22 de set. de 2012

Capítulo 25

God knows the world doesn't need another band



Pov. Hayley

Olhei para o aparelho pequeno ao meu lado. Larguei a colher e atendi.
— Funerária Santa Luzia. Sua morte, nossa alegria. Posso ajudá-lo?
Ele riu.
— Não consegue atender o telefone como qualquer pessoa normal?
— Não. — ri. — Qual é a graça?
— Não é pra ter graça.
— Pra mim é.
— Uma simples chamada telefônica vira uma comédia com você, então.
— Você é muito chato.
— Mas você adora isso. — parece que pude ver o sorriso sarcástico se formando nos lábios dele.
— Uhum, senhor modéstia.
— Você é muito irônica.
— E você adora isso. — ri.
— Cala a boca!
— Vem calar.
Um silêncio se tomou.
— Certo, eu vou.
— Como é?
— Vou te ensinar a não me provocar.
— Hmm... virou professor agora, é?
— Sou educador de meninas de cabelos vermelhos mal educadas.
— Meu cabelo está laranja também.
— Ok... ok... meninas de cabelos vermelhos e laranjas, tá bom pra você?
— Ficou melhor.
Ele sorriu.
— Tá fazendo o quê?
— Assistindo um interessantíssimo programa sobre as quatro luas de Júpter na Discovery Channel e tomando sorvete de morango.
— Puxa. Que interessante! — Ele riu.
— E você, tá fazendo o quê?
— Vendo o Zac comer rosquinhas. — Gargalhei. — Quer vir pra cá?
— Pra quê?
— A gente termina aquela sua música, lembra?
— Certo. Manda o Zac guardar umas pra mim.
— Ok.
Desliguei e ri.
Fui até o quarto e me arrumei. Passei uma maquiagem básica e saí.
Quase chegando na casa deles, duas ruas antes, me encontro com uma calanga loira de salto alto. Rolei os olhos e decidi fingir que não tinha visto a praga em forma de gente. Mas ela fez questão de vir até mim.
Inferno.
— O que foi Jenna?
— Pra onde tá indo?
— Apenas idiotas respondem uma pergunta com outra. — sorri fraquinho. — E ah, não te interessa.
— Se eu fosse você, Nichole, passava a me respeitar. Você vai se arrepender, eu te garanto.
— Se eu fosse você, Jenna, eu baixaria o tom quando falasse comigo. — Disse calma. — Quem não respeita não merece ser respeitado. A única coisa que você merece é um soco no meio dessa tua fuça, que eu estou me segurando pra não te dar. — Ela engoliu seco. — Agora sai da minha frente, antes que eu te force.
Ela deu um passo pra trás e cerrou punhos.
— Não pense que acabou. — Disse com raiva na voz.
— Jamais. Não vai acabar até eu tirar sangue dessa tua cara. — Sorri e saí em direção à casa dos Farro.
Eu deveria ter medo... ok, cadê a trilha de risadas?
Jenna é insignificante. Não mata nem um mosquito. Duvido muito que ela seja má como diz.
Coitada.
Na porta da casa dos Farro toquei a campainha. Josh atendeu com um sorriso no rosto.
Ele havia cortado o cabelo.
Abri a boca pra falar alguma coisa e ele passou uma mão pela minha cintura e me puxou pra perto me beijando.
— Êpa! Bora acabar com a sacanagem aê. — disse Zac com uma rosquinha coberta por chocolate na mão. Comia como se não houvesse amanhã.
Me separei de Josh.
— Viu como é que eu ensino minhas alunas de cabelos vermelhos e laranjas a não me provocar? — Ele sorriu de canto enquanto me carregava pra me sentar no sofá.
— Sim, querido professor. — Sorri. — Tenho que dizer o quanto adorei seu cabelo.
— Tive que cortar — ele disse choramingando.
— Mas porque teve que cortar?
— Hm... — ele se enrolou. — sabe, já tenho 17 anos...
— Sei. E daí? Cortou só por que tem 17 anos?
— É-é. — Ele disse gaguejando.
Estranho.
— Ficou melhor assim. — Eu disse. — Seu piercing fica mais evidente. — E como fica.
Ele sorriu como em agradecimento.
