23 de set. de 2012

Capítulo 26

Your spark never lit up the fire





— Danna — disse o homem, sentando-se em sua poltrona confortável e apoiando os cotovelos na mesa larga de seu escritório. — Danna Faith. Gosto do seu sobrenome... Faith. Na verdade, nunca vi nenhum sobrenome assim.
— É artístico — a mulher disse tentando manter-se agradável. Não que ela tenha aberto um sorriso, é claro.
— Ah — fez o homem, coçando de leve sua barba. — Então a Srta. tem fé? O suficiente para fazer dela o seu nome, suponho.
— É uma piada — justificou-se. — Faith. Por que eu não tenho Fé... sem ser no nome. É uma piada de mau gosto.
— Hum... Criativo. — Concluiu ele, procurando as palavras para dizer o que precisava. A jovem continuava sentada à sua frente, olhando-o de uma forma misteriosa. — Bem, Srta. Faith... Como lhe dizer... — ele deu um suspiro de leve, encarando-a. — Você tem talento. Mesmo. Mas... essas fotos... Realmente não são o que eu estou procurando para a minha revista.
Danna fechou os olhos por um segundo, recebendo com amargor outra recusa. Mais uma. Mais um “não” para a coleção.
Encarou o editor-chefe daquela revista local, agarrada a um apelo, uma única esperança.
— Tem mais de cem fotos... O Sr. não poderia aproveitar ao menos uma? — disse ela, engolindo seco.
Mas ela já sabia o que vinha a seguir.
— Eu sinto muito — disse ele, ainda olhando-a com pena. — Realmente queria ajudar, e você fotografa bem. Mas... não há nada que eu possa aproveitar aqui.
Ela respirou fundo, apertando os punhos para logo depois dizer:
— Certo. Obrigada mesmo assim, Sr. Holt.
Levantando-se e pegando suas fotos, ela apertou a mão do homem que parecia ter um pouco mais de cinqüenta anos. Ele esbanjava seu sorriso simpático, enquanto ela continuava com sua face inexpressiva; a única face que utilizava quando estava na companhia de alguém.
Enfiou suas fotos em sua bolsa de lado, apertando o sobretudo preto contra seu corpo. Saiu daquele pequeno prédio desolada, mais uma vez. Já havia estado em todos os lugares que pôde para tentar conseguir dinheiro com as fotos que já possuía, mas eles detestavam absolutamente tudo! Danna sempre tentara viver de fotografia artística, mas... ninguém dava o mínimo valor ao que ela fazia!
Para conseguir dinheiro, ela poderia cobrir algum evento, sim, poderia. Isso se sua câmera não houvesse quebrado.
Você está perdida, gritou uma voz dentro de sua cabeça. Você não vai fazer ninguém comprar essas porcarias. Vai ser despejada. Vai viver na rua. Bem feito! Sua imprestável. Inútil.
Danna suspirou, sentindo seus próprios pensamentos ecoarem dentro de sua cabeça. Aquela voz era conhecida, ah, se era. Era a voz da mulher que a colocara no mundo. Vez ou outra ela aparecia, gritando dentro dela, desaprovando todas as suas ações, xingando-a, como ela sempre fizera até que Danna deixou aquela maldita e odiosa casa.
O pior de tudo é que Danna sabia que a voz tinha razão. Tinha toda a razão.
Ela estava perdida; era imprestável, inútil; ninguém compraria aquelas malditas fotos.
Sentindo o ódio aumentar dentro de si, ela suspirou, tentando manter a calma e o controle. Ainda faltava pouco mais que uma semana até seu prazo acabar. Ela tinha ainda um pouco de dinheiro para se manter, mesmo que não fosse por muito tempo. Se desse sorte, poderia até pagar o concerto da lente de sua câmera, caso o rapaz pudesse dividir o concerto.
Sim, talvez desse certo.
Com esse pensamento na cabeça, ela tomou novamente o metrô, indo em direção à loja autorizada a concertar câmeras fotográficas e quase todo tipo de aparelho eletrônico. Enquanto isso, pensava no que faria caso aquilo não desse certo. Ninguém comprava suas fotos, e com sua câmera quebrada ela não havia como se sustentar. A viúva Turner, se não recebesse, a jogaria para fora de sua pensão sem pestanejar, com certeza. Ainda mais por que Danna não era lá um amor de pessoa e reconhecia isso.
A garota repreendeu-se mentalmente, parando de pensar naquilo. Teria de dar certo. Ela precisava concertar sua câmera. Precisava.
O metrô parou de rodar e ela percebeu que já estava onde queria estar. Saiu, andando em passos largos e rápidos para a loja de manutenção e concertos de aparelhos eletrônicos, onde havia deixado sua câmera anteriormente.
— Bom dia. Posso ajudá-la? — fez o rapaz assim que Danna se colocou em frente ao balcão de atendimento.
Não pôde deixar de pensar na saudação dele. Bom dia. Isso até mesmo arrancou dela um mínimo, quase imperceptível sorriso. As pessoas diziam essas saudações bobas a toda hora! Bom dia; boa tarde; boa noite. Repetiam sem ter a mínima ideia do que acontecia com a pessoa a qual desejava. Repetia, sem desejar verdadeiramente que o dia, tarde ou noite daquela pessoa fosse realmente bom.
Para Danna, nunca era um bom dia.
— Sim, pode — foi o que ela respondeu. — Eu sou Danna Faith. Deixei minha câmera aqui, uma Nikon d5000, para avaliação. Gostaria de saber o quanto ficaria o concerto.
— Ah, claro, eu lembro de você — disse o rapaz, que tinha o cabelo com algumas mechas de luzes loiras, lembrando-se da feição de Danna. — Então... eu vou te falar sobre a sua Nikon. — Ele disse, indo ao balcão que ficava há alguns passos de distância do balcão onde Danna esperava. Ele voltou, retirando a máquina da caixa, e manuseando-a como um verdadeiro profissional. — Olha... ela estragou completamente as lentes de aumento. Completamente, mesmo. Para concertá-la, eu precisaria trocar todo esse compartimento, por que a Nikon só vende ele todo. — O rapaz mostrou a parte da lente da câmera. — Mas ela também deu um pequeno problema no botão de captura. Você notou que tinha que apertar muito forte para ele funcionar, ultimamente?
— Sim, notei — disse, ela, inexpressiva.
— Então. Isso pode não parecer, mas é um problema bem sério. E como eu disse, para arrumar, eu teria que comprar todo o jogo de botões novos, pois a Nikon não vende nada separadamente. — O rapaz fez uma pausa. — Em resumo... Dá pra concertar. Mas eu sinceramente acho que é melhor e mais em conta você comprar uma nova. Não vai ter muita diferença de preço.
Danna sentiu um arrepio de medo correr pelo seu corpo. Suspirou.
— Quanto ficaria o concerto?
— Em torno de mil e oitocentos dólares — o rapaz disse. — É mais em conta você pagar dois mil e quinhentos de uma vez em uma nova. Para mim, pelo menos.
Danna passou a mão pelos cabelos tingidos de castanho escuro, dando outro suspiro de derrota. Não havia maneira de concertar sua única fonte de sustento. Ela não conseguiria vender suas fotos.
Ótimo. Agora ela estava realmente ferrada.


