende? Droga. Eu não sei o que eu quero. Por que ao mesmo tempo em
que tudo o que eu quero é quebrar sua cara idiota, você me...
—
Seduz? — Josh deu um sorriso cafajeste.
Quis
bater nele, mas me contive.
—
Puxa é mais adequado.
— Eu
gosto do termo. Eu te puxo para mim — ele coçou seu próprio queixo. — Você me
puxa pra você também, se quer saber.
—
Não é voluntário.
— Eu
sei — ele ainda sorria, feliz, acho, por estar tendo uma conversa civilizada
comigo. Quer dizer, vocês sabem que é difícil manter uma conversa civilizada
comigo.
— Eu
só preciso pensar antes de fazer uma burrada, Josh — disse eu, suspirando. —
Você é um completo idiota. Não quero ser só mais uma.
—
Você não é! — ele passou as mãos pelo cabelo molhado e deu um passo para trás,
meio irritado, meio confuso, meio louco pra acabar com a distância entre nós. —
Baby, eu já expliquei que contigo é diferente! Não sei o que ‘tá acontecendo,
tudo bem? Mas eu não quero parar. Se eu quero ficar com você, droga, eu vou
fazer de tudo pra ficar com você. O que você quer?
— Eu
não sei! — respondi, agradecida por ele não ter se aproximado de mim. Prendi os
cabelos nas orelhas, num gesto nervoso. Eu estava dizendo a verdade. A mais
pura e completa verdade. Não sei o que eu quero, por que embora eu o queira,
não quero ter um relacionamento com o garoto mais idiota do universo, ainda que
isso seja baseado no... contato físico. Simplesmente não quero ser a Kathryn! —
Eu não sei, Josh. Preciso pensar.
Josh
respirou fundo.
—
Escuta, tudo bem — ele olhou para mim... compreensivo. Um sentimento bastante
esquisito para se encontrar na expressão de Josh Farro. E, mais uma vez, eu
estava agradecida por isso. O olhar comedor pode encher o saco, às vezes. —
Vamos fazer um trato, certo? Eu não vou fazer nada que você não queira. Mas eu
quero ter certeza absoluta de que você está fazendo o que quer. Pegue o tempo
que quiser, pensa sobre isso, eu não me importo mesmo. Se você não quiser ficar
comigo e eu ver nos seus olhos que é exatamente
isso o que você quer, não vou me opor. Não vou te perseguir, ou provocar...
nem nada.
—
Certo — disse eu, adorando a proposta que ele me fizera. Parecia simplesmente
incrível, embora não a porta de saída da qual eu precisava. Um espaço para
pensar seria o bastante.
—
Mas, Hayley, por favor — ele se aproximou de mim o bastante para seus olhos
penetrarem os meus —, faça o que você quer fazer. A única dona da sua vida é
você mesma.
Dito
isso, Josh sorriu para mim e colocou uma mecha do meu cabelo colorido atrás da
minha orelha, e então saiu. Não pude evitar acompanhá-lo com os olhos até ele
sumir de vista escada acima.
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