— Certo... — Zac começou. — ...antes de vocês começarem a agarração, dá pra dar tempo de eu subir? Obrigado. — Ele disse e foi subindo, com o pratinho de biscoitos na mão.
Josh começou a acariciar minha mão, e foi subindo. Se virou, acariciando meu braço, e com a outra mão pegou minha nuca. Meus batimentos cardíacos agora devem estar mais rápidos que as azas de um beija-flor.
Estávamos quase nos beijando quando um barulho alto e completamente desigual começa, e faz eu bater minha cabeça na dele de susto. Levei minha mão ao lugar que doía. O barulho continuava.
— Mas que merda é essa? — perguntei.
— ZAC, QUE DESGRAÇA! PARA DE TOCAR ESSA DROGA! — Ele gritou irritado.
Zac. Só podia.
— Zac e sua bateria.
— Ele toca bateria?
— Não chamo isso exatamente de tocar.
As batidas completamente desiguais começaram a ficar ritmadas. E cada vez mais freqüentes. Ele tocava bem.
— Ele toca bem.
— Você é louca?
— Não. Essa batida cabe exatamente com...
— Com...?
— Uma idéia. Vamos subir.
Ele faz uma cara de cachorrinho.
— Mas... a gente tava... ah, droga. Te mato Zac.
Sorri e fui subindo, guiada pelo barulho. Entrei no quarto de Zac que estava completamente desarrumado. Ele estava no canto esquerdo tocando uma bateria azul. Quando me viu ele parou.
— Porque estão aqui? Fazem mesmo questão de se agarrar na minha frente?
— Cala a boca, seu idiota. — Josh disse bufando.
— Não pára, continua o que você tava fazendo. Aquela batida. — Eu disse e ele refez.
Incrível.
— Josh, onde tem uma caixa amplificadora?
— Ali. — Ele disse debochado pra um canto evidente. Imbecil.
Peguei um microfone e liguei na caixa.
— Faz denovo Zac. — Eu disse no microfone. Zac começou. — Isso, continua. — Respirei fundo e coloquei em pratica a minha idéia. — Whooa, I drowned out all my sense with the sound of this beating, and that’s what you get when you let your heart win, whooa.
Ele terminou e todos sorriram. Inclusive Josh que estava inconformado por não me agarrar.
— Caramba Hbomb! Essa música é incrível!
— Obrigada. — corei.
— Quando você fez? — Josh.
— Ér... agora. A batida do Zac fez fluir o ritmo na minha cabeça. E eu só coloquei uma letra.
— Acho que um riff aí ficaria incrível. — Josh.
— A gente podia tentar... — Zac. — Josh, pega sua Condor, Hayles, o seu microfone e vamos levar os instrumentos pra garagem. Acho que pode dar certo.
— Uma banda? — Perguntei.
— É... só diversão. — Zac denovo.
Eu e Josh nos entreolhamos.
— Ok. — Eu disse.
— Certo, eu te ajudo a levar isso pra garagem. — Josh disse se referindo a batera de Zac.
20 minutos depois, tudo estava lá. As caixas de som, a bateria de Zac, a guitarra – e que guitarra! – de Josh e sua pedaleira. Cabos e mais cabos, um teclado na minha frente e meu microfone.
Zac disse que não sabia compor, então eu e Josh deixamos pra compor minha idéia depois. A gravei no celular pra não esquecer.
— Vamos começar com o quê?
— Que tal... Hear You Me, do Jimmy Eat World? — Josh. — Eu sei essa cifra mais do que tudo.
— Precisaríamos de mais uma guitarra e um baixo...
— Ah é. — Ele disse cabisbaixo.
— Conhecem Long Distance Call, do Phoenix?
— Sim. — Responderam em coro.
— Consegue Zac?
— Consigo sim. — Ele disse girando as baquetas nos dedos.
— Certo. Vamos lá.
Zac bateu as baquetas umas nas outras três vezes e começou. Josh começou a fazer a base e eu fiz o pequeno solinho da introdução no teclado mesmo. Bem, eu disse que fizemos. Não disse que fizemos bem.
Completamente fora dos eixos estávamos nós.
Depois de 5 vezes tentando, finalmente fizemos toda a introdução. Comecei a cantar.