(N.A: não faço a mínima ideia do quanto custa o concerto e o preço de uma câmera. Não levem nada disso em consideração a vida real –q)



[...]



Nate andava batendo os pés com força no chão. Não acreditava no que havia escutado há pouco tempo na sala de sua casa. Nunca havia entendido a antipatia enorme de Jason para com ele, já que Nate sempre foi o mais educado possível na presença dele, e sempre fez sua filha feliz. Agora ele estava querendo levá-la embora? Levar sua Julia, a única garota que ele já havia amado e amaria em toda a sua vida embora? Simples assim?
Nate não podia deixar! Já detestava Jason, e agora o detestava ainda mais por isso. Mesmo que Josh lhe dissesse mais de uma vez que se não fosse Jason, Hayley jamais teria se recuperado das idiotices que ele fizera, Nate não conseguia gostar do sogro. Mesmo que Josh dissesse que ele era na verdade, um cara bom, Nate simplesmente não conseguia.
E sabia que Josh só dizia aquilo por puro respeito. Sabia que seu pai já saíra aos murros com Jason algumas vezes. Sabia que os dois jamais conversavam amigavelmente, mesmo depois que ele voltara da Inglaterra. Sabia que seu pai não gostava do homem. Apenas o aturava.
E Nate estava aprendendo a fazer o mesmo. Quando soube da história em que Jason fez com que Josh voltasse para Hayley, quando adolescente, ele aprovou. Quando Josh lhe disse que ele cuidara de Hayley quando Josh estragara tudo, Nate realmente respeitou. Mas parecia que a cada dia que passava Jason esvaía ainda mais esse pouco respeito. Droga! Nate amava Julia! Ela o amava também! Qual era o problema nisso? Por que tanta implicância? Por que tanta ânsia em separá-los?
Era isso que Nate queria perguntar a ele. Nate queria se colocar na frente do sogro e finalmente, dizer tudo o que pensava e perguntar tudo o que tinha para perguntar. Nate não suportava a ideia de viver sem sua namorada. E Jason não podia fazer com que eles se separassem.
— Nate! — ele estava tão absorvido em seus pensamentos de raiva e justiça que não viu o carro seguindo-o. Reconheceu a voz, que vinha da mulher que dirigia. — Entra no carro!
— O que você está fazendo, mãe?!
— Você não vai resolver nada de cabeça quente. Entra no carro, vamos. Estou mandando.
— Não vou voltar pra casa! Ele precisa saber tudo...
— Eu vou te levar para a casa do Jason. Ande, vamos, entre. Não vou falar outra vez. — Hayley ordenou outra vez e parou o carro. Nate abriu a porta do passageiro e se jogou para dentro, enquanto a mãe funcionava o carro outra vez.
— Você é exatamente igual ao seu pai — Hayley disse, prestando atenção na estrada. — Sai para resolver tudo de cabeça quente. Mas entenda, raiva e ódio não funcionarão com o Jason. Ele não vai considerar uma palavra do que você disser. Justamente por que você é exatamente igual ao seu pai.
— Não me conformo — Nate disse, bufando. — Não consigo me conformar! Não consigo entender por que tanta implicância! Eu a faço feliz, mãe! Nós nos amamos, droga! Por que ele não aceita a nossa felicidade?
— Nate, tente se colocar no lugar dele por um minuto — Hayley disse calma, fazendo o filho se remexer no banco e bufar, irritado. — Ele passou a vida inteira em conflito com o Josh, geralmente por minha causa. Jason dizia me amar, de verdade... Mas eu sempre escolhi ficar com o seu pai, por que... Entenda, é ele que eu sempre amei. Desde criança. — Hayley fez uma pausa, parando o carro em um semáforo. — E eu realmente acho que ele nunca se conformou em... perder, em parte, para Josh. Agora imagine o quão ruim deve ser para ele ver o filho de Josh, que por acaso é a sua cópia, pegar sua única filha e fazer com que ela se distancie dele... Você imagina o quão angustiante isso deve ser?
Nate deu uma risada debochada.
— Julia sempre teve problemas com ele, mãe. Ela sempre foi pra frente e quando não aturava os caprichos das colegas ela arranjava briga, e ele nunca procurava saber o que havia acontecido, apenas a castigava. E de boa, ele pode ter raiva do papai e passar essa raiva pra mim, mas isso não dá o direito de ele separar um casal que se gosta, droga! E outra, sempre que Julia dizia que ele havia brigado com ela, era eu que aconselhava ela a tentar manter o bom relacionamento com ele, por que eu não me vejo sem ter um bom relacionamento com o meu pai. Eu fui criado assim!
— Eu sei, Nate... — Hayley disse. — De qualquer forma, isso não vai adiantar absolutamente nada. Você chegar lá e dizer que ele não tem o direito de fazer isso ou aquilo.
— Então o que você quer que eu faça?!
— Mantenha a calma — Hayley conseguia ser absolutamente serena. — Mantenha a calma e me deixe falar com ele primeiro. Eu vivi mais de seis anos morando na mesma casa que ele, e eu o conheço muito bem. Talvez eu consiga lidar com ele. Vamos usar a cabeça e sermos inteligentes. Não se pode atacar Jason com raiva.
— Eu quero falar com ele, mãe, eu...
— Nate, entenda. É melhor que eu fale com ele primeiro, ok? Eu sei conversar com ele. Talvez eu consiga tirar essa ideia maluca da cabeça dele. Você, fique calmo e espere no carro, certo?
Nate abaixou a cabeça, suspirando.
— Certo. — Concordou.
— Ótimo. Estamos quase chegando.
O resto do caminho foi silencioso. Hayley sabia que estava fazendo a coisa certa, mesmo que a fizesse apressadamente. Quando soube que Nate havia saído sem avisar, ela e Sophie concluíram rapidamente que ele havia escutado a conversa e tirado satisfações com o pai de Julia. Felizmente, conseguiu pegar o filho no caminho e convencê-lo de que não era assim que ele resolveria nada.
Quando estacionou em frente à casa dos Bynum, ela fechou a porta e se virou para Nate.
— Fique aí dentro. Já venho te buscar.
Nate assentiu com a cabeça, ainda contrariado, e Hayley tocou a campainha da casa. Quem atendeu foi Leonard, que depois de cumprimentá-la, lhe disse onde seu pai estava após Hayley perguntar. O próprio garotinho pediu para a mulher entrar, conduzindo-a até a sala/escritório de Jason. Este, ficou um tanto surpreso ao vê-la.
— Hayley? — ele perguntou e ela esboçou um sorriso simpático. Leonard já havia saído dali. — O que faz aqui?
— Oi, Jason — ela disse ainda sorrindo. — Eu vim... conversar.
Jason sorriu debochado.
— Então quer dizer que já pediram pra você tentar me convencer? Certo.
Hayley se sentou, encarando-o.
— Você está exatamente igual — disse. — Jason, nossos filhos não me pediram pra vir aqui. Julia nem sequer sabe. Mas... você sabe que isso não vai adiantar nada!
— Hayley, olha — Jason disse, virando-se para ela. — Eu te respeito, sério. Mas você não vai interferir na minha decisão.
— Que decisão? A de separar dois adolescentes que se amam?
— Ah, por favor! — ele aumentou o tom. — Eles são crianças! Julia tem quinze anos! Ela não sabe ainda o que é o amor.
— Oh, certo, e você tinha quantos anos quando disse que me amava? Dezesseis? Dezessete? Pelo amor de Deus! Você vê nos olhos deles o quanto eles são compatíveis, Jason! Eles namoram há quase um ano e nunca sequer brigaram, e olha que você não deixa fácil para o Nate.
— Eu naquela época não sabia o que era amor, Hayley. E eu era mais velho que eles são hoje. Sinceramente, depois que Julia começou a namorar o seu filho que ela passou a se distanciar e ficar mais rebelde. Ele é um mau exemplo!
— O mau exemplo é você! — ela disse, controlando-se. — Jason, pelo amor de Deus, você realmente acha que sua filha vai se reaproximar de você indo para um colégio interno no outro lado do planeta?!
— Isso não é para separá-los! Ela sempre quis fazer Jornalismo, e estudando no colégio ela terá vaga garantida em Oxford.
— Isso não é para separá-los? Jason, por favor, quem você quer enganar? Existem muitas boas faculdades aqui na América mesmo, e Julia é inteligente o suficiente para conseguir vaga em alguma delas. Agora você vem dizer que isso não é no intuito de separá-los? Você não vê que tá fazendo a mesma coisa que fez comigo quando tentou me proibir de fazer a festa?
— Oh — Jason exclamou. — Mas se eu me lembro bem, Hayley, eu não impedi você de fazer a festa e você me traiu, não foi? Depois de ficar toda irritada por eu não ter confiado na tua fidelidade.
Hayley respirou fundo.
— Exatamente — respondeu, tentando manter a calma. — Como você se lembra, bancar o dono da vida dos outros não te levou a lugar algum. Apenas te fez sofrer. Não se pode tentar mudar o destino, Jason, você não pode. Não pode forçar sua filha a fazer uma coisa que ela não quer!
— Hayley, não adianta. Eu vou mandá-la pra Londres.
— O que eu acabei de te dizer? Isso não vai te trazer nenhum tipo de felicidade! Você está sacrificando anos valiosos perto da sua filha que você não vai ter! Você vai perder toda a adolescência dela, alimentando nela uma raiva do próprio pai! Ela apenas vai ficar mais distante de você!
— Ela já é distante de mim. E ainda vai me agradecer pelo que eu estou fazendo agora.
— Você não sabe o que está fazendo, Jason — ela suspirou. — Você não sabe.
— Estou protegendo-a e garantindo o futuro dela, Hayley. Colocando-a numa boa universidade longe de distrações.
— Distrações tipo amizade e namoro? Sinto muito, Jason, mas ela vai passar por isso em qualquer lugar do planeta!
— Não com o seu filho. — Ele rebateu, encarando-a.
Hayley deu um sorriso amargo.
— Sabe — ela começou. — Quando estávamos juntos, por muito tempo eu me senti realmente mal por ter que me prevenir de ter um filho seu. Naquela noite em que eu traí você com o Josh, e você descobriu tudo sobre os anticoncepcionais, eu me lembro claramente de ter te explicado que eu não podia colocar uma criança no mundo por que ela iria sofrer, como eu sofri. Então você virou e gritou para mim “Você realmente acha que eu ia deixar essa criança sofrer?”. Sabe, Jason, de verdade, eu sempre achei que você seria um ótimo pai caso tivesse um filho. Me dói saber que eu estava enganada.
Jason bufou, negando com a cabeça.
— Isso é o melhor para ela.
— Sofrimento nunca é o melhor pra ninguém — ela rebateu, levantando-se. — E Nate quer falar com você. — Ela disse, saindo dali.