Where to go, I had no idea.
26.10 was the price to pay.
A messed up kid with no ideals at all.
I thought those 26.10, I shouldn't give'em away.

I remember this young guy died and I took his part. He got far too many stitches on his pretty face.
Long time to see, but I always thought us two would be serious
I was looking around town, thinking the same as you

I'm far gone but your long distance call
And your capital letters keep me asking for more

It's never been like that
It's never been like that

It’s never been like that
It’s never been like that
It’s never been like that
It’s never been like that
It’s never been like that

Sem ar, eu parei de cantar. Os meninos pararam também.
— O que houve Hayles? — Zac.
— Já tentou cantar essa música? Não dá. É muito ar. Como os caras da Phoenix conseguem?
— Hayles, é simples. Usa mais o diafragma que você consegue. Vai.
Depois de algumas tentativas eu consegui cantar todo o refrão. Mas poxa vida, hein?!
Porém acabamos desistindo da música antes que danos maiores acontecessem.
— Porque a gente não tenta aquela de vocês... a Broken.
— We Are Broken, Zac. — Josh corrige.
— É, essa aí mesmo. Josh, muda a freqüência da equalização no pedal e faz a introdução com as duas cordas de cada nota. Hayley, você entra logo depois no teclado e no refrão eu entro do jeito que eu achar melhor.
Eu e Josh olhamos pra Zac com os olhos arregalados.
— Qual é pessoal, sou o baterista. Tenho que entender dessas paradas.
Não dissemos nada e Josh alterou a freqüência. Começou a fazer o que Zac pediu.
Logo depois, delicadamente toquei as teclas do teclado. Uma nota de cada vez.
Comecei a cantar.
E tudo se encaixou.
No refrão, Zac entrou com a batera. Ficou lento, mas lindo. Confesso que foi bem mais fácil do que cantar música dos outros.
Quando acabamos, nós nos aplaudimos. Estávamos contentes. “Trabalhar” com Zac e Josh era divertido.
— Cara, eu sempre quis ter uma banda! Nem acredito. — Zac disse e Josh riu.
— É, talvez nós sejamos uma banda.
— E como seria o nome dela? — perguntei.
— Não sei... vamos pesquisar.
Nessa hora o celular de Zac vibra.
— Outra mensagem do “Sua alma gêmea”. — Ele disse revirando os olhos.
— Já te falei pra desfazer o cadastro desse site.
— Não adianta! Meu celular vai receber mensagens até o fim dos tempos.
— Meus pêsames. — Eu disse rindo.
— Olha, Josh. Essa é francesa: Je veux que vous, ma chère. Si vous êtes déjà engagé, nous sommes paramour, wi? Bisous. — Zac disse imitando uma voz francesa horrível.
— Paramour... gostei disso. — Josh disse rindo.
— É um nome legal pra banda. — Zac.
— Como assim?! Vai saber que diabos essa mulher tá falando?! Ela pode muito bem estar fazendo propaganda de pastel. E o pior, não sabe nem se é uma mulher mesmo.
— Acho que tem um dicionário de francês por aqui. — Zac disse revirando a garagem com os olhos. Foi até um grande armário e tirou um livro maior que a bíblia.
— Achei. — Ele disse sorrindo. — Agora vamos lá... P, Paramour. Amante Secreto.
— Amante secreto? — Eu e Josh dissemos na mesma hora.
— Gostei. — Eu disse.
— É... legal.
— Eu acho que a gente podia usar outra ortografia... sei lá... uma coisa mais americanizada.
— Tipo... Paramore? — Sugeri e eles me olharam com um brilho diferente nos olhos.
— Paramore, legal. Esse é o nome da nossa banda. — Zac disse.
Paramore... Amante secreto... hm. Isso pode dar certo.

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