Jason passou as mãos pelo rosto, digerindo tudo o que Hayley acabara de dizer. De repente, ele passou toda aquela noite na cabeça, sentindo tudo o que sentiu na época, como se passasse por aquilo neste exato momento. Ele havia sofrido, ah, se havia.
Mas foi apenas por isso que ele finalmente encontrou Alana. E descobriu verdadeiramente o que era amar. Certo?
De repente a silhueta de um adolescente se fez em sua frente. Nate o encarava, mas não havia raiva ou ódio no seu olhar.
Era algo como... dor. Decepção.
— Eu a amo — foi o que ele disse, encarando o sogro. — Mais do que a mim mesmo. Mais do que tudo o que me rodeia. Eu a amo, Sr. Bynum. — Ele continuou encarando-o. — E não importa o que o Sr. faça, para onde a leve, ou quanto tempo dure. Isso nunca vai mudar. E eu nunca vou desistir dela. Mesmo que ela fique durante cinco, dez, quinze anos na Inglaterra.
— Você não sabe o que está dizendo, rapaz — Jason passou as mãos pelo cabelo grisalho.
— Sim, eu sei — Nate disse totalmente seguro de si. — Eu sei. E entendo que o Sr. não goste de mim, assim como não gosta do meu pai. E mesmo que meu pai sempre tenha dito que o Sr. é na verdade um homem justo e sincero, eu... Acho que isso deve ter se esvaído em algum lugar, em algum tempo que eu desconheço... — Nate suspirou, fazendo uma pausa. — Só saiba que eu vou continuar amando Julia. — Foi o que ele disse antes de se virar e andar em direção à porta. Então ele parou, e virou-se para o homem. — Posso vê-la?
Jason abriu a boca para negar, mas então sua voz foi cortada por uma voz feminina.
— Claro Nate, mas deixe a porta aberta — foi Alana que respondeu, entrando naquele cômodo de sua casa e passando a mão pelos ombros do rapaz num gesto meio maternal. Ele deu um meio sorriso para ela em agradecimento e saiu em direção às escadas.
Foi até o marido e abraçou sua cintura, fazendo com que ele descansasse seu queixo no ombro dela. Ficou por algum tempo daquela forma e depois se separou dele, olhando profundamente em seus olhos azuis.
— Não acha que é melhor deixarmos isso?
— Não — ele disse.
— Jason, eu concordo pelo futuro dela... — Alana começou. — Mas... me parece que isso virou uma espécie de briga com os Farro.
— Não é briga nenhuma — ele discordou. — Estou muito chateado por ela ter tido relações com ele e não ter falado para nós...
— Ela falou para mim, Jason! — Alana aumentou o tom. — Por que acha que eu a levei no ginecologista numa sexta à noite? Ela disse para mim e eu tomei as precauções cabíveis.
— Ela te disse? — ele levantou as sobrancelhas.
— Esse é o tipo de conversa de mulher, Jasy — ela suspirou. — Sempre conversamos sobre isso. Lógico que ela me contou.
— E por que você não me disse?
— Você reagiria assim! Não vê que isso está afastando ainda mais ela de você?
Jason suspirou.
— Ainda acho que o mais certo é fazer com que ela vá pra Londres. Ela teve sorte de conseguir a vaga. — Ele disse em voz mais serena.
— Não vai ser fácil pra mim — ela disse, em voz baixa. — Nunca me separei dela desde que ela nasceu.
— Vai ser difícil pra mim também. Mas é o melhor para ela.
Alana suspirou, sem saber o que dizer.
Enquanto isso, Nate lentamente abriu a porta do quarto da namorada e a viu encolhida no canto direito da cama, com os olhos completamente inchados, e ainda saiam algumas poucas lágrimas deles. Quando ela viu Nate, esperou ele se aproximar rapidamente dela para abraçá-lo.
Sentando-se ao lado dela, ele deixou com que ela passasse seus braços pela sua cintura e o apertasse o mais forte que conseguia. Nate acariciou sua cabeça, que descansava no ombro dele. Seu choro molhava sua camiseta. Julia já estava soluçando novamente, enquanto o apertava mais e mais contra ela, procurando nos braços dele se livrar de toda a dor e o medo que estava passando.
— Eu não... quero... ir... — ela disse com a voz totalmente embargada pelo choro. Nate controlou-se para não chorar também, ao escutar sua amada dizer tudo aquilo com tamanha dor. — Eu... amo... você...
— Eu te amo também, e eu quero menos ainda que você vá — ele disse, apertando-a contra si próprio naquele abraço. — Mas olha pra mim, Juzy. — Nate fez com que ela se separasse dele por alguns segundos e olhasse seu rosto. — Eu te amo, ok? Eu te amo agora, e vou te amar pra sempre.
— Eu também... Eu também... — ela ainda chorava.
— Eu vou te provar isso, ok? Vamos fazer dos seus últimos dias na América os melhores da sua vida, tá legal? Eu te amo mais do que tudo, mais do que a mim mesmo, e isso nunca vai acabar.
— Nunca — ela disse, ainda olhando profundamente o rosto dele. — Meu pai não entende... mas... isso é maior... que eu mesma...
— Sim, é — Nate encostou sua testa na dela, fechando os olhos. — E nós não vamos deixar acabar.
Ela assentiu de leve com a cabeça e depois a flexionou para frente, buscando os lábios do namorado e juntando-os com os seus, num beijo totalmente amargurado e cheio de dor. Mas mais forte do que toda a dor e o sofrimento que eles passavam, era o amor que os envolvia.
Isso não iria acabar. Eles sabiam disso.



*****



Sophie segurava os documentos contra o corpo, enquanto se movia para frente da casa vizinha. Sua mãe havia lhe pedido logo pela manhã para que ela levasse aqueles documentos para Kathryn, mas Sophie havia realmente se esquecido. Agora já eram quase 17h, mas “antes tarde do que nunca”, pensou ela.
Sophie até mesmo pensou em pedir para Nate para levar os documentos — por razões óbvias —, mas este estava em algum lugar com Julia. Desde aquele dia em que Jason disse que ia mandá-la para a Inglaterra, exatamente uma semana antes, ele tentava ao máximo curtir a namorada.
Chegando à frente da casa, ela tocou a campainha, esperando ser atendida, mas nada aconteceu. Tocou novamente... Nada. Quando ia tocar a terceira vez, levou um susto, pois o portão da garagem que ficava ao lado dela, foi aberto abruptamente.
— RED SOPH! VOCÊ POR AQUI! — Dan gritou, aparecendo sem camisa da garagem dos Davis. Sophie não pôde deixar de sorrir perante a animação exagerada do rapaz.
— E aí, Dan! — ela disse, rindo. — Sabe se tia Katt tá aí? Eu...
— Não sei, não. Mas entra aí! Deixa eu te mostrar uma coisa! — ele disse, virando-se.
— Eu só preciso entregar essas coisas pra tia Kathryn, Dan, então...
Mas Dan já havia entrado na garagem. Sophie revirou os olhos e bufou, entrando junto. Dan abaixou o portão, enquanto ela ficava um tanto pasma com o que tinha acabado de ver.
Luke, igualmente sem camisa, estava ajoelhado, montando a última peça de uma bateria vermelha que ela nunca havia visto.
— DANIEL! CADÊ A CHAVE DE FENDA? — ele gritou, sem perceber Sophie ali.
— Em cima da coisa! — ele respondeu, fazendo Sophie dar uma risada abafada.
— Que coisa? — ele gritou, irritado.
— A coisa do lago do negócio aí, mano! — Dan bufou e Sophie não conseguiu deixar de rir mais alto.
— Por que vocês estão gritando se estão a dois metros um do outro, mesmo? — ela disse, rindo. Luke se levantou, finalmente percebendo sua presença ali. Deu uma risada abafada.
— Por que Dan é retardado e não sabe me dizer onde está a chave de fenda — ele disse, e Dan bufou, indo até o canto da garagem e pegando a chave.
— Em cima da coisa do lado do negócio, ora — ele bufou, entregando-a para Luke. — Retardado.
Luke fez que não com a cabeça, ajoelhando-se novamente.
— O que você está fazendo? — Sophie perguntou, esquecendo-se por alguns segundos do propósito de estar ali.
— Ganhei uma bateria nova e Luke está concertando a velhinha — foi Dan que respondeu, sentando-se em uma cadeira.
— Luke concerta baterias? — Sophie ergueu uma sobrancelha, ainda sem acreditar.
Luke levantou-se novamente e apertou a chave de fenda num dos tambores da bateria.
— Aprendi — ele disse, sem olhá-la, absorvido no seu trabalho. — Sou estagiário na empresa do meu pai, e eu faço de tudo por lá.
— Pobre escravinho — Dan puxou a piada, fazendo Soph reprimir uma risada.
— Enfim — Luke revirou os olhos. — Fico boa parte do tempo com a equipe de manutenção dos instrumentos. Então eu aprendi a concertar um bocado de coisas...
— Que legal — Sophie exclamou, sorrindo. Olhou para os documentos em suas mãos. — Tia Katt está? Minha mãe pediu que eu trouxesse uns documentos pra ela.
— Ela saiu com meu pai, mas deixa eles lá em cima da estante na sala de estar que eu aviso que você esteve aqui. — Luke jogou a chave de fenda em qualquer lugar e se sentou no banco, de frente para a bateria já pronta. — Sabe onde fica?
— Aham, sei. Vou deixar lá. — Ela foi indo pela porta dos fundos que ligava a garagem à casa e escutou o grito de Dan: “MAS NÃO SE VÁ, RED SOPH! QUERO TE MOSTRAR MEU SOLO ESPECIAL!”.
Passou pela cozinha e viu a estante no cômodo logo à frente. Deixou os documentos perto de onde estavam algumas fotos de família e escutou o barulho exorbitante da bateria de Dan. Rindo, ela voltou para a garagem.
— Tá pronta — disse Luke, entregando as baquetas ao amigo. Soph se recostou na porta.
— Curte só, Red Soph! Isso é um verdadeiro artista! — ele disse, começando a tamborilar sem parar na bateria.
Sophie considerou a ideia de tapar os ouvidos, tamanho era o barulho. Mas então, naquele ritmo esquisito que o amigo fazia, uma melodia se formou em sua mente.
— Ei, Dan! — ela disse, fazendo com que ele parasse. — Não, continua! Tive uma ideia onde a sua bateria combina totalmente.
— Musiquinha da Red Soph? Ok — ele riu, refazendo o tamborilar rápido. Luke se aproximou dela, dizendo alto:
— Ideia?
— Aham. Tem caixa de som por aqui?
Luke sorriu, e mais do que rapidamente, ligou a caixa de som ao microfone que também estava perdido pela garagem. Sophie pegou o microfone, enquanto Dan não parava. Ela se virou para ele e mexendo os dedos, começou a cantar, com o cérebro vazio, apenas deixando as palavras melódicas saírem de sua boca:
— I've hoped for change, it gets better every day. I've hoped for change, but still I feel the same(Eu esperava por mudança, está ficando melhor a cada dia. Eu esperava por mudança, mas ainda sinto o mesmo.) — Dan e Luke pararam, olhando-a com um sorriso no rosto.
— Caramba — Dan disse. — Red Soph tem mesmo o dom, não é?
— Ela sabe compor bem demais, tem o dom, tô dizendo.
— Eu não tenho o dom! — Sophie encarou Luke. — Você tem o dom, eu não! É você que sabe escrever!
— Ah, fala sério! — Luke deu um sorriso debochado, encarando-a. — Quem é que se inspira do nada e faz músicas tão maneiras?
— Você!
— Não sou eu! — ele bufou. — Meu, escuta aquela Oh Star!
— Só saiu boa por que você compôs metade dela!
— Mentira!
— Você sabe que é verdade! Olha aquela Adore! — O tom de sua voz já estava dois oitavos acima. — A música é perfeita!
— Não é mais perfeita do que a Let the Flames Begin — ele deu ombros.
— E quem é que tinha a ideia da letra da Let the Flames Begin inteira na cabeça?
— Você compôs a melodia que deixou a música maneira.
— E você compôs a letra que deixou a música perfeita e reflexiva! Seu idiota, quem tem o dom aqui é você!
— Cara, você é a garota mais cabeça dura e boba que eu já conheci. Você compôs a melodia, a Oh Star você compôs basicamente inteira, e além do mais, olha só esse trechinho! Dá pra fazer uma música boa com isso! — Luke continuava insistindo. Sophie bufou.
— Eu não tinha a letra super fofa que a Let the Flames Begin tem, eu não compus a Oh Star inteira, você sabe muito bem que compôs a metade, se não mais, da música. E esse trechinho é só um experimento! Seu bobão.
— Um experimento que dará super certo caso você trabalhe nele, por que você tem o dom — ele deu ênfase. — Que droga. Cabeça dura.
— É você!
A discussão foi impedida pela gargalhada intrometida e cômica de Dan. Ele realmente estava se divertindo com aquilo, e gargalhou como se tivesse escutado a melhor das piadas.
— QUE COISA LINDA! — disse ao fim de suas exageradas gargalhadas, fazendo Sophie encará-lo com um olhar assassino. Luke estava confuso.
— Qual é o seu problema? — ele perguntou o que todos queriam saber. Dan levou uma mão à barriga e suspirou algumas vezes, controlando sua risada.
— É lindo ver vocês dois discutindo outra vez! Acho que vou chorar de emoção! — ele disse, para logo depois dar outra crise de risada. Sophie revirou os olhos, fazendo que não com a cabeça. — Sério! — ele tentava a todo custo se recuperar. — Tem quanto tempo que vocês não se xingam?
Então Luke parou para pensar naquilo. É. Havia um bom tempo.
— Um ano? — ele disse.
— Não, eu diria uns oito meses — Sophie disse, pensativa. — Aliás! Eu te chamei de idiota quando a gente foi ver a bebê da Srta. Jones!
— Ah, é — Luke coçou o queixo. — Verdade. Você disse “idiota! Cuidado com a cabeça dela!”
— Disse — Sophie concordou com a cabeça. — Saudade da Jodie.
— É um bebê bonitinho. — Ele disse, referindo-se à Jodie, a pequena filhinha de Ben e Lilian.
— É sim.
— Podemos voltar para a discussão fofinha e a música? — Dan disse, olhando-os com tédio. Sophie revirou os olhos. — Tá certo, é o seguinte: vocês dois tem o dom. Mas as músicas mais perfeitas só ficam perfeitas porque vocês compuseram juntos. Bando de cabeçudos.
— Cala a boca, Daniel — Sophie disse, bufando. — Até esqueci a melodia que tava na minha cabeça.
— I hoped for change, and it gets better every day. I hoped for change, but still I feel the same. — Luke cantarolou, com sua memória invejável.
— Isso — ela disse, puxando o celular e selecionando o gravador de voz. Repetiu o pequeno trecho para o celular e salvou a gravação.
— Vamos terminar essa música — Luke disse.
— Não quero mais compor — Sophie deu de ombros e Luke bufou.
— Garota complicada.
— Cala a boca, chato — ela revirou os olhos.
— Ainda quero tocar em grupo. Podíamos fazer um cover de Paramore. — Foi Dan que disse, fazendo os olhos daquelas duas pessoas ali presentes brilharem.
— Eu gosto de fazer cover de Paramore — Sophie mordeu o lábio inferior.
— Vou pegar minha guitarra e minha pedaleira — Luke saiu em passos rápidos da garagem e Dan deu um sorriso vitorioso.
Era só falar em Paramore que aqueles dois ficavam completamente fora de si.
Logo Luke voltou com sua guitarra em mãos. Enrolado no ombro, estava um emaranhado de cabos, e na outra mão, a pedaleira. Ele tratou de plugar tudo na caixa de som, fazendo também a harmonia com a bateria.
— Sabe tocar Let This Go, Dan? — ele disse, fazendo um pequeno solo em sua guitarra.
— Claro que sei — Dan revirou os olhos, encarando aquilo como um insulto.
— Vocês querem realmente tocar em conjunto com apenas uma guitarra e sem baixo? — Sophie disse, olhando para os dois rapazes.
— Se você assumir a guitarra eu pego o baixo do meu pai — Luke sugeriu.
— Não é o meu instrumento. Não consigo fazer os solos que meu pai faz em Let This Go. — Sophie disse, torcendo os lábios. — Não tem um teclado por aí?
— Tem um jogado no quarto de hóspedes — Luke disse. — Tá meio velhinho, mas deve servir. Pode ser?
— Claro, né.
Não demorou muito e o teclado, a guitarra e a bateria já estavam plugados e prontos para tocar. Sophie combinou com Luke de ela fazer o solo no teclado (arrumando a freqüência do mesmo, é claro) e ele se focaria na parte grave da música.
Então eles começaram.
Para dizer a verdade, eles precisaram tentar aproximadamente dez vezes para conseguir conciliar apenas o início da música. Quando Luke errava, Sophie o repreendia e o xingava, e o mesmo acontecia quando ela errava o solo ou quando, finalmente, eles conseguiam conciliar a introdução, ela cantava no tempo errado. Luke se estressava com ela e eles discutiam, gritando um com o outro, até Dan se meter e eles calarem a boca, para tentar novamente.
Até que tudo finalmente deu certo. Eles conseguiram tocar o refrão e Sophie fez o pequeno solo de início no teclado, pronta para começar a cantar.



Talvez se meu coração parasse de bater não doeria tanto assim.
E nunca mais eu teria que responder novamente a todos.
Por favor, não me leve a mal. Por que...



Sophie sorriu, concentrando-se no seu teclado, e olhou de relance para Luke, que concentrou-se em sua guitarra e colocou o pé na pedaleira, mudando a freqüência para o refrão. Ela puxou ar para poder cantar com toda força o refrão que Josh compusera há mais de vinte anos atrás.



Eu nunca irei esquecer, mas eu não consigo achar palavras para te dizer.
Eu não quero ficar sozinha, mas agora eu sinto como se não te conhecesse, oh.


Dan parecia ter esquecido toda a sua destreza perante a bateria e encarnado um ótimo baterista. O compasso dele era absolutamente perfeito e deixava a música completamente melhor, assim como Zac fazia. Luke sabia a hora de mudar a freqüência em seu pedal e Soph, cantava com sua voz pouca coisa mais fina do que a de sua mãe era, assumindo a segunda guitarra em seu teclado. Mesmo sem linha de baixo, a música continuava incrível na voz dos filhos da Paramore.



Um dia você vai ficar cansado de dizer que está tudo bem.
E por isso eu tenho certeza que eu estarei fingindo que nem eu estou esta noite.
Por favor, não me leve a mal. Por que eu nunca irei esquecer... mas eu não consigo achar as palavras para te dizer.
Eu não quero ficar sozinha, mas agora eu sinto como se não te conhecesse...



Sophie olhou para os garotos de relance novamente. Luke havia chutado a pedaleira mais uma vez e parado de tocar. Dan começou a bater em apenas um tambor, e ela se preparou para tocar o solo em seu tecladinho.



Esquecer... Esquecer...
Eu nunca irei esquecer. Mas eu não consigo achar as palavras para te dizer.
Eu não quero ficar sozinha, mas agora eu sinto como se eu não te conhecesse.
E eu nunca irei esquecer. Mas eu não consigo achar as palavras para te dizer.
E agora eu sinto como se não te conhecesse.



Ao fim da música, e com a última nota arrancada da guitarra que ainda estava equalizada, eles finalizaram aquele cover com praticamente perfeição. Dan foi o primeiro a aplaudir a si próprio.
— Caramba. Eu sou perfeito. — Ele disse, vangloriando-se. — Mandei muito bem nessa bateria, sim ou claro?
— Inacreditavelmente, você foi ótimo — Sophie disse. — Mas eu gostei, foi muito legal fazer isso.
— A gente podia deixar virar rotina — disse Dan. — Podíamos... refazer a Paramore.
Sophie e Luke deram uma risada forte.
— Não dá pra refazer a Paramore! — eles disseram em uníssono.
— É uma banda épica e completamente única, Daniel — Soph.
— É, pois é. A Paramore é única. Não dá pra simplesmente copiar. — Luke disse, sentando-se em um pequeno banco.
— Eu não falei de cópias! — Dan se justificou. — Só disse que a Paramore é realmente uma ótima banda e que é uma pena que ninguém os conheça. Mas pensa, galera, o quão maneiro seria se vocês, os filhos da Paramore original, refizesse a banda. Eu já vi as músicas que vocês dois compõem. E vou dizer: é muito parecido com o som dos seus pais. E eles ficariam orgulhosos.
Sophie e Luke respiraram fundo, recebendo tudo o que Dan havia dito. Ele tinha razão, em parte; eles eram filhos da Paramore. E as músicas que eles compunham geralmente parecia mesmo com o som que os pais faziam no passado.
— Acho melhor a gente falar com o Nate — Sophie disse, e Luke assentiu com a cabeça, dizendo:
— Sim, o militarzinho resolve. Até mesmo por que ele pode ser o nosso guitarrista.
— Julia poderia tocar baixo se não tivesse que ir embora — Sophie disse em baixo tom, olhando para o chão.
Ainda não se conformava por estar perdendo a melhor amiga.
— O pai dela não desistiu?
— Não — ela deu um suspiro. — Nate e ela estão aproveitando os últimos dias.
— Por isso ele não para mais em casa — Dan deu uma pequena risada, tentando animar o ambiente.
— É — Sophie deu uma risada sem humor.
— Enfim — fez Dan. — Nós podemos refazer a Paramore. Vamos ou não? — ele saiu de sua bateria e foi até o meio dos amigos, colocando a mão no meio.
Sophie olhou para Luke e deu um sorriso, pousando sua mão sobre a de Dan, e depois sentindo a mão de Luke sobre a dela.
— Vamos. — Eles disseram em uníssono.



[...]



— Não vai fugir de mim desta vez, Srta. Faith — a voz coroca da Sra. Turner fez Danna parar de andar. Faltavam apenas três dias para o fim do aluguel, e agora, parecia que toda vez que Danna tentava entrar em casa, a viúva a esperava.
— Não estou fugindo de ninguém, Sra. Turner. Tive um dia terrível e gostaria de entrar. — Danna tentou ser o mais educada possível. Já não bastava suas duas últimas semanas sendo o mais terrível possível?!
Não. Ela tinha que ter uma pessoa para terminar de arruinar seu dia.
— Ah, você está! — gritou a mulher, apontando o dedo na cara da jovem. — Toda vez que tento falar com você, você some! Pois vou te dizer uma coisa, Srta. Faith, e escute bem: Se não pagar seu aluguel em três dias, vai morar na rua!
— Estou ciente do prazo de pagamento, Sra. Turner, por favor... eu posso entrar no meu apartamento? — se é que aquilo pode ser chamado de apartamento, completou mentalmente.
— Pois então por que ainda não pagou? — a velha levou uma mão a cintura.
Danna suspirou.
— Não consegui o dinheiro todo ainda. Mas prometo providenciar isso o mais cedo possível. Agora, falando sério, hoje eu tive minhas fotos recusadas por quatro exposições e duas revistas, perdi meu celular e meu ônibus quebrou duas vezes, por que eu andei a cidade inteira atrás do seu dinheiro. Por isso, eu peço, eu imploro, posso entrar no meu apartamento? — ela soltou tudo de uma vez, esbanjando seu mau humor em cima da velha senhora, que apenas bufou impaciente e saiu da frente da porta de Danna, esbravejando “TRÊS DIAS!”.
A jovem suspirou, virando a maçaneta do loft e se jogando no mesmo colchão duro de sempre.
Estava absolutamente perdida, se estava! Faltavam três dias e ela não havia conseguido nada! Seu dinheiro para alimentação já estava se esvaindo com o transporte e a lavagem de suas roupas, pois ela precisava manter sempre a boa aparência. E ela não sabia o que fazer.
Era incrível o modo como a vida dela conseguia ser sempre pior! Quando ela pensava que não havia mais jeito, que não havia mesmo uma forma de tudo ficar pior, ficava! Era impressionante!
Danna olhou para a parede e as únicas pinturas que levara consigo depois de se mudar da casa de sua mãe. Eram quatro. Todas elas mostravam tudo o que ela sentia. Danna adorava poder descontar toda a sua raiva, angustia e tristeza nas telas, quando as tinha. Sempre dava um jeito de comprar as telas e as tintas, mas havia parado quando descobrira a fotografia.
Até poderia tentar vender aquelas quatro pinturas, não podia?
Danna deu um sorriso quase imperceptível, notando o quão estúpida aquela ideia era. Vender. Suas pinturas idiotas.
Decidindo sair dali, ela foi em direção ao banheiro e tomou um banho rápido e frio, retirando de si toda a sujeira do dia, e tentando se livrar também da sujeira de seu ser. Oh, como ela se detestava. Era tão intenso que era quase doentio.
Após se colocar em trajes mais simples, ela pegou seu macarrão instantâneo e o preparou no pequeno fogão que ficava na “cozinha”. Enquanto comia, ela tentava pensar no que faria. Três dias,a voz gritava em sua cabeça. Três dias e você vai viver na merda, literalmente. Vai se danar, garota inútil. Imprestável. Idiota.
— Eu sei o que eu sou, por favor, pare de gritar — ela disse baixinho para si mesma e suspirou.
Já não bastava ser inútil, agora ela também estava ficando louca? Oh, isso era realmente legal, não era?
Danna largou seu macarrão pelo meio, mesmo que não houvesse comido nada no dia inteiro, tirando o café da manhã esdrúxulo que tomara. Agora já era quase noite.
A jovem tinha duas opções do que fazer. Duas opções totalmente desesperadas. A primeira, era voltar para a casa da mãe. Totalmente fora de questão, já que Danna preferia ir para o inferno ao voltar para aquele lugar, e ver aquela bruxa novamente.
Ela já vira que não iria levantar dinheiro. Precisava conseguir com alguém.
E mesmo que tudo nela dissesse que não, que ela não podia, ela precisava.
Danna suspirou. Deixou-se cair no colchão duro e desconfortável mais uma vez, sentindo a onda de pensamentos abaterem-na.
E pouco antes de adormecer, decidiu que era isso que faria. Precisava pedir o dinheiro, e iria fazê-lo. O pediria para a única pessoa no mundo inteiro que, talvez, fosse se importar com ela.